«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

domingo, 13 de março de 2016

5º Domingo da Quaresma – Ano C – Homilia

Evangelho: Jo 8,1-11


Naquele tempo:
1 Jesus foi para o monte das Oliveiras.
2 De madrugada, voltou de novo ao Templo. Todo o povo se reuniu em volta dele. Sentando-se, começou a ensiná-los.
3 Entretanto, os mestres da Lei e os fariseus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério.
Colocando-a no meio deles,
4 disseram a Jesus: «Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério.
5 Moisés na Lei mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?».
6 Perguntavam isso para experimentar Jesus e para terem motivo de o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever com o dedo no chão.
7 Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse: «Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra.»
8 E tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão.
9 E eles, ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos; e Jesus ficou sozinho, com a mulher que estava lá, no meio do povo.
10 Então Jesus se levantou e disse: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?».
11 Ela respondeu: «Ninguém, Senhor.» Então Jesus lhe disse: «Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais.»

JOSÉ ANTONIO PAGOLA

REVOLUÇÃO IGNORADA

Apresentam a Jesus uma mulher surpreendida em adultério. Todos conhecem o seu destino: será lapidada [apedrejada] até a morte segundo o estabelecido pela lei. Ninguém fala do adúltero. Como acontece sempre em uma sociedade machista, condena-se a mulher e desculpa-se o homem. O desafio feito a Jesus é frontal: «A lei de Moisés manda-nos apredejar as adúlteras. Tu, que dizes?».

Jesus não suporta aquela hipocrisia social alimentada pela prepotência dos homens. Aquela sentença de morte não vem de Deus. Com simplicidade e audácia admiráveis, introduz ao mesmo tempo verdade, justiça e compaixão no julgamento da adúltera: «aquele que estiver sem pecado, que atire a primeira pedra».

Os acusadores se retiram envergonhados. Eles sabem que são os mais responsáveis pelos adultérios que se cometem naquela sociedade. Então, Jesus dirige-se à mulher que acaba de escapar da execução e, com ternura e grande respeito, lhe diz: «Tampouco eu te condeno». Em seguida, anima-a para que seu perdão se converta em ponto de partida de uma vida nova: «Vai, e daqui em diante não peques mais».

Assim é Jesus. Até que enfim, houve sobre a terra alguém que não se deixou condicionar por nenhuma lei nem poder opressivo. Alguém livre e generoso que nunca odiou nem condenou, nunca devolveu mal por mal. Em sua defesa e em seu perdão a esta adúltera há mais verdade e justiça que em nossas reivindicações e condenações ressentidas.

Nós, cristãos, não temos sido capazes ainda de extrair todas as consequências que encerra a atuação libertadora de Jesus frente à opressão da mulher. A partir de uma Igreja dirigida e inspirada majoritariamente por homens, não aceitamos a tomar consciência de todas as injustiças que continua padecendo a mulher em todos os âmbitos da vida. Algum teólogo falava há alguns anos da «revolução ignorada» pelo cristianismo.

O certo é que, vinte séculos depois, nos países de raízes supostamente cristãs, continuamos vivendo em uma sociedade onde, com frequência, a mulher não pode mover-se livremente sem temer o homem. O estupro, o abuso e a humilhação não são algo imaginário. Ao contrário, constituem uma das violências mais arraigadas e que mais sofrimento causa.

Não deve o sofrimento da mulher ter um eco mais vivo e concreto em nossas celebrações, e um lugar mais importante em nosso trabalho de conscientização social? Porém, sobretudo, não devemos estar mais próximos de toda mulher oprimida para denunciar abusos, proporcionar defesa inteligente e proteção eficaz?

O ÚNICO QUE NÃO CONDENA

Sempre me surpreendeu a atuação de Jesus, radicalmente exigente ao anunciar a sua mensagem, porém, incrivelmente compreensivo ao julgar a atuação concreta das pessoas. Talvez, o caso mais expressivo é seu comportamento diante do adultério. Jesus fala de maneira tão radical ao expor as exigências do matrimônio indissolúvel, que os discípulos opinam que, em tal caso, «não convém casar-se». E, no entanto, quando todos querem apedrejar uma mulher surpreendida em adultério, é Jesus o único que não a condena.

No entanto, quem conhece quanta escuridão reina no ser humano e a facilidade que é condenar os outros para assegurar-se a própria tranquilidade, sabe muito bem que nessa atitude de compreensão e de perdão que adota Jesus, inclusive contra o que prescreve a lei, há mais verdade que em todas as nossas condenações estreitas e ressentidas.

Aquele que crê descobre, ademais, nessa atitude de Jesus, o rosto verdadeiro de Deus e escuta uma mensagem de salvação que se pode resumir assim: «Quando não tens ninguém que te compreenda, quando os homens te condenam, quanto te sentes perdido(a) e não sabes a quem recorrer, deves saber que Deus é teu amigo. Ele está do teu lado. Deus compreende a tua debilidade e até o teu pecado».

Essa é a melhor notícia que podiam escutar os seres humanos. Frente à incompreensão, as acusações e condenações fáceis das pessoas, o ser humano sempre poderá confiar na misericórdia e no amor insondável de Deus. Aonde termina a compreensão dos homens, segue firme a compreensão infinita de Deus.

Isto significa que, em todas as situações da vida, em toda confusão, em toda angústia, sempre há saída. Tudo pode converter-se em graça. Ninguém pode impedir-nos de viver apoiados no amor e na fidelidade de Deus.

Por fora, as coisas não mudam. Os problemas e conflitos continuam lá com toda a sua crueza. As ameaças não desaparecem. Há que seguir enfrentando as cargas da vida. Porém, há algo que muda tudo: a convicção de que nada nem ninguém poderá nos separar do amor de Deus!

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: Sopelako San Pedro Apostol Parrokia – Sopelana – Bizkaia (Espanha) – J. A. Pagola – Ciclo C (Homilías) – Internet: clique aqui.

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