«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

domingo, 28 de dezembro de 2014

DOIS PRESIDENTES, DUAS HISTÓRIAS, DUAS GRANDES LIÇÕES

A inabalável popularidade de Putin

GILLES LAPOUGE
Paris

País sofre com inflação alta, sanções e preços de petróleo e gás em queda, mas líder russo ainda é visto como um visionário por seu povo
Vladimir Putin - Presidente da Rússia
Os russos assistem a uma disparada nos preços do pão, da carne e das maçãs. O petróleo e o gás, as duas "tetas" da prosperidade russa, fraquejam. As sanções que o Ocidente adotou para punir os maus modos de Vladimir Putin na Ucrânia e outros lugares exauriram de tal forma o país que o Kremlin se viu obrigado a controlar até o preço da vodca.

Sacudido por todos esses ventos perversos, era de se achar que o comandante da Rússia, impassível, viril, enigmático e brutal Putin, tivesse perdido o amor de seus súditos. Não. Putin goza de uma popularidade que a maioria dos chefes de Estado ocidentais (com exceção da alemã Angela Merkel, talvez) ficaria encantada em ter.

Como explicar isso? Há algumas pistas aqui e ali. Por exemplo, essa curiosa nota do Russki Journal: "Mais de cem personalidades políticas e econômicas russas sofrem sanções individuais. São gente próxima de Putin. Fazer parte 'dos que são punidos pelos EUA' constitui uma verdadeira distinção, um certificado de devoção absoluta a Putin. Algumas pessoas até ficaram decepcionadas por ficarem fora dessa elite."

No povo russo, o que alimenta a popularidade intacta de Putin é o "patriotismo". Pela primeira vez desde o fim da URSS, viu-se assomar o espectro de uma guerra de envergadura. E essa guerra "nacional" fascina os jovens. O Ministério da Defesa anunciou uma forte elevação do número de alistamentos voluntários. A população está engajada na "defesa cívica" como nos "bons velhos tempos". O antiamericanismo está no auge. A TV russa rende homenagem a esses jovens que saem em socorro da pátria.

Putin aproveitou a tensão atual para modificar os mecanismos do governo. Até agora, os recursos do poder eram, ao menos na aparência, os mesmos que no Ocidente, com ministros, deputados etc. Depois de anexar a Crimeia, uma nova instância foi instalada: o Conselho de Segurança.

A propaganda de Moscou respondeu às insinuações do Ocidente com a análise cruel das fraquezas europeias. Dezenas de jornalistas e especialistas russos usaram os microfones para explicar que a Europa está em estado avançado de decadência ou até de decomposição. Ao criar a União Europeia, os 28 países consentiram na perda das próprias soberania, identidade, história, geografia, passado e orgulho.

E tudo isso para quê? Para ficar sob a influência dos EUA e colecionar crises econômicas dramáticas. Tal é o resultado mais chocante, mais injusto e mais paradoxal da situação de forças atual. Aos olhos dos russos, Putin ficou sendo aquele que expôs o declínio europeu.

TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Internacional – Sábado, 27 de dezembro de 2014 – Pg. A6 – Internet: clique aqui.

Desconstrução de um presidente em seis anos

WHITNEY EULICH*
THE CHRISTIAN SCIENCE MONITOR

Ascensão brilhante de Obama ao poder contrasta com resultados práticos obtidos, apesar da pouca culpa em parte disso
Barack Obama - Presidente dos Estados Unidos da América
Ao ser eleito pela primeira vez presidente dos Estados Unidos, em 2008, Barack Obama foi considerado uma nova personalidade política envolvente. Em 2014, a queda persistente de sua popularidade e o fato de ter sido virtualmente abandonado por seu próprio partido no segundo mandato são em grande parte uma decorrência do primeiro fenômeno: as expectativas foram superiores à realidade.

É importante destacar, no entanto, que a realidade mudou - e em muitos aspectos. Obama não fracassou como presidente. De fato, foram várias suas realizações em circunstâncias consideradas praticamente impossíveis.

Nos dois primeiros anos de sua presidência, quando seu Partido Democrata controlava ambas as Casas do Congresso, ele adotou muitas medidas para conter a mais grave crise econômica desde a Grande Depressão. Do mesmo modo, conseguiu a aprovação da histórica reforma no sistema de saúde do país, a lei que define a proteção ao paciente e o cuidado acessível.

Mesmo agora, apesar da oposição dos republicanos e de grandes grupos de interesses, ele conseguiu direcionar a política energética para atender à questão das mudanças climáticas e da redução dos gases do efeito estufa.

O presidente também deu passos importantes para assegurar os direitos das mulheres e das minorias sexuais e usou seu poder de governar por decreto para abrandar as restrições à imigração impostas às famílias durante um período de paralisia do Congresso.

A avaliação da presidência de Obama não deve se concentrar apenas nele, mas também na hostilidade sem precedentes dos republicanos. Antes mesmo de ele assumir o cargo, os líderes republicanos tramavam se opor a todas as suas propostas para que ele não pudesse reivindicar o apoio dos dois partidos. Nenhum republicano votou a favor de sua lei da saúde, embora tenha sido formulada com base em planos que tiveram o apoio de alguns representantes republicanos e de destacados grupos de pesquisa.

O truque mais astucioso dos republicanos foi a utilização de recursos de natureza processual para impedir que projetos de lei chegassem ao Senado para ser votados, a fim de que o eleitorado acabasse atribuindo a Obama "o impasse em Washington". Quando os índices de aprovação da presidência começaram a cair, chegando a pouco mais de 40%, os democratas cometeram o erro tático de dar-lhe as costas. Os eleitores concluíram que ele estava sendo abandonado pelo próprio partido e sua popularidade caiu ainda mais.

Como consequência, nas eleições legislativas de meio de mandato, realizadas em novembro, os democratas desistiram de apoiar qualquer medida que tivesse o respaldo de Obama e travaram uma campanha sem objetivo, contribuindo para um baixo comparecimento dos eleitores do partido às urnas. Os candidatos republicanos, que realizaram campanhas extremamente controvertidas contra Obama, trucidaram seus adversários.

Fatores

Evidentemente, uma avaliação honesta da presidência de Obama não pode ignorar o quanto sua raça influiu. De fato, o que se constata é que os EUA estavam muito menos preparados para um presidente negro do que seus partidários previam (ou esperavam), como demonstraram os virulentos ataques a ele dirigidos, que ultrapassaram os limites do tolerável, tratando-se de um presidente.

Além disso, a abordagem de Obama a questões que envolviam a raça foi fortemente limitada pelo medo - que, aliás, ele expressou em seu precoce livro de memórias Dreams From My Father - de ser visto (até mesmo por sua mãe branca) como um "negro revoltado". Devemos, no entanto, creditar-lhe o mérito de ter tratado de maneira eficaz a intrincada questão racial que emergiu após os acontecimentos em Ferguson, no Missouri, transformando o assassinato de um adolescente desarmado no foco principal de uma ação nacional para melhorar os métodos usados pela polícia.

A personalidade de Obama também contribui para seus problemas. Em sua ascensão surpreendentemente rápida, ele esteve praticamente sozinho - um democrata, mas não um produto do Partido Democrata, um político de instintos progressistas, mas não um ideólogo. Como preço disso, a tendência a isolar-se fez com que não tivesse a menor inclinação a estabelecer novos vínculos e aliados em Washington, apoiando-se, pelo contrário, na família e nos seus amigos mais próximos de Chicago.

Além disso, ele não costuma dar atenção a assuntos de menor importância ou ao lado mais dúbio da política, e o desmedido orgulho de sua inteligência excepcional o torna impaciente com as ideias dos outros. Consequentemente, membros do Congresso, figuras exponenciais do mundo dos negócios, entre outros, sentem-se desconcertadas na sua presença - e até mesmo insultadas por sua frieza.

Blindagem

No plano mais geral, a estratégia de governo de Obama contraria sua afirmação inicial de que pretendia criar uma "equipe de rivais" que apresentasse visões opostas. Sua preferência por cercar-se de pessoas de comprovada lealdade produziu uma Casa Branca considerada, até mesmo por alguns membros do gabinete, pouco interessante. Por outro lado, essa equipe exerce um rigoroso controle da linha política. Os próprios integrantes do gabinete têm se irritado porque as suas propostas costumam ser submetidas a demoradas revisões pelas comissões da Casa Branca, cujos relatórios frequentemente são pouco claros.

A ênfase na lealdade é particularmente flagrante no campo da segurança nacional. Susan Rice, sua assessora nessa área, está com Obama desde 2008. Embora seja considerada uma profissional inteligente, é desprovida de uma visão estratégica. Isso, com sua declarada combatividade, comprometeu a formulação de políticas coerentes em questões cruciais como a crise na Síria.

O ex-secretário da Defesa Chuck Hagel não conseguiu atravessar a redoma construída em torno de Rice. As divergências de Hagel em relação à Síria foram muitas vezes levadas diretamente a Obama. Depois das eleições de meio de mandato, Hagel - o terceiro secretário da Defesa de Obama em seis anos - tornou-se o bode expiatório de um governo que demonstrava pouca coordenação. Nem mesmo lhe foi concedida a dignidade de uma simples renúncia, sem que se deixasse afetar pelo vazamento de comentários de funcionários da Casa Branca de que ele "não estava à altura do cargo". Considerando a boa reputação de Hagel em Washington, a medida refletiu mal no governo.

É improvável que Obama encontre conforto contra as lutas internas no último reduto dos presidentes anteriores em fim de mandato: a política externa. Obama não deveria ser culpado pelas dificuldades que os EUA enfrentam nessa área. Não foi ele que criou o caos no Iraque e no Afeganistão e não é sua culpa se a condução da política externa é mais difícil no mundo fragmentado dos nossos dias do que durante a Guerra Fria. Tentar afirmar a liderança global teria sido difícil para qualquer presidente. Na semana passada, Obama anunciou a reaproximação com Cuba.

Embora Obama seja uma personalidade brilhante, tem-se mostrado propenso a cometer erros estranhos. Com um John McCain aparentemente fora de controle na presidência da Comissão do Senado para as Forças Armadas, a situação provavelmente ficará ainda mais complicada.

À medida que a política americana se torna mais polarizada e Obama luta para administrar os desafios decorrentes de históricos desdobramentos globais, os grandes programas internos destinados a tratar da crescente desigualdade provavelmente estarão fora do alcance do seu governo. E, apesar de não faltarem candidatos para suceder-lhe em 2016, depois de sua experiência, nos perguntamos por que alguém iria querer esse emprego.

TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA.

* WHITNEY EULICH É JORNALISTA E AUTORA DE “WASHINGTON JOURNAL: REPORTING WATERGATE AND RICHARD NIXON'S DOWNFALL” [TRAD.: REPORTAGEM WATERGATE E A QUEDA DE RICHARD NIXON].

Fonte: O Estado de S. Paulo – Internacional / Visão Global – Sábado, 27 de dezembro de 2014 – Pg. A7 – Internet: clique aqui.

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