AS NOVAS DEPENDÊNCIAS
JAIRO BOUER
Psiquiatra
Dois
estudos divulgados na última semana mostram novas facetas dos excessos e até da
dependência: jogos eletrônicos e exercícios físicos. O que fazer para se
divertir ou cuidar da saúde sem enfrentar esses exageros?
Segundo
um dos estudos, quase 5% da população do
Japão pode estar enfrentando um quadro de dependência a jogos eletrônicos,
principalmente alguns que lembram caça-níqueis. São mais de 5 milhões de
japoneses (em sua maioria homens com mais de 20 anos) afetados.
Essa
proporção é mais alta que em outros países do mundo (cerca de 1%) e pode ser
decorrente de uma questão cultural: esse tipo de jogo é extremamente popular no
Japão, onde há lojas especializadas espalhadas por todas as cidades. Também, há
alguns meses, outro trabalho mostrava que a
indústria dos games tem feito com que cada vez mais jovens passem horas na
frente do computador.
O uso
de internet no país estaria sendo problemático, ainda segundo a pesquisa, para
4,5% dos homens e 3,5% das mulheres, um aumento de 50% nos últimos 5 anos. Mais
de 4 milhões de japoneses vivem essa forma de dependência. Em contraste,
dependência ao álcool seria um problema menos importante no Japão, onde cerca
de 1 milhão de pessoas bebem em excesso, uma taxa muito menor, por exemplo, do
que a do Brasil.
A cultura do excesso de internet e de jogos
eletrônicos tem acentuado um comportamento em boa parte do mundo ocidental:
o sedentarismo. No outro extremo,
entretanto, há um número considerável de
pessoas (especialmente os mais
jovens) se excedendo na prática das
atividades físicas, com características claras de dependência.
Outro
trabalho recente da University College
London (UCL), publicado no jornal Daily Mail, mostra que 8,5% dos estudantes ingleses do ensino
médio têm algum grau de dependência a exercícios físicos. As garotas
parecem ainda mais obcecadas, mas os garotos não escapam da busca por um físico
perfeito. Diferente da anorexia, não se evita comer nem se busca a magreza; há uma procura desmedida de espaço e tempo
para se fazer atividades físicas.
Os
especialistas acreditam que esse tipo de dependência pode estar surgindo como
consequência do excesso de informações trabalhadas nos últimos anos sobre a
importância de se fazer exercícios, como forma de combater o crescente
sedentarismo e a obesidade. O problema é
o limite entre o saudável e o exagero. Alguns jovens parecem ter levado
essa mensagem ao extremo.
A
maioria das garotas inglesas tem algum grau de insatisfação com sua imagem
corporal. Aquelas que enxergam no
esporte a única tábua de salvação para a busca incessante de um corpo perfeito
são as mais propensas a exagerar. Garotos que correm atrás de um físico
mais forte para afirmar sua masculinidade e impressionar as garotas também
podem cair nessa armadilha.
Na
esteira desse exagero vem o consumo
precoce de anabolizantes e de suplementos. Ambos podem trazer prejuízos à
saúde de corpos que estão em fase de desenvolvimento, sem contar as lesões que
se proliferam entre os mais novos e que podem levar a limitações de movimentos
e sequelas precocemente.
Mas, talvez, o ponto mais preocupante seja
a dependência emocional. Um trabalho de 2013 da Universidade de
Lausanne, na Suíça, feito com 1.200 jovens de 16 a 20 anos, também citado no
Daily Mail, mostra que, quanto mais o
jovem pratica atividade física, mais ele fica feliz, até um limite de duas
horas por dia (o dobro do considerado ideal para essa faixa de idade). A partir daí, ele se sente muito mais
ansioso, estressado e deprimido, o que pode revelar claros sinais de
dependência.
Tanto
no caso dos games eletrônicos, como no das atividades físicas, a questão do
limite é fundamental. Trocar interações sociais, interesse na escola e no
trabalho e opções variadas de lazer pela busca ininterrupta de tempo para se
exercitar ou jogar mostra que há uma dificuldade de controle. E, pior, quanto mais se faz, mais se sente que falta
algo que ainda deve ser feito.
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