«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 27 de dezembro de 2014

Sagrada Família de Jesus - Ano B - Homilia


Evangelho: Lucas 2,22-40

22 Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor.
23 Conforme está escrito na Lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor.”
24 Foram também oferecer o sacrifício - um par de rolas ou dois pombinhos - como está ordenado na Lei do Senhor.
25 Em Jerusalém, havia um homem chamado Simeão, o qual era justo e piedoso, e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com ele
26 e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor.
27 Movido pelo Espírito, Simeão veio ao Templo. Quando os pais trouxeram o menino Jesus para cumprir o que a Lei ordenava,
28 Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus:
29 “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz;
30 porque meus olhos viram a tua salvação,
31 que preparaste diante de todos os povos:
32 luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel.”
33 O pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele.
34 Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição.
35 Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma.”
36 Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada; quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido.
37 Depois ficara viúva, e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do Templo, dia e noite servindo a Deus com jejuns e orações.
38 Ana chegou nesse momento e pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém.
39 Depois de cumprirem tudo, conforme a Lei do Senhor, voltaram à Galileia, para Nazaré, sua cidade.
40 O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele.

JOSÉ ANTONIO PAGOLA
SINAL DE CONTRADIÇÃO

Simeão é um personagem cativante. Nós o imaginamos, quase sempre, como um sacerdote ancião do Templo, porém nada disto nos é dito pelo texto. Simeão é um homem bom do povo que conserva em seu coração a esperança de ver, um dia, “a consolação” que tanto necessitam. “Impulsionado pelo Espírito de Deus”, sobe ao templo no momento em que estão entrando Maria, José e seu menino Jesus.

O encontro é comovedor. Simeão reconhece no menino que aquele casal pobre de judeus piedosos traz consigo o Salvador que há tantos anos passou esperando. O homem se sente feliz. Em um gesto atrevido e maternal, “toma o menino em seus braços” com grande amor e carinho. Bendiz a Deus e abençoa os pais. Sem dúvida, o evangelista apresenta-o como modelo. Assim devemos acolher o Salvador.

No entanto, de repente, dirige-se a Maria e seu rosto muda. Suas palavras não prenunciam nada tranquilizador: “Uma espada transpassará tua alma”. Este menino que tens em teus braços será um “sinal de contradição”: fonte de conflitos e enfrentamentos. Jesus fará que “uns caiam e outros se levantem”. Alguns o acolherão e sua vida adquirirá uma dignidade nova: sua existência se encherá de luz e de esperança. Outros o rejeitarão e sua vida se arruinará. A rejeição a Jesus será sua ruína.

Ao posicionar-se perante Jesus, “ficará clara a atitude de muitos corações”. Ele porá a descoberto o que há de mais profundo nas pessoas. A acolhida deste menino pede uma mudança profunda. Jesus não vem trazer tranquilidade, mas dar início a um processo doloroso e conflitivo de conversão radical.

Sempre é assim. Também hoje. Uma Igreja que leve a sério sua conversão a Jesus Cristo, não será jamais um espaço de tranquilidade, mas de conflito. Não é possível uma relação mais vital com Jesus sem dar passos para maiores níveis de verdade. E isso é sempre doloroso para todos.

Quanto mais nos aproximamos de Jesus, melhor vemos nossas incoerências e desvios; o que há de verdade ou de mentira em nosso cristianismo; o que há de pecado em nossos corações e nossas estruturas, em nossas vidas e nossas teologias [modos de compreender e falar de Deus].

QUE FAMÍLIA!

Hoje se fala muito de crise da instituição familiar. Certamente, a crise é grave. Porém, não é lícito sermos catastróficos. Mesmo que estejamos sendo testemunhas de uma verdadeira revolução na conduta familiar, e muitos pregaram a morte de diversas formas tradicionais de família, ninguém anuncia hoje, seriamente, o desaparecimento da família.

Ao contrário, a história parece ensinar-nos que, nos tempos difíceis, se estreitam ainda mais os laços familiares. A abundância separa os homens. A crise e a penúria os unem. Diante do pressentimento de que vamos viver tempos difíceis, são muitos que prenunciam um novo renascer da família.

Frequentemente, o desejo sincero de muitos cristãos em imitar a sagrada família de Nazaré favoreceu o ideal de uma família fundamentada na harmonia e na felicidade do próprio lar. Sem dúvida, é necessário também hoje promover a autoridade e responsabilidade dos pais, a obediência dos filhos, o diálogo e a solidariedade familiar. Sem estes valores, a família fracassará.

Porém, nem toda família corresponde às exigências do Reino de Deus colocadas por Jesus. Há famílias abertas ao serviço da sociedade, e famílias egoisticamente voltadas para si mesmas. Famílias autoritárias e famílias de espírito dialogal. Famílias que educam no egoísmo e famílias que ensinam solidariedade.

Concretamente, no contexto da grave crise econômica que estamos padecendo, a família pode ser uma escola de dessolidarização na qual o egoísmo familiar se converte em virtude e critério de atuação que configurará o comportamento social dos filhos. E pode ser, por outro lado, um lugar em que o filho ou a filha possa recordar-se que todos temos um Pai comum, e que o mundo não termina nas paredes da própria casa.

Por isso, não podemos celebrar, de modo responsável, a festa da Sagrada Família, sem escutar o desafio à nossa fé. Nossos lares serão um lugar onde as novas gerações escutarão o chamado do evangelho à fraternidade universal, à defesa dos abandonados, e à busca de uma sociedade mais justa, ou se converterão na escola mais eficaz de dessolidariedade, inibição e passividade egoísta diante dos problemas alheios?

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: Sopelako San Pedro Apostol Parrokia – Sopelana (Bizkaia) – Espanha – J. A. Pagola Ciclo B [Homilías] – Internet: aqui.

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