O cristianismo no Oriente Médio corre o perigo de desaparecer
Federico Cenci
Entrevista
com Mikayel Minasyan,
embaixador
da República da Armênia junto à Santa Sé
O embaixador da Armênia junto à Santa Sé, MIKAYEL MINASYAN e sua esposa, quando apresentava suas credenciais ao PAPA FRANCISCO (10/Junho/2013) |
A
embaixada da Armênia perante a Santa Sé preparou uma exposição sobre a
cristandade no Oriente e recordará que a presença dos cristãos em diversas
partes do mundo corre perigo.
ZENIT
conversou com o embaixador Mikayel
Minasyan, que nos falou da situação.
ZENIT: O seu povo conheceu a
perseguição na própria pele. Qual é a mensagem que os mártires cristãos do
Oriente Médio dão ao mundo?
Mikayel Minasyan: Os
mártires cristãos no Oriente Médio não são um fenômeno de hoje. Existe algo nos
processos de modernização dessa grande região que está saindo de controle. Os
armênios foram vítimas de uma limpeza étnica que durou quase cem anos, entre a
Anatólia e o Cáucaso, da qual o genocídio de 1915 foi um dos piores momentos, o
mais emblemático. E talvez pudesse ajudar a prevenir a evolução de
acontecimentos futuros. A mensagem há mais de cem anos é esta: temos que evitar o pior.
Em algumas dessas regiões há
comunidades armênias radicadas. Qual é o futuro delas?
Mikayel Minasyan: Elas
estão bem integradas em quase todos os países do Oriente Médio. Com exceção de
Jerusalém e do Líbano, onde a presença religiosa armênia tem origens muito
antigas, nos outros países eles são descendentes, em grande parte, dos
sobreviventes dos armênios da Anatólia, deportados para o deserto sírio em
1915. Para todos eles, a situação das duas últimas décadas é uma trágica
repetição da dor já sofrida. Hoje é
particularmente difícil a situação dos armênios sírios e iraquianos. O
ataque dos jihadistas contra o povoado armênio de Kessab, na fronteira turca, e a destruição do monumento à memória em Deir ez Zor, que conservava os restos dos armênios mortos durante
as deportações de 1915, foram um golpe tremendo numa população que já suporta
quatro anos de guerra civil.
Qual é o compromisso da Armênia com os
seus irmãos no mundo?
Mikayel Minasyan: A
Armênia está ajudando os armênios da Síria e do Iraque. Uma das poucas
embaixadas presentes em Damasco é a armênia, que resiste graças à coragem dos
diplomatas. A Armênia acolhe diariamente as famílias de armênios que chegam da
Síria ou do Iraque, mas a nossa capacidade, infelizmente, é limitada. A Armênia
tem os seus problemas, como com o vizinho Azerbaijão, que ameaça novamente a
população armênia de Nagorno Karabakh.
Existe um projeto de colaboração entre
a sua embaixada e a Santa Sé para intervir em apoio aos cristãos perseguidos?
Mikayel Minasyan: O
estado armênio, através da sua diplomacia, apoia os contínuos apelos do papa
Francisco e a ação da Secretaria de Estado da Santa Sé e dos outros dicastérios
que estão trabalhando para aliviar os sofrimentos de todas as pessoas afetadas
pelo fanatismo no Iraque e na Síria. Em setembro, realizaremos iniciativas para
sensibilizar sobre os cristãos no Oriente Médio, com o apoio do Pontifício
Conselho para a Cultura.
No último aniversário do genocídio
armênio, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan expressou a sua dor aos
parentes das vítimas.
Mikayel Minasyan: Teria
sido um grande passo adiante, mas é um passo que está rodeado de mecanismos de
negação cada vez mais sofisticados. É doloroso, depois de cem anos, ainda ver
que as vítimas são equiparadas aos verdugos. Erdogan não deu o passo decisivo de reconhecer o crime, embora a
Turquia ainda tenha uma boa oportunidade no centenário do genocídio, em 2015.
Na cidade italiana de Rimini, de 24 a
30 de agosto, haverá uma exposição sobre a cristandade na qual a sua embaixada
participará, correto?
Mikayel Minasyan: Sim. A
ideia da exposição no Meeting de Rimini, que depois será itinerante, nasceu há
um ano com base na preocupação com o futuro dos cristãos e com a presença do
cristianismo nessas regiões de perseguição.
Comentários
Postar um comentário