«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

O QUE SE PASSA ENTRE PAIS E FILHOS HOJE?

Falhas nossas

Lee Siegel*

Por que os pais estão tão controladores e obcecados com 
a perfeição dos filhos? 
Talvez porque eles estejam perdendo o controle de si mesmos. 
MUNDO BOLHA
No fundo é isso que muitos pais e instituições de ensino pretendem fazer!
Porque, lá fora, as coisas se tornam bárbaras, cruéis, implacáveis!

Hoje, nos Estados Unidos existe uma nova cultura da guerra, que não tem muito a ver com a velha cultura da guerra. Nos anos 90, as pessoas discutiam a respeito do número excessivo de “autores brancos mortos” nas listas de leituras do currículo da faculdade. Agora, este conflito parece bizarro. A inclusão de escritores de diferentes gêneros e raças, e de diferentes países no que se refere a grandes obras literárias, evidentemente não prejudicou de modo algum o espírito americano.

Esta nova cultura na realidade tem menos a ver com cultura do que com psicologia. Ela nasce de determinadas tendências sociais inquietantes. As taxas de suicídios entre adolescentes são mais elevadas de que nunca. O mesmo se pode dizer da taxa de doenças mentais. Ambas se aplicam particularmente aos estudantes universitários, que lotam os centros de saúde mental dos câmpus em busca de ajuda.

Um artigo publicado recentemente pela revista Psychology Today pinta um quadro preocupante do que está ocorrendo com os universitários nos Estados Unidos. O artigo trata do fenômeno que chama de “declínio da resistência dos estudantes”. Eles aparentemente não são capazes de tolerar qualquer surpresa adversa que a vida possa colocar em seu caminho. Uma estudante corre para o psicólogo da escola afirmando que ficou traumatizada com a colega que a chamou de “puta”. Duas estudantes que moravam juntas no mesmo apartamento fora do câmpus chamaram a polícia ao ver um camundongo. Os policiais chegaram e montaram uma ratoeira. O artigo prossegue contando em detalhes a causa mais comum da ansiedade que afeta os estudantes universitários: o medo de serem reprovados. Qualquer nota que não seja A, qualquer revés acadêmico ou mesmo pessoal, faz com que estes jovens caiam num abismo de ansiedade que às vezes acaba em suicídio.

Outro artigo, publicado recentemente na revista Atlantic, tratava da questão do aumento da sensibilidade entre os jovens de uma maneira diferente. O artigo da Psychology Today enfatizava o quanto estes estudantes sofrem. O da Atlantic alertava contra o fato de que algumas faculdades e universidades estão tentando proteger os egos frágeis destes jovens. E referia-se principalmente a dois recentes fenômenos: as microagressões e as advertências. As microagressões são afirmações ou perguntas que parecem inócuas, mas podem implicar algum tipo de violência. Perguntar a um estudante latino ou asiático onde ele nasceu é considerado uma microagressão.

As advertências são sugestões de que o estudante deve tomar cuidado com o livro que vai ler ou o filme que escolheu para ver, porque poderá ofendê-lo ou perturbá-lo. O ensaio usa o exemplo do romance O Grande Gatsby. Como o livro de Fitzgerald contém exemplos de misoginia e abuso psicológico, qualquer professor que desse o romance como matéria seria obrigado, antes de mais nada, a avisar os estudantes a respeito do assunto de que ele trata.

As tentativas mais consequentes e dramáticas de proteger os estudantes do perigo psicológico ocorrem, evidentemente, a respeito do sexo. A incidência de estupros - ou, segundo os céticos, a percepção das jovens de serem estupradas - também está aumentando nas universidades. Em razão disso, faculdades e universidades decidiram adotar o que chamam de “consentimento afirmativo” entre dois parceiros sexuais. Ele é definido como uma “decisão afirmativa, inequívoca e consciente de cada participante de envolver-se numa atividade sexual mutuamente aceita”. O consentimento precisa ocorrer ao longo de todo o encontro sexual.

Tudo isso é facilmente ridicularizado. Se você tiver de emitir uma advertência para cada grande obra literária que leu, jamais começará a ler o que quer que seja. Emitir uma advertência para a Ilíada de Homero exigiria dias para que ela fosse concluída. Ou para Rei Lear, de Shakespeare, poderia levar meses. Na época em que os estudantes estivessem preparados para sentar e ler, já teriam saído da faculdade.

As microagressões exigiriam que cada estudante fosse acompanhado por um advogado no trajeto de uma classe para outra, sem falar para participar de festas e de outros eventos sociais. Quanto às leis sobre consentimento afirmativo, cada encontro sexual consistiria de dezenas de pessoas: os dois participantes, seus respectivos advogados, os advogados dos advogados - que ficariam em alerta com a possibilidade de uma microagressão contra os principais advogados - e uma multidão de tabeliães, taquígrafos e mensageiros. Seria preciso alugar um salão somente para ter uma relação sexual.

Tudo muito engraçado, é claro. Mas o constante aumento da ansiedade, da depressão e dos suicídios entre os jovens não é nada divertido.

Os especialistas explicaram quais são as forças que, em sua opinião, estão por trás destas terríveis tendências. Na maioria das vezes, tudo remonta aos pais, que pressionam incrivelmente os filhos a terem sucesso. Logo, os filhos não se perdoam quando falham. E como pais controladores tomam conta da vida dos filhos, deixando-lhes pouca autonomia, os filhos crescem e se tornam adultos jovens, desamparados. Eles não sabem tolerar agressões de outras pessoas, ou os contratempos normais da vida.

Tudo isso me parece a pura verdade, só isso. Entretanto, não leva em conta o motivo pelo qual os pais se tornaram tão obcecados com a perfeição dos filhos e tão controladores.

A verdade mesmo, que poucas pessoas se dispõem a considerar, é que a ansiedade e a depressão estão se tornando mais predominantes também entre os adultos. Há poucos indivíduos nos Estados Unidos com mais de 30 anos que não tomam algum tipo de medicamento para inibir a ansiedade e a depressão. Parte do motivo disso é que a própria sociedade espera a perfeição. Cada vez mais, somente as pessoas mais inteligentes, as mais agressivas, as mais atraentes e as mais jovens e mais saudáveis são bem-sucedidas no mercado. Se Darwin estivesse vivo hoje, não viajaria para as Ilhas Galápagos para aprender sobre a sobrevivência do mais apto. Ele compraria um apartamento em Manhattan - se pudesse pagar por isso. Se os pais querem controlar os filhos, é porque eles estão cada vez mais perdendo o controle de si mesmos.

Outro motivo é simplesmente o caráter inevitável da história. O Iluminismo estabeleceu a quimera da perfectibilidade da espécie humana. Desde então, a sociedade no Ocidente se tornou cada vez mais racionalizada e organizada. No campo da medicina e da tecnologia, e das próprias conquistas sociais, isso é ótimo, é claro. No entanto, há cada vez menos tolerância pelo erro humano. Na realidade, à medida que o Google e outras super corporações conseguem rápidos avanços na robótica em tantas áreas da existência humana, parece haver sempre menos tolerância pelo ser humano em geral.

LEE SIEGEL
Autor deste artigo
Acaso as advertências, as microagressões, o consentimento afirmativo são normas excessivas e frequentemente absurdas? É claro que são. Mas quatro anos de faculdade, durante os quais os professores procuram conscienciosamente cuidar dos crescentes temores dos estudantes a respeito do mundo, não me preocupam. O que me preocupa é o mundo no qual estes estudantes se matricularão, o mundo fora das paredes protetoras da faculdade ou universidade. Lá fora, as coisas estão se tornando sempre mais bárbaras, mais cruéis, mais implacáveis. Portanto, aproveitem seus quatro anos de proteção, meus queridos, e sintam-se seguros quando saírem.

Traduzido do inglês por Anna Capovilla.

* LEE SIEGEL é escritor e crítico cultural norte-americano, escreve no jornal The New York Times e em revistas como New Yorker e The Nation. É também autor de Você está Falando Sério? (Panda Books).

Fonte: O Estado de S. Paulo – Suplemento ALIÁS – Domingo, 11 de outubro de 2015 – Pg. E5 – Internet: clique aqui.

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