«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

domingo, 28 de dezembro de 2014

"AMPLIAR PRODUTIVIDADE É O MAIS IMPORTANTE"

Entrevista com Ricardo Paes de Barros

Luiz Guilherme Gerbelli

Medida é vital para reduzir a pobreza e melhorar as condições de vida
Ricardo Paes de Barros (SAE/PR)
 
Ricardo Paes de Barros se tornou um dos maiores especialistas em políticas públicas do Brasil. Atualmente, como subsecretário da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR), ele diz que, mais importante do que entender a redução na velocidade de queda da desigualdade, é descobrir os mistérios que mantêm a produtividade brasileira estagnada por várias décadas. "Para reduzir pobreza, fortalecer a classe média e continuar num processo de ascensão e de melhoria das condições de vida, o mais importante não é redução da desigualdade, mas o aumento da produtividade", afirma.

O cenário atual tem deixado o Brasil para trás, segundo Paes de Barros. O crescimento da produtividade brasileira tem sido inferior até aos registros de avanço da africana. Sair dessa situação vai exigir uma série de medidas conjuntas, como:

·        melhorar a infraestrutura e o ambiente de negócios,

·        acelerar o progresso tecnológico,

·        investir em capital e

·        reduzir a rotatividade do mercado de trabalho.

A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao [jornal] O Estado de S. Paulo.

Os últimos indicadores dão sinais de que a queda da desigualdade perdeu força. Por que isso ocorreu?

Ricardo P. de Barros: A (queda da) desigualdade certamente desacelerou. Eu não parei para estudar esse período de redução na velocidade de queda, mas é bastante preocupante. Para o início de janeiro, a gente está montando uma equipe e centrando a atenção para entender porque isso está acontecendo.

De forma geral, qual é o caminho que a economia brasileira precisa trilhar para se tornar mais igual?

Ricardo P. de Barros: Existem dois desafios para o Brasil pela frente. A desigualdade, que parou de cair, e a produtividade, que não cresce. Eu acho que a gente tinha de estar mais preocupado com a produtividade. O desafio de a desigualdade continuar caindo, talvez, não seja tão grande quanto o mistério de um país com uma produtividade estagnada há décadas. Para reduzir a pobreza, fortalecer a classe média e continuar num processo de ascensão e de melhoria das condições de vida, o mais importante não é redução da desigualdade, mas o aumento da produtividade.

Quais medidas podem ser adotadas para aumentar a produtividade?

Ricardo P. de Barros: Há mais especulação do que evidências sólidas sobre isso. Existem os candidatos absolutamente naturais para isso. Primeiro, é melhorar a infraestrutura. Segundo, avançar com o ambiente de negócios. A economia ganha produtividade na medida em que várias novas oportunidades são aproveitadas. Se existe um ambiente de negócios que impede que essas oportunidades sejam aproveitadas, é natural que a produtividade fique meio estagnada. Terceiro, não existe ganho de produtividade sistemático sem progresso tecnológico. E aí é aquela coisa clássica do Brasil, que está muito preocupado com a inovação, mas pouco com o copiar. Nós temos um espaço para aumentar a produtividade copiando o que os lugares mais avançados fazem. De qualquer maneira, o Brasil avançou muito cientificamente, sem avançar tecnologicamente. Estamos tendo uma dificuldade em traduzir teoria em prática. Ou seja, a nossa universidade está meio desconectada com a inovação e a “copiação”, vamos dizer assim. Em quarto lugar, é investimento em capital. Se não tiver uma economia mais intensiva em capital, não haverá ganho de produtividade. E aí é preciso ter poupança - parte do milagre chinês é uma poupança lá em cima. Enquanto a gente não for um país com mecanismos de promoção de poupança, vai ser difícil expandir o estoque de capital na velocidade em que a economia brasileira precisa. Quinto, tem todas as confusões do mercado de trabalho com a alta rotatividade.

Como a universidade brasileira se tornou desconexa?

Ricardo P. de Barros: O Brasil tem um sistema universitário sensacional, com grandes universidades. Nas publicações científicas, o País ganhou várias posições. Só que algumas universidades, em particular as públicas, têm uma certa dificuldade em lidar com o setor privado. O próprio setor público cria universidade e não entende que o papel fundamental dela é produzir inovação, além do progresso científico.

Por quê?

Ricardo P. de Barros: A gente não tem uma maneira muito clara para uma empresa usar um laboratório que está numa universidade pública, assim como não há uma maneira muito clara e eficiente para uma empresa poder usar um professor que está na universidade para fazer uma pesquisa que vai melhorar a produtividade da companhia. Já existem várias leis que estão totalmente conscientes dessa dificuldade e buscam resolver isso, mas a gente não conseguiu desfazer o nó porque estamos sempre tentando nos defender da empresa, eventualmente considerada abusada e que vai usar os recursos da universidade pública para ter lucro. Se a empresa quer financiar um laboratório numa universidade, por exemplo, as pessoas sempre estão preocupadas sobre a segunda intenção da empresa. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação já entendeu que ele tem de aproximar a universidade da indústria, e a indústria da universidade.

A questão da rotatividade no mercado de trabalho que tem sido muito debatida nos últimos anos. Como diminuí-la para tornar a economia mais produtiva?

Ricardo P. de Barros: Existem várias maneiras. Deixa eu falar sobre duas coisas que a gente podia fazer rapidamente. O que precisa no Brasil é que a empresa invista no trabalhador, e ele na empresa. Precisa estimular a relação de longo prazo. A nossa proposta é que o governo dê o direito para o trabalhador, todo ano, de fazer 40 horas de qualificação em qualquer momento do ano, quando ele quiser, no que ele quiser - desde que o empregador dele diga que esse curso é útil para a empresa.

Qual seria o impacto dessa medida?

Ricardo P. de Barros: Na hora em que a empresa acha um trabalhador que ela considera legal com essa proposta, há um incentivo para continuar com ele, desde que essa parceria seja considerada boa (para os dois lados). Essa é uma maneira de alongar a duração do emprego, o que reduz a rotatividade e aumenta o capital humano específico desse trabalhador. E, na medida em que a produtividade desse profissional subir, isso retroalimenta e aí é que ele não vai ser demitido mesmo. Aquele profissional, que era um cara improdutivo, se tornou superprodutivo. Esse é um canal.

E a outra maneira de reduzir a rotatividade no mercado de trabalho?

Ricardo P. de Barros: O outro canal é o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). O FGTS é uma poupança obrigatória, só que o juro que se paga em cima dessa poupança compulsória é muito abaixo do juro praticado no mercado. Então, obviamente, você está dizendo para o trabalhador o seguinte: "enquanto você estiver empregado no mesmo lugar, você está fazendo uma poupança obrigatória, que paga uma taxa de juros ridícula".

E qual consequência dessa mensagem para estimular a rotatividade?

Ricardo P. de Barros: O trabalhador tem todo o incentivo, a partir de um certo ponto, de tentar tirar o FGTS dessa aplicação maluca. Ele quer pegar esse dinheiro de volta para colocar em outra aplicação. Além do que, se esse trabalhador for demitido, ele ganha 40% em cima disso. Então, por que ele vai continuar no mesmo emprego, com o FGTS sendo capitalizado a uma taxa meio ridícula e, além disso, sem o prêmio em cima do FGTS que só ganha se trocar de emprego? Evidentemente que, diante dessa situação, se o trabalhador está em dúvida de ficar numa empresa ou ir para outra, pode induzir a demissão. É um incentivo para não permanecer na mesma empresa. Esse mecanismo está protegendo o trabalhador, mas também está induzindo à rotatividade.

A remuneração do FGTS deveria ser alterada, então?

Ricardo P. de Barros: É uma alteração simples. O FGTS é a coisa mais bem bolada da face da terra. Todo país do mundo gostaria de ter algo parecido com o FGTS. É o melhor desenho de proteção ao trabalhador. Agora, tinha de pagar uma taxa de juros de mercado. O Brasil faz política habitacional, um monte de política em cima do FGTS, e cria-se um problema para o mercado de trabalho. Se o FGTS fosse remunerado muito bem, com uma boa taxa de juros, o trabalhador não iria ter razão nenhuma para querer pegar aquele dinheiro, exceto se ele tivesse uma restrição financeira. Nesse caso, seria preciso desenvolver um esquema de tornar o FGTS um pouco mais líquido. Mas eu acho que o principal problema não é a falta de liquidez, e sim a taxa de juros baixa.

Quais serão as consequências para a economia se nada for feito para elevar a produtividade do Brasil?

Ricardo P. de Barros: A consequência é simples: há 30 anos, a China tinha uma produtividade que era um décimo da brasileira. Agora, está encostando no Brasil. A economia brasileira ainda tem uma produtividade do trabalho ligeiramente maior do que a chinesa. A questão toda é como vamos produzir aumentos salariais e ganhos sociais com uma produtividade abaixo da chinesa. Depois que a gente for ultrapassado pela China, vai ter um problema de competitividade mais grosseiro. O Brasil está sendo ultrapassado por vários países. Só para ter uma ideia: o crescimento da produtividade no Brasil é a metade do crescimento da produtividade na África. Não estou comparando com país rico nem com América Latina, e a África não é o continente mais conhecido por estar com um crescimento de produtividade acelerado.

O País teria de atacar várias frentes para melhorar a produtividade?

Ricardo P. de Barros: Certamente. E o Brasil está adotando medidas. A gente tem um levantamento de todas as políticas que o País tem feito para promover ganhos de produtividade e, pelo o que eu saiba, são mais de 500 políticas voltadas para elevar a produtividade. A gente tem o programa Brasil Maior, um monte de estratégias, o Ministério da Ciência tem toda a estratégia de promoção da inovação. Então, não é falta de política, é preciso analisar melhor por qual motivo essas políticas não estão tendo o impacto que gostaríamos que elas tivessem.

* Ricardo Paes de Barros é graduado em Engenharia pelo ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica – São José dos Campos, SP), começou a trabalhar no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 1979. Atualmente é subsecretário da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR).

Fonte: O Estado de S. Paulo – Economia – Domingo, 28 de dezembro de 2014 – Pg. B4 – Internet: clique aqui.

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