DILMA NO SUFOCO!
Editorial
Dilma Rousseff concedendo entrevista ao Jornal Nacional (Rede Globo) Segunda-feira, 18 de agosto de 2014 |
Nunca
antes nos 3 anos, 7 meses e 18 dias de Dilma Rousseff no Planalto o público
tinha tido a oportunidade de ver o que subordinados da "gerentona"
conhecem por humilhante experiência própria: a chefe à beira de um ataque de nervos. Com a diferença de que, no
seu gabinete, ela se sente literalmente em casa para descarregar a ira com as
presumíveis dificuldades da equipe em captar o seu pensamento - o que, tendo em
vista as peculiares circunvoluções de sua forma de expressão, se explica
plenamente.
"Não há no inferno",
escreveu Shakespeare, "fúria
comparável à de uma mulher rejeitada." Ou de uma Dilma Rousseff
contrariada - e sem poder pôr no devido lugar o responsável real ou imaginário
pela afronta. Foi o que a audiência do Jornal
Nacional (JN) da segunda-feira descobriu ao acompanhar a entrevista dos
apresentadores William Bonner e Patrícia Poeta com a candidata à
reeleição. Ela foi a terceira a ser arguida na série de sabatinas de 15 minutos
com os principais aspirantes à Presidência, iniciada com o tucano Aécio Neves,
a quem se seguiu o ex-governador Eduardo Campos, na véspera de sua trágica
morte. (Quando a sua candidatura tiver sido formalizada, também Marina Silva
será convidada.)
Por ser
presidente, Dilma teve o privilégio de receber os jornalistas na residência
oficial do Alvorada, à frente de estantes de livros encadernados e
cuidadosamente dispostos, sem sinal de manuseio, um cenário escolhido para
denotar solenidade, elevação e a nobreza da função presidencial. Nada que ver
com o ambiente do JN, nos estúdios da Rede Globo, no Rio de Janeiro, em que os
donos da situação, como Aécio e Campos sentiram na pele, são os âncoras do
principal noticioso da TV brasileira, infundindo, nas suas perguntas,
contundência e conhecimento de causa à altura dos seus implacáveis colegas
britânicos - a referência mundial no gênero.
Mas
logo na resposta ao primeiro disparo de Bonner sobre uma das duvidosas
distinções do governo - as denúncias de
casos de corrupção em sete ministérios - ficou claro o desamparo da
presidente. Faltava-lhe o ponto no
ouvido pelo qual o seu marqueteiro João Santana poderia conduzi-la, se não a
terra firme, ao menos para longe do vórtice [turbilhão]. Pior ainda,
faltava-lhe o conforto das gravações irrepreensivelmente produzidas que
confeccionam uma imaginária Dilma estadista. Com o misto de irritação e impaciência que denotaria durante toda a
entrevista, ela desandou a juntar frases e mais frases que tinham em comum a
extensão, a desconexão e a pretensão.
Para
mostrar superioridade ética, por exemplo, disse que os governos petistas não
têm um "engavetador-geral da República", como, segundo a oposição,
teria sido o titular do Ministério Público Federal nos anos Fernando Henrique.
E reivindicou, para "nós", a criação da Controladoria-Geral da União.
Na realidade, Lula pouco mais fez do que
mudar o nome do órgão fiscalizador do Executivo (Corregedoria-Geral da
União) instituído pelo tucano em 2001 e
fortalecido no ano seguinte com a absorção da Secretaria Federal de Controle,
antes vinculada ao Ministério da Fazenda. Em dado momento, tentando cortar
o interminável palavrório da candidata, o entrevistador recebeu uma dose de
Dilma em estado puro: "Então, continuando o que eu estava dizendo…".
Fez-se de desentendida quando Bonner lhe
perguntou o que achava de o PT tratar como vítimas os companheiros condenados
pelo Supremo Tribunal Federal no processo do mensalão. Pelo
menos três vezes ela repetiu que, como presidente, "não julgo ações do
Supremo", por mais que o jornalista
reiterasse que o objeto da pergunta era a conduta de seu partido, não o
veredicto do Tribunal. A esta altura, Dilma parecia prestes a explodir.
Quando o assunto passou a ser a economia, diante dos números amargos, de
conhecimento público, sobre a inflação e o PIB [Produto Interno Bruto], saiu-se
com um "não sei da onde que estão (sic) seus dados". O tempo do programa estourou depois de
quatro perguntas apenas e Dilma precisou ser interrompida quando pedia "o
voto dos telespectadores".
Terminado
o sufoco, a presidente tomou uma decisão prudente, embora apequenadora: cancelou a entrevista que daria em seguida
à Globo News.
Para
conferir o que foi dito acima,
assista
ao vídeo com a entrevista completa,
clicando
sobre a imagem abaixo:
Fonte: O Estado de S. Paulo – Notas e
Informações – Quarta-feira, 20 de agosto de 2014 – Pg. A3 –
Internet: clique aqui.
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