QUEM GANHA COM O BRASIL? - UM EXEMPLO...
Alexandre Versignassi & Guilherme Pavarin
O porto
de Santos é a cafeteira do mundo: um terço do café tomado na Terra passa por
ali, numa jornada que começa nas fazendas do Brasil e termina nas xícaras de
Madrid, Milão, Moscou, Kiev… Não só nas xícaras. O maior comprador do nosso
estimulante preto, ao lado dos EUA [Estados Unidos da América], é a Alemanha. Mas eles não tomam tudo.
Revendem uma parte razoável, porque é um negocião: os alemães pagam mais ou
menos R$ 400 em cada saca de 60 quilos e reexportam para o resto da Europa por
R$ 800. Sem industrializar nada, só revendendo café “cru” mesmo, do jeito que
ele sai das roças daqui.
Não é
malandragem, é logística: eles podem fazer isso graças à sua malha ferroviária
cheia de tentáculos, veias e artérias. Reexportar dali para o resto da Europa é
fácil. Num ano típico, os caras importam 18 milhões de sacas e revendem 12
milhões. Isso faz da Alemanha o terceiro maior exportador de café do mundo,
atrás apenas do Brasil e do Vietnã. Tudo sem nunca ter plantado um pé de café.
Tem
mais. Das 6 milhões de sacas que ficam dentro da Alemanha, uma parte vai para
Schwerin, uma cidadezinha de conto de fadas perto da fronteira com a Dinamarca.
Por lá, os grãos brasileiros reencarnam na forma de cápsulas de Nespresso. E
ganham preços que até outro dia só eram praticados no mercado de outro
estimulante – branco [a cocaína]. Um quilo dessas cápsulas acaba saindo por R$ 400 no
varejo, quase setenta vezes o quilo do café cru. 70 X 1 para a Alemanha.
[. . .]
COMENTÁRIO PESSOAL:
Com as
informações acima, podemos perceber o quanto o nosso país perde ao vender para
fora somente produtos agrícolas, pecuários e minerais sem nenhuma elaboração
mais sofisticada, ou seja, sem valor
agregado.
Valor
agregado é o valor adicional que adquirem os bens e serviços ao serem
transformados durante o processo produtivo.
Quanto
menos elaborado é um bem ou serviço, menos valor ele terá no mercado. O Brasil,
há um bom tempo, vem se conformando em ser um mero fornecedor de bens e produtos
tais como são retirados da natureza ou minimamente transformados.
Com
isso, quem mais lucra com os bens de nosso país são empresas estrangeiras
capazes de agregar valor (elaborar mais) os produtos primários que adquirem de
nós. Um outro exemplo é o aço brasileiro. Ele é exportado para a China em forma de minério bruto e de lá é reexportado para outras partes do mundo em forma de automóveis, máquinas, chapas especiais etc.
Até
quando vamos ficar, apenas, assistindo outros se enriquecerem às custas daquilo
que vendemos a preço barato?
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