«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

domingo, 24 de janeiro de 2016

D I N O S S A U R O S

Carlos Melo*

O PSDB quer a extinção do PT.
O fato é que, perdidos na pré-história, ambos apavoram-se
com o pesadelo da interlocução perdida, da irrelevância política
e não imaginam por onde se reinventar
"MORTADELAS" À ESQUERDA E "COXINHAS" À DIREITA:
UM ENFRENTAMENTO QUE NÃO VAI A LUGAR ALGUM!!!

Aparentemente, é uma guerra de extermínio. Não basta vencer, o inimigo deve ser eliminado. É a política por todos os meios, exceto os mais legítimos: formulação de projetos, alternativas para o País, saídas mais gerais, sistêmicas e, digamos assim, mais políticas, estão descartadas. O caudaloso rio de disputas, acusações e ressentimentos acumulados em que se navega há anos trouxe o sistema político a esta corredeira que se precipita ao abismo sem perceber que algo diferente e desconhecido se delineia logo mais a diante.

O PSDB vai à Justiça pedir a extinção do PT. Toma o todo pela parte corrompida dos adversários. Não tem disposição para dialogar com a parcela da sociedade que, em 2014, significou mais da metade do eleitorado. Descarta processos pedagógicos (e trabalhosos) de disputa, como o convencimento. É possível, sim, que, do ponto de vista legal, sobrem motivos para riscar o PT do mapa. Uma grana preta, afinal, foi desviada dos cofres públicos e, supostamente, financiou campanhas. Com religiosa convicção, tucanos atiram pedras, expulsam os vendilhões do templo. Ou, antes, trata-se de cálculo deliberado para retomar espaços da ira de radicais avulsos?

A prudência tem sido tachada de parcialidade ou covardia, mas seria mais prudente esperar por julgamentos formais, não? Mesmo verossímeis, as denúncias que sustentam a ação tucana ainda são fruto de delações premiadas que, de quando em quando, também atingem próceres do PSDB, que, de pronto, as desqualifica. É incoerente acatar fontes que se despreza quando não convém. Os tucanos precisam decidir se essas delações são ou não legítimas, afinal, para tudo. Reclama dos “vazamentos seletivos”, que, vê-se, só são tolerados na tubulação do vizinho.

É certo que, em circunstâncias trocadas, petistas fariam o mesmo. Não perderiam a chance, pelo menos, do discurso inflamado e furioso do qual, no passado, se mostraram especialistas. Nesse jogo sem fair play, a garganta do inimigo é a meta. Simples assim: a galera exige, o gladiador executa. Tanto quanto alguns tucanos, alguns petistas aplicam as mesmas receitas conhecidas e, ao final, “mortadelas” [1] e “coxinhas” [2] são da mesma miséria nutricional: reduzida atenção com o País, exagerado zelo consigo próprios. Indignação seletiva.

No entanto, o busílis [cerne da questão] é outro: o sistema se fragmenta. Em cacos, transmuta-se. O quadro partidário, não tarda, será outro, diferente do qual nos acostumamos. PT e PSDB já não representam a sociedade como há pouco faziam. Não mais parcelas tão amplas. Buscam, na verdade, sobreviver à ruína que já experimentam. Sem o PT, o PSDB é pão sem manteiga, Palmeiras sem Corinthians, Romeu sem Julieta. O mesmo serve para o PSDB. Morrem abraçados.

Passada a eleição de 2014, abalados pela crise de 2015, ambos perderam espaço e a centralidade das forças políticas que até recentemente conduziam. É provável que não se deem conta do processo e, por isso, relutem aceitar a realidade da crise sem precedentes: o País se transforma sem saber para onde, como e para quê, se para melhor ou pior. Petistas e tucanos [PSDB] debatem-se numa resistência inócua, com lances performáticos como “pedir” a extinção do outro. Não é apenas erro, é patético: partidos não se extinguem por medida judicial, mas por irrelevância política.

E este processo parece ter começado. No PT, a liderança já não lidera para além dos corredores das sedes, da militância orgânica ou fundamentalista. Históricas frações à esquerda já resultam em novas legendas (PCO, PSTU, PSOL, Rede Sustentabilidade, Raiz). A antiga área de influência se descola (PSB e, logo, o PCdoB). Sindicalistas e movimentos logo mais encontrarão outras referências de corporativismo e abrigo no Estado. Aliados inconfiáveis (PMDB, PDT, PSC e quejandos) se desvencilham do passivo à espera de saltar do vulnerável barco governista.

No PSDB, não é diferente. Não mais há “a oposição” (no singular), mas “as oposições” (no plural). Fragmentados, novos grupos vão se conformando: a Rede, de Marina Silva, almoça tucanos em pleno dia, sufocando-os numa torrente de palavras imprecisas a respeito da sustentabilidade democrática, social e ambiental. Pelo liberalismo econômico ousado e sem pudor, o Partido Novo os janta nas críticas ao papel e tamanho do Estado que os tucanos envergonham-se de expressar. À direita, alternativas mais conservadoras (e radicais) ocupam espaços que, desde o ocaso do malufismo, imaginava-se reserva do PSDB. Até o satélite DEM se afasta.
 
CARLOS MELO
Cientista Político e Professor do Insper (S. Paulo)
PSDB e PT se agarram, assim, um ao outro como forma de preservação. Antagonistas escolhidos e sparrings mútuos. Quem apostou num sistema político tendendo ao bipartidarismo gastou fichas em vão. Hoje, a polarização é social e está nas ruas, nas famílias, nas redes. Perigosamente, sem direção nem freios. Perdidos na pré-história desse novo momento, tucanos e petistas apavoram-se com o pesadelo da interlocução perdida e da irrelevância política, não imaginam por onde se reinventar. O fantasma da extinção política assombra a ambos os dinossauros.





N O T A S

[ 1 ] “Mortadela”: é o nome com o qual se apelidou pessoas que comparecem em manifestações de apoio ao governo petista de Dilma Rousseff. Esse nome provém do fato desses manifestantes, em vários casos, receberem sanduíches de mortadela durante as manifestações. Elas são, por isso mesmo, denominadas de manifestações “chapa branca”, porque apoiadas pelo governo (chapa branca dos veículos do Estado). Com esse termo, passou-se a designar, por extensão, todo aquele que sendo ou não do PT apoia o atual governo federal.

[ 2 ] “Coxinha”: é um termo pejorativo usado na gíria e que serve para descrever uma pessoa "certinha", "arrumadinha". Tendo a sua origem em São Paulo, a palavra coxinha quase sempre tem um sentido depreciativo e indica um indivíduo conservador, que é politicamente correto e que se preocupa em adotar comportamentos que são aceitos pela maioria das pessoas. Nas manifestações contra o governo Dilma Rousseff, os manifestantes são denominados de “coxinhas”.

* CARLOS MELO é Cientista Político e Professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), em São Paulo.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Suplemento ALIÁS – Domingo, 24 de janeiro de 2016 – Pg. E2 – Internet: clique aqui.

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