«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

CENÁRIO POLÍTICO BRASILEIRO: O QUE MUDOU E O QUE ESTÁ MUDANDO?

Incertezas da hora

JOSÉ DE SOUZA MARTINS*

A crua realidade das razões de Estado e de mercado
corroeram a utopia que nos aglutinava
Mudar. 2014 pode ser o ano de desiludidos e ‘frustrados ativos

O embaralhamento do quadro eleitoral de 2014, com a alteração do elenco dos que disputam a Presidência da República, vai muito além do que pode sugerir o cálculo de probabilidades políticas com base na fugaz opinião eleitoral das consultas. É compreensível, com a mudança do cenário, que se recalcule a chance de Dilma Rousseff ante o fato de ser também Marina Silva geneticamente petista e ter tido quase 20 milhões de votos na eleição em que disputou o governo já por outro partido. Marina é residualmente Lula. Ou que se recalcule o destino de Aécio Neves, que, com a mudança, se desloca para uma posição que lhe muda o perfil e não é mais a confortável posição de centro. Independente da opinião dos eleitores, na hora de votar, tudo é relativo, mesmo em política.

A grande questão é saber como estão se movendo os constituintes desses candidatos e dos partidos que por meio deles falam e como se moverá no poder aquele que dentre eles for o escolhido. O passado, e certamente o passado próximo, nunca deixou de influir em nosso processo eleitoral. Não para eventualmente continuar, mas também para romper e tentar mudar. Marina Silva personifica, a seu modo, o que resta da eleição de Lula em 2002. Sua extração social é dessa grande massa de órfãos do poder que se tornaram cidadãos nas entrelinhas de um processo histórico tumultuado. Não será estranho se o eleitor, por meio dela, cobrar os débitos de Lula.

Esse povo residual ganhou visibilidade no período do regime militar de 1964, enquanto personagem dos movimentos sociais e, em particular, dos movimentos populares. A redemocratização de 1986 permitiu-lhe emergir como novo e decisivo sujeito do processo político brasileiro. Foi ele que pesou em 2002 e ainda em 2010. O próprio fato de que duas mulheres disputem a eleição, com real possibilidade de uma delas vencer, já é eloquente expressão das mudanças pelas quais o País passou ao longo da história recente. A humanidade política desta eleição de 2014 é completamente diferente da humanidade política de 1889 ou mesmo de 2002. Os novos sujeitos do processo político metamorfosearam-se. Os que não foram capturados pelas tentações do poder e pelo conformismo cúmplice perderam a cara e as ilusões e ganharam a máscara na identidade difusa de um querer mais difuso ainda. As identidades corporativas estão sendo postas em xeque.

O maior alargamento do conceito de cidadão, nos anos recentes, não significou, necessariamente, ganhos republicanos. Provavelmente porque faltou agregar-lhe a educação política que de fato fizesse desse cidadão meramente conceitual o concreto cidadão que os antigos chamavam de cidadão prestante, isto é, devotado ao bem comum por meio da política.

A política brasileira não se alicerça em partidos ideológicos e doutrinários, mas em aglomerações de interesse político de relativamente curta duração. O que acentua o protagonismo de grupos sociais de identidades construídas sobre traços superficiais, de conjuntos humanos não decisivos, mas influentes, que pouco têm a ver com a política propriamente dita:
  • os evangélicos,
  • os sindicalistas,
  • os sem-terra,
  • os sem-teto,
  • os ambientalistas,
  • os excluídos e assim por diante.
São identidades dos incapturados pelas arcaicas anomalias do processo político brasileiro, os inconformados. Esses grupos têm tido crescente influência na política.

Nesta eleição de 2014, deve-se acrescentar os jovens e os identificados com as manifestações de 2013, um grupo singular que capturou o imaginário dos brasileiros e que se expressa no protesto difuso. Mas que parece ter um núcleo de consistência ao modificar, nestes últimos dias, os resultados das pesquisas eleitorais em favor da candidata recém-chegada. Já não são os pobres e excluídos de 2002 que vão protagonizar a eventual mudança, mas os jovens radicais da classe média ascendente. Em 1998, a esperança cultivada durante a ditadura finalmente triunfou. Em 2002 o ressentimento acumulado com a derrota de um projeto popular alternativo teve seu triunfo e no poder próprio sua derrota. É possível que 2014 seja o ano da frustração, dos desiludidos com as promessas não cumpridas na eleição de 2002 e com os óbvios recuos da eleição de 2010. Porém, é ele, o frustrado ativo, que vota porque recusa. Um radical do gesto, mas não da política ou da política apenas como teatro.

Nesse plano, os perigos são mais do que óbvios:
  • Em primeiro lugar porque o eleitorado vai às urnas consciente de que programas de governo já não são programas para governar, mas programas para ter poder.
  • Em segundo lugar porque nem os candidatos nem seus partidos têm um projeto de nação.
O que foi forte na formulação das esperanças que levaram ao fim da ditadura deixou de comparecer à política brasileira. A crua realidade das razões de Estado e a do imperativo das razões de mercado tiveram um efeito corrosivo sobre a utopia que finalmente nos aglutinara, a da esperança num mundo novo de justiça, fartura e alegria.

* José de Souza Martins é sociólogo, professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP e autor, entre outros, de Uma sociologia da vida cotidiana (Contexto).

Fonte: O Estado de S. Paulo – Suplemento ALIÁS – Domingo, 24 de agosto de 2014 – Pg. E11 – Internet: clique aqui.

O “swell” Marina

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

A onda de agora tem origem na mesma tempestade
que causou as turbulências de 2013
Marina Silva - candidata à Presidência da República pelo PSB

Há data e hora marcados para todo mundo ficar sabendo o que a turma diferenciada já vislumbrou desde suas coberturas: a candidatura de Marina Silva (PSB) está surfando uma onda de opinião pública de proporções havaianas. Será nesta terça-feira, às 18h, quanto o Estadao.com divulgar a pesquisa Ibope que está em campo. O que ninguém sabe é quão longe a onda vai chegar.

Por força da legislação eleitoral, o eleitor indiferenciado só tem acesso às pesquisas registradas pelos institutos. A divulgação dos números de pesquisas não registradas e das sondagens telefônicas diárias é punível com multa alta pela Justiça eleitoral - para jornal, jornalista e instituto.

A lei provocou um oligopólio informativo dos mais excludentes. Uma quantidade anormal de pesquisas foi encomendada, mas não divulgada desde a morte de Eduardo Campos e a assunção de Marina. Só candidatos, partidos e operadores do mercado financeiro já conhecem os resultados - e estão assombrados.

As mudanças são diárias e na mesma direção. Indicam uma tendência que vai além do impacto emocional provocado pela morte de Campos e de seus auxiliares. A tragédia foi o despertador do público para a eleição, mas não só. Também catalisou um sentimento difuso de insatisfação com a política, com a polarização PT x PSDB. Ambos correm risco de afogamento, mas os tucanos foram pegos primeiro, em local mais fundo.

O "swell" [trad.: ondas largas sem arrebentar] Marina tem origem na mesma tempestade que causou as turbulências de junho de 2013. Uma sensação coletiva de que é preciso mudar, mas não se sabe bem como nem o que. Ao se reconhecer no outro, a inquietude individual se espalha e se multiplica em muitas direções, com efeito potencialmente devastador quando chega à praia. A praia pode ser a urna.

Ou não. Em 2002, a onda Ciro Gomes quebrou antes do tempo e derrubou o presidenciável de sua prancha eleitoral. Dez anos depois, o fenômeno Celso Russomanno parecia irrefreável rumo à cadeira de prefeito paulistano, mas se desfez tão rapidamente quanto surgiu. Ambos se autoimolaram. O cearense destratou um ouvinte numa entrevista; o outro sinalizou que quem mora longe deveria pagar mais caro pelo transporte público.

Pelo histórico, Marina é também o pior inimigo de Marina. Saiu do governo Lula ao não conseguir fazer o que queria. Saiu do PT quando não viu o futuro que almejava para si. Saiu do PV ao não alcançar o controle que pretendia. Saiu do projeto da Rede sem criar um partido onde 32 outros conseguiram. Mal entrou no PSB, já provocou saídas. Não é exatamente uma agregadora.

Mas é em momentos de insatisfação coletiva que personalidades disruptivas [que causam rupturas, interrupções] encontram a sua chance. A onda é de Marina, e os adversários não a enfrentarão de peito aberto. Subirão onde der e, olimpicamente, torcerão para que faça espuma logo.

Dilma Rousseff (PT) tem mais chance de escapar à correnteza do que Aécio Neves (PSDB), mas não está a salvo. Ela se equilibra no saldo de popularidade que, segundo o Ibope, mantém em ao menos 15 estados, mas com grande variância: do pico de 51 pontos no Piauí a rasos 5 pontos em Santa Catarina.

O lugar mais difícil para a presidente se manter no seco é o Sudeste. A popularidade de Dilma está soçobrando nos maiores colégios eleitorais: tem saldo negativo de 19 pontos em São Paulo, de 11 no Rio de Janeiro e de 1 em Minas Gerais.

Pergunte aos acreanos

Lula diz que Marina foi candidata a presidente em 2010 porque não se reelegeria senadora no Acre. Presidenciável, ela acabou em 3º lugar no próprio Estado. José Serra teve lá o seu melhor desempenho no país. No Acre, seria eleito presidente no primeiro turno. Ninguém é governado há mais tempo por petistas do que os acreanos: 16 anos. Lá, Marina e PT têm mais em comum do que em qualquer outro lugar.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política – Segunda-feira, 25 de agosto de 2014 – Pg. A6 – Internet: clique aqui.

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