«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

PAPA ALERTA SOBRE AS 15 DOENÇAS QUE AFETAM A IGREJA

Ao listar tentações que podem atingir tanto a Cúria Romana quando cada cristão, Francisco pediu exame de consciência como preparação ao Natal

Jéssica Marçal
Papa Francisco discursa na Sala Clementina (Segunda-feira, 22 de dezembro de 2014)
O Papa Francisco reuniu-se na manhã desta segunda-feira, 22 de dezembro, com a Cúria Romana, para os tradicionais votos de fim de ano. Ele falou do perigo de algumas doenças que podem afetar tanto a Cúria quanto cada cristão, propondo, assim, um exame de consciência a fim de preparar o coração para o Natal. Ele também enfatizou que o Espírito Santo é capaz de curar toda enfermidade.

A imagem sobre a qual o Pontífice se concentrou em seu discurso foi a do Corpo de Jesus [Corpo Místico], comparando a Cúria a um pequeno modelo da Igreja, ou seja, um corpo que procura ser mais vivo, mais harmonioso e unido em si mesmo e em Cristo.

O Santo Padre reconheceu a complexidade da Cúria Romana que, justamente por sua dinamicidade, não pode viver sem o relacionamento vital com Cristo. Um membro da Cúria que não se alimenta disso acaba se tornando um burocrata, um ramo que murcha e morre lentamente, disse.

“A oração cotidiana, a participação assídua aos Sacramentos, de modo particular à Eucaristia e à reconciliação, o contato cotidiano com a palavra de Deus e a espiritualidade traduzida em caridade vivida são alimento vital para cada um de nós”, indicou.

Francisco lembrou que a Cúria é chamada a melhorar constantemente e a crescer em comunhão, santidade e sabedoria para realizar sua missão. Porém, como todo corpo, ela também está exposta a algumas doenças, que enfraquecem o serviço a Deus.
Papa Francisco discursa durante audiência concedida aos membros da Cúria Romana
por ocasião das felicitações de Natal
O Santo Padre fez um “catálogo” dessas doenças que podem afetar a Cúria, elencando 15 itens:

1 – sentir-se imortal, imune ou até mesmo indispensável, negligenciando os controles necessários e habituais. “Uma Cúria que não faz autocrítica, que não se atualiza é um corpo enfermo”. É o “complexo dos eleitos, do narcisismo”.

2 – a doença do “martalismo” (que vem de Marta), da ocupação excessiva, os que trabalham sem usufruírem do melhor. A falta de repouso leva ao stress e à agitação.

3 – a doença do “empedramento” mental e espiritual, isso é, daqueles que têm coração de pedra. Quando se perde a serenidade interior, a vivacidade e a audácia e nos escondemos atrás de papéis, deixando de ser “homens de Deus”.

4 – planejamento excessivo e funcionalismo, tornando o apóstolo um contador ou comercialista. “Quando o Apóstolo planifica tudo minuciosamente e pensa que assim as coisas progridem torna-se num contabilista”. É a tentação de querer pilotar o Espírito Santo.

5 – má coordenação, sem harmonia entre as partes do “corpo”.

6 – “Alzheimer espiritual”, ou seja, o esquecimento da história da Salvação, da história com o Senhor, do “primeiro amor”.

7- rivalidade e orgulho, quando a aparência, as cores das vestes e insígnias de honra tornam-se o objetivo primário da vida. “Leva-nos a ser falsos e a viver um falso misticismo”.

8– esquizofrenia existencial, que é a doença dos que vivem uma vida dupla, fruto da hipocrisia típica do medíocre e do progressivo vazio espiritual que licenciaturas ou títulos acadêmicos não podem preencher.

9 – fofocas, murmurações e mexericos. “É a doença dos velhacos que não tendo a coragem de falar diretamente falam pelas costas. Defendamo-nos do terrorismo dos mexericos”.

10 – a doença de divinizar os chefes, que é a daqueles que cortejam os superiores esperando obter sua benevolência. “Vivem o serviço pensando unicamente àquilo que devem obter e não ao que devem dar”. Pode acontecer também aos superiores.

11- indiferença para com os outros. “Quando se esconde o que se sabe. Quando por ciúme sente-se alegria em ver a queda dos outros em vez de o ajudar a levantar”.

12 – doença da “cara fúnebre”, de pessoas carrancudas que pensam que para serem sérias é preciso pintar a face de melancolia, de severidade e tratar os outros com rigidez, dureza e arrogância. “O apóstolo deve esforçar-se por ser uma pessoa cortês, serena, entusiasta e alegre e que transmite alegria…”. “Como faz bem uma boa dose de são humorismo”.

13 – a doença do acumular, quando o apóstolo procura preencher um vazio existencial no seu coração acumulando bens materiais, não por necessidade, mas para se sentir seguro

14 – doença dos círculos fechados, onde a pertença ao grupinho se torna mais forte que aquela ao Corpo e, em algumas situações, ao próprio Cristo.

15 – a doença do lucro mundano, do exibicionismo. “Quando o apóstolo transforma o seu serviço em poder e o seu poder em mercadoria para obter lucros mundanos ou mais poder”.

Fonte: Canção Nova – Especiais – Papa – Segunda-feira, 22 de dezembro de 2014 – 11h58 – Modificado na Terça-feira, 23 de dezembro de 2014 – 07h49 – Internet: clique aqui.

NÃO DEIXE DE LER, NA ÍNTEGRA,
ESTE IMPRESSIONANTE DISCURSO DE PAPA FRANCISCO!
SEGUE ABAIXO:
Encontro do Papa Francisco com a Cúria Romana por ocasião da apresentação das felicitações natalinas
Sala Clementina do Palácio Apostólico
Segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Tu estás acima dos querubins, tu que mudastes a condição miserável do mundo, quando ti fizestes como nós.
(Santo Atanásio)

 Amados irmãos,

Ao término do Advento nos encontramos para as saudações tradicionais. Em poucos dias teremos a alegria de celebrar o Natal do Senhor; o evento de Deus que se fez homem para salvar os homens; a manifestação do amor de Deus que não se limita a dar-nos alguma coisa ou a enviar-nos qualquer mensagem ou certos mensageiros, mas dá-se a nós; o mistério de Deus que assume a nossa condição humana e os nossos pecados para revelar-nos a sua vida divina, a sua imensa graça e o seu perdão gratuito. É o encontro com Deus, que nasce na pobreza da gruta de Belém para nos ensinar o poder da humildade. Na verdade, o Natal também é a festa da luz que não é aceita pelo povo “eleito”, mas pelo povo pobre e simples que esperava a salvação do Senhor.

Primeiramente, eu gostaria de desejar a todos vocês – colaboradores, irmãos e irmãs, Representantes pontifícios ao redor do mundo – e todos os seus entes queridos, um Santo Natal e um Feliz Ano Novo. Quero agradecer-vos cordialmente pelo vosso empenho cotidiano a serviço da Santa Sé, da Igreja Católica, das Igrejas particulares e ao Sucessor de Pedro.

Uma vez que somos pessoas e não apenas números ou denominações, recordo-me de maneira especial daqueles que, durante este ano, terminaram o seu serviço por razões de idade ou para assumir outras funções, ou por terem sido chamados para a Casa do Pai. Também a todos eles e suas famílias vão os meus pensamentos e gratidão.

Desejo, juntamente convosco, elevar ao Senhor um vivo e sincero agradecimento pelo ano que está nos deixando, pelos eventos vividos e por todo o bem que Ele quis generosamente realizar através do serviço da Santa Sé, pedindo-lhe humildemente perdão pelas faltas cometidas “em pensamentos, palavras, atos e omissões.”

E partindo, justamente, deste pedido de perdão, eu desejo que este nosso encontro e as reflexões que compartilharei convosco se tornem, para todos nós, um apoio e um estímulo a um verdadeiro exame de consciência para preparar nossos corações ao Santo Natal.

Pensando neste nosso encontro, veio à minha mente a imagem da Igreja como Corpo Místico de Jesus Cristo. É uma expressão que, como explicou o Papa Pio XII, “jorra e quase brota do que é frequentemente exposto nas Sagradas Escrituras e nos Santos Padres” 1. Neste sentido, São Paulo escreveu: “Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também” (1 Cor 12,12) 2.

Neste sentido, o Concílio Vaticano II nos recorda que “na estrutura do corpo místico de Cristo existe uma diversidade de membros e ofícios. Um deles é o Espírito, que para o bem da Igreja distribui seus diversos dons com magnificência proporcional à sua riqueza e às necessidades dos ministérios (cf.: 1 Cor 12,1-11)” 3. Portanto, “Cristo e a Igreja formam o ‘Cristo total’ – Christus Totus – . A Igreja é uma com Cristo” 4.

É bom pensar na Cúria Romana como um pequeno modelo da Igreja, isto é, como um “corpo” que procura seriamente e cotidianamente ser mais vivo, mais saudável, mais harmonioso e mais unido em si mesmo e com Cristo.

Na verdade, a Cúria Romana é um órgão complexo, formado por muitos Dicastérios, Conselhos, Escritórios, Tribunais, Comissões e numerosos elementos que não têm todos a mesma tarefa, mas são coordenados de forma a funcionar de modo eficaz, edificante, disciplinado e exemplar, apesar das diversidades culturais, linguísticas e nacionais dos seus membros 5.

No entanto, sendo a Cúria um corpo dinâmico, não pode viver sem alimentar-se e sem tratar-se. Na verdade, a Cúria – assim como a Igreja – não pode viver sem ter um relacionamento vital, pessoal, autêntico e equilibrado com Cristo 6. Um membro da Cúria que não se alimenta todos os dias com aquele Alimento se tornará um burocrata (um formalista, um funcionalista, um mero funcionário): um ramo que seca e, lentamente, morre e é jogado fora. A oração diária, a participação assídua aos Sacramentos, especialmente à Eucaristia e à reconciliação, o contato diário com a Palavra de Deus e a espiritualidade traduzida em caridade vivida são o alimento vital para cada um de nós. Que fique claro para nós que sem Ele nada poderemos fazer (cf. Jo 15,8).

Como resultado, a relação viva com Deus nutre e fortalece a nossa comunhão com os outros, isto é, quanto mais estivermos intimamente unidos a Deus, mais estaremos unidos entre nós, porque o Espírito de Deus une e o espírito do maligno divide.

A Cúria é chamada a melhorar-se, a melhorar-se sempre e crescer na comunhão, santidade e sabedoria para realizar plenamente a sua missão 7. No entanto, como qualquer corpo, como todo corpo humano é exposta às doenças, ao mau funcionamento, à enfermidade. E aqui eu gostaria de mencionar algumas dessas doenças prováveis, doenças curiais. São doenças mais frequentes em nossa vida de Cúria. São doenças e tentações que enfraquecem o nosso serviço ao Senhor. Creio que nos ajudará o “catálogo” das doenças – a exemplo dos Padres do deserto, que faziam aqueles catálogos – dos quais falamos hoje: nos ajudará a preparar-nos para o Sacramento da Reconciliação, que será um belo passo de todos nós para nos prepararmos ao Natal.

Papa Francisco dirige seu discurso aos membros da Cúria Romana
por ocasião da apresentação das felicitações natalinas
Sala Clementina do Palácio Apostólico
Segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

1. A doença de sentir-se "imortal", "imune" ou mesmo "indispensável" negligenciando os controles necessários e habituais. Uma Cúria que não se autocritica, que não se atualiza, que não procura melhorar é um corpo enfermo. Uma simples visita aos cemitérios poderia ajudar-nos a ver os nomes de muitas pessoas, algumas das quais, provavelmente, pensavam serem imortais, imunes e indispensáveis! É a doença do rico insensato do Evangelho que pensava viver eternamente (cf. Lc 12,13-21), e também daqueles que se transformam em mestres e se sentem superiores a todos e não a serviço de todos. Ela decorre, muitas vezes, da patologia do poder, do "complexo dos Eleitos", do narcisismo que olha, apaixonadamente, a sua própria imagem e não vê a imagem de Deus estampada no rosto dos outros, especialmente dos mais fracos e necessitados 8. O antídoto para essa enfermidade é a graça de sentir-nos pecadores e dizer com todo o coração: “Somos servos inúteis. Fizemos o que tínhamos que fazer" (Lc 17, 10).

2. Outra: A doença de "martalismo" (que vem de Marta), da excessiva ocupação: ou seja, daqueles que se afundam no trabalho, negligenciando, inevitavelmente, "a melhor parte": o sentar-se aos pés de Jesus (cf. Lc 10,38-42). É por isso que Jesus chamou os seus discípulos para "descansar um pouco" (Mc 6,31), porque negligenciar o descanso necessário leva ao estresse e agitação. O tempo de descanso, para aqueles que tenham concluído a sua missão, é necessário, adequado e deve ser vivido a sério: em passar algum tempo com a família e respeitar as férias como momentos de recarga espiritual e física; deve-se aprender o que Eclesiastes [Qohélet] ensina que "há um tempo para todas as coisas" (3,1-15).

3. Há também a doença do “empedernimento” mental e espiritual: isto é, daqueles que possuem um coração de pedra e um “pescoço duro” (At 7,51-60); daqueles que, ao longo do caminho, perdem a serenidade interior, a vivacidade e ousadia e se escondem sob os papéis se tornando "máquinas de afazeres" e não "homens de Deus" (cf. Hb 3,12). É perigoso perder a sensibilidade humana necessária para nos fazer chorar com os que choram e se alegrar com os que se alegram! É a doença daqueles que perdem "os sentimentos de Jesus" (cf. Fl 2,5-11) porque o coração deles, com o passar do tempo, se endurece e torna-se incapaz de amar incondicionalmente o Pai e ao próximo (cf. Mt 22, 34-40). Ser cristão, de fato, significa "ter os mesmos sentimentos que haviam em Cristo Jesus" (Fl 2,5), sentimentos de humildade e abnegação, de desapego e generosidade 9.

4. A doença do planejamento excessivo e funcionalismo. Quando o apóstolo planeja tudo minuciosamente e acredita que fazendo um perfeito planejamento as coisas realmente progredirão, tornando-se assim um contador ou contabilista. Preparar tudo bem é necessário, mas sem cair na tentação de querer travar e conduzir a liberdade do Espírito Santo, que continua a ser sempre maior, mais generosa que todo o planejamento humano (cf. Jo 3,8). Cai-se nessa doença, porque "é sempre mais fácil e conveniente acomodar-se em suas posições estáticas e imutáveis. De fato, a Igreja se mostra fiel ao Espírito Santo na medida em que ela não tem a pretensão de regulá-lo e domesticá-lo ... - domar o Espírito Santo! - ... Ele é frescura, imaginação, inovação" 10.

5. A doença de má coordenação. Quando os membros perdem a comunhão uns com os outros e com o corpo perde sua funcionalidade harmoniosa e sua temperança, tornando-se uma orquestra que produz ruído, porque seus membros não cooperam e não vivem o espírito de comunhão e de equipe. Quando o pé diz ao braço: "Não preciso de ti", ou a mão à cabeça: "Eu estou no comando", causando mal-estar e escândalo.

6. Há também a doença do "alzheimer espiritual": ou seja, o esquecimento da "história da salvação", da história pessoal com o Senhor, do "primeiro amor" (Ap 2,4). Trata-se de um declínio progressivo das faculdades espirituais que, em um período mais longo ou mais curto de tempo, causa graves deficiências à pessoa tornando-a incapaz de exercer qualquer atividade autônoma, vivendo num estado de dependência absoluta de seus pontos de vista muitas vezes imaginários. Vemos isso em todos aqueles que perderam a memória de seu encontro com o Senhor; naqueles que não fazem o sentido deuteronômico da vida; naqueles que são totalmente dependentes do seu presente, das suas paixões, caprichos e manias; naqueles que constroem muros em torno de si e hábitos se tornando, cada vez mais, escravos dos ídolos que esculpiram com as suas próprias mãos.

7. A doença de rivalidade e vanglória 11. Quando a aparência, as cores das vestes e as insígnias de honra tornam-se o principal objetivo da vida, esquecendo-se as palavras de São Paulo: "Nada façais por ambição ou vanglória, mas cada um de vós, com toda humildade, considere os outros superiores a si mesmo. Cada um não deve olhar para os seus próprios interesses, mas também aos dos outros" (Fl 2,1-4). É a doença que nos leva a ser homens e mulheres falsos e viver uma "mística" falsa e um "quietismo" falso. O próprio São Paulo chama-os de "inimigos da cruz de Cristo", porque "eles se vangloriam do que deveriam ter vergonha e não pensam que às coisas da terra" (Fl 3,19).

8. A doença de esquizofrenia existencial. É a doença de quem vive uma vida dupla, fruto da hipocrisia típica do medíocre e do progressivo vazio espiritual que diplomas ou qualificações acadêmicas não podem preencher. Uma doença que acomete frequentemente aqueles que abandonam o serviço pastoral, limitando-se às tarefas burocráticas, perdendo, assim, contato com a realidade, com as pessoas concretas. Eles criam seu próprio mundo paralelo, onde colocam de lado tudo o que ensinam severamente aos outros e começam a viver uma vida oculta e, muitas vezes, dissoluta. A conversão é bastante urgente e indispensável para esta doença muito grave (cf. Lc 15,11-32).

9. A doença das tagarelices, das murmurações e das fofocas. Desta doença tenho falado muitas vezes, mas jamais é suficiente. É uma doença grave, que começa de forma simples, talvez apenas para um passatempo e toma conta da pessoa tornando-a uma "semeadora da discórdia" (como satanás), e, em muitos casos, "assassina a sangue frio" da fama de seus colegas e irmãos. É a doença de pessoas covardes que não tendo a coragem de falar diretamente, falam pelas costas. São Paulo nos exorta: "Fazei tudo sem reclamar e sem hesitação, para serem irrepreensíveis e puros" (Fl 2,14-18). Irmãos, previnamo-nos do terrorismo da tagarelice!

10. A doença de divinizar líderes: é a doença dos que cortejam os Superiores, na esperança de obter a sua benevolência. Eles são vítimas do carreirismo e do oportunismo, honram as pessoas e não Deus (cf. Mt 23,8-12). São pessoas que vivem o serviço pensando, apenas, naquilo que eles precisam obter e não naquilo que eles devem dar. Pessoas mesquinhas, infelizes e inspiradas somente pelo seu egoísmo fatal (cf. Gl 5,16-25). Esta doença também pode afetar os Superiores quando cortejam alguns de seus funcionários para obter deles a sua submissão, lealdade e dependência psicológica, mas o resultado final é uma verdadeira cumplicidade.

11. A doença de indiferença para com os outros. Quando cada um só pensa em si mesmo e perde a sinceridade e o calor das relações humanas. Quando os mais experientes não colocam o seu conhecimento ao serviço dos colegas menos experientes. Quando toma conhecimento de algo, e o guarda para si mesmo, em vez de compartilhá-lo com outros de forma positiva. Quando, por ciúmes ou astúcia, sente alegria em ver o outro cair em vez de levantá-lo e encorajá-lo.

12. A doença do rosto fúnebre. Ou seja, das pessoas severas e sisudas, as quais consideram que, para serem sérias, necessitam apresentar o rosto de melancolia, de gravidade e tratar os outros – especialmente aqueles consideradas inferiores – com rigidez, dureza e arrogância. Na realidade, a severidade teatral e o pessimismo estéril 12 são muitas vezes sintomas de medo e insegurança própria. O apóstolo deve se esforçar para ser uma pessoa amável, serena, entusiasmada e alegre, que transmite alegria onde quer que esteja. Um coração repleto de Deus é um coração feliz que irradia e contagia com a alegria todos os que estão ao seu redor: percebe-se logo! Portanto, não percamos esse espírito alegre, cheio de humor, e até mesmo autoirônico, que faz de nós pessoas amáveis, mesmo em situações difíceis 13. Quanto bem nos faz uma boa dose de sadio humor! Recitar, frequentemente, a oração de São Thomas More 14 nos faz muito bem: eu a rezo todos os dias, me faz bem.

13. A doença do acumular: quando o apóstolo procura preencher um vazio existencial em seu coração acumulando bens materiais, não por necessidade, mas apenas para se sentir seguro. Na verdade, nada de material poderemos levar conosco, porque "a mortalha não tem bolsos" e todos os nossos tesouros terrenos – mesmo que sejam presentes – não poderão jamais preencher aquele vazio, pelo contrário, o tornarão mais exigente e mais profundo. Para essas pessoas, o Senhor repete: "Tu dizes:  ‘Sou rico e abastado e não preciso de nada’. Mas não sabes que és um infeliz, um miserável, um pobre, cego e nu ... Sê, pois, zeloso e converte-te" (Ap 3,17-19). A acumulação só pesa e retarda o caminho inexoravelmente! E penso em uma anedota: antigamente, os jesuítas espanhóis descreviam a Companhia de Jesus como a “cavalaria leve da Igreja”. Lembro-me da mudança de um jovem jesuíta que, enquanto carregava sobre um caminhão os seus muitos pertences: bagagem, livros, objetos e presentes, ouviu dizer, com um sábio sorriso, da parte de um velho jesuíta que o estava observando: esta seria a “cavalaria leve da Igreja?”. As nossas mudanças são um sinal dessa doença.

14. A doença de círculos fechados, onde a pertença a um grupinho torna-se mais forte do que aquela ao Corpo e, em algumas situações, ao próprio Cristo. Também essa doença começa sempre com boas intenções, mas com o passar do tempo escraviza os membros, tornando-se um câncer que ameaça a harmonia do Corpo e causa tanto mal – escândalos – especialmente aos nossos irmãos mais pequenos. A autodestruição ou o "fogo amigo" de companheiros de armas é o perigo mais dissimulado 15. É o mal que atinge a partir de dentro 16; e, como diz Cristo, "todo reino dividido contra si mesmo, será destruído" (Lc 11,17).

15. E a última: a doença do lucro mundano, dos exibicionismos 17, quando o apóstolo transforma o seu serviço em poder, e o seu poder em uma mercadoria para obter lucros mundanos ou mais poder. É a doença das pessoas buscam, insaciavelmente, multiplicar poderes e para este fim são capazes de caluniar, difamar e desacreditar os outros, mesmo em jornais e revistas. Naturalmente, para exibir-se e demonstrar-se mais capaz do que os outros. Também essa doença faz muito mal ao corpo, porque leva as pessoas a justificar o uso de todos os meios para alcançar esse fim, muitas vezes em nome da justiça e da transparência! E aqui me vem em mente a memória de um sacerdote que chamava os jornalistas para lhes contar – e inventar – coisas privadas e confidenciais de seus confrades e paroquianos. Para ele importava, apenas, se ver nas primeiras páginas, porque assim se sentia "poderoso e fascinante", causando muito mal aos outros e à Igreja. Coitadinho!

Irmãos, essas doenças e essas tentações são, naturalmente, um perigo para todo cristão e a cada cúria, comunidade, congregação, paróquia, movimento eclesial, e podem afetar tanto a nível individual como comunitário.

É preciso deixar claro que somente o Espírito Santo – a alma do Corpo Místico de Cristo, como afirma o Credo Niceno-Constantinopolitano: "Creio ... no Espírito Santo, Senhor que dá a vida" – para curar todas as enfermidades. É o Espírito Santo que sustenta todo esforço sincero de purificação e toda boa vontade de conversão. É Ele que nos faz entender que todo membro participa da santificação do corpo e de seu enfraquecimento. É Ele o promotor da harmonia 18: "Ipse harmonia est" [trad.: Ele é a própria harmonia], diz São Basílio. Santo Agostinho nos diz: "Enquanto uma parte adere ao corpo, o seu tratamento não é impossível; aquela, ao contrário, que foi cortada, não pode nem tratar-se nem curar-se" 19.

A cura é também fruto da conscientização sobre a doença e a decisão pessoal e comunitária de tratar-se, suportando pacientemente e com perseverança o tratamento 20.

Portanto, somos chamados – neste tempo de Natal e por todo o tempo do nosso serviço e da nossa existência – a viver "segundo a verdade, no amor, cresceremos sob todos os aspectos em relação a Cristo, que é a cabeça. É dele que o corpo todo recebe coesão e harmonia, mediante toda sorte de articulações e, assim, realiza o seu crescimento, construindo-se no amor, graças à atuação devida de cada membro" (Ef 4,15-16).

Caros irmãos!

Uma vez li que os sacerdotes são como os aviões: são notícia somente quando caem, mas há muitos que voam. Muitos criticam e poucos oram por eles. É uma frase muito simpática, mas também muito verdadeira, porque descreve a importância e delicadeza do nosso serviço sacerdotal e quanto mal poderia causar um único sacerdote que "cai" para todo o corpo da Igreja.

Portanto, para não cair nestes dias em que nos preparamos para a Confissão, peçamos à Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja, para curar as feridas do pecado que cada um de nós carrega em seu coração e para apoiar a Igreja e a Cúria de modo que elas sejam saudáveis e sanadoras; santas e santificadoras, para a glória do seu Filho e para a nossa salvação e de todo o mundo. Pedimos-Lhe que nos faça amar a Igreja como Cristo a amou, seu filho e nosso Senhor, e ter a coragem de reconhecer-nos pecadores e necessitados da sua Misericórdia e não ter medo de deixar a nossa mão entre as suas mãos maternas.

Os melhores votos de um Santo Natal a todos vós, às vossas famílias e aos vossos colaboradores. E, por favor, não vos esqueçais de orar por mim! 
Obrigado!

N O T A S :

1. Ele afirma que a Igreja, sendo mysticum Corpus Christi, “solicita, também, uma multidão de membros, os quais sejam, de tal modo conectados, que possam ajudar-se uns aos outros. E como em nosso mortal organismo, quando um membro sofre, os outros sentem sua dor e vêm em sua ajuda, desse modo, na Igreja os membros individuais não vivem cada um para si, mas oferecem também auxílio aos outros, colaborando uns com os outros, tanto para  conforto mútuo como para o desenvolvimento contínuo de todo o Corpo... um Corpo constituído não por um amontoado de membros, mas fornecido de órgãos, ou seja, membros que não tenham todos as mesmas funções, mas sejam devidamente coordenados; assim, a Igreja, devida a isso, deve chamar-se corpo, porque é fruto de uma reta disposição e coerente união de membros diversos entre si” (Enc. Mystici Corporis, Parte Prima: AAS 35 [1943], 200).

2. Cf. Rm 12,5: “Assim, também nós, embora sendo muitos, somos um só corpo em Cristo e, cada um de nós, membros uns dos outros".

3. Const. dogm. Lumen gentium, 7.

4. Recorde-se que “a comparação da Igreja com o corpo ilumina a íntima ligação entre a Igreja e Cristo. Ela somente está reunida ao redor d’Ele; está unida n’Ele, no seu Corpo. Três aspectos da Igreja-Corpo de Cristo devem ser destacados de modo especial: a unidade de todos os membros entre si devido à sua união a Cristo; Cristo Cabeça do corpo; a Igreja, Esposa de Cristo.” Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 789 e 795.

5. Cf. Evangelii gaudium, 130-131.

6. Jesus, muitas vezes, deu a conhecer a união que os fiéis devem ter com Ele: “Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer unido à videira, assim também vós, se não permanecerdes unidos a Mim. Eu sou a videira, vós os ramos” (Jo 15,4-4).

7. Cf. Pastor Bonus Art. 1 e CIC can. 360.

8. Cf. Evangelii gaudium, 197-201.

9. Bento XVI, Audiência Geral, 01 de junho de 2005.

10. Francisco, Homilia da Santa Missa na Turquia, 30 de novembro de 2014.

11. Cf. Evangelii gaudium, 95-96.

12. Ibid, 84-86.

13. Ibid, 2.

14. Senhor, dá-me uma boa digestão e também alguma coisa para digerir. Dá-me a saúde do corpo e o bom humor necessário para mantê-la. Senhor, concede-me uma alma simples que saiba como fazer bom uso de tudo o que é bom e não se assuste com a visão do mal, mas sempre encontre uma maneira de por as coisas em seu lugar. Dá-me uma alma que não conheça o tédio, os resmungos, os suspiros, os gemidos, e não permite que me preocupe excessivamente com aquela coisa demasiado volumosa que se chama "eu". Dá-me, Senhor, o senso do bom humor. Concede-me a graça de entender uma brincadeira para descobrir na vida um pouco de alegria e concedê-la também aos outros. Amém.

15. Evangelii gaudium, 88.

16. O Beato Paulo VI referindo-se à situação da Igreja, afirmou ter a sensação que “por alguma brecha tenha entrado a fumaça de Satanás no templo de Deus”, Homilia de Paulo VI, Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, Quinta-feira, 29 de junho de 1972. Cf. Evangelii gaudium, 98-101.

17. Cf. Evangelii gaudium: Não ao mundanismo espiritual, n. 93-97.

18. “O Espírito Santo é a alma da Igreja. Ele dá a vida, suscita os diferentes carismas que enriquecem o Povo de Deus e, sobretudo, cria a unidade entre os crentes: de muitos faz um só corpo, o Corpo de Cristo... O Espírito Santo faz a unidade da Igreja: unidade na fé, unidade na caridade, unidade na coesão interior” (Francisco, Homilia da Santa Missa na Turquia, 30 de novembro de 2014).

19. August. Serm., CXXXVII, 1; Migne, P. L., XXXVIII, 754.

20. Cf. Evangelii gaudium, Pastoral em conversão, n. 25-33.

Texto original em italiano. 
Traduzido por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

Para assistir ao vídeo gravado
contendo este discurso, clique aqui (em italiano).

Fonte: News.va – Official Vatican Network – Sala de Imprensa - Udienza del Santo Padre alla Curia Romana in occasione della presentazione degli auguri natalizi, 22.12.2014 – Internet: clique aqui.

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