«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

«EU NÃO ODIAREI» - Um belíssimo testemunho!

Giulia Cerqueti

Ela é israelense e perdeu um filho militar.
Ele, palestino, chora uma filha morta pelo conflito.
Fazem parte de “Parents Circle” [Círculo dos Pais], fórum de famílias que lutam juntas pela reconciliação. 

«Nenhuma guerra pode ser chamada de justa. Em nenhuma guerra pode haver um vencedor. Nenhuma violência pode levar à vitória». Do outro lado do telefone, a voz de Robi Damelin treme, interrompe espaçadamente em um longo respiro. «Quantas pessoas deverão, ainda, morrer?», repete.

Robi tem 70 anos, nasceu na África do Sul, desde 1967 vive em Israel, em Tel Aviv. Em 2002, seu filho, David, foi morto nos Territórios palestinos. Tinha 28 anos. «Era estudante, frequentava uma pós-graduação», conta, «fazia parte do movimento pacifista e não queria servir o exército nos Territórios palestinos, mas como reservista não podia recusar. Foi morto por um palestino».

Perder um filho é uma dor atroz para uma mãe. No entanto, o coração grande de Robi recusou o ódio, voltou as costas à vingança e ao rancor. Escolheu trabalhar o sofrimento através do caminho da reconciliação. «Posso tentar compreender aquele palestino que matou o meu filho: por sua vez, ele havia perdido alguns familiares, mortos pelo exército israelense».

Há anos, Robi faz parte da organização Parents Circle Families Forum, que desde 1995 reúne famílias israelenses e palestinas – hoje são mais de 600 – que perderam um familiar no conflito entre os dois povos e que decidiram encontrar-se e colaborar para promover o diálogo e a compreensão recíproca, com consciência que o ódio gera uma espiral, um círculo vicioso do qual é impossível sair. «Há uma grande diferença entre reconciliação e perdão. O que significa perdoar? Esquecer o passado, as mortes e o mal sofrido? Eu, certamente, não busco a vingança. Mas não uso a palavra perdão. Reconheço que a dor das mães palestinas é a mesma dor minha e das mães israelenses».

Quando a encontramos, Damelin está na Itália, em Bolonha, para um compromisso como testemunha de Parents Circle. «É mais difícil estar aqui. Continuo, incessantemente, a assistir as notícias dos telejornais. A minha família está em Tel Aviv, estou preocupada e desejo reencontrá-la o mais rápido».
Bushra Awad (palestina) e Robi Damelin (israelita) que fazem parte do projeto

CRIANÇAS E MULHERES, AS PRIMEIRAS VÍTIMAS

Robi tem um filho de 40 anos e três netos. «As pessoas pensam que as crianças esquecerão, mas o trauma, ao contrário, permanecerá para sempre. Que tipo de adultos poderão se tornar estes meninos, como esperamos que poderão crescer?».

Um dos principais programas de Parents Circle é direcionado às escolas. «Mas a minha opinião é que não podemos esperar que as crianças cresçam e mudem a situação. Devemos agir sobre os adultos, agora».

Ela trabalha, muitíssimo, com as mulheres palestinas porque, explica, as mulheres são ignoradas nas grandes decisões, são as primeiras vítimas desta guerra e de todas as guerras, juntamente com as crianças. Unidas podemos fazer a diferença.  «Compreendo que, se você é uma mulher palestina, é terrível decidir se abandona a casa para salvar o seu filho ou fica e, provavelmente, ambos acabem mortos. De outro lado, se você é uma mulher que vive em Israel deve decidir para onde fugir para salvar-se. As mulheres são forçadas, brutalmente, nesse círculo de violência, mas não são jamais envolvidas nas mesas de decisão». E acrescenta: «Falar de paz, agora, não tem sentido. Aquilo do qual necessitamos é a tratativa política. Nenhuma trégua poderá durar sem um acordo. A única via possível é o pacto».

Também Bassam Aramin, 45 anos, palestino de Jerusalém Leste, perdeu uma filha devido o ódio entre os dois povos. Foi em janeiro de 2007, Abir, sua filha, tinha apenas dez anos, quando foi atingida em cheio por um disparo de um soldado israelita, enquanto ela se encontrava com sua irmã e algumas companheiras na frente da escola, em Jerusalém Leste.

Porque houve aquele disparo, ainda hoje não está claro. «Era um dia normal, não havia acontecido nada de particular», conta Bassam. «Mas nós, palestinos, sabemos muito bem: para os soldados israelenses não há necessidade de um motivo para abrir fogo». Para Bassam seria muito mais simples deixar-se vencer pela raiva e pelo ódio. Entretanto, ele escolheu, com extraordinária coragem, o caminho talvez mais trabalhoso, porque é o menos imediato e impulsivo: escolheu abandonar qualquer desejo de vingança. E lutar pela reconciliação.
Tradução livre:
"Isso não vai parar até nos falarmos"
(Slogan de Parents Circle - Families Forum)

UMA TESE SOBRE O HOLOCAUSTO

Em 2005, Bassam tinha já se unido ao movimento pacifista, contribuindo para fundar a organização Combatentes pela Paz. Após o assassinato de Abir, ele também aderiu à Parents Circle: «Quando lhe matam um filho, seria natural cair no sentimento de ódio. Mas somos seres humanos. E eu compreendi que com a vingança não se vai a nenhum lugar. Não teria me trazido de volta minha filha».

Bassam, hoje, trabalha no Ministério do Esporte da Autoridade Palestina em Ramallah, tem cinco filhos e já é vovô. Alguns anos atrás, ele cursou um mestrado em Londres sobre Estudos sobre a Paz e Resolução de Conflitos: «Desenvolvi uma tese sobre o Holocausto. Por que os israelenses experimentam um medo tão profundo e enraizado em nível de segurança? Com essa tese eu procurei compreendê-lo. Desejaria tornar isso compreensível, também, aos demais palestinos».

Traduzido do italiano por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: Famiglia Cristiana – Dossier – 10/08/2014 – Internet: clique aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.