«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

CONTRA O CULTO AOS JUROS ALTOS!

Juros de amor

Luiz Gonzaga Belluzzo & Gabriel Galípolo*

Aposentados, trabalhadores e mães do Bolsa Família tornam-se
alvo dos economistas que desejam equilibrar receitas e despesas
do Governo Federal. Pode?
LUIZ GONZAGA BELLUZZO
Economista e Professor de Economia

A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, revelou que, entre 2004 e 2014, o matrimônio entre democracia e Estado Social originou um crescimento real de 56,6% da renda média domiciliar per capita no Brasil.

Considerando preços de junho de 2011, a renda saltou de R$ 549,83/mês para R$ 861,23/mês, o que acarretou queda de aproximadamente 65% na taxa de pobreza extrema.

Mas precisamos nos apressar, alertam os Cavaleiros do Apocalipse [economistas a favor do arrojo]:
* sem elevação nas taxas de juros,
* redução do salário real,
* cortes na rede de proteção social e
* mortes nos hospitais, sofreremos um revés nos ganhos dos últimos anos.

No Brasil do austericídio rentista, o juro básico, um senhor volúvel, simula fidelidade à coordenação das expectativas dos formadores de preços, enquanto há anos se entrega aos encantos da Valorização Cambial.

Dessa relação, nasceu o desmoronamento da indústria brasileira, desarticulação de um sistema de relações intersetoriais decisivas para a formação e difusão da renda e do emprego na economia.

O trêfego avarento produziu a queda da participação da indústria de transformação no PIB de 16,6% em 2007 para 10,9% em 2014 e a reversão no saldo da balança comercial de produtos industriais de um superávit superior a US$ 18 bilhões em 2007 para um déficit de US$ 63,5 bilhões em 2014.

A elevação de 96,5% na taxa Selic, de 7,25% para 14,25%, entre abril de 2013 e julho de 2015, prometia enfiar a inflação na meta. Traído pelo divórcio da taxa de câmbio e pelo choque de preços administrados, o abandonado viu a inflação disparar.

Vingou-se na queda de:
* 21,6% na Formação Bruta de Capital Fixo [1],
* de 4,5% no consumo das famílias e
* de 5,5% do PIB, comparando o terceiro trimestre de 2013 com o mesmo período de 2015.

O Saber Econômico da Avareza, amigo cúmplice, se prontifica a demonstrar que as despesas com juros e swap cambial [2] são muito menores do que aparentam, a despeito de representarem:
* cinco vezes o orçamento da saúde e da educação,
* mais de oito vezes o orçamento do PAC,
* cinco vezes o déficit da Previdência e
* mais de 16 vezes o orçamento do desenvolvimento social.

"Trata-se de uma ilusão de ótica, capaz de ser esclarecida (Kant nos socorra!) por cálculos abstratos."
GABRIEL GALÍPOLO
Economista, Professor de Economia e Consultor

O cúmplice mimetiza as "certezas da ciência" para seduzir os teólogos da Razão Instrumental – que tenham piedade o matemático Kurt Gödel e seu Teorema da Incompletude (impossibilidade aritmética de um sistema ser simultaneamente completo e consistente).

Na tradição do Tribunal do Santo Ofício, o choque de tarifas e a vingança do câmbio na inflação são absolvidos [ou seja, não são levados em conta!!!]. As reduções do juro Selic são condenadas como antinaturais. Já as elevações [dos juros] são impostas por forças da natureza, como a lei da gravidade. "E pur si muove", exclamaria o duplo avesso de Galileu.

Os sacerdotes da razão instrumental [os economistas a favor da atual política econômica brasileira] repreendem os hereges que apontam as conexões entre a queda do PIB, a derrocada fiscal e a Selic, campeã do Torneio Mundial do Jurômetro. Valem-se da pertinente e necessária demanda por equilíbrio entre receitas e despesas públicas para incriminar aposentados, trabalhadores e mães do Bolsa Família pelo "ataque" ao orçamento.

O governo prostra-se diante do cantochão [3] da mídia. Os déficits primários [4] estimados para 2015 pelo FMI Fiscal Monitor, em outubro, dão mostras de não concordar com os apavorados nativos.

Por exemplo: -5,4% no Japão, -5% na Rússia, -3,1% no Chile, -2,8% na Índia, -2,6% no Reino Unido, -1,8% nos Estados Unidos, -1,4% na China, -1,2% no México, -0,8% na África do Sul, - 2,6% na média das economias de baixa renda, -2,4% nas economias emergentes, -1,5% nas economias avançadas e -0,4% no Brasil. São déficits primários típicos de economias em desaceleração.

N O T A S :

[ 1 ] Esse indicador de nome extenso e complicado mede o quanto as empresas aumentaram os seus bens de capital, ou seja, aqueles bens que servem para produzir outros bens. São basicamente máquinas, equipamentos e material de construção. Ele é importante porque indica se a capacidade de produção do país está crescendo e também se os empresários estão confiantes no futuro. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) é calculada trimestralmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (Fonte: clique aqui).

[ 2 ] Por meio dos contratos de “swap cambial”, o Banco Central (BC) realiza uma operação que equivale à uma venda de moeda no mercado futuro (derivativos), o que reduz a pressão sobre a alta da moeda. Os swaps são contratos para troca de riscos: o BC oferece um contrato de venda de dólares, com data de encerramento definida, mas não entrega a moeda norte-americana. No vencimento desses contratos, o investidor se compromete a pagar uma taxa de juros sobre o valor deles e recebe do BC a variação do dólar no mesmo período. Esses contratos servem também para dar “proteção” aos agentes que têm dívida em moeda estrangeira – neste caso, quando o dólar sobe, eles recebem sua variação do BC. O BC vem usando os swaps desde junho de 2013, quando o dólar atingiu R$ 2,40. O estoque desses títulos hoje está próximo de R$ 370 bilhões (patamar do fim de julho). Mas quando o dólar sobe, o BC registra perdas: em 2015, até 18 de setembro, as perdas do BC com essas operações já somavam R$ 97 bilhões. Se o dólar cair, no entanto, o BC tem lucro com os swaps (Fonte: clique aqui).

[ 3 ] Cantochão: canto tradicional da liturgia cristã-católica ocidental, monódico, diatônico e de ritmo livre, composto sobre textos litúrgicos latinos e baseado na acentuação e nas divisões do fraseado; canto gregoriano, canto plano. Aqui, neste artigo, tem o significado de “doutrina muito conhecida e repetida” (Fonte: Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa – versão 3.0).

[ 4 ] Déficit primário é o valor gasto pelo Governo e que excede o valor de sua arrecadação em determinado período (um ano, por exemplo), sem levar em consideração a despesa realizada com o pagamento dos juros da dívida pública.

* LUIZ GONZAGA BELLUZZO, 73 anos, é diretor da Facamp (Faculdades de Campinas) e professor titular do departamento de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (governo José Sarney). GABRIEL GALÍPOLO, 33 anos, mestre em economia política e professor do departamento de Economia da PUC-SP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é sócio da Galípolo Consultoria.

Fonte: Folha de S. Paulo – Tendências / Debates – Quinta-feira, 14 de janeiro de 2016 – Pg. A3 – Internet: clique aqui.

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