«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

A PALAVRA DO ANO: D E S I G U A L D A D E !

Perdedores em primeiro lugar

Lúcia Guimarães
Elizabeth Warren - senadora do Partido Democrático dos EUA
 
Qual a palavra do ano? Os juízes do mais tradicional concurso de miss vocabular na língua inglesa, os acadêmicos dos Dicionários Oxford, escolheram vape, uma abreviação de vaporizar ou vapor, por causa da moda de cigarros eletrônicos.

As listas de fim de ano - melhores e piores - passaram por uma transformação graças à velocidade da mídia digital. Os algoritmos são o equivalente matemático do populismo cultural. Se especialistas ou críticos eram consultados sobre os maiores avanços científicos ou melhores livros do ano, os fenômenos virais e a facilidade de se aferir o que é popular transfere o poder das listas às nações online.

Voltando ao vape: soa mal, em inglês ou qualquer língua que conheço. O instituto de pesquisa que tem expediente incerto aqui na cozinha, geralmente enquanto estou coando café, elegeu vencedora outra palavra que, embora não tenha despontado em 2014, resume melhor a realidade e a consciência global este ano.
Desigualdade.

O economista mais influente de 2014, o francês Thomas Piketty, com seu best-seller Capital no Século XXI [publicado no Brasil pela Editora Intrínseca], levantou a cortina sobre o aumento da desigualdade ao examinar estatísticas de renda em 20 países, ao longo de 300 anos. Mas uma cortina continuou fechada quando Piketty tentou, em vão, obter do governo brasileiro dados históricos e atuais sobre declarações de imposto de renda. O que o Planalto queria esconder? Que a desigualdade de renda no Brasil aumentou na última década e os dez por cento mais afluentes passaram a abocanhar uma fatia maior da riqueza do país? O governo federal ainda não tinha certeza, mas seu apego a cortinas é comparável ao do Mágico de Oz. Ao encomendar ao Ipea [Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada] uma pesquisa para ver aonde Piketty queria chegar, chegou lá e engavetou os números.

Sim, estamos competindo com os Estados Unidos no campeonato da desigualdade social. Piketty argumenta que a desigualdade é inevitável na medida em que os afluentes detentores de imóveis, heranças e investimentos sempre ficarão à frente de assalariados. De passagem pelo Brasil para lançar seu livro, ele declarou que a desigualdade no Brasil é provavelmente subestimada. Qualquer assalariado da classe C dispensa doutorado em economia para saber que, quando um pesquisador do PNAD [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios] bate à porta de um afluente brasileiro, o entrevistado vai subestimar sua renda. Já a sua declaração ao Leão é um retrato mais fiel da distância que o separa dos noventa por cento da população.

Não sei o que a turma dos Dicionários Oxford estava fumando quando escolheu vape, mas nos Estados Unidos, que se recuperaram da grande recessão de 2009 mais rápido do que a Europa, é a desigualdade que está bombando, tanto o mal como a palavra. A recuperação americana incluiu a esperada euforia no mercado de capitais, mas, pela primeira vez na história, excluiu a classe média, que durante quase meio século, acreditou no aforismo popularizado por John Kennedy, "A maré que sobe levanta todos os barcos".

A mulher mais demonizada por Wall Street é a senadora Democrata Elizabeth Warren, uma crítica da impunidade da indústria financeira e do passe livre fiscal que permitiu a volta da desigualdade a níveis pré-Grande Depressão, em 1928. Embora afirme que não vai se candidatar a presidente, Warren começa a erodir a concentração de capital político de Hillary Clinton até agora tratada como candidata com a inevitabilidade de sucessões monárquicas. Não será surpresa se a mulher de Bill Clinton, cuja presidência foi um modelo de lua de mel com Wall Street, começar a citar números como este: nos Estados Unidos, 300 mil detêm a riqueza equivalente à de 280 milhões.

A desigualdade deixou de ser província ideológica da esquerda. Assim como a desigualdade brasileira aumentou sob a dinastia petista [do Partido dos Trabalhadores], a desigualdade americana foi apropriada pelo Partido Republicano para dar uma surra nos democratas na eleição intermediária de novembro. Quando o Fórum Econômico Mundial perguntou a dois mil líderes globais qual a tendência que mais ameaça o mundo em 2015, a maioria respondeu: o aumento da desigualdade.

Num detalhado exame do calvário em que se transformaram as viagens de avião, "A Guerra das Companhias Aéreas Contra os 99%", um jornalista vê na aviação comercial o reflexo de um mundo cada vez mais desigual e sugere que a distribuição de espaço nos assentos pode seguir um modelo Piketty de análise - os ricos cada vez mais espremem a classe econômica. No artigo da revista The American Prospect, Harold Meyerson escreve que, diante da disparidade de acomodações, "Como folhetim sócio econômico, o Titanic poderia ter nova versão a bordo de um avião".

Desigualdade, um iceberg na noite de capitães negligentes.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Caderno 2 – Segunda-feira, 29 de dezembro de 2014 – Pg. C8 – Internet: clique aqui.

A dependência do Bolsa Família

Editorial
A mais recente Síntese de Indicadores Sociais do IBGE mostra que os brasileiros mais pobres dependem cada vez mais dos programas de transferência de renda. Com uma década de existência, o Bolsa Família representa hoje a maior parte dos ganhos de uma parcela significativa da população. O programa - que deveria ser temporário e servir apenas como forma de auxiliar os beneficiários em sua luta para sair da miséria - consolidou-se como a base da sobrevivência dessas famílias, pois a renda do trabalho, quando existe, é insuficiente, e não há perspectivas de que essa situação mude num futuro previsível. Esses brasileiros se tornaram, portanto, clientes permanentes de favores do Estado.

Segundo o estudo divulgado pelo IBGE, a participação da renda do trabalho no orçamento das famílias mais pobres - com renda per capita de até um quarto de salário mínimo - caiu de 73,6% em 2004 para 57% em 2013. Já a participação de "outras fontes" - que, no caso das famílias mais pobres se limita ao Bolsa Família e a outros programas de transferência de renda - subiu de 20,3% para 37,5%, contra uma média nacional de 18,3%. No Nordeste, esse porcentual chega a 43,8%; no Piauí, atinge 53,2%.

Os responsáveis pela pesquisa concluíram que o orçamento dessas famílias passou a ser determinado por essa renda oferecida pelo governo, embora a maior parte dessas pessoas continue a ter alguma renda proveniente do trabalho.

"Essas famílias têm uma característica de inserção precária no mercado de trabalho", disse Barbara Cobo, coordenadora do levantamento. "Elas entram e saem do mercado de trabalho o tempo todo. Com a transferência de renda governamental, elas passam a contar com uma renda complementar", explicou Barbara, salientando que o Bolsa Família é uma garantia de que o beneficiário terá alguma renda mesmo desempregado e pode recusar trabalho degradante.

A importância do Bolsa Família em um país desigual como o Brasil é evidente. O problema, conforme a pesquisa do IBGE mostra, é que o programa se tornou central, e não mais auxiliar, para seus beneficiários. E isso acontece porque não há "porta de saída".

Os números mostram que a pobreza diminuiu nos últimos anos. A mesma síntese do IBGE indica que a participação dos 10% mais ricos na renda do País recuou de 45,8% em 2004 para 41,7% em 2013. Já a participação dos 40% mais pobres cresceu de 9,4% para 11,6% no período. Enquanto isso, o Índice de Gini, que vai de 0 a 1, no qual zero representa menor desigualdade social, caiu de 0,555 para 0,501 entre 2004 e 2013.

No entanto, é importante sublinhar que essa queda da desigualdade se deu em um contexto econômico bem diverso do atual. Entre 2004 e 2011, o PIB do País cresceu em média 4,3% ao ano, graças principalmente ao aumento global do consumo de commodities vendidas pelo Brasil. Não é mera coincidência que o Índice de Gini tenha caído de forma mais acelerada (de 0,555 para 0,506) justamente naquele período.

Mas essa mudança socioeconômica só chegaria a bom termo se o País continuasse a crescer e se, principalmente, estivesse lastreada em pesados investimentos no setor produtivo e na melhoria da educação e da saúde justamente daqueles que hoje mais precisam do Bolsa Família. Os governos lulopetistas, no entanto, preferiam o caminho fácil da expansão do crédito e do estímulo ao consumo - como se a capacidade de pagar prestações fosse suficiente para definir a condição social dos cidadãos e como se essa fórmula econômica gerasse impulso suficiente para o crescimento sustentável do País.

Diante do estado vegetativo da economia sob o governo de Dilma Rousseff, é improvável que a tendência apontada pela pesquisa do IBGE se altere nos próximos tempos. Isso significa que os brasileiros mais pobres continuarão fortemente dependentes do Bolsa Família e, como mostraram as últimas eleições, traduzirão sua gratidão em votos naqueles que lhes concedem esse imenso favor - perpetuando assim uma relação clientelista que nada tem a ver com distribuição de renda.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Notas e Informações – Segunda-feira, 29 de dezembro de 2014 – Pg. A3 – Internet: clique aqui.

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