Escolas enfrentam "crise de disciplina"

PAULO SALDAÑA

Na busca de um modelo, instituições delegam a alunos decisões sobre regras, enquanto outras exigem até mesmo cabelo preso na sala
Escola "Ofélia Fonseca", em Higienópolis - São Paulo (SP)

O tempo da palmatória na escola passou, não há dúvida. Também é consenso que a relação baseada no vigiar e punir não tem sido a melhor filosofia para o mundo escolar. Entretanto, as escolas ainda não encontraram um ponto em comum sobre um modelo de disciplina que seja o ideal - e agrade a professores, pais e alunos. Enquanto algumas instituições já aboliram o uniforme, convivem com celular e delegam aos alunos a definição de várias regras, outras nem sequer admitem mãos dadas no pátio e exigem até mesmo cabelo preso na sala.

Os professores brasileiros gastam, em média, 20% do tempo de aula mantendo a disciplina na classe, segundo levantamento com vários países feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Mas a busca pela disciplina não serve só para garantir que o professor ensine. Inclui também um conjunto de valores que vai influenciar na formação dos alunos.
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A estudante Isabel Marinho, de 17 anos, passou por três escolas e não se acostumou com rigidez. "Algumas tinham câmera até no banheiro", conta ela, que há três anos foi para o Ofélia Fonseca, de Higienópolis, que trabalha com outra política.

O colégio passou nos últimos anos por várias mudanças nesse quesito. Acabou com uniforme para o ensino médio e os alunos podem até sair na hora do almoço. O sinal entre as aulas também foi abolido. "Existe um exercício de interiorizar as regras. A autoridade agora precisa ser construída de um jeito diferente", explica a coordenadora pedagógica da escola, Solange Sousa, ao falar das regras. Segundo ela, a distensão de algumas normas joga mais responsabilidade para os alunos. "Não tem sinal, mas o aluno não pode perder aula nem atrasar."

Na escola Morumbi, com unidades nos Jardins e Alphaville, a coisa é mais rígida. Quem não estiver com o uniforme completo não pode entrar. Boné é vetado, brincos para meninos não são bem-vindos e, na sala de aula, as meninas precisam prender o cabelo. Segundo Solange de Andrade, uma das orientadoras, a escola tem uma filosofia mais tradicional, o que causa reclamações entre os alunos. Mas o resultado vale a pena. "Não é porque você é bonzinho, que você deixa usar o celular, que é amigo do aluno. Você é amigo quando é honesto com ele", diz. "Damos condições para constituir alunos mais conscientes."

Para a médica Adriana Patrícia de Souza, de 36 anos, mãe de Thayná, de 16, as regras são importantes. "Senão, vira bagunça. Eles precisam entender que tem hora para tudo." Thayná estuda do Agostiniano São José, no Belém. Ela gosta, mas vê exagero nas normas. "Eles implicam com a cor do blusão e o aluno tem de sentar onde mandam. São desnecessárias", reclama. "Falam que nos preparam para a faculdade e nos tratam como crianças." Procurada, a direção não se pronunciou.

Diferentes

Segundo a psicopedagoga Maria Irene Maluf, disciplinar é mais do que obedecer ordens. "Meu filho não vai vandalizar o banheiro quando eu não estou perto ou vigiando. Isso é disciplina", completa.

Na opinião de Maria Irene, os alunos de hoje são diferentes. Mas, para a diretora do colégio Equipe, Luciana Fevorini, os pais também mudaram. "Hoje eles exigem mais controle dos filhos. A gente comunica os atrasos semanalmente ou no próprio dia. Antes, era só no fim do mês", diz. Localizado em Higienópolis, o Equipe permite que os alunos levem o celular e não tem uniforme. Na sexta, quando houve reunião do conselho de representantes das turmas, o aluno Paulo Azeredo, de 13 anos, contou que queria mudar uma regra da cantina. "Não pode vender fritura, isso podia mudar", disse. A diretora já adiantou que essa regra não muda.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Metrópole – Domingo, 17 de agosto de 2014 – Pg. A31 – Internet: clique aqui.

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