«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

UM CARDEAL VISITA O "INFERNO" NO IRAQUE

''A minha viagem ao inferno dos refugiados.''

Entrevista com o Cardeal Fernando Filoni

Maria Antonietta Calabrò
Corriere della Sera
22-08-2014
Cardeal Fernando Filoni - em primeiro plano na foto

O cardeal Fernando Filoni, enviado pessoal do pontífice ao Iraque, voltou nessa quarta-feira de Bagdá, enquanto adverte pelo futuro imediato. E dispara dois sinais de alerta. O primeiro diz respeito a um possível risco de epidemias, que cresce enquanto se prolonga a situação de emergência dos deslocados, a promiscuidade, a falta de água, a debilitação devida ao fato de não encontrar abrigo do calor e do sol.

O segundo alerta é sobre o que vai acontecer com o inverno, assim que começar, que será muito duro se a população ainda for forçada a viver ao ar livre. Mas os refugiados – diz – "só voltarão aos vilarejos se houver um cinturão de segurança internacional".

Eis a entrevista.

Por quanto tempo o senhor falou com o papa?

Cardeal Filoni: Uma hora. Também entreguei ao papa um relatório escrito e uma série de documentos.

O que o papa disse?

Cardeal Filoni: Ele principalmente ouviu. O Papa Francisco, sempre atento, no entanto, ficou particularmente impressionado com o meu relato de alguns episódios tocantes dos quais eu fui testemunha direta.

Conte-nos alguns.

Cardeal Filoni: Por exemplo: eu vi alguns idosos que, arrancados das suas localidades, da cotidianidade de vida nos vilarejos, se deixam levar e ficam ali jogados no chão o tempo todo, sem ter quase mais força para viver. E depois, em Manghesh, vi três jovens que escaparam dos jihadistas que tinham sequestrado cerca de 200 pessoas do seu vilarejo e todos os seus parentes. No dia seguinte, a internet mostrou uma pilha de 70 homens mortos. E depois também pequenos, mas odiosos, abusos. Lembro-me de uma menina de poucos meses da qual os milicianos arrancaram dois brincos simples, e que as pessoas tentaram consolar, encontrando-lhe outro par, quase como que dizendo: "O nosso tesouro é você"...

E as mulheres?

Cardeal Filoni: Das mulheres quase não restou rastro: desaparecidas, engolidas por sabe-se lá qual horrendo destino, mulheres que foram raptadas, violentadas, vendidas.

E as outras?

Cardeal Filoni: As que ficaram vivas e não desapareceram, mas não estão mais com a presença de um homem – de um pai, de um irmão, de um esposo – que seja quase a garantia da sua vida, segundo a sua cultura, sentem-se igualmente como que mortas, sem futuro. Lá não é como no Ocidente, onde uma mulher também pode construir a sua vida com as próprias capacidades e com a própria força. Assim, isso se torna muito, muito penoso: o olhar daquelas mulheres sentadas, caídas, sem expressão era muito impressionante.

Quantas pessoas são afetadas por esses "brutais sofrimentos", como o papa escreveu na carta que o senhor entregou ao presidente iraquiano, Fuad Masum?

Cardeal Filoni: Do 1,2 milhão de deslocados refugiados no Curdistão iraquiano, cerca de 100 mil são cristãos, embora não haja verdadeiras estatísticas. Como o papa também pediu, deve-se intervir por todos, por todas essas minorias perseguidas, por toda essa humanidade sofredora. Entre aqueles que estão em fuga do avanço do Isis [sigla inglesa para: Estado Islâmico do Iraque], também há muitos muçulmanos xiitas. As autoridades curdas me disseram: "Nós, aqui, viveremos juntos ou morreremos todos juntos".

Nestes dias, a temperatura média durante o dia é 45-48ºC. Como é possível viver sem abrigo do sol, com pouca água, todos amontoados?

Cardeal Filoni: O verdadeiro problema neste momento é o dia, porque o sol não deixa escapatória. É preciso evitar o perigo de epidemias. Estão sendo preparados chuveiros, sanitários etc. O comitê organizativo dos bispos iraquianos se estabeleceu em Ankawa, perto de Erbil. São muito ativos a Catholic Relief Services, da Conferência Episcopal Norte-Americana, a Church in Need e outras organizações católicas como a Caritas Internationalis. Elas estão tentando fazer uma programação: porque aquilo de que é preciso agora, talvez, não servirá em dois meses. Embora a primeira emergência imediata tenha sido saneada, não sabemos quanto tempo tudo isso vai durar.

É uma corrida contra o tempo?

Cardeal Filoni: Sim. O inverno nas montanhas do norte é muito duro. A questão é que eles não podem passar o inverno ao ar livre. Muitos desejam voltar para os seus vilarejos, mas pedem que os vilarejos tenha um cinturão de segurança, possivelmente, internacional.

A quem cabe o pedido da intervenção internacional?

Cardeal Filoni: Cabe principalmente ao governo central iraquiano e às autoridades regionais curdas. São eles que têm que fazer isso.

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Segunda-feira, 25 de agosto de 2014 – Internet: clique aqui.

''Armas e dinheiro:

ninguém os impediu''


Entrevista com o Cardeal Fernando Filoni

Marco Ansaldo
La Repubblica
22-08-2014

O prefeito da Congregação da Propaganda Fide afirma: "A decapitação do jornalista norte-americano Foley é um ato de barbárie desumana que infelizmente eu já vi no passado".
Refugiados iraquianos

Eis a entrevista.

Eminência, o senhor viu o vídeo de horror, com a decapitação do jornalista norte-americano James Foley?

O cardeal Fernando Filoni, que hoje, como prefeito da Congregação da Propaganda Fide, é o "papa vermelho" pelos poderes extraordinários conferidos a ele, mas que, durante a guerra no Iraque, foi o núncio vaticano que não quis abandonar Bagdá sob as bombas, se detém por um segundo.

Cardeal Filoni: "Infelizmente, eu vi as imagens – respondeu –, mas não por inteiro, não até o fim. Você deve se lembrar de quantas foram, depois do conflito no Iraque, as pessoas mortas e sequestradas, incluindo italianos."

E o que mudou depois de mais de dez anos?

Cardeal Filoni: A metodologia é a mesma. Então, podemos nos perguntar: quanto tempo será preciso para que esse horror passe? Olhamos para o homicídio desse pobre jornalista e vemos que esses atos de barbárie desumana, que geram raiva, continuam se repetindo. Mas cuidado para não se deixar enganar pela mesma violência, porque a esperança nunca pode nos abandonar. Quem nunca foi tocado por esses atos não sabe disso. Mas, para nós, infelizmente, é a repetição de uma situação já vista.

No Vaticano, Filoni acaba de ser recebido pelo Papa Francisco depois de voltar da missão de uma semana no Iraque. O pontífice escreveu uma carta ao presidente iraquiano, Fuad Masum: "Renovo o meu apelo àqueles que têm responsabilidades políticas para que usem todos os meios para resolver a crise humanitária".

O papa irá ao Curdistão, como ele mencionou no voo de volta da viagem apostólica a Coreia?

Cardeal Filoni: Veja, quando o Santo Padre me confiou essa missão, ele não me disse isso, mas eu intuí que ele queria ir. O fato de ter enviado para lá um enviado pessoal seu revela a sua atitude: se pudesse, ele mesmo iria. Agora caberá a ele avaliar.

Francisco falou de "deter o agressor injusto". É o tema da guerra justa. O senhor falou com ele?

Cardeal Filoni: Não discutimos muito sobre isso. Ele, na audiência, ao contrário, quis conhecer o meu relatório. Era ele quem me ouvia, mais do que falava.

Mas quando ele confiou a missão, o que lhe disse?

Cardeal Filoni: Uma coisa que eu gosto que seja destacada. O papa nunca me disse: "Vá ao encontro dos cristãos". Não, mas: "Vá ao encontro de todas as minorias". Por isso, a Igreja tomou a peito a situação de todos.

Por exemplo?

Cardeal Filoni: Eu fui ao encontro dos yazidi, dos seus sábios, esses veneráveis com as barbas longas. Encontrei-os cheios de sofrimento, de lágrimas. Eles me disseram: "Nós não temos mais força nem voz. Por favor, sejam a nossa voz". Eis porque, como Igreja, estamos falando em favor de todos: pelos yazidi e pelos xiitas expulsos dos vilarejos, pelos sabeus e pelos shaba. E também por aqueles sunitas que não aceitam essa onda de terrorismo.

E quando aqueles que fugiram poderão voltar para casa?

Cardeal Filoni: A aspiração de muitos é a de voltar, desde que haja uma segurança internacional. Alguns sonham em pegar o avião e poder voar para outros lugares. A Igreja assumiu uma posição muito clara: não podemos organizar nada sob esse perfil.

Quem move os terroristas, na sua opinião?

Cardeal Filoni: Esses grupos operam mostrando-se bem fornecidos de armas e de dinheiro. A pergunta é: como é possível que essa passagem de recursos escapou daqueles que têm o dever de controlar e que movem as coisas de longe. Uma resposta difícil, por enquanto, de ser encontrada.

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Segunda-feira, 25 de agosto de 2014 – Internet: clique aqui.

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