«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

domingo, 26 de junho de 2011

''Há concordância quanto a condenar a homofobia''

ENTREVISTA - Edênio Valle, padre e psicólogo

José Maria Mayrink


Autor de livro sobre a homossexualidade na Igreja afirma que a instituição ainda não dá orientação clara

Do papa aos formadores de seminaristas, as autoridades da Igreja Católica se preocupam com as tendências homossexuais de candidatos ao sacerdócio e à vida religiosa, mas não conseguem apontar o que se deve fazer para enfrentar as mudanças no campo afetivo que invadem seminários e conventos.

Numa visão psicoterapêutica e pedagógica, o padre e psicólogo Edênio Valle [foto acima] discute no livro Tendências Homossexuais em Seminaristas e Religiosos (Edições Loyola), escrito em colaboração com Deolino Baldissera, Eliana Massih e Ênio Brito Pinto, também psicólogos, o desafio enfrentado pela Igreja. Para os autores, os escândalos de pedofilia no clero forçaram o Vaticano a tomar posição, mas a questão é mais ampla.

Leia a seguir a entrevista.

A Igreja se esforça para acompanhar os seminaristas com tendências homossexuais?

Há uma preocupação e um esforço. Mas os documentos e instruções oficiais não são suficientes do ponto de vista do que se deve fazer. Tendem a ficar na repetição do que é essencial e a permanecer no campo dos princípios e da doutrina.

Esses textos tratam mais dos escândalos de pedofilia ou se estendem à formação e acompanhamento de portadores de tendências homossexuais?

Os escândalos provocados pelo comportamento do clero de vários países foram o estopim de algumas tomadas de posição da Igreja. A respeito da homossexualidade, existem documentos da autoridade eclesiástica que se referem aos problemas e polêmicas sobre o assunto. São posicionamentos independentes da questão da pedofilia ou da homossexualidade no clero. Eles representam uma reação aos debates que se dão na opinião pública. Têm a ver também com a força política que o movimento gay adquiriu nos últimos tempos. Outro ponto que mexe com a Igreja é a veemência com que a maior parte do fogo se concentra contra a Igreja Católica e contra o papa. Os documentos sobre a pedofilia, de cunho mais jurídico, tendem a ser cada vez mais duros e exigentes no plano dos procedimentos a serem observados. Já não é o que ocorre nos documentos referentes à homossexualidade, mais voltados para a formação e o acompanhamento dos seminaristas e padres.

Há resistência da Igreja e dos formadores a recorrer ao auxílio de psicólogos e outros especialistas nos seminários e conventos?

Houve e ainda há resistência, tanto na Igreja Católica quanto nas protestantes históricas. Julgo ser, em boa parte, uma questão de desinformação. Vejo algo análogo em setores não religiosos e acadêmicos mais conservadores. Há uma concordância quanto à necessidade de se condenar a homofobia. Até o catecismo da Igreja Católica reconhece e afirma os direitos de pessoas com tendência homossexual dentro e fora da Igreja. A questão da união civil entre indivíduos do mesmo sexo não encontra concordância tão grande, em especial se sob essa designação fala de casamento, no sentido católico de sacramento e/ou no sentido adotado pela Constituição brasileira.

Não houve uma evolução?

Muitos seminários católicos têm hoje psicólogos acompanhando os jovens. Há exceções, naturalmente. O problema é que alguns casos são bastante complicados e precisam de tratamento. "Sair do armário" só não resolve o problema psicológico de fundo.

Qual é a orientação da Igreja se um seminarista não parece capaz de assumir o compromisso do celibato?

As normas quanto às condições afetivas/sexuais a serem exigidas de um candidato ao presbiterado são as mesmas para todos, independentemente de sua orientação sexual. Na prática, a tendência homossexual acaba ocupando mais espaço e gerando mais preocupação.

Como a Igreja reage à manifestação de movimentos gays que reivindicam a ordenação de homossexuais como um direito?

A Igreja tem sido firme quanto ao princípio em si e não há indícios de mudança. A mera pressão gay não deve mudar seu ponto de vista. Na prática, porém, essa firmeza já não é tão radical. Daí talvez o fato de haver uma preocupação maior com os candidatos de tendência homoafetiva.

O fim do celibato seria solução para a sexualidade no clero?

É preciso distinguir o fim do celibato do fim da lei do celibato. Na Igreja Católica, só uma minoria propõe seriamente o fim do celibato. Na espiritualidade cristã, o que conta é a liberdade e não a lei. Enquanto lei canonicamente imposta, o celibato precisa ser revisto. Sendo livre, o celibato ajudaria no sentido de uma melhor vivência da sexualidade por parte dos ministros da Igreja.

Fonte: O Estado de S. Paulo - Vida - Sábado, 25 de junho de 2011 - Pg. A16 - Internet: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110625/not_imp736674,0.php

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