BRASIL: ECONOMIA VAI MAL ! ! !
Emergência no Tesouro
Editorial
Com
suas contas em muito mau estado, o
governo tenta arrancar dinheiro de onde puder para fechar o balanço fiscal,
no fim do ano, com um resultado pelo menos próximo do prometido no começo de
2014. No esforço para cavar mais alguma receita, o Ministério da Fazenda tem pressionado a Caixa Econômica para
entregar ao Tesouro o dobro dos dividendos combinados, embora isso torne
praticamente inevitável um novo aporte de capital no próximo ano. Pela
mesma razão, o Ministério das
Comunicações tem insistido em realizar neste ano, contra a vontade da maior
parte das companhias do setor, o leilão de telefonia 4G, mais uma promissora
fonte de recursos extraordinários para um orçamento depauperado.
O setor
público deve fechar suas contas de 2014 com R$ 99 bilhões de superávit
primário, dinheiro destinado ao pagamento de pelo menos parte dos juros da
dívida pública. Uma parcela de R$ 80,8 bilhões deverá ser fornecida pelo poder
central (governo federal, Banco Central e Previdência). Mas a contribuição
poderá ser maior, se for insuficiente o resultado obtido pelos governos de
Estados e municípios e pelas estatais. Essa foi, pelo menos, a promessa
formulada há meses pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Conhecido
o balanço fiscal do primeiro semestre, fica muito difícil de acreditar no
cumprimento de qualquer dessas promessas, exceto, é claro, por meio de novos lances de criatividade contábil. A contabilidade criativa foi usada
amplamente nos últimos dois anos. Sem ela, o governo teria apresentado
resultados muito piores. O governo jamais conseguiu enganar a imprensa e os
profissionais especializados e a opinião pública foi informada sobre os
truques, mas as manobras têm sido repetidas.
Neste ano, até junho, o setor público
produziu um superávit primário de apenas R$ 29,38 bilhões, 43,67% menor que de
igual período de 2013. O resultado primário do governo central ficou
em R$ 15,37 bilhões, 54,43% abaixo do obtido de janeiro a julho do ano passado,
mesmo com a redução do déficit da Previdência de R$ 27,03 bilhões para R$ 23,16
bilhões.
A arrecadação do Tesouro ficou muito abaixo
da previsão inicial e o aumento real de receita estimado para o ano já passou
de 3% para 2%. Mas os detalhes tornam o quadro mais feio.
Mais de dois terços do superávit primário [1] do governo
central foram proporcionados por R$ 10,49 bilhões de dividendos, uma soma 36,3%
maior que a do primeiro semestre de 2013. O aumento desse tipo de contribuição
resultou, obviamente, de fortes pressões.
Com o
baixo ritmo da atividade econômica e a manutenção das desonerações fiscais [2], o governo passou a depender mais
dramaticamente que nos anos anteriores de receitas especiais. Essas
receitas incluem dividendos [3], bônus de concessões e pagamentos do Refis [4],
isto é, do reescalonamento de dívidas tributárias. A arrecadação prevista do
novo Refis foi elevada, em pouco tempo, de R$ 12,5 bilhões para R$ 18 bilhões.
A pressão sobre a Caixa Econômica é parte
desse jogo. Por acordo com o governo, a Caixa deveria transferir neste ano só metade dos lucros normalmente
disponíveis para dividendos. O Ministério da Fazenda resolveu romper a
combinação e cobrar todo o resultado, estimado em cerca de R$ 5 bilhões. A
exigência complica seriamente a situação da Caixa, forçada também a participar,
juntamente com o Banco do Brasil, de uma nova operação de socorro ao setor
elétrico. O governo tenta, ao mesmo
tempo, maquiar suas contas com dinheiro da Caixa e socorrer empresas de
eletricidade, seriamente prejudicadas pela mal planejada renovação de
concessões.
Os
bônus de contratos para infraestrutura também entram nesse jogo. Nas últimas
semanas, o grande empenho do governo foi para realizar em setembro o leilão de telefonia 4G. A ideia era
obter uma receita de uns R$ 8 bilhões para reforçar as contas do Tesouro. Além
de atropelar a conveniência das teles, interessadas em adiar o leilão para
2015, o governo enfrentou uma barreira criada pelo Tribunal de Contas da União.
O fechamento do balanço ainda vai dar
muito trabalho.
NOTAS:
[1] Superávit
primário nada mais é do que o dinheiro que o governo
consegue economizar. É aquilo que ele gasta (em despesas que não são
financeiras) a menos do que arrecada, e esse saldo é usado para pagar juros da
dívida pública. Trata-se um dado importante, pois dá uma medida sobre o risco
de o governo dar calote na dívida ou não.
[2] Desoneração
fiscal é o ato do governo de desobrigar empresas ou instituições
de pagar parte ou a totalidade de tributos.
[3] Dividendos são
cotas ou porcentagens resultantes de divisão dos lucros de uma empresa rateada
entre os seus acionistas. No caso, empresas estatais ou com participação
predominante do estado que são estimuladas a antecipar ou aumentar a cota que
costuma dar ao estado.
[4] O Programa de Recuperação Fiscal (Refis) consiste em um regime opcional
de parcelamento de débitos fiscais proposto às pessoas jurídicas [empresas ou
instituições] com dívidas perante a Secretaria da Receita Federal (SRF), a
Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e o Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS).
Fonte: O Estado de S. Paulo – Notas e Informações –
Quinta-feira, 7 de agosto de 2014 – Pg. A3 – Internet: clique aqui.
Delfim estima que País vai crescer
apenas 1%
RICARDO LEOPOLDO & TÁSSIA KASTNER
Ex-ministro
da Fazenda estima ainda que quadro ficará mais grave por causa da inflação que,
segundo ele,
“deve ter subido 30% em quatro anos”
“deve ter subido 30% em quatro anos”
Antônio Delfim Netto - economista e Ex-Ministro da Fazenda |
O
ex-ministro da Fazenda Delfim Netto
afirmou ontem que o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano deve registrar uma
fraca expansão, ao redor de 1%. "O
País está crescendo muito pouco, e isso é um grande problema."
Na
avaliação de Delfim, esse quadro fica mais grave porque o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) "deve ter subido 30% em quatro
anos" e a inflação é "muito alta". Segundo ele, a inflação
está perto do teto do sistema de metas de inflação, mas isso não significa que
ela sairá do controle. "O governo controla a gasolina para combater a
inflação, mas destrói o setor do etanol", disse Delfim, durante evento do
Fórum Lideranças da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
De acordo
com Delfim Netto, também é um destaque negativo da economia o fato de que a indústria de transformação [1] apresenta um nível de atividade semelhante ao
registrado em 2009, o que representa estagnação. Um efeito negativo dessa
realidade é o registro de um déficit de
contas correntes de US$ 270 bilhões [2].
"Não é bom financiar a economia com capital externo dessa forma",
disse. "O credor é um canalha que vai querer seus recursos de volta."
Política cambial
Delfim
afirmou que a política de utilizar o
câmbio para combater a inflação é um "equívoco grave", pois só é
viável controlar sua variação, mas não o nível. "A intervenção do
Banco Central está mantendo o câmbio abaixo do seu equilíbrio", comentou. "Mas a inflação volta, pois (o BC)
está só escondendo a inflação. Temos entre 1,5% e 2% de inflação escondida. E
para combatê-la, precisa em primeiro lugar fazer com que as pessoas acreditem
que ela vai cair."
Embora
tenha destacado o quadro de crescimento baixo, inflação alta e déficit de
transações correntes elevado, o ex-ministro ponderou que esses fatores não vão
levar o País a uma crise econômica como a do passado. Mas ponderou que houve "certo descuido" do Poder
Executivo [Governo Federal] na
gestão das contas.
"A
prioridade do governo tem sido a ampliação do custeio e não dos investimentos",
disse. Segundo ele, houve, talvez, excesso no emprego de recursos do Tesouro
para repasses ao BNDES, o que acabou ajudando a elevar a dívida bruta.
"Ocorreu uma confusão de achar que dívida pública é recurso."
Delfim criticou "o abandono da
política comercial" pelo Brasil. "Nos amarramos à
estrutura do Mercosul, que não funciona. Temos de ser uma zona de
livre-comércio", destacou. "Transformamos
o Atlântico Sul num cemitério. Abandonamos o comércio exterior como um vetor do
crescimento."
Delfim
Netto destacou que o Brasil só tem acordos bilaterais com três parceiros
internacionais: Egito, Israel e Autoridade Palestina.
Sensibilidade
O
ex-ministro afirmou que o governo "está muito sensível, reage a qualquer
crítica com certa violência", ao lembrar o documento do Fundo Monetário
Internacional (FMI) divulgado na semana passada, que colocou o Brasil na lista
de países economicamente vulneráveis. "Estava
certo o FMI quando disse que o Brasil é relativamente vulnerável. Não significa
que vamos ter crise e que ela está nos esperando no curto prazo."
O
ex-ministro ressaltou ainda que a dívida de curto prazo sobre as reservas no
Brasil é de 8,7%, bem menor que Índia (31,1%) e Turquia (84,6%), por exemplo,
também listados como vulneráveis.
NOTAS:
[1] Indústria
de transformação é o
tipo de indústria que transforma matéria-prima em um produto final ou
intermediário para outra indústria de transformação. Como exemplo de indústria
de transformação temos as refinarias de petróleo que usam o petróleo como
matéria-prima tanto para produtos finais,
como por exemplo, óleo diesel e gasolina, quanto para produtos intermediários como, por exemplo, nafta que é utilizada
pela indústria petroquímica em diversos produtos como os plásticos.
[2] O "Saldo em Conta Corrente",
que pode ser um déficit ou um superávit, de um país é o resultado de suas
"Transações Correntes com o Resto do Mundo". Ou seja, expressa o
resultado, em dólares, das transações do país com o exterior: o que o país
vendeu ao exterior e comprou deste. Se ele mais vendeu que comprou em bens e
serviços, então ele terá um superávit, do contrário, um déficit.
Fonte: O Estado de S. Paulo – Economia –
Quinta-feira, 7 de agosto de 2014 – Pg. B7 – Internet: clique aqui.
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