«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Sínodo sobre a família: as novas sugestões do Papa Francisco

Maria Galluzzo
jornal Europa
10-12-2014

A partir desta semana começa um novo ciclo de catequeses
e será dedicado à família

No dia posterior à publicação das 46 perguntas enviadas às dioceses de todo o mundo para aprofundar o sínodo extraordinário em vista daquele ordinário que ocorrerá no outono de 2015, o Papa Francisco dá um anúncio importante: a partir da próxima semana [desta, portanto] começará um novo ciclo de catequeses e será dedicado à família.

Isto significa que, paralelamente à reflexão de paróquias e associações eclesiais que transferirá a Igreja de um sínodo ao outro, da Praça São Pedro chegará semanalmente o ponto de vista do Papa. O “caminhar juntos” se amplia e se reforça, porque, como aconteceu durante a sessão extraordinária, haverá apoio e supervisão do Pontífice, “cum Petro et sub Petro”.

Acompanhando este anúncio, feito nesta semana durante a costumeira audiência geral, houve a narração do Papa sobre “como andou e que coisa produziu” a assembleia de outubro passado. Na visão do que disse a mídia – observa o Papa, embora agradecendo aos operadores da mídia pelo trabalho desenvolvido – “se falava seguido de duas esquadras, pró e contra, conservadores e progressistas”.

Uma leitura pouco côngrua da assembleia dos bispos, porque “o sínodo não é um parlamento”. Nisso, por certo, se congregam os representantes das igrejas a nível mundial, mas a “estrutura não é parlamentar, é totalmente diversa”. O Sínodo, especifica o Papa Bergoglio, “é um espaço protegido para que o Espírito Santo possa agir: não foi o confronto entre facções, como num parlamento onde isto é lícito, mas um confronto entre os bispos, que ocorreu após um longo trabalho de preparação e que agora prosseguirá num outro trabalho, para o bem das famílias, da Igreja e da sociedade”.

E, à pergunta se tem havido “litígios” entre os padres sinodais, o Papa replica: “Não sei se litigaram, mas que falaram forte, sim, realmente. E esta é a liberdade, é precisamente a liberdade que existe na Igreja”. E tudo ocorreu.

A narração do Papa Francisco, propedêutica às próximas catequeses, parte do início desta experiência. A começar pela sua solicitação aos padres sinodais de parresia, “de falar com franqueza e coragem e de escutar com humildade, dizer com coragem tudo aquilo que tinham no coração. No sínodo não houve censura prévia, mas cada um podia – e até devia – dizer aquilo que tinha no coração, aquilo que pensava sinceramente”.

Para passar pelas várias fases dos trabalhos sinodais, pelo Instrumento de trabalho, “fruto da precedente consulta de toda a Igreja”, ao relatório do cardeal Péter Erdö, à discussão nos grupos linguísticos, e fazer uma clarificação sobre o fato que “nenhuma intervenção pôs em discussão as verdades fundamentais do sacramento do matrimônio”.

Aviando esta nova etapa do processo sinodal que envolverá cada semana também os milhares de fiéis e peregrinos que se reúnem nas quartas-feiras na Praça São Pedro, O Papa sintetiza também os documentos oficiais produzidos até agora. São três: o estágio final, a Relação final e o discurso final do Papa. “Não há outros elementos”.

Traduzido por Benno Dischinger.

Para ter acesso as Lineamenta (em espanhol), isto é, ao documento preparatório ao Sínodo dos Bispos de 2015, clique aqui [por enquanto há versões somente em espanhol, italiano, francês e inglês].
A base deste documento (Lineamenta) é a Relatio Synodi, publicada aos 18 de outubro de 2014, o texto em português é disponível clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Segunda-feira, 15 de dezembro de 2014 – Internet: clique aqui.

Papa Francisco mobiliza os leigos,
seus aliados mais poderosos

Editorial
The Tablet
11-12-2014

"Este papa entende que seus aliados mais poderosos são leigos em paróquias comuns, que conhecem a vida familiar por dentro. Assim, o processo sinodal que ele deu início é uma tentativa de mobilizá-los em favor da reforma."
Christoph Schönborn - cardeal-arcebispo de Viena (Áustria)
Pertencente a Ordem dos Pregadores (Dominicanos), doutor em Teologia

Na audiência de quarta-feira, 10 de dezembro, o Papa Francisco iniciou uma série de palestras altamente significativas sobre a vida familiar, em preparação para o próximo Sínodo dos bispos no outono [2015]. Isso coincide com a publicação de seus documentos preliminares, os Lineamenta; e segue a reunião sinodal especialmente convocada no último outono, quando desafios foram feitos ao ensino e à prática católica estabelecida, em questões que vão desde a homossexualidade até a admissão de católicos recasados à Santa Comunhão. O fato de que Francisco é favorável à ênfase da misericórdia de Deus, em vez de uma aplicação restrita da doutrina, não o tornou popular em certos setores - incluindo, na orla ultraconservadora, aqueles que questionam todo o processo e até mesmo sua legitimidade como papa.

 Então, quando ele disse durante a catequese de quarta-feira que, na reunião sinodal do último outono, "Tudo aconteceu cum Petro et sub Petro", isto é, na presença do papa - que é uma garantia de liberdade e confiança para todos, e uma garantia de ortodoxia", ele está lembrando a seus críticos que o papa, não eles, tem o direito de decidir o que é e o que não é ortodoxo. Ele deu o seu apoio explícito aos textos dos Lineamenta, que por sua vez apoiam o relatório final do evento do último outono. É evidente que a discussão ainda continua. Mas os Lineamenta insistem que o debate precisa reiniciar de onde parou, e não voltar para a primeira base e começar de novo.

Isso é um aviso de que ele será implacável na busca desse processo até que ele chegue a respostas satisfatórias - satisfatórias para ele. O que deve ser evitado, os Lineamenta insistem, é "uma formulação da pastoral baseada simplesmente em uma aplicação da doutrina". Isso vai ser incompreensível para alguns conservadores, que parecem determinados a lutar a cada centímetro do caminho.

Um de seus mais fortes aliados, o cardeal Christoph Schönborn, de Viena, ofereceu um relato franco do sínodo extraordinário do último outono à revista Herder Korrespondenz. Alguns cardeais elogiaram o presidente Vladimir Putin, da Rússia, por defender os valores da família, e queriam um tom autoritário semelhante na Igreja. Schönborn repetiu as palavras que ele dirigiu ao sínodo, dizendo: "Há uma certa tentação, no momento, de sonhar com uma Igreja poderosa, um desejo por um catolicismo político que impressione as pessoas, como na década de 1930. Esses cardeais ficam extremamente preocupados quando eles acham que estão vendo sinais de que o poder do papado está diminuindo e que o papa está, por assim dizer, descendo de seu trono".

A oposição ao Papa Francisco está aparentemente sendo montada, não só na Cúria, mas também entre os bispos italianos mais influentes. O que é notável é que eles foram praticamente todos nomeados ou promovidos pelo Papa João Paulo II, e embora ninguém esteja explicitamente dizendo isso, muito do que o Papa Francisco está tentando desfazer é o legado daquele papado. Nas observações citadas pelo cardeal Schönborn, "Putin" é quase um código para "Wojtyla". Este papa, no entanto, entende que seus aliados mais poderosos são leigos em paróquias comuns, que conhecem a vida familiar por dentro. Assim, o processo sinodal que ele deu início é uma tentativa de mobilizá-los em favor da reforma. Ele os está tratando como adultos, e é assim que eles devem responder.

Traduzido por Claudia Sbardelotto.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Segunda-feira, 15 de dezembro de 2014 – Internet: clique aqui.

Entre conservação e tímidas aberturas: os Lineamenta do Sínodo

Ingrid Colanicchia
Revista ADISTA
n. 45 – Dezembro/2014

Não é fácil dar uma interpretação unívoca dos Lineamenta para o Sínodo Ordinário sobre a família marcado para outubro do próximo ano, divulgados no dia 9 de dezembro passado pela Secretaria Geral do Sínodo dos bispos.
Papa Francisco faz pronunciamento durante o III Sínodo Extraordinário dos Bispos - cujo tema era a família
Vaticano, 7 de outubro de 2014
 
Se, de um lado, enfatiza-se neles a necessidade de fazer de tudo para que "não se recomece do zero", assumindo "o caminho já feito no Sínodo Extraordinário como ponto de partida", de outro, são poucos os sinais que podem levar a pensar em grandes mudanças em vista.

Como destaca John Allen (Crux, 09-12-2014), as 46 perguntas – que, junto com o Relatório final do Sínodo de outubro passado constituem os Lineamenta – parecem acima de tudo pensadas para entender como os pilares tradicionais da vida cristã, os sacramentos, a Bíblia, a formação dos padres podem ser mais bem utilizados para sustentar casais e famílias.

Além disso, talvez não se podia esperar muito mais, dada a divisão – nada nova, mas profunda – que se manifestou abertamente no Sínodo Extraordinário sobre os temas mais candentes e sobre os quais estavam concentradas as expectativas.

Quanto ao questionário divulgado no ano passado junto com o documento preparatório (Lineamenta) para o Sínodo passado, agora também o convite é a envolver "todos os componentes das Igrejas particulares e instituições acadêmicas, organizações, agregações laicais e outras instâncias eclesiais", deixando às Conferências Episcopais a escolha das modalidades adequadas.

As respostas deverão chegar à Secretaria Geral do Sínodo até o dia 15 de abril de 2015 e formarão – como ocorreu com as relativas ao questionário do ano passado – a base do próximo Instrumentum laboris [trad.: Instrumento de Trabalho, uma espécie de texto-base que pautará o início dos debates no próximo Sínodo dos Bispos].

Sejam corajosos...

O questionário começa com uma pergunta prévia em relação ao grau de correspondência da família descrita na Relatio Synodi com a realidade na Igreja e na sociedade de hoje, convidando a indicar aspectos faltantes.

Um sinal de escuta e de abertura que encontra uma imediata confirmação no parágrafo introdutivo à primeira parte do questionário (que, seguindo a ordem dos temas da Relatio, está intitulado "A escuta: o contexto e os desafios sobre a família"), em que se sublinha que "o renovado caminho traçado pelo Sínodo Extraordinário está inserido no amplo contexto eclesial indicado pela exortação Evangelii gaudium do Papa Francisco, isto é, partindo das 'periferias existenciais', com uma pastoral marcada pela 'cultura do encontro', capaz de reconhecer a obra livre do Senhor também fora dos nossos esquemas habituais e de assumir, sem constrangimento, aquela condição de 'hospital de campanha' que tanto beneficia o anúncio da misericórdia de Deus".

E ainda onde se diz que "as perguntas que são propostas a seguir, com referência expressa aos aspectos da primeira parte da Relatio Synodi, pretendem facilitar o devido realismo na reflexão dos episcopados individuais, evitando que as suas respostas possam ser fornecidas segundo esquemas e perspectivas próprias de uma pastoral meramente aplicativa da doutrina, que não respeitaria as conclusões da Assembleia sinodal extraordinária e afastaria a sua reflexão do caminho já traçado".

Um convite repetido também na introdução à segunda parte do questionário ("O olhar para Cristo: o evangelho da família"), na qual se lê que "as perguntas que surgem da Relatio Synodi têm o objetivo de suscitar respostas fiéis e corajosas nos pastores e no povo de Deus para um renovado anúncio do Evangelho da família".

E naquela relativa à terceira parte do questionário ("O confronto: perspectivas pastorais"), em que se salienta que, "ao aprofundar a terceira parte da Relatio Synodi, é importante se deixar guiar pela virada pastoral que o Sínodo Extraordinário começou a delinear, radicando-se no Vaticano II e no magistério do Papa Francisco. Às Conferências Episcopais – continua o documento – compete o fato de continuar a aprofundá-la, envolvendo, da maneira mais oportuna, todos os componentes eclesiais, concretizando-a no seu contexto específico. É necessário fazer de tudo para que não se recomece do zero, mas se assuma o caminho já feito no Sínodo Extraordinário como ponto de partida".

Um passo para a frente e um para trás

Com efeito, sobre uma questão, a dos divorciados em segunda união, um pequeno passo para frente parece ter sido feito. Ou, melhor, foi se consolidando a hipótese – levantada pela primeira vez no Instrumentum laboris de junho – de levar em consideração a práxis das Igrejas Ortodoxas.

Nos Lineamenta, repropõe-se, portanto, aquilo que está escrito na Relatio Synodi, afirmando que "a pastoral sacramental em relação aos divorciados recasados precisa de um aprofundamento ulterior, avaliando também a práxis ortodoxa e tendo em mente 'a distinção entre situação objetiva de pecado e circunstâncias atenuantes'".

E acrescentando: "Quais as perspectivas em que é possível se mover? Quais os passos possíveis? Que sugestões existem para evitar formas de impedimentos indevidas ou desnecessárias?". E, portanto, deixando transparecer nas entrelinhas a possibilidade de alguma suavização.

Ao mesmo tempo, porém, reitera-se várias vezes o caráter indissolúvel do matrimônio, como onde se pergunta: "O que se pode fazer para mostrar a grandeza e beleza do dom da indissolubilidade, de modo a suscitar o desejo de vivê-la e construí-la cada vez mais?".

E se, de um lado, pode-se captar uma significativa mudança de linguagem no fato de que os casamentos civis e as convivências já não são mais definidas como situações "irregulares" – como ocorria no Instrumentum laboris divulgado em junho e no documento preparatório para o Sínodo Extraordinário –, de outro, parece um passo para trás o fato de que, enquanto na Relatio se fala de "orientação homossexual", nas perguntas dos Lineamenta passa-se a definir gays e lésbicas como pessoas com "tendência homossexual", perguntando de que modo é possível cuidar das pessoas em tais situações à luz do Evangelho, "evitando toda injusta discriminação" e "como propor a elas as exigências da vontade de Deus sobre a sua situação".

Não por acaso, Marianne Duddy-Burke, diretora-executiva da organização de católicos LGBT DignityUSA, expressando profunda frustração, falou de uma "reversão ao tom datado e julgante que muitos esperavam que estivesse desaparecendo no passado, dado o aparente conforto do Papa Francisco de falar com e sobre as pessoas LGBT de uma forma mais realista e respeitosa".

"Certamente – continuou ela –, as pessoas LGBT [sigla para: Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis, Transexuais e Transgêneros] precisam de um cuidado pastoral apropriado, que comece a partir do reconhecimento da nossa igualdade moral com todas as outras pessoas e que aceite a realidade das nossas vidas e das famílias que criamos. Mas nós não somos um problema para a Igreja resolver. Somos seres humanos, membros batizados da nossa Igreja, amados de Deus assim como todos os outros membros da Igreja. Temos 'dons e qualidades' necessários e gratuitamente oferecidos à Igreja e ao mundo, para tomar emprestada a linguagem do relatório intermediário do Sínodo anterior."

"As autoridades da Igreja – disse ainda – estão décadas atrasadas em relação aos fiéis no reconhecimento dos verdadeiros ensinamentos do Evangelho sobre as pessoas LGBT. Nós as convocamos a ouvir ativamente o chamado do Espírito que fala nessa verdade, caso contrário, eu temo que o próximo Sínodo vá levar a mais dor, mais alienação, mais devastação para as vidas das pessoas LGBT e para as famílias em todo o mundo."

Em suma, de fato, só sobre os processos de nulidade matrimonial, que, de algum modo, afetam a doutrina, a pergunta contida nos Lineamenta é clara e explícita: "Como tornar mais acessíveis e ágeis, possivelmente gratuitos, os procedimentos para o reconhecimento dos casos de nulidade?".

Provavelmente, não é um acaso, já que, sobre a questão, em setembro, o Papa Francisco instituiu uma comissão especial, e que o assunto foi um daqueles que, dentro do Sínodo, se coagularam os maiores consensos (o parágrafo sobre o reconhecimento dos casos de nulidade obteve 143 placet e 35 non placet).

Traduzido por Moisés Sbardelotto.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Terça-feira, 16 de dezembro de 2014 – Internet: clique aqui.

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