«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O ''silêncio'' do Papa Francisco e a má consciência dos católicos neoconservadores

Massimo Faggioli
HuffingtonPost.it
11-08-2014
Massimo Faggioli - historiador italiano

Cresce em volume e em agressividade verbal, junto aos círculos neoconservadores italianos e a renomados jornalistas de direita, a acusação contra o Papa Francisco de estar silente ou aquiescente diante das perseguições de que os cristãos (católicos ou não) e outras minorias religiosas no Iraque são objeto.

A questão foi respondida eficazmente por um editorial da revista Famiglia Cristiana [1], que lembra aos propagandistas da guerra preventiva de Bush o seu silêncio e desprezo, em 2003, contra a advertência do Papa João Paulo II. Mas há algo mais do que o silêncio dos neoconservadores de 11 anos atrás, e se trata de uma questão que diz respeito a hoje.

De fato, é evidente que o embaraço da Igreja Católica diante dos massacres no Iraque é semelhante ao embaraço dos norte-americanos diante das convulsões desse país "refundado" pela guerra desejada pela presidência Bush-Cheney. Obama não pode responder pelos desastres provocados pelo governo anterior. De maneira semelhante, o Papa Francisco não pode responder pelos desastres provocados pelos grupos de pensamento e de pressão neoconservadores, cuja ascensão deve ser enquadrada cronologicamente dentro do pontificado de Bento XVI.

Os católicos e os observadores dotados de memória e consciência podem (e, a meu ver, devem) convidar ao silêncio e a um exame de consciência os acusadores do "silêncio" do Papa Francisco sobre o Iraque. São círculos que conseguiram impor, não poucas vezes, a Bento XVI as suas próprias manipulações ideológicas sobre a questão do Islã: nem todos se esqueceram do opróbrio (do ponto de vista litúrgico, acima de tudo) do batismo de Magdi Cristiano Allam, em São Pedro, durante a vigília de Páscoa de 2008 [2].

Mas seja o que for que o Papa Francisco pense do pontificado de Bento XVI, é evidente que o papa eleito depois da renúncia do antecessor deve observar medidas de cautela extraordinárias quando se trata da herança do pontificado anterior. A Igreja Católica ainda está fazendo as contas com a transição de 2013.

Tende-se a considerar o ato de renúncia de Bento XVI como um evento já ocorrido e, portanto, no passado: na realidade, Bento XVI ainda está vivo, e aquela renúncia de fevereiro 2013 ainda está acontecendo.

As perseguições anticristãs e contra as minorias religiosas no Iraque e em muitos outros países do Oriente Médio são a conta apresentada ao cristianismo pela história de relações inter-religiosas complicadas. Já o haviam sido antes de 2003, e essa guerra as tornou ainda mais intratáveis.

O aspecto trágico dessa prestação de contas é que quem está pagando a conta, de forma direta, são aquelas minorias étnicas e religiosas que os neoconservadores italianos queriam "libertar". Essa falsa consciência não deve surpreender. A escola neoconservadora – mesmo a neoconservadora católica – é feita de revolucionários, ex ou fracassados.

Como disse Boris Pasternak mediante o seu alter ego, o Dr. Jivago, "aqueles que inspiraram a revolução só são capazes de provocar convulsões. Não têm capacidades reais, são sem qualidade. Eles derrubaram a velha ordem em poucas horas ou poucos dias (…) e por décadas, desde então, por séculos, veneram como sagrada aquela estreiteza de espírito que levou à sublevação".

Se há um silêncio do Papa Francisco, certamente não é um silêncio sobre o que está acontecendo no Oriente Médio. O silêncio do papa é um silêncio – repleto de caridade, mas também de prudência – em relação aos ideólogos do catolicismo neoconservador e à sua falsa consciência.

Traduzido por Moisés Sbardelotto.

* Massimo Faggioli, historiador italiano, professor de História do Cristianismo da University of St. Thomas, em Minnesota, nos Estados Unidos.

N O T A S :

[1] Traduzindo: Família Cristã, revista de publicação semanal por parte dos padres paulinos italianos.

[2] Em 23 de março de 2008, domingo da ressureição recebeu o batismo das mãos do Papa Bento XVI na Vigília Pascal. Adotou o nome cristão de Magdi Cristiano Allam. Nascido no Cairo, estudou em uma escola dos salesianos em que muitos professores eram italianos. Em 1972 imigrou para a Itália. Licenciou-se em sociologia na Universidade La Sapienza de Roma, e se ocupa de temas relacionados com o Oriente Médio e suas relações com o Ocidente. Trabalhou nos jornais Il Manifiesto e La Repubblica. Atualmente é  subdiretor do diário italiano Corriere della Sera (Fonte: clique aqui).

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quinta-feira, 14 de agosto de 2014 – Internet: clique aqui.

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