PAPA ALERTA SOBRE AS 15 DOENÇAS QUE AFETAM A IGREJA
Ao
listar tentações que podem atingir tanto a Cúria Romana quando cada cristão,
Francisco pediu exame de consciência como preparação ao Natal
Jéssica Marçal
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Papa Francisco discursa na Sala Clementina (Segunda-feira, 22 de dezembro de 2014) |
O Papa Francisco
reuniu-se na manhã desta segunda-feira, 22 de dezembro, com a Cúria Romana,
para os tradicionais votos de fim de ano. Ele falou do perigo de algumas
doenças que podem afetar tanto a Cúria quanto cada cristão, propondo, assim, um
exame de consciência a fim de preparar o coração para o Natal. Ele também
enfatizou que o Espírito Santo é capaz de curar toda enfermidade.
A imagem sobre a
qual o Pontífice se concentrou em seu discurso foi a do Corpo de Jesus [Corpo Místico], comparando a Cúria a um pequeno
modelo da Igreja, ou seja, um corpo que procura ser mais vivo, mais harmonioso
e unido em si mesmo e em Cristo.
O Santo Padre
reconheceu a complexidade da Cúria Romana que, justamente por sua dinamicidade,
não pode viver sem o relacionamento vital com Cristo. Um membro da Cúria que
não se alimenta disso acaba se tornando um burocrata, um ramo que murcha e
morre lentamente, disse.
“A oração cotidiana,
a participação assídua aos Sacramentos, de modo particular à Eucaristia e à reconciliação,
o contato cotidiano com a palavra de Deus e a espiritualidade traduzida em
caridade vivida são alimento vital para cada um de nós”, indicou.
Francisco lembrou
que a Cúria é chamada a melhorar
constantemente e a crescer em comunhão, santidade e sabedoria para realizar sua
missão. Porém, como todo corpo, ela também está exposta a algumas doenças,
que enfraquecem o serviço a Deus.
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Papa Francisco discursa durante audiência concedida aos membros da Cúria Romana por ocasião das felicitações de Natal |
O Santo Padre fez um “catálogo” dessas
doenças que podem afetar a Cúria, elencando 15 itens:
1 – sentir-se imortal, imune ou até mesmo
indispensável,
negligenciando os controles necessários e habituais. “Uma Cúria que não faz
autocrítica, que não se atualiza é um corpo enfermo”. É o “complexo dos
eleitos, do narcisismo”.
2 – a doença do “martalismo” (que vem de Marta), da ocupação excessiva,
os que trabalham sem usufruírem do melhor. A falta de repouso leva ao stress e
à agitação.
3 – a doença do “empedramento” mental e espiritual, isso é, daqueles que têm coração de pedra.
Quando se perde a serenidade interior, a vivacidade e a audácia e nos
escondemos atrás de papéis, deixando de ser “homens de Deus”.
4 – planejamento excessivo e funcionalismo, tornando o apóstolo um contador ou
comercialista. “Quando o Apóstolo planifica tudo minuciosamente e pensa que
assim as coisas progridem torna-se num contabilista”. É a tentação de querer
pilotar o Espírito Santo.
5 – má coordenação, sem harmonia entre as partes do “corpo”.
6 – “Alzheimer espiritual”, ou seja, o esquecimento da história da
Salvação, da história com o Senhor, do “primeiro amor”.
7- rivalidade e orgulho, quando a aparência, as cores das vestes e
insígnias de honra tornam-se o objetivo primário da vida. “Leva-nos a ser
falsos e a viver um falso misticismo”.
8– esquizofrenia existencial, que é a doença dos que vivem uma vida
dupla, fruto da hipocrisia típica do medíocre e do progressivo vazio espiritual
que licenciaturas ou títulos acadêmicos não podem preencher.
9 – fofocas, murmurações e mexericos. “É a doença dos velhacos que não tendo a
coragem de falar diretamente falam pelas costas. Defendamo-nos do terrorismo
dos mexericos”.
10 – a doença de divinizar os chefes, que é a daqueles que cortejam os superiores
esperando obter sua benevolência. “Vivem o serviço pensando unicamente àquilo
que devem obter e não ao que devem dar”. Pode acontecer também aos superiores.
11- indiferença para com os outros. “Quando se esconde o que se sabe. Quando
por ciúme sente-se alegria em ver a queda dos outros em vez de o ajudar a
levantar”.
12 – doença da “cara fúnebre”, de pessoas carrancudas que pensam que para
serem sérias é preciso pintar a face de melancolia, de severidade e tratar os
outros com rigidez, dureza e arrogância. “O apóstolo deve esforçar-se por ser
uma pessoa cortês, serena, entusiasta e alegre e que transmite alegria…”. “Como
faz bem uma boa dose de são humorismo”.
13 – a doença do acumular, quando o apóstolo procura preencher um
vazio existencial no seu coração acumulando bens materiais, não por
necessidade, mas para se sentir seguro
14 – doença dos círculos fechados, onde a pertença ao grupinho se torna mais
forte que aquela ao Corpo e, em algumas situações, ao próprio Cristo.
15 – a doença do lucro mundano, do
exibicionismo. “Quando o
apóstolo transforma o seu serviço em poder e o seu poder em mercadoria para
obter lucros mundanos ou mais poder”.
Fonte: Canção Nova – Especiais – Papa – Segunda-feira, 22 de dezembro de 2014 –
11h58 – Modificado na Terça-feira, 23 de dezembro de 2014 – 07h49 – Internet:
clique aqui.
NÃO
DEIXE DE LER, NA ÍNTEGRA,
ESTE
IMPRESSIONANTE DISCURSO DE PAPA FRANCISCO!
SEGUE
ABAIXO:
Encontro do
Papa Francisco com a Cúria Romana por ocasião da apresentação das felicitações
natalinas
Sala
Clementina do Palácio Apostólico
Segunda-feira,
22 de dezembro de 2014
“Tu estás acima dos querubins, tu que mudastes a condição miserável do
mundo, quando ti fizestes como nós.”
(Santo Atanásio)
Ao término do Advento nos encontramos para as saudações
tradicionais. Em poucos dias teremos a alegria de celebrar o Natal do Senhor; o
evento de Deus que se fez homem para salvar os homens; a manifestação do amor
de Deus que não se limita a dar-nos alguma coisa ou a enviar-nos qualquer
mensagem ou certos mensageiros, mas dá-se a nós; o mistério de Deus que assume
a nossa condição humana e os nossos pecados para revelar-nos a sua vida divina,
a sua imensa graça e o seu perdão gratuito. É o encontro com Deus, que nasce na
pobreza da gruta de Belém para nos ensinar o poder da humildade. Na verdade, o
Natal também é a festa da luz que não é aceita pelo povo “eleito”, mas pelo povo
pobre e simples que esperava a salvação do Senhor.
Primeiramente, eu gostaria de desejar a todos vocês –
colaboradores, irmãos e irmãs, Representantes pontifícios ao redor do mundo – e
todos os seus entes queridos, um Santo Natal e um Feliz Ano Novo. Quero
agradecer-vos cordialmente pelo vosso empenho cotidiano a serviço da Santa Sé, da
Igreja Católica, das Igrejas particulares e ao Sucessor de Pedro.
Uma vez que somos pessoas e não apenas números ou denominações,
recordo-me de maneira especial daqueles que, durante este ano, terminaram o seu
serviço por razões de idade ou para assumir outras funções, ou por terem sido
chamados para a Casa do Pai. Também a todos eles e suas famílias vão os meus
pensamentos e gratidão.
Desejo, juntamente convosco, elevar ao Senhor um vivo e
sincero agradecimento pelo ano que está nos deixando, pelos eventos vividos e
por todo o bem que Ele quis generosamente realizar através do serviço da Santa
Sé, pedindo-lhe humildemente perdão pelas faltas cometidas “em pensamentos,
palavras, atos e omissões.”
E partindo, justamente, deste pedido de perdão, eu desejo
que este nosso encontro e as reflexões que compartilharei convosco se tornem,
para todos nós, um apoio e um estímulo a um verdadeiro exame de consciência
para preparar nossos corações ao Santo Natal.
Pensando neste nosso encontro, veio à minha mente a imagem
da Igreja como Corpo Místico de Jesus Cristo. É uma expressão que, como
explicou o Papa Pio XII, “jorra e quase brota do que é frequentemente exposto
nas Sagradas Escrituras e nos Santos Padres” 1. Neste sentido, São
Paulo escreveu: “Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos
os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também” (1 Cor 12,12)
2.
Neste sentido, o Concílio Vaticano II nos recorda que “na
estrutura do corpo místico de Cristo existe uma diversidade de membros e ofícios.
Um deles é o Espírito, que para o bem da Igreja distribui seus diversos dons
com magnificência proporcional à sua riqueza e às necessidades dos ministérios
(cf.: 1 Cor 12,1-11)” 3. Portanto, “Cristo e a Igreja formam o ‘Cristo
total’ – Christus Totus – . A Igreja
é uma com Cristo” 4.
É bom pensar na Cúria Romana como um pequeno modelo da
Igreja, isto é, como um “corpo” que procura seriamente e cotidianamente ser
mais vivo, mais saudável, mais harmonioso e mais unido em si mesmo e com
Cristo.
Na verdade, a Cúria Romana é um órgão complexo, formado por
muitos Dicastérios, Conselhos, Escritórios, Tribunais, Comissões e numerosos
elementos que não têm todos a mesma tarefa, mas são coordenados de forma a
funcionar de modo eficaz, edificante, disciplinado e exemplar, apesar das
diversidades culturais, linguísticas e nacionais dos seus membros 5.
No entanto, sendo a Cúria um corpo dinâmico, não pode viver
sem alimentar-se e sem tratar-se. Na verdade, a Cúria – assim como a Igreja – não
pode viver sem ter um relacionamento vital, pessoal, autêntico e equilibrado
com Cristo 6.
Um membro da Cúria que não se alimenta todos os dias com aquele Alimento se
tornará um burocrata (um formalista, um funcionalista, um mero funcionário): um
ramo que seca e, lentamente, morre e é jogado fora. A oração diária, a
participação assídua aos Sacramentos, especialmente à Eucaristia e à
reconciliação, o contato diário com a Palavra de Deus e a espiritualidade
traduzida em caridade vivida são o alimento vital para cada um de nós. Que
fique claro para nós que sem Ele nada poderemos fazer (cf. Jo 15,8).
Como resultado, a relação viva com Deus nutre e fortalece a
nossa comunhão com os outros, isto é, quanto mais estivermos intimamente unidos
a Deus, mais estaremos unidos entre nós, porque o Espírito de Deus une e o espírito do maligno divide.
A Cúria é chamada a melhorar-se, a melhorar-se sempre e
crescer na comunhão, santidade e sabedoria para realizar plenamente a sua
missão 7.
No entanto, como qualquer corpo, como todo corpo humano é exposta às doenças, ao
mau funcionamento, à enfermidade. E aqui eu gostaria de mencionar algumas
dessas doenças prováveis, doenças curiais. São doenças mais frequentes em nossa
vida de Cúria. São doenças e tentações que enfraquecem o nosso serviço ao
Senhor. Creio que nos ajudará o “catálogo” das doenças – a exemplo dos Padres
do deserto, que faziam aqueles catálogos – dos quais falamos hoje: nos ajudará
a preparar-nos para o Sacramento da Reconciliação, que será um belo passo de
todos nós para nos prepararmos ao Natal.
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Papa Francisco dirige seu discurso aos membros da Cúria Romana por ocasião da apresentação das felicitações natalinas Sala Clementina do Palácio Apostólico Segunda-feira, 22 de dezembro de 2014 |
1. A doença de sentir-se "imortal",
"imune" ou mesmo "indispensável" negligenciando os
controles necessários e habituais. Uma Cúria que não se autocritica, que não se
atualiza, que não procura melhorar é um corpo enfermo. Uma simples visita aos cemitérios
poderia ajudar-nos a ver os nomes de muitas pessoas, algumas das quais, provavelmente,
pensavam serem imortais, imunes e indispensáveis! É a doença do rico insensato do
Evangelho que pensava viver eternamente (cf. Lc 12,13-21), e também daqueles
que se transformam em mestres e se sentem superiores a todos e não a serviço de
todos. Ela decorre, muitas vezes, da patologia do poder, do "complexo dos Eleitos",
do narcisismo que olha, apaixonadamente, a sua própria imagem e não vê a imagem
de Deus estampada no rosto dos outros, especialmente dos mais fracos e
necessitados 8. O antídoto para essa enfermidade é a
graça de sentir-nos pecadores e dizer com todo o coração: “Somos servos inúteis. Fizemos o que tínhamos que fazer" (Lc
17, 10).
2. Outra: A doença de "martalismo" (que vem
de Marta), da excessiva ocupação: ou seja, daqueles que se afundam no
trabalho, negligenciando, inevitavelmente, "a melhor parte": o
sentar-se aos pés de Jesus (cf. Lc 10,38-42). É por isso que Jesus chamou os
seus discípulos para "descansar um
pouco" (Mc 6,31), porque negligenciar o descanso necessário leva ao
estresse e agitação. O tempo de descanso, para aqueles que tenham concluído a
sua missão, é necessário, adequado e deve ser vivido a sério: em passar algum
tempo com a família e respeitar as férias como momentos de recarga espiritual e
física; deve-se aprender o que Eclesiastes [Qohélet] ensina que "há um tempo para todas as coisas"
(3,1-15).
3. Há também a doença do “empedernimento” mental e
espiritual: isto é, daqueles que possuem um coração de pedra e um “pescoço
duro” (At 7,51-60); daqueles que, ao longo do caminho, perdem a serenidade
interior, a vivacidade e ousadia e se escondem sob os papéis se tornando "máquinas
de afazeres" e não "homens de Deus" (cf. Hb 3,12). É perigoso
perder a sensibilidade humana necessária para nos fazer chorar com os que
choram e se alegrar com os que se alegram! É a doença daqueles que perdem "os
sentimentos de Jesus" (cf. Fl 2,5-11) porque o coração deles, com o passar
do tempo, se endurece e torna-se incapaz de amar incondicionalmente o Pai e ao
próximo (cf. Mt 22, 34-40). Ser cristão, de fato, significa "ter os mesmos sentimentos que haviam em
Cristo Jesus" (Fl 2,5), sentimentos de humildade e abnegação, de
desapego e generosidade 9.
4. A doença do planejamento excessivo e funcionalismo.
Quando o apóstolo planeja tudo minuciosamente e acredita que fazendo um
perfeito planejamento as coisas realmente progredirão, tornando-se assim um
contador ou contabilista. Preparar tudo bem é necessário, mas sem cair na
tentação de querer travar e conduzir a liberdade do Espírito Santo, que
continua a ser sempre maior, mais generosa que todo o planejamento humano (cf.
Jo 3,8). Cai-se nessa doença, porque "é sempre mais fácil e conveniente
acomodar-se em suas posições estáticas e imutáveis. De fato, a Igreja se mostra
fiel ao Espírito Santo na medida em que ela não tem a pretensão de regulá-lo e domesticá-lo
... - domar o Espírito Santo! - ... Ele é frescura, imaginação, inovação" 10.
5. A doença de má coordenação. Quando os membros
perdem a comunhão uns com os outros e com o corpo perde sua funcionalidade harmoniosa
e sua temperança, tornando-se uma orquestra que produz ruído, porque seus
membros não cooperam e não vivem o espírito de comunhão e de equipe. Quando o
pé diz ao braço: "Não preciso de ti",
ou a mão à cabeça: "Eu estou no
comando", causando mal-estar e escândalo.
6. Há também a doença do "alzheimer
espiritual": ou seja, o esquecimento da "história da
salvação", da história pessoal com o Senhor, do "primeiro amor"
(Ap 2,4). Trata-se de um declínio progressivo das faculdades espirituais que,
em um período mais longo ou mais curto de tempo, causa graves deficiências à
pessoa tornando-a incapaz de exercer qualquer atividade autônoma, vivendo num
estado de dependência absoluta de seus pontos de vista muitas vezes
imaginários. Vemos isso em todos aqueles que perderam a memória de seu encontro
com o Senhor; naqueles que não fazem o sentido deuteronômico da vida; naqueles
que são totalmente dependentes do seu presente, das suas paixões, caprichos e manias;
naqueles que constroem muros em torno de si e hábitos se tornando, cada vez
mais, escravos dos ídolos que esculpiram com as suas próprias mãos.
7. A doença de rivalidade e vanglória 11.
Quando a aparência, as cores das vestes e as insígnias de honra tornam-se o
principal objetivo da vida, esquecendo-se as palavras de São Paulo: "Nada façais por ambição ou vanglória, mas
cada um de vós, com toda humildade, considere os outros superiores a si mesmo.
Cada um não deve olhar para os seus próprios interesses, mas também aos dos
outros" (Fl 2,1-4). É a doença que nos leva a ser homens e mulheres
falsos e viver uma "mística" falsa e um "quietismo" falso.
O próprio São Paulo chama-os de "inimigos
da cruz de Cristo", porque "eles
se vangloriam do que deveriam ter vergonha e não pensam que às coisas da terra"
(Fl 3,19).
8. A doença de esquizofrenia existencial. É a
doença de quem vive uma vida dupla, fruto da hipocrisia típica do medíocre e do
progressivo vazio espiritual que diplomas ou qualificações acadêmicas não podem
preencher. Uma doença que acomete frequentemente aqueles que abandonam o serviço
pastoral, limitando-se às tarefas burocráticas, perdendo, assim, contato com a
realidade, com as pessoas concretas. Eles criam seu próprio mundo paralelo,
onde colocam de lado tudo o que ensinam severamente aos outros e começam a
viver uma vida oculta e, muitas vezes, dissoluta. A conversão é bastante
urgente e indispensável para esta doença muito grave (cf. Lc 15,11-32).
9. A doença das tagarelices, das murmurações e das fofocas.
Desta doença tenho falado muitas vezes, mas jamais é suficiente. É uma doença
grave, que começa de forma simples, talvez apenas para um passatempo e toma
conta da pessoa tornando-a uma "semeadora da discórdia" (como satanás),
e, em muitos casos, "assassina a sangue frio" da fama de seus colegas
e irmãos. É a doença de pessoas covardes que não tendo a coragem de falar
diretamente, falam pelas costas. São Paulo nos exorta: "Fazei tudo sem reclamar e sem hesitação, para
serem irrepreensíveis e puros" (Fl 2,14-18). Irmãos, previnamo-nos do
terrorismo da tagarelice!
10. A doença de divinizar líderes: é a doença dos
que cortejam os Superiores, na esperança de obter a sua benevolência. Eles são
vítimas do carreirismo e do oportunismo, honram as pessoas e não Deus (cf. Mt
23,8-12). São pessoas que vivem o serviço pensando, apenas, naquilo que eles
precisam obter e não naquilo que eles devem dar. Pessoas mesquinhas, infelizes
e inspiradas somente pelo seu egoísmo fatal (cf. Gl 5,16-25). Esta doença
também pode afetar os Superiores quando cortejam alguns de seus funcionários
para obter deles a sua submissão, lealdade e dependência psicológica, mas o
resultado final é uma verdadeira cumplicidade.
11. A doença de indiferença para com os outros.
Quando cada um só pensa em si mesmo e perde a sinceridade e o calor das
relações humanas. Quando os mais experientes não colocam o seu conhecimento ao
serviço dos colegas menos experientes. Quando toma conhecimento de algo, e o
guarda para si mesmo, em vez de compartilhá-lo com outros de forma positiva.
Quando, por ciúmes ou astúcia, sente alegria em ver o outro cair em vez de
levantá-lo e encorajá-lo.
12. A doença do rosto fúnebre. Ou seja, das pessoas
severas e sisudas, as quais consideram que, para serem sérias, necessitam apresentar
o rosto de melancolia, de gravidade e tratar os outros – especialmente aqueles
consideradas inferiores – com rigidez, dureza e arrogância. Na realidade, a severidade
teatral e o pessimismo estéril 12 são muitas vezes sintomas de medo e
insegurança própria. O apóstolo deve se esforçar para ser uma pessoa amável,
serena, entusiasmada e alegre, que transmite alegria onde quer que esteja. Um coração
repleto de Deus é um coração feliz que irradia e contagia com a alegria todos
os que estão ao seu redor: percebe-se logo! Portanto, não percamos esse
espírito alegre, cheio de humor, e até mesmo autoirônico, que faz de nós
pessoas amáveis, mesmo em situações difíceis 13. Quanto bem nos faz
uma boa dose de sadio humor! Recitar, frequentemente, a oração de São Thomas
More 14
nos faz muito bem: eu a rezo todos os dias, me faz bem.
13. A doença do acumular: quando o apóstolo
procura preencher um vazio existencial em seu coração acumulando bens
materiais, não por necessidade, mas apenas para se sentir seguro. Na verdade,
nada de material poderemos levar conosco, porque "a mortalha não tem
bolsos" e todos os nossos tesouros terrenos – mesmo que sejam presentes –
não poderão jamais preencher aquele vazio, pelo contrário, o tornarão mais
exigente e mais profundo. Para essas pessoas, o Senhor repete: "Tu dizes: ‘Sou rico e abastado e não preciso de nada’.
Mas não sabes que és um infeliz, um miserável, um pobre, cego e nu ... Sê, pois,
zeloso e converte-te" (Ap 3,17-19). A acumulação só pesa e retarda o
caminho inexoravelmente! E penso em uma anedota: antigamente, os jesuítas
espanhóis descreviam a Companhia de Jesus como a “cavalaria leve da Igreja”.
Lembro-me da mudança de um jovem jesuíta que, enquanto carregava sobre um
caminhão os seus muitos pertences: bagagem, livros, objetos e presentes, ouviu
dizer, com um sábio sorriso, da parte de um velho jesuíta que o estava
observando: esta seria a “cavalaria leve da Igreja?”. As nossas mudanças são um
sinal dessa doença.
14. A doença de círculos fechados, onde a pertença
a um grupinho torna-se mais forte do que aquela ao Corpo e, em algumas
situações, ao próprio Cristo. Também essa doença começa sempre com boas
intenções, mas com o passar do tempo escraviza os membros, tornando-se um câncer
que ameaça a harmonia do Corpo e causa tanto mal – escândalos – especialmente
aos nossos irmãos mais pequenos. A autodestruição ou o "fogo amigo"
de companheiros de armas é o perigo mais dissimulado 15. É o mal que atinge a
partir de dentro 16; e, como diz Cristo, "todo reino dividido
contra si mesmo, será destruído" (Lc 11,17).
15. E a última: a doença do lucro mundano, dos
exibicionismos 17, quando o apóstolo
transforma o seu serviço em poder, e o seu poder em uma mercadoria para obter
lucros mundanos ou mais poder. É a doença das pessoas buscam, insaciavelmente,
multiplicar poderes e para este fim são capazes de caluniar, difamar e
desacreditar os outros, mesmo em jornais e revistas. Naturalmente, para exibir-se
e demonstrar-se mais capaz do que os outros. Também essa doença faz muito mal ao
corpo, porque leva as pessoas a justificar o uso de todos os meios para
alcançar esse fim, muitas vezes em nome da justiça e da transparência! E aqui me
vem em mente a memória de um sacerdote que chamava os jornalistas para lhes
contar – e inventar – coisas privadas e confidenciais de seus confrades e paroquianos.
Para ele importava, apenas, se ver nas primeiras páginas, porque assim se
sentia "poderoso e fascinante", causando muito mal aos outros e à
Igreja. Coitadinho!
Irmãos, essas doenças e essas tentações são, naturalmente,
um perigo para todo cristão e a cada cúria, comunidade, congregação, paróquia,
movimento eclesial, e podem afetar tanto a nível individual como comunitário.
É preciso deixar claro que somente o Espírito Santo – a alma
do Corpo Místico de Cristo, como afirma o Credo Niceno-Constantinopolitano:
"Creio ... no Espírito Santo, Senhor
que dá a vida" – para curar todas as enfermidades. É o Espírito Santo
que sustenta todo esforço sincero de purificação e toda boa vontade de
conversão. É Ele que nos faz entender que todo membro participa da santificação
do corpo e de seu enfraquecimento. É Ele o promotor da harmonia 18:
"Ipse harmonia est" [trad.:
Ele é a própria harmonia], diz São
Basílio. Santo Agostinho nos diz: "Enquanto uma parte adere ao corpo, o
seu tratamento não é impossível; aquela, ao contrário, que foi cortada, não
pode nem tratar-se nem curar-se" 19.
A cura é também fruto da conscientização sobre a doença e a
decisão pessoal e comunitária de tratar-se, suportando pacientemente e com
perseverança o tratamento 20.
Portanto, somos chamados – neste tempo de Natal e por todo o
tempo do nosso serviço e da nossa existência – a viver "segundo a verdade, no amor, cresceremos sob
todos os aspectos em relação a Cristo, que é a cabeça. É dele que o corpo todo
recebe coesão e harmonia, mediante toda sorte de articulações e, assim, realiza
o seu crescimento, construindo-se no amor, graças à atuação devida de cada
membro" (Ef 4,15-16).
Caros irmãos!
Uma vez li que os sacerdotes são como os aviões: são notícia
somente quando caem, mas há muitos que voam. Muitos criticam e poucos oram por
eles. É uma frase muito simpática, mas também muito verdadeira, porque descreve
a importância e delicadeza do nosso serviço sacerdotal e quanto mal poderia
causar um único sacerdote que "cai" para todo o corpo da Igreja.
Portanto, para não cair nestes dias em que nos preparamos
para a Confissão, peçamos à Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja, para
curar as feridas do pecado que cada um de nós carrega em seu coração e para
apoiar a Igreja e a Cúria de modo que elas sejam saudáveis e sanadoras; santas
e santificadoras, para a glória do seu Filho e para a nossa salvação e de todo
o mundo. Pedimos-Lhe que nos faça amar a Igreja como Cristo a amou, seu filho e
nosso Senhor, e ter a coragem de reconhecer-nos pecadores e necessitados da sua
Misericórdia e não ter medo de deixar a nossa mão entre as suas mãos maternas.
Os melhores votos de um Santo Natal a todos vós, às vossas
famílias e aos vossos colaboradores. E, por favor, não vos esqueçais de orar por
mim!
Obrigado!
Obrigado!
N O T A S :
1. Ele afirma
que a Igreja, sendo mysticum Corpus
Christi, “solicita, também, uma multidão de membros, os quais sejam, de tal
modo conectados, que possam ajudar-se uns aos outros. E como em nosso mortal
organismo, quando um membro sofre, os outros sentem sua dor e vêm em sua ajuda,
desse modo, na Igreja os membros individuais não vivem cada um para si, mas
oferecem também auxílio aos outros, colaborando uns com os outros, tanto
para conforto mútuo como para o
desenvolvimento contínuo de todo o Corpo... um Corpo constituído não por um
amontoado de membros, mas fornecido de órgãos, ou seja, membros que não tenham
todos as mesmas funções, mas sejam devidamente coordenados; assim, a Igreja,
devida a isso, deve chamar-se corpo, porque é fruto de uma reta disposição e
coerente união de membros diversos entre si” (Enc. Mystici Corporis, Parte Prima: AAS 35 [1943], 200).
2. Cf. Rm 12,5:
“Assim, também nós, embora sendo muitos, somos um só corpo em Cristo e, cada um
de nós, membros uns dos outros".
3. Const. dogm. Lumen gentium, 7.
4. Recorde-se que “a
comparação da Igreja com o corpo ilumina a íntima ligação entre a Igreja e
Cristo. Ela somente está reunida ao redor d’Ele; está unida n’Ele, no seu
Corpo. Três aspectos da Igreja-Corpo de Cristo devem ser destacados de modo
especial: a unidade de todos os membros
entre si devido à sua união a Cristo; Cristo Cabeça do corpo; a Igreja, Esposa
de Cristo.” Cf. Catecismo da Igreja
Católica, n. 789 e 795.
5. Cf. Evangelii gaudium, 130-131.
6. Jesus, muitas
vezes, deu a conhecer a união que os fiéis devem ter com Ele: “Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo,
se não permanecer unido à videira, assim também vós, se não permanecerdes
unidos a Mim. Eu sou a videira, vós os ramos” (Jo 15,4-4).
7. Cf. Pastor Bonus Art. 1 e CIC can. 360.
8. Cf. Evangelii gaudium, 197-201.
9. Bento XVI,
Audiência Geral, 01 de junho de 2005.
10. Francisco, Homilia
da Santa Missa na Turquia, 30 de novembro de 2014.
11. Cf. Evangelii gaudium, 95-96.
12. Ibid,
84-86.
13. Ibid, 2.
14. Senhor,
dá-me uma boa digestão e também alguma coisa para digerir. Dá-me a saúde do
corpo e o bom humor necessário para mantê-la. Senhor, concede-me uma alma
simples que saiba como fazer bom uso de tudo o que é bom e não se assuste com a
visão do mal, mas sempre encontre uma maneira de por as coisas em seu lugar. Dá-me
uma alma que não conheça o tédio, os resmungos, os suspiros, os gemidos, e não
permite que me preocupe excessivamente com aquela coisa demasiado volumosa que se
chama "eu". Dá-me, Senhor, o senso do bom humor. Concede-me a graça
de entender uma brincadeira para descobrir na vida um pouco de alegria e concedê-la
também aos outros. Amém.
15. Evangelii gaudium, 88.
16. O Beato
Paulo VI referindo-se à situação da Igreja, afirmou ter a sensação que “por
alguma brecha tenha entrado a fumaça de
Satanás no templo de Deus”, Homilia de Paulo VI, Solenidade dos Santos
Apóstolos Pedro e Paulo, Quinta-feira, 29 de junho de 1972. Cf. Evangelii gaudium, 98-101.
17. Cf. Evangelii gaudium: Não ao mundanismo espiritual, n. 93-97.
18. “O Espírito
Santo é a alma da Igreja. Ele dá a vida,
suscita os diferentes carismas que enriquecem o Povo de Deus e, sobretudo, cria a unidade entre os crentes: de
muitos faz um só corpo, o Corpo de Cristo... O Espírito Santo faz a unidade da
Igreja: unidade na fé, unidade na caridade, unidade na coesão interior”
(Francisco, Homilia da Santa Missa na Turquia, 30 de novembro de 2014).
19. August. Serm., CXXXVII, 1; Migne, P. L., XXXVIII, 754.
20. Cf. Evangelii gaudium, Pastoral em conversão,
n. 25-33.
Texto
original em italiano.
Traduzido por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.
Traduzido por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.
Para
assistir ao vídeo gravado
contendo
este discurso, clique aqui (em italiano).
Fonte: News.va – Official Vatican Network – Sala
de Imprensa - Udienza del
Santo Padre alla Curia Romana in occasione della presentazione degli auguri
natalizi, 22.12.2014 – Internet:
clique aqui.
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