O Fórum de Padres de Madri denuncia a Fundação ‘Madri Vivo’, que financia a JMJ
Jesús Bastante*
Religión Digital
21 de junho de 2011
“Para viabilizar a Jornada Mundial da Juventude foi necessário um pacto com estas forças econômicas e políticas, o que reforça a imagem da Igreja como instituição privilegiada e próxima do poder, com o escândalo social que isso representa, particularmente no contexto da atual crise econômica”.
O Fórum de Padres de Madri, que aglutina 120 sacerdotes, apresentou nesta segunda-feira [20/06/11] um comunicado sumamente crítico com a Fundação "Madri Vivo", que financia boa parte da Jornada Mundial da Juventude. “Os mecenas de Rouco lavam seu dinheiro passando pela túnica do Papa”, denunciam os sacerdotes, que questionam a oportunidade de gastar dezenas de milhões de euros – tanto das arcas públicas como do patrocínio de empresas de “duvidosa ética” – em meio à crise econômica.
O documento foi apresentado durante um almoço por três membros da Comissão Permanente do Fórum: Emilio (Billy) Rodríguez, Rafael Rojo e Evaristo Villar. No mesmo, critica-se duramente os objetivos da fundação, presidida pelo cardeal Rouco Varela [foto acima]. “Parece que Rouco aceitou a presidência de uma fundação que surge do nada, quando foi ele quem está por trás da iniciativa”. A imagem dos representantes máximos das grandes empresas do Ibex – no Vaticano ao lado de Rouco e do Papa – é “pedra de escândalo” para muitos, acostumados a trabalhar com os mais humildes. “Muitas dessas empresas fazem parte do que a imprensa denomina de ‘mercados’, ou são seus propagandistas ideológicos”, continua o texto, que em boa medida responsabiliza estas entidades pela crise que estamos vivendo.
“O bispo de Madri, em sua Fundação ‘Madri Vivo’, escolheu os piores colaboradores para superar esta ‘grave crise de natureza ética’ que denunciava. A estes mecenas, e aos seus porta-vozes propagandistas, não faltam solenes colaborações sobre sua vontade de ‘contribuir para que Madri seja cada vez mais a cidade dos valores (...), mas suas práticas e de suas empresas vão exatamente no sentido contrário”, denuncia o documento.
“Confiar na força do poder e do dinheiro para evangelizar significa submeter-se a uma tentação tão velha quanto a própria Igreja”, aponta o texto do Fórum de Padres. Seus responsáveis asseguram que “não somos contra a vinda do Papa, mas nos parece um escândalo que a Jornada Mundial da Juventude seja financiada com recursos do Orçamento Geral do Estado e dos grandes proprietários, que contribuem para a autojustificação do pontificado de Rouco”. “Aqui está o capital, abençoado pela Igreja”.
“É uma jornada de adoutrinamento, mas não vão ouvir os jovens”, denunciaram os sacerdotes, que insistiram em que “com estes procedimentos não se evangeliza, mas se adoutrina”. Para Billy, “estas empresas são responsáveis pela situação de crise das pessoas, e lavam seu dinheiro passando pela túnica do Papa”.
Evaristo Villar, por sua vez, declarou que “estamos de acordo com a visita do Papa às igrejas particulares, mas somos contrários a essas formas. Dessa maneira, não é um anúncio de Jesus Cristo, mas da Igreja institucional, quando o Evangelho sempre tem que ser Jesus Cristo”. “Nessas condições, não queremos que venhas”, resume o sacerdote.
O documento foi entregue há uma semana ao cardeal Rouco, que não chamou os sacerdotes para reunião alguma. “Hoje, na Igreja é negada a liberdade de expressão”, recalcaram os sacerdotes, que denunciaram o “escândalo silencioso” que significa que “a Igreja está se convertendo em um espaço inabitável”.
“Preocupa-nos ver a Igreja aliada com o poder político e econômico, e em atos de prepotência e dominação”, ressaltou Rafael Rojo. “O fato de ter aceitado estes patrocínios impede-os de falar com liberdade da relação de alguma destas empresas com a crise, com a exploração...”.
* A tradução é do Cepat.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - 22/06/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=44563
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