Perda de água chega a quase 40% nas maiores cidades do Brasil

Luana Lourenço

A cada 10 litros de água tratada nas 100 maiores cidades do país, 
3,9 litros (39,4%) se perdem em vazamentos, ligações clandestinas e outras irregularidades. 
Caso de tubulação rompida que abriu cratera em Juazeiro do Norte - Julho de 2014
(Foto: TV Verdes Mares Cariri/Reprodução)

O índice de perda chega a 70,4% em Porto Velho e 73,91% em Macapá. Os números são do Ranking do Saneamento, divulgado em 27 de agosto pelo Instituto Trata Brasil, com base em dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento de 2012.

O estudo considerou a perda no faturamento, ou seja, a diferença entre a água produzida e a efetivamente cobrada dos clientes. De acordo com o instituto, o indicador de referência para a perda de água por faturamento é 15%. Dos 100 municípios da lista, quatro possuem nível de perda menor ou igual ao patamar. Em 11 deles, as perdas superam 60% da água produzida.

De acordo com o presidente executivo da entidade, Édison Carlos, as perdas se refletem diretamente na capacidade de investimento das empresas e podem comprometer a expansão e qualidade dos serviços. “A perda é um reflexo da gestão da empresa. Qualquer autoridade que pensa em saneamento como um negócio, teria que atacar as perdas. Quando a empresa tem perdas muito altas, não consegue nem custear o próprio serviço”, avaliou. “Qualquer litro de água recuperado é um litro a mais que ele vai receber”, acrescentou.

Apesar dos registros, os municípios fazem pouco para reduzir as perdas de água por faturamento, de acordo com o estudo. Entre 2011 e 2012, mais da metade das cidades pesquisadas (51) não reduziu em nada as perdas ou até piorou os resultados no período. Segundo o Trata Brasil, os números sugerem que “diminuir perdas de água não vem sendo uma prioridade entre os municípios brasileiros”.


Apenas 10% dos municípios analisados na pesquisa registraram melhoria de mais de 10% na redução de perdas de água. Em média, de acordo com o levantamento, a melhora nas perdas dos municípios foi de apenas 0,05% na comparação entre 2011 e 2012.

As soluções, segundo Carlos, variam de acordo com o tamanho e as características de cada município. Em cidades com índices de perda muito elevados, por exemplo, a instalação de equipamentos como controladores de vazão e pressão tem reflexos rápidos na perda por vazamentos.

Em relação ao saneamento, o ranking mostra que, nos 100 maiores municípios do país, 92,2% da população têm acesso à água tratada. Em 22 das cidades, o atendimento chega a 100%, atingindo a universalização do serviço.

No entanto, os dados de coleta e tratamento de esgoto são bem inferiores. A média de população atendida por coleta de esgoto nas cidades avaliadas é 62,46%. Os números do tratamento são ainda menores: em média, 41,32% do esgoto do grupo de maiores cidades do país é tratado. Entre as 10 cidades com piores índices no quesito, três são capitais: Belém, Cuiabá e Porto Velho, sendo que as duas últimas têm tratamento de esgoto nulo.

Considerando acesso à água, coleta e tratamento de esgoto e o índice de perdas, o estudo fez um ranking com os 20 municípios com melhores e os 20 com piores resultados em saneamento [veja lista abaixo]. Além disso, o instituto traçou uma perspectiva de universalização dos serviços nos próximos 20 anos, como quer o governo federal, com base na evolução dos indicadores entre 2008 e 2012.

Entre as 20 cidades com melhores resultados, todas atingiram ou atingirão a meta nos próximos anos. No entanto, nos 20 municípios com piores notas, entre eles seis capitais, apenas um deve atingir a universalização se o ritmo de melhoria se mantiver. “É um dado preocupante, na medida em que a gente tem uma meta clara para duas décadas”, avalou Édison Carlos.

De acordo com o presidente do Trata Brasil, a situação só será revertida se as políticas de saneamento entrarem na agenda de prioridades dos gestores públicos e a população pressionar por avanços no setor. “Tem que ser prioridade, principalmente dos prefeitos, mesmo as cidades em que os serviços são operados por empresas estaduais. Isso não tira a responsabilidade dos prefeitos, que têm que brigar por metas mais rápidas e mais amplas. É preciso foco”, avaliou. “O eleitor, o cidadão, tem que cobrar. É investimento, não é milagre”, comparou.

As 20 melhores cidades do ranking do saneamento

1- Franca (SP)
2- Maringá (PR)
3- Limeira (SP)
4- Santos (SP)
5- Jundiaí (SP)
6- Uberlândia (MG)
7- São José dos Campos (SP)
8- Sorocaba (SP)
9- Curitiba (PR)
10- Ribeirão Preto (SP)
11- Ponta Grossa (PR)
12- Taubaté (SP)
13- Londrina (PR)
14- Niterói (RJ)
15- São José do Rio Preto (SP)
16- Volta Redonda (RJ)
17- Praia Grande (SP)
18- Belo Horizonte (MG)
19- Uberaba (MG)
20- Piracicaba (SP)

As 20 piores cidades do ranking do saneamento

81- Natal (RN)
82- Manaus (AM)
83- Várzea Grande (MT)
84- Cariacica (ES)
85- Aparecida de Goiânia (GO)
86- Belford Roxo (RJ)
87- Canoas (RS)
88- Juazeiro do Norte (CE)
89- Teresina (PI)
90- São Gonçalo (RJ)
91- Santarém (PA)
92- Gravataí (RS)
93- Duque de Caxias (RJ)
94- São João de Meriti (RJ)
95- Nova Iguaçu (RJ)
96- Macapá (AP)
97- Belém (PA)
98- Jaboatão dos Guararapes (PE)
99- Ananindeua (PA)
100- Porto Velho (RO)

Fonte: Agência Brasil – 27/08/2014 – 16h29 – Internet: clique aqui.

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