ONDE ESTÃO AS SOLUÇÕES PARA OS NOSSOS PROBLEMAS?
Justiça, prisões, impostos,
onde ficam as soluções?
Washington Novaes
Jornalista
É raro
o dia em que não ocupem largo espaço na comunicação brasileira temas como
aumento da violência, insuficiência ou degeneração do sistema prisional, crise
no Judiciário e/ou incapacidade de atender à demanda. É a realidade brasileira,
que precisa ser mudada com urgência, mas mesmo na campanha eleitoral não
encontra propostas adequadas, consensuais ou que provoquem apoio manifesto.
Só para
citar exemplos:
- na segunda quinzena de julho lembrou-se que o número de vítimas de homicídios no País em quatro anos (206 mil) superou o de mortos em conflitos armados no mundo de 2004 a 2007 (Mapa da Violência 2013 - Uol, 19/7).
- E ainda, em média, 164 pessoas são assassinadas por dia no Brasil (60 mil em 2013).
- Voltam para a prisão 70% dos que lá saem (Estado, 29/6).
- E 56,7% das decisões judiciais na capital goiana - exemplo que não é isolado - não são cumpridas (O Popular, 28/7).
- Mas em todos os lugares os ocupantes dos Poderes se queixam da falta de recursos, embora tenhamos uma carga tributária - R$ 1,7 trilhão em 2013, segundo o Impostômetro - que significa o dobro da que existe na América Latina, segundo a União Europeia.
- E embora os números sobre a sonegação de impostos sejam altíssimos: basta ver que os tributos federais não pagos significaram em seis meses nada menos que R$ 200 bilhões, de acordo com o Sindicato Nacional de Procuradores da Fazenda (27/5).
- Só a União [Governo Federal] tinha a receber no final de 2012 nada menos que R$ 1,1 trilhão, entre débitos tributários, previdenciários e outros.
Para a
chamada "crise prisional", por exemplo, o governo goiano está
cogitando de terceirizar o complexo de Aparecida de Goiânia, onde cada preso
custa hoje, no mínimo, R$ 1.500 por mês. Afirmam autoridades que o caminho está
dando certo em outros países. Pretende-se pagar perto de R$ 2,4 mil mensais por
detento nos próximos 27 anos (O Popular, 16/7). Resolverá? E se as empresas,
para economizar recursos, não forem eficientes? A solução não estaria em
implantar em presídios um sistema eficaz de trabalho, reeducação e formação
profissional para os detentos, que lhes permitisse pagar seu custo e a formação
de um capital para o momento da saída ou a redução da pena? Não se escaparia ao
drama de hoje, em que a maioria dos ex-detentos reincide na ilegalidade e volta
à prisão?
O
caminho de cada cidadão pagar pelos ônus que gera talvez pudesse ser estendido
a muitas áreas - juntamente com a possibilidade de pagar menos tributos,
defendida nos jornais (4/4) pelo presidente do Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil, Marcus Vinicius F. Coelho. Mas vai-se continuar com a
sonegação tendo valores mais altos no País que o Bolsa Família, por exemplo
(27/5)? E com o Refis permitindo parcelar dívidas em até 1.066 anos (Elio
Gaspari, OG, 16/4)? Enquanto isso, quem compra uma agenda escolar, uma borracha
ou um apontador de lápis para o filho paga 43,19% de impostos; um caderno,
34,9%; um lápis, 34,99%; uma régua, 44,65% (FP, 25/1).
Pelo
ângulo oposto, segue a "guerra fiscal" entre Estados que isentam de
impostos (alguns, mais que sua arrecadação anual) novas empresas, que deixam de
recolher em média 70% do ICMS que é pago pelo consumidor. O subsídio até
estimula indústrias. Mas estudos demonstram que o incentivo a um único
empreendimento pode significar, em um ano, até o equivalente a um empréstimo a
mil microempresas em bancos oficiais, que gerariam mais trabalho e renda. Os
incentivos fiscais certamente podem agravar a concentração da renda. Já há uma
proposta, da Adial, de limitar os incentivos de acordo com a economia dos
Estados. Mas a discussão não avança no Congresso Nacional. E ainda há pouco
(FP, 17/7) o próprio Senado aprovou prorrogar por 50 anos incentivos fiscais na
Zona Franca de Manaus, que podem chegar a 75% do Imposto de Renda, 100% do IPI
e até 88% do imposto sobre importações. Sem dúvida, estimula empresas - mas
agrava a concentração da renda em Estados onde a pobreza chega a ser
calamitosa.
É uma
questão que já repercute até mesmo na área externa. A União Europeia está
iniciando na Organização Mundial do Comércio (OMC) uma disputa com o Brasil em
torno da política industrial e dos benefícios fiscais, tecnológicos e outros -
inclusive da Zona Franca de Manaus - a novas empresas (Agência Estado, 13/2). O
Japão já anunciou que também vai questionar o Brasil na OMC por causa dos
incentivos fiscais (9/4).
É
preciso insistir: não se pode continuar batendo numa única tecla - dos índices
de crescimento econômico, que ignoram fatores sociais fundamentais -, como a
disponibilidade de serviços públicos (saneamento, limpeza urbana), estruturas
de saúde, de educação, de formação profissional, assim como o comportamento na
área de recursos naturais. Este último, segundo estudo da Universidade das
Nações Unidas, pode reduzir fortemente os índices de crescimento se levadas em
conta as perdas. E esse é o caso do Brasil.
A
recente divulgação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2013 pelo
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) mostra o Brasil
(Estado,25/7) em 79.º lugar entre 187 países. Com a avaliação também em saúde,
educação e rendimento, o Brasil fica atrás de Cuba, Chile, Argentina, Uruguai,
Venezuela, Trinidad e Tobago, Panamá, Bahamas, Costa Rica e México, para ficar
apenas no nosso continente. Nosso índice de desenvolvimento humano é inferior
em quase 25% ao da primeira colocada, a Noruega. Ministros brasileiros disseram
que se o Pnud tivesse considerado informações mais recentes seria melhor o IDH.
O que
parece inegável é que precisamos reformular os nossos sistemas de tributação,
de arrecadação de impostos e de sua destinação. Se não for assim, não ocorrerão
as mudanças necessárias. Mas a campanha eleitoral não tem apontado, até aqui,
caminhos mais promissores.
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