«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

BALANÇO DA "GUERRA AO TERROR" CONDUZIDA PELOS EUA

“Obama reluta em agir e se envolver”

Entrevista com David J. Rothkopf*

Cláudia Trevisan

Para especialista, reação dos EUA aos atentados do 11 de Setembro trouxe mais problemas do que benefícios ao país
Os danos provocados pela reação dos Estados Unidos aos ataques de 11 de setembro de 2001 são maiores do que os ocasionados pelos próprios atentados, nos quais quase 3 mil pessoas morreram. Além disso, o país está perdendo a guerra ao terror iniciada há 13 anos com a invasão do Afeganistão, o que se revela no aumento do número de organizações, ataques e vítimas do terrorismo.

As reflexões são de David Rothkopf, CEO e editor do FP Group, que publica a Foreign Policy, uma das mais influentes revistas sobre relações internacionais dos EUA. Em seu mais recente livro, National Insecurity: American Leadership in an Age of Fear (Insegurança Nacional: a Liderança Americana na Era do Medo), Rothkopf defende que os EUA deixem para trás a obsessão com o combate ao terrorismo e mantenham o foco em questões "mais importantes".

Para o especialista, os EUA [Estados Unidos da América] não dão a importância devida à relação com o Brasil. Em parte, isso reflete uma visão "alérgica a governos de esquerda", que ainda domina a comunidade em Washington responsável por pensar políticas para a América Latina. "A realidade é que os EUA têm dificuldade em aceitar que a esquerda na América Latina é tanto legítima quanto construtiva - e é o momento de acordarmos para isso." A seguir, os principais trechos da entrevista.

O sr. espera mudanças com a saída de Chuck Hagel do Departamento de Defesa e sua substituição por Ashton Carter?

David Rothkopf: As políticas são definidas na Casa Branca. Esse não é um governo que opera de maneira colaborativa e isso não vai mudar. Ashton Carter vai enfrentar as mesmas pressões que Hagel enfrentou. A Casa Branca quer que ele comande uma guerra, mas não vá muito longe. Os militares não gostam de lutar guerras pela metade e ele acabará sendo um amortecedor entre militares frustrados e uma Casa Branca ambivalente, quase sempre intransigente e difícil.

O sr. se refere à guerra contra o Estado Islâmico (EI)?

David Rothkopf: Sim, a guerra no Iraque e na Síria vai dominar sua atenção. Ele também terá de cuidar da retirada do Afeganistão enquanto o Taleban realiza incursões importantes em cinco ou seis províncias. Não é um momento fácil para ser secretário de Defesa.

Com o avanço do Taleban no Afeganistão e a emergência do EI no Iraque os EUA podem dizer que ganharam as guerras iniciadas há 13 anos?

David Rothkopf: Certamente, não. Nós iniciamos uma guerra ao terror no governo (George W.) Bush e hoje temos mais grupos terroristas, mais ataques e mais vítimas do que nunca, segundo o Departamento de Estado. Não estamos ganhando.

É por isso que o sr. diz em seu mais recente livro que a reação ao ataque de 11 de Setembro provocou mais danos do que o ataque em si?

David Rothkopf: Sim, nos custou US$ 3 trilhões, alienou nossos aliados e desestabilizou uma região importante, o que aumenta a probabilidade de que os custos sejam ainda maiores no futuro. E não estou nem falando das consequências morais ou políticas de Guantánamo, Abu Ghraib e a tortura. Porque todas essas coisas negativas aconteceram, (Barack) Obama reluta em agir e se envolver, o que piora a situação. Quando olharem para esse período da história, as pessoas dirão: "O pós-11 de Setembro foi um período em que os EUA foram malsucedidos na maioria das frentes de sua política externa".

O sr. afirma que é o momento de os EUA deixarem a "Era do Medo" para trás. É possível fazer isso com a emergência do EI?

David Rothkopf: Sim, se nosso objetivo for reordenar nossas prioridades. Isso não significa que eliminaremos nossa atenção ao terrorismo. Significa que reconheceremos que as questões mais importantes estão relacionadas à emergência de novos poderes, como China, Índia e Brasil, ao clima, a como tornar a economia mais competitiva e como enfrentar novas ameaças, como ataques cibernéticos.

A atuação do presidente Obama na política externa contribuiu para a derrota sofrida pelo Partido Democrata nas eleições de meio de mandado?

David Rothkopf: O importante era o baixo índice de aprovação do presidente. E muito da percepção de que ele não é um presidente forte está relacionado ao modo como ele administra a política externa. De maneira indireta, a política externa, como medida da confiança no presidente, foi extremamente importante para moldar o debate.

Existe a percepção de que Obama é fraco?

David Rothkopf: Esse é o sentimento generalizado em uma série de questões, seja (Vladimir) Putin entrando na Crimeia ou a declaração de que (Obama) iria atacar a Síria e o recuo posterior ou a relação com o Egito, onde nós tomamos uma posição e depois outra. E na Líbia, onde entramos e saímos rapidamente, deixando o país em completa desordem. Todas tiveram efeito negativo sobre o presidente.

Qual é a percepção nos EUA em relação ao Brasil?

David Rothkopf: Os EUA têm uma relação comercial boa com o Brasil. Os inimigos de uma melhor relação incluem a ausência de capacidade institucional, a falta de novas ideias e o desinteresse em ter essa discussão. Uma das coisas que os EUA têm de fazer na medida em que se movem de uma mentalidade G-7 para uma mentalidade G-20, de uma mentalidade que lida com os poderes estabelecidos para uma que lida com poderes emergentes, é repensar a relação com o Brasil e se engajar com o Brasil.

Qual o grau de desconforto nos EUA em relação a posições do Brasil que divergem das de Washington em temas internacionais como Síria e Ucrânia?

David Rothkopf: Há desconforto, mas as complicações não são nada se comparadas às complicações da relação entre EUA e China - e os EUA estão se desdobrando para fazer com que essa relação seja bem-sucedida, ainda que seja um país comunista, autoritário, com recorde negativo em direitos humanos e interesses totalmente diferentes dos nossos na região Ásia-Pacífico. Nós reconhecemos que quando se trata de grandes potências, a coisa madura a fazer é identificar áreas de cooperação, focar nelas e lidar com as questões em relação às quais há diferença. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o melhor exemplo, mas também há Michelle Bachelet, no Chile, (Rafael) Correa, no Equador e o Uruguai. A realidade é que os EUA têm dificuldade em aceitar que a esquerda na América Latina é tão legítima quanto construtiva e é o momento de acordarmos para isso.

O Brics avançou neste ano com a criação de seu banco de desenvolvimento. O grupo pode representar um contraponto à influência americana?

David Rothkopf: Poderia ser. O conceito do Brics é frouxo. A China não tem boa relação com a Índia, a Rússia não se dá bem com ninguém, o Brasil tem interesses muito diferentes dos demais e agora temos a África do Sul, que não é um grande país. Mas o banco do Brics teve uma mensagem importante. Era inevitável o surgimento de novas instituições no mundo emergente. A estrutura de poder do mundo está mudando. No fim, as alianças e as instituições vão mudar para se adaptar a isso. Estamos em um divisor de águas em que instituições têm de ser redesenhadas tanto em termos de quem tem poder quanto em qual é a nova geração de questões a serem discutidas e quem está em melhor posição para tratar delas.

* David J. Rothkopf é o CEO [sigla inglesa para Chief Executive Officer, que significa Diretor Executivo, Diretor Geral de uma empresa ou organização], e editor do FP Group, que publica a revista Foreign Policy [Política Estrangeira]. É também presidente e CEO da Garten Rothkopf uma consultoria internacional especializada em risco político global, energia, recursos, tecnologia e mercados emergentes, com sede em Washington. Foi professor da Escola Superior de Assuntos Públicos e Internacionais da Universidade Columbia e na Escola Georgetown de Serviços Estrangeiros. Já deu aula em universidades como Harvard, Yale, Princeton e Cambridge.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Internacional – Domingo, 7 de dezembro de 2014 – Pg. A18 – Internet: clique aqui.

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