A oposição ao Papa

Marco Antonio Velásquez Uribe
Reflexión y Liberación
19-08-2014

“Não há dúvida de que o Papa Francisco encontra uma férrea oposição dentro da Igreja. Os fatos estão à vista.”
Papa Francisco

Não há dúvida de que o Papa Francisco encontra uma férrea oposição dentro da Igreja. Os fatos estão à vista. Enquanto alguns expressam de maneira cada vez mais aberta suas diferenças, outros o fazem sentir de maneira menos visível e explícita.

No começo, criticaram-no pela simplicidade das suas roupas, depois por sua liberdade litúrgica, mais tarde por sua crítica ao sistema econômico. Agora se incomodam com as visitas que faz aos seus amigos – ruim que tenha amigos, pior ainda se são judeus, muçulmanos ou pentecostais. Não gostam que ria, brinque, surpreenda, improvise, converse, telefone, em resumo, que aja humanamente.

Num plano mais reservado, o descontentamento vem acompanhado da deslealdade das fofocas, onde a indignação com o Papa se espalha por sua crítica e denúncia sistemática da corrupção do clero. Não lhe perdoam que exponha publicamente suas fragilidades, embora com isso o Papa busque conter o processo de degradação experimentada pela nobre e necessária função sacerdotal.

Em um nível mais elevado, e de maneira mais orgânica, estrutura-se uma oposição dogmática contra o magistério do Papa Francisco. Silenciosamente, vai ganhando força uma corrente teológica que, sem pudor, vai corrigindo os desejos reformistas do papa.

De um lado estão aqueles que – amparados no poder de seu dinheiro, de seus privilégios e comodidades – agiram eficazmente para silenciar a Evangelii Gaudium [exortação apostólica escrita pelo Papa Francisco]. Surpreende que uma exortação pontifícia tão incisiva não seja suficientemente socializada em fóruns, seminários, jornadas ou homilias; mais ainda em tempos de globalização das comunicações.

Do outro lado estão aqueles que, convencidos de defender o bom Nome Deus, advertem publicamente contra qualquer gesto de abertura ou suposta lassidão moral que possa ser desencadeada pela misericórdia papal. Nesta categoria cabem os temas relativos à: 
  • comunhão e confissão das pessoas separadas ou divorciadas recasadas, 
  • os temas da moral sexual, 
  • a ordenação dos viri probati [homens casados de boa reputação escolhidos para serem padres] e das mulheres, 
  • assim como as nomeações de bispos, entre outros.
A oposição ao papa se articula sob a mesma estrutura piramidal da Igreja e opera de forma diretamente proporcional ao poder eclesial. Onde há mais poder, há maior oposição. Consequente com isso, os núcleos de oposição estão situados na hierarquia, e mais precisamente, em não poucos bispos.

Aqueles que se aglutinam em torno da oposição ao papa são os bispos que compreenderam seu ministério episcopal sob uma concepção administrativa de exercício de poder eclesial. São aqueles que renunciaram a assumir a tarefa episcopal como um encargo evangélico orientado eminentemente ao serviço do Povo de Deus. São os bispos que se deixaram guiar por seus próprios medos e preconceitos, mais que pela guia confiável do Espírito Santo. São aqueles que não confiam em seu clero, nem em seus fiéis e que, consequentemente, dedicam grande parte do seu tempo para controlar, reprimir e punir. São aqueles que se deixam interpelar mais pelo Código de Direito Canônico do que pelo Evangelho. São aqueles que não assimilaram essa graça divina da misericórdia e que, portanto, “dizem uma coisa e fazem outra. Amarram pesados fardos e os colocam no ombro dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los, nem sequer com um dedo” (Mt 23,3b-4). São aqueles que, em definitiva, apagam o Espírito e aqueles que mergulharam a Igreja, de todos, numa crise de grandes proporções, havendo tanto bem para compartilhar e tanto sofrimento para conter.

Enquanto ontem a Igreja era estremecida por vergonhosos escândalos provocados por alguns de seus ministros, no presente aflora na consciência do Povo de Deus essa outra crise, que persiste através da história: a crise provocada pela tentação do exercício do poder na Igreja. Esta é a crise que afeta de maneira mais incisiva o serviço apostólico do Papa Francisco e que o leva insistentemente a pedir que o Povo de Deus o apoie com a oração.

O papa, como fiel filho de Santo Inácio de Loyola, com seu testemunho, atualiza essa Guerra do Reino descrita nos Exercícios Espirituais (EE). A cena de um campo de batalha onde se enfrentam a vida e a morte, o bem e o mal, e onde os homens se alistam para lutar sob uma das Duas Bandeiras, a de Jesus Cristo ou a de Satanás, é uma cena adequada para visualizar as tensões que afetam a Igreja e o Papa (EE 135-149).

Tão forte é a tentação do poder que invade o ministério episcopal, que Santo Agostinho, como bispo bom de Hipona, quis prevenir os seus contemporâneos e os seus sucessores contra os perigos que encerra o exercício do episcopado, dizendo: “Desde que me foi imposta sobre os meus ombros essa carga, de tanta responsabilidade, preocupa-me a questão da honra que ela implica. O mais temível neste cargo é o perigo de nos comprazer mais em seu aspecto honorífico do que na utilidade que reporta à vossa salvação. Mas, se por um lado me assusta o que sou para vós, me consola o que sou convosco. Para vós, sou bispo, convosco sou cristão. O primeiro é nome de obrigação, o outro, de graça; o primeiro, de perigo, outro, de salvação” (Sermão 340).

Não está longe o dia em que o Povo de Deus começa a substituir suas reverências por exigências de conversão dos seus pastores, porque nada alenta mais a viver a alegria do Evangelho do que o bom exemplo desses homens que são chamados a guiar os filhos e filhas da Igreja. Enquanto isso, esse mesmo Povo continuará apoiando fielmente o Papa Francisco com sua modesta e agradecida oração.

Traduzido do espanhol por André Langer.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Segunda-feira, 25 de agosto de 2014 – Internet: clique aqui.

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