«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

REPERCUSSÕES DO SÍNODO SOBRE A FAMÍLIA

"Agora o Papa tem as mãos livres. 
Ele escreverá logo o seu documento"

Entrevista com Adolfo Nicolás

Gian Guido Vecchi
Jornal “Corriere della Sera”
Milão – Itália
26-10-2015

«Há uma Igreja mais aberta. Não sei se mais ou menos diferente, mas mais aberta. Uma Igreja que ao menos pode escutar o que Francisco diz. Acho que no início não o escutava porque era tão diferente...»
PE. ADOLFO NICOLÁS
Superior Geral dos Jesuítas e
um dos membros da comissão de redação do Relatório Final do
Sínodo dos Bispos sobre a Família

Adolfo Nicolás, Superior Geral da Companhia de Jesus (Jesuítas), 29º sucessor de Santo Inácio de Loyola, participou da comissão nomeada pelo Papa para escrever o relatório final do Sínodo. Tem o ar cansado, mas sorri. "Também o Papa estava contente. Os resultados foram bons. Ensinei teologia, no Japão, e sei que é preciso repetir muito as coisas para que sejam ouvidas. Francisco sabe disso. E agora acredito que do Sínodo saia uma Igreja com os ouvidos mais aguçados, e isto é bom, porque poderá se traduzir em medidas concretas nas paróquias e será uma ajuda para a comunidade cristã".

Padre, pensando no sínodo do ano passado - isto é, depois de dois Sínodos sobre a Família - há uma Igreja diferente?

Pe. Nicolás: Há uma Igreja mais aberta. Não sei se mais ou menos diferente, mas mais aberta. Uma Igreja que ao menos pode escutar o que Francisco diz. Acho que no início não o escutava porque era tão diferente...

No início do Sínodo o senhor dizia: Francisco poderia andar mais rápido, mas não quer fazer isto sozinho e a Igreja precisa de tempo. E agora?

Pe. Nicolás: O fato de que a relatório final tenha sido aprovado, que todos os pontos tenham superado os dois terços, é importante. É um documento que deixa as mãos livres para Francisco agir. O Papa pode fazer o que considera bom, oportuno e necessário. Na mente de todos os membros da comissão, havia a ideia de preparar um documento que deixasse as portas abertas de tal modo que o Papa pudesse entrar e sair, ou seja, fazer o que achar melhor.

O cardeal Schönborn [Viena, Áustria] dizia: a palavra chave do documento é “discernimento”...

Pe. Nicolás: Acho que é o efeito deste Papa. O discernimento é capital na mente de Santo Inácio e Francisco é muito inaciano. A palavra “discernimento” apareceu muitas vezes, na apresentação, nos grupos e também no texto final...

Que coisa quer dizer "discernimento" nas “situações irregulares” como os divorciados e recasados excluídos dos sacramentos?

Pe. Nicolás: A recomendação do Papa é de não fazer teorias, por exemplo, não colocar os divorciados e recasados todos juntos, porque os padres deverão fazer um discernimento caso a caso e ver a situação, as circunstâncias, aquilo que acontece, e a partir disto tudo decidir uma coisa ou outra. Não há teorias gerais que se traduzem numa disciplina férrea imposta a todos. O fruto do discernimento quer dizer que se leva em conta cada caso e se busca encontrar saídas de misericórdia.

Agora a palavra passa para Francisco, não é assim?

Pe. Nicolás: Sim. Haverá uma exortação apostólica do Papa. Não creio que tardará, depois de um ano, como aconteceu em outros Sínodos e com outros Papas. Um ano é demasiado tempo. Os entendidos em management me dizem que se passam oito meses sem dizer nada, as pessoas voltam ao ponto de partida e então é preciso refazer todo o processo. Acho que Francisco será mais rápido.

O que lhe parece que acontecerá?

Pe. Nicolás: Penso que uma coisa sempre frágil, na Igreja, é o “follow up” [trad.: dar seguimento, dar prosseguimento]. O fruto do Sínodo não pode ser um documento, ainda que seja muito bom. O fruto é prático: o que se faz, o que acontece na situação pastoral, nas paróquias, quando as pessoas vão até lá com suas problemáticas. É lá que se vê. Para mim o follow up ideal consistiria em Sínodos particulares: cada um dos bispos volta para casa e faz um Sínodo com os seus diocesanos, padres e leigos, para avaliar o modo até agora seguido e examinar outras possibilidades.

Qual foi a mudança mais importante acontecida no Sínodo?

Pe. Nicolás: Francisco não quer uma aplicação mecânica da lei, a defesa da letra e não do espírito. Este não é o modo de agir da Igreja. Ele mesmo nos falou dos corações fechados que se escondem atrás do ensino da Igreja e se sentam na cadeira de Moisés para julgar os feridos. Ao contrário, é preciso buscar, com compaixão e misericórdia, encontrar novos caminhos para ajudar as pessoas. Um discernimento da situação concreta que veja antes de tudo as pessoas, e depois os princípios. Este é o mais forte encorajamento aos padres, para que não sejam funcionários: não, não são funcionários. Eles têm um trabalho de discernimento a fazer. Santo Inácio ficaria muito contente em ver que o discernimento entrou na Igreja. E também o Papa Francisco está muito contente.

Traduzido do italiano por Instituto Humanitas Unisinos Online. Acesse a versão original desta entrevista, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Segunda-feira, 26 de outubro de 2015 – Internet: clique aqui.

Igreja deve acolher divorciados 
“caso a caso”

Edison Veiga

Texto final do Sínodo da Família diz que homossexuais devem ser respeitados 
PAPA FRANCISCO
E os Padres Sinodais numa das Assembleias Plenárias do
Sínodo dos Bispos
Sala Sinodal - Vaticano

A Igreja Católica deve passar a acolher, “caso a caso”, divorciados que voltarem a se casar. O matrimônio homossexual segue como uma impossibilidade cristã; mas a pessoa homossexual precisa ser aceita com dignidade e respeito. São estes os dois principais pontos do texto final do Sínodo do Bispos sobre a Família, aprovado na tarde deste sábado, 24 de outubro, na Cidade do Vaticano pela ampla maioria dos padres sinodais.

Tendo a família como tema, o encontro episcopal da Igreja Católica será encerrado neste domingo, 25 de outubro, depois de três semanas de discussões entre 265 religiosos de todo o mundo. Todos os 94 parágrafos do texto final foram aprovados por pelo menos 177 votos [dois terços] dos religiosos participantes - a votação foi feita trecho a trecho.

Em discurso proferido aos participantes do Sínodo, papa Francisco afirmou que procurou “abrir os horizontes para superar toda a hermenêutica conspiradora ou perspectiva fechada, para defender e difundir a liberdade dos filhos de Deus, para transmitir a beleza da novidade cristã, por vezes coberta pela ferrugem duma linguagem arcaica ou simplesmente incompreensível”.

“A experiência do Sínodo fez-nos compreender melhor também que os verdadeiros defensores da doutrina não são os que defendem a letra, mas o espírito; não as ideias, mas o homem; não as fórmulas, mas a gratuidade do amor de Deus e do seu perdão”, disse ainda o papa. “Isto não significa de forma alguma diminuir a importância das fórmulas, das leis e dos mandamentos divinos, mas exaltar a grandeza do verdadeiro Deus, que não nos trata segundo os nossos méritos nem segundo as nossas obras, mas unicamente segundo a generosidade sem limites da sua Misericórdia.”

Acolhida

“Não foi dada a bênção aos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, nem permitida a comunhão aos casados em segunda união. Mas uma série de chamadas de atenção para casos específicos, recomendações para a acolhida e a integração de pessoas em situações que poderiam ser consideradas irregulares implicam numa posição de amor e acolhida a todos muito mais forte e precisa”, analisou o biólogo e sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

“Para além das brigas políticas, que representam muito mais posicionamentos da mídia e de grupos radicais dentro da Igreja, o que fica claro é a vitória da posição que Francisco apresenta, não tanto como discurso, mas sim como postura: as normas aparentemente são pouco mudadas, mas existe uma renovação da Igreja a partir do amor e da acolhida.”

Divorciados

Em comunicado à impressa feito três horas antes da divulgação do texto final do Sínodo, o cardeal-arcebispo de Viena Dom Christoph Schoenborn já havia antecipado que haveria um a nova posição do Vaticano frente ao caso dos católicos divorciados e em segunda união. “O relatório final não contém um ‘sim’ ou um ‘não’, mas um convite ao discernimento das situações concretas”, afirmou, lembrando que o documento propunha “critérios para o acompanhamento pastoral, não só para a comunhão, mas para todas as questões”. “Neste caso, discernimento significa tentar entender a situação de uma pessoa ou de um casal”, disse o cardeal.

Se até agora um divorciado em segunda união não pode receber a Eucaristia, o texto final dá margem para que o sacramento possa ser concedido a esses católicos, após análise “caso a caso”. “A conversa com o sacerdote, no foro íntimo, contribui para formar um julgamento correto sobre se há obstáculo para a plena participação na vida da Igreja”, atesta o documento sinodal. O uso da expressão “plena participação” indicaria a possibilidade do acesso do divorciado ao sacramento.

“Os divorciados novamente casados, portanto, não só não devem se sentir excomungados, como podem viver e crescer como membros vivos da Igreja, sentindo-a como uma mãe que os acolhe sempre”, diz o texto. “Para a comunidade cristã, cuidar dessas pessoas não é um enfraquecimento de sua fé e testemunho sobre a indissolubilidade do matrimônio. Mas, sim, é a Igreja manifestando neste tema sua caridade.”

Homossexualidade

Quanto às uniões de pessoas do mesmo sexo, o documento mantém a posição da Igreja, contrária. “Não há fundamento algum para assimilar ou estabelecer analogia, ainda que remota, entre as uniões homossexuais e o plano de Deus para o matrimônio e a família”, diz. Entretanto, o Sínodo ressalta que “todas as pessoas, independentemente de sua orientação sexual, devem ser respeitadas em sua dignidade e acolhidas com respeito, tendo cuidado para evitar todo tipo de injusta discriminação”.

“Como cristãos, como lidar com estas situações? Muitos disseram que por razões culturais ou políticas, o tema é delicado demais”, disse o cardeal Schoenborn. “No entanto, deixar este tema fora do documento não quer dizer que na Europa ou na América do Norte não seja um tema de Igreja, mas em nível de universalidade temos que respeitar a diversidade das situações políticas e culturais.”

Trechos do Relatório Final do Sínodo

«Os batizados que são divorciados e civilmente casados de novo devem ser mais integrados nas comunidades cristãs de diferentes maneiras, evitando qualquer chance de escândalo. A lógica da integração é a chave para seu cuidado pastoral, para que eles não só saibam que pertencem ao Corpo de Cristo que é a Igreja, mas também possam ter uma experiência alegre e fecunda.»

«Há de fato uma diferença entre aqueles que sinceramente tentaram salvar seu primeiro casamento e foram injustamente abandonados e aqueles que por culpa própria destruíram um matrimônio canonicamente válido.»

«Por fim, há aqueles que contraíram um segundo casamento para o bem dos filhos e às vezes estão subjetivamente certos em suas consciências de que o casamento anterior, irremediavelmente quebrado, nunca havia sido válido.»

Fonte: O Estado de S. Paulo – Brasil / Metrópole – Domingo, 25 de outubro de 2015 – Pg. A28 – Internet: clique aqui.

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