A paz não é simplesmente ausência de guerra, mas obra da justiça
Redação
Papa
Francisco na Coreia do Sul
Publicamos
a seguir a tradução oficial do discurso que o Papa Francisco pronunciou hoje,
quinta-feira, durante a cerimônia de boas-vindas na "Blue House", o
Palácio presidencial de Seul. O discurso original foi pronunciado em língua
inglesa.
* * * * * * *
Senhora
Presidente,
Distintos
Membros do Governo e Autoridades Civis,
Ilustres
Membros do Corpo Diplomático,
Queridos
amigos!
Constitui
para mim uma grande alegria vir à Coreia, a «terra do calmo amanhecer», e
experimentar não só a beleza natural do país, mas também e sobretudo a beleza
do seu povo e da sua riqueza histórica e cultural. No decurso dos anos, esta
herança nacional foi posta à prova pela violência, a perseguição e a guerra;
mas, não obstante essas provas, sempre prevaleceu o «calmo amanhecer», quando o
calor do dia ainda não se impôs e a escuridão da noite já se foi, ou seja, uma
inalterável esperança de justiça, paz e unidade. Que grande dom é a esperança!
Não podemos desanimar na busca destas metas, que beneficiam não só o povo
coreano mas também toda a região e o mundo inteiro.
Desejo
agradecer-lhe, Senhora Presidente Park Geun-hye, a sua cordial recepção. Saúdo
Vossa Excelência e os ilustres membros do Governo. Quero expressar o meu
agradecimento também aos membros do Corpo Diplomático e a todos os presentes
que contribuíram, com o melhor dos seus esforços, para a preparação da minha
visita. Estou muito grato pela vossa hospitalidade, que imediatamente me fez
sentir no vosso meio como em casa.
A minha
visita à Coreia tem lugar por ocasião da VI Jornada Asiática da Juventude, que
reúne jovens católicos de todo este vasto Continente numa jubilosa celebração
da fé comum. Além disso, no decurso da minha visita, proclamarei Beatos alguns
coreanos martirizados pela fé cristã: Paul Yun Ji-chung e os seus 123
companheiros. Estes dois acontecimentos que celebramos completam-se um ao
outro. A cultura coreana possui uma boa compreensão da dignidade e sabedoria
próprias dos antigos e honra o seu papel na sociedade. Nós, católicos, honramos
os nossos antigos que sofreram o martírio pela fé, porque se prontificaram a
dar a vida pela verdade em que acreditaram e de acordo com a qual procuraram
viver. Ensinam-nos a viver plenamente para Deus e para o bem do próximo.
Um povo
grande e sábio não se limita a amar as suas tradições ancestrais, mas valoriza
também os seus jovens, procurando transmitir-lhes a herança do passado que
aplica aos desafios do presente. Sempre que os jovens se reúnem, como sucede
nesta ocasião, oferecem-nos a todos uma oportunidade preciosa para ouvirmos as
suas esperanças e preocupações. E somos chamados também a refletir se estamos
a transmitir de modo adequado os nossos valores às futuras gerações e qual tipo
de sociedade nos preparamos para lhes entregar. Neste contexto, considero que
seja particularmente importante, para nós, refletirmos sobre a necessidade de
transmitir aos nossos jovens o dom da paz.
Este
apelo reveste-se de um significado muito especial aqui na Coreia, uma terra que
sofreu longamente por causa da falta de paz. Exprimo o meu apreço pelos
esforços feitos a favor da reconciliação e da estabilidade na Península Coreana
e encorajo tais esforços, que são o único caminho seguro para uma paz
duradoura. A busca da paz por parte da Coreia é uma causa que nos está
particularmente a peito, pois concorre para a estabilidade de toda a região e
do mundo inteiro, cansado da guerra.
Mas a
busca da paz constitui um desafio também para cada um de nós e,
particularmente, para quantos de entre vós têm a tarefa de procurar o bem comum
da família humana através do paciente trabalho da diplomacia. Trata-se do
desafio perene de derrubar os muros da difidência e do ódio, promovendo uma
cultura de reconciliação e solidariedade. De facto, enquanto arte do possível,
a diplomacia baseia-se numa convicção firme e perseverante de que a paz pode
ser melhor alcançada pelo diálogo e a escuta atenta e discreta, do que com recriminações
recíprocas, críticas inúteis e demonstrações de força.
A paz
não é simplesmente ausência de guerra, mas obra da justiça (cf. Is 32, 17). E a
justiça, como virtude que é, faz apelo à tenacidade da paciência; não nos pede
para esquecermos as injustiças do passado, mas que as superemos através do
perdão, da tolerância e da cooperação. Exige a vontade de discernir e alcançar
os objetivos reciprocamente vantajosos, construindo os alicerces do respeito
mútuo, da compreensão e da reconciliação. Faço votos de que todos nós possamos
dedicar-nos à construção da paz, à oração pela paz, reforçando o nosso
compromisso de a realizar.
Queridos
amigos, os vossos esforços como líderes políticos e civis visam, em última
análise, construir um mundo melhor, mais pacífico, mais justo e próspero para
os nossos filhos. A experiência ensina-nos que, num mundo cada vez mais
globalizado, a nossa compreensão do bem comum, do progresso e do
desenvolvimento deve ser, em última análise, não só de carácter econômico mas também
humano. A Coreia, como a maioria das nações desenvolvidas, enfrenta relevantes
problemáticas sociais, divisões políticas, desigualdades econômicas e
preocupações na gestão responsável do meio ambiente. Como é importante que a
voz de cada membro da sociedade seja ouvida, promovendo-se um espírito de
comunicação aberta, de diálogo e cooperação! É igualmente importante que se
dedique especial atenção aos pobres, àqueles que são vulneráveis e a quantos
não têm voz, não somente indo ao encontro das suas necessidades imediatas mas
também promovendo-os no seu crescimento humano e espiritual. Nutro a esperança
de que a democracia coreana se há-de fortalecer cada vez mais e que esta nação
demonstrará primar também na «globalização da solidariedade» que é hoje particularmente
necessária: a solidariedade que tem como objectivo o desenvolvimento integral
de cada membro da família humana.
Vinte e
cinco anos atrás, na sua segunda visita à Coreia, São João Paulo II manifestou
a convicção de que «o futuro da Coreia dependerá da presença entre o seu povo
de muitos homens e mulheres sábios, virtuosos e profundamente espirituais» (8
de Outubro de 1989). Hoje, fazendo-me eco de tais palavras, asseguro-vos o
desejo constante da comunidade católica coreana de participar plenamente na
vida da nação. A Igreja deseja contribuir para a educação dos jovens e para o
crescimento de um espírito de solidariedade para com os pobres e
desfavorecidos, contribuir para a formação de jovens gerações de cidadãos
prontos a oferecer a sabedoria e clarividência herdadas dos seus antepassados e
nascidas da sua fé a fim de se enfrentarem as grandes questões políticas e
sociais da nação.
Senhora
Presidente, Senhoras e Senhores, agradeço-vos mais uma vez a vossa recepção e
hospitalidade. O Senhor vos abençoe a vós e ao querido povo coreano. De modo
especial, o Senhor abençoe os idosos e os jovens que, preservando a memória e
inspirando coragem, são o nosso maior tesouro e a nossa esperança para o
futuro.
Fonte: ZENIT.ORG –
Seul, 14 de agosto de 2014 – Internet: clique aqui.
Papa pede à ONU intervir e por fim à violência no Iraque
Federico Cenci
Em
carta enviada hoje a Ban Ki-moon, Bergoglio afirma que tais atos "não
podem não despertar as consciências de todos os homens e mulheres de
boa-vontade a ações concretas de solidariedade
“Ao
renovar o meu apelo urgente à comunidade internacional para intervir e por fim
à tragédia humanitária em andamento, encorajo todos os organismos competentes
das Nações Unidas, especialmente os responsáveis pela segurança, a paz, o
direito humanitário e a assistência aos refugiados, a prosseguirem seus
esforços, em conformidade com o Preâmbulo e os artigos pertinentes da Carta das
Nações Unidas.”
A voz
do Papa Francisco chega a Nova York e estremece o Palácio de Vidro, sede da
ONU. Mais um apelo do Santo Padre pelo fim do "sofrimento
intolerável" dos cristãos no Iraque chega aos ouvidos de Ban Ki-moon,
Secretário das Nações Unidas.
Na
carta de hoje, o Papa disse que estava “com o coração apertado e angustiado” diante
dos “dramáticos acontecimentos dos últimos dias no norte do Iraque”. As imagens
dos cristãos e outras minorias religiosas curvados pela violência e perseguição
dos jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante provocam comoção no
Santo Padre, que afirma estar angustiado
também pela “destruição de seus lugares de culto e do patrimônio religioso”.
Daí a
decisão de enviar ao povo iraquiano o cardeal Fernando Filoni, Prefeito da
Congregação para a Evangelização dos Povos, que já serviu no país como
representante dos predecessores, Papa São João Paulo II e Papa Bento XVI. “Um
gesto - reafirma o Bispo de Roma – “para manifestar a minha proximidade
espiritual e expressar a minha preocupação, assim como de toda a Igreja
Católica, com o intolerável sofrimento de pessoas que desejam somente viver em
paz, harmonia e liberdade na terra de seus antepassados”.
Com
"o mesmo espírito" com que confiou a missão ao cardeal Filoni, o Papa
agora se dirige a Ban Ki-moon, para expor-lhe “as lágrimas, os sofrimentos e os
gritos de desespero dos cristãos e das outras minorias religiosas na amada
terra do Iraque”. E solicitar que prossigam “os esforços da ONU pela segurança,
a paz, o direito humanitário e a assistência aos refugiados” no país.
Além
disso, “os ataques violentos que têm se alastrado ao longo do norte do Iraque
não podem não despertar as consciências de todos os homens e mulheres de
boa-vontade a ações concretas de solidariedade”, que podem “proteger quantos
são atingidos ou ameaçados pela violência e para assegurar assistência
necessária e urgente a tantas pessoas deslocadas, bem como o seu retorno seguro
às suas cidades e às suas casas”.
A história é mestra de vida, assim, o Papa
Francisco recorda “as trágicas experiências do século XX” que “obrigam a comunidade
internacional, em particular através de normas e mecanismos de direito
internacional, a fazer tudo o que lhe for possível para deter e prevenir novas
violências sistemáticas contra as minorias étnicas e religiosas”.
Fonte: ZENIT.ORG – Roma,
13 de agosto de 2014 – Internet: clique aqui.
Comentários
Postar um comentário