«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 1 de março de 2016

Igreja cometeu "erros enormes" sobre pedofilia, diz cardeal

Edison Veiga

George Pell reconheceu que em vários casos não se acreditou nas
crianças e que padres eram transferidos de uma paróquia a outra
CARDEAL GEORGE PELL
Australiano e Prefeito da Secretaria de Economia do Vaticano

Um dia depois de o Oscar de melhor filme ter ido para Spotlight: Segredos Revelados - que retrata uma investigação jornalística sobre crimes de pedofilia praticados por padres -, o cardeal australiano George Pell foi recebido, nesta segunda-feira, 29 de fevereiro, em audiência reservada pelo papa Francisco. No domingo, Pell prestou depoimento a uma comissão de investigação da Austrália e admitiu que, em casos de pedofilia, “a Igreja cometeu erros enormes”.

Não foi revelado o conteúdo da conversa entre o sumo pontífice e o cardeal, que é o atual prefeito da Secretaria de Economia do Vaticano e já foi arcebispo de Melbourne e de Sydney. Quando chegou ao Hotel Quirinale para mais um depoimento via videoconferência, ele afirmou que tinha total apoio do papa Francisco. Em seu depoimento no domingo, realizado via videoconferência de Roma à Comissão Real da Austrália sobre a Resposta Institucional ao Abuso Sexual Infantil, ele afirmou que o padre Gerald Ridsdale, acusado por dezenas de casos, “foi transferido de paróquia em paróquia em vez de ser denunciado à polícia pelos crimes”. Na avaliação do cardeal, a medida teria sido “catastrófica”.

Pell também afirmou que, muitas vezes, faltou acreditar no que diziam as crianças e que a Igreja teria feito “besteiras”. Ele, entretanto, negou que tivesse qualquer conhecimento das práticas de pedofilia de Ridsdale na diocese de Ballarat - ali, eles foram colegas entre 1973 e 1983. Também no depoimento, o cardeal admitiu que havia boatos de que outro sacerdote, John Day, abusava de menores na mesma diocese. A Igreja, segundo Pell, “estava fortemente propensa” a desmentir qualquer acusação. “Não estou aqui para defender o indefensável”, afirmou o cardeal. “A Igreja cometeu erros enormes e causou graves danos em muitos lugares, desiludindo fiéis. Mas está trabalhando para remediar.”

O depoimento de Pell durou quatro horas - ele repetiu diversas vezes que sua “frágil memória” não lhe permitia recordar datas precisas dos fatos. O cardeal, que tem 74 anos, não pôde viajar à Austrália por motivos de saúde. Sobre ele, vale ressaltar, não pesa nenhuma denúncia de que tenha cometido abusos - seu depoimento tem como objetivo determinar as práticas e respostas adotadas pelas instituições católicas australianas diante das denúncias de pedofilia entre os anos 1970 e 1980 no país. Antes, Pell já havia se desculpado duas vezes pelos abusos cometidos por outros sacerdotes católicos. Padre Risdsdale foi condenado pela Justiça australiana por 138 crimes contra 53 menores.

Vencedor da estatueta principal do Oscar no domingo, Spotlight: Segredos Revelados, de Thomas McCarthy, mostra uma investigação jornalística justamente sobre a prática da Igreja de transferir padres suspeitos de pedofilia para outras dioceses, com o intuito de abafar as denúncias.

Os abusos sexuais cometidos por membros da Igreja vieram à tona em 2002, quando se descobriu que bispos da área da cidade norte-americana de Boston transferiam os estupradores de uma paróquia a outra em vez de expulsá-los. Desde então foram revelados escândalos semelhantes em todo o mundo, e dezenas de milhões de dólares já foram gastos em indenizações.
Cardeal George Pell dá depoimento por videoconferência à
Comissão Real da Austrália sobre a Resposta Institucional ao Abuso Sexual Infantil

Hotel Quirinale - Roma, 28 de fevereiro de 2016

Segundo dia

Na noite desta segunda horário de Brasília, manhã de terça-feira na Austrália, o purpurado depôs pela segunda vez à comissão de Justiça australiana. Foi duramente questionado sobre como ele poderia não ter sabido que padre Ridsdale estava abusando de crianças, uma vez que eram da mesma diocese.

Em determinado período, Pell atuou como consultor do bispo de Ballarat, Ronald Mulkearns - e nesta condição, ele tinha reuniões periódicas com a autoridade, chegando a aconselhá-lo sobre a movimentação dos sacerdotes entre as paróquias de sua jurisdição. De acordo com a comissão, em uma reunião de 1982, na qual Pell estava presente, o bispo Mulkearns afirmou ter conhecimento dos abusos de Ridsdale. Foi nesta reunião que ficou decidido que o padre seria transferido, pela sexta vez, de paróquia.

Pell manteve sua versão. Afirmou que apesar do "conhecimento generalizado" do comportamento de Ridsdale, a ele nada foi dito e ele nada sabia. O purpurado enfatizou esse desconhecimento, mesmo confirmando que foram colegas de paróquia e viveram sob o mesmo teto, em Ballarat. "Nunca soube que ele estava abusando de crianças", afirmou Pell.

Em um dos momentos mais controversos do depoimento, Pell disse à comissão que o comportamento criminoso de Ridsdale era "uma história triste e sobre a qual nunca me interessei muito".

O cardeal disse que não acredita que pessoas que desconheçam abusos, como é o caso dele, devam ser responsabilizadas por não proteger as crianças, rebatendo assim a afirmação da comissão de que ele estava "se excluindo das responsabilidades".

Pell também negou aceitar qualquer responsabilidade pelo fato de que Ridsdale foi transferido de uma paróquia para a outra em vez de ser banido da Igreja. Quando foi colocada a situação de que era improvável que ele não soubesse que a razão pela qual o sacerdote estava sendo transferido frequentemente de paróquia eram os abusos sexuais que ele cometia contra crianças, Pell respondeu que a colocação era "completamente non-sense".

George Pell

Cardeal desde 2003 e nomeado prefeito da Secretaria de Economia do Vaticano - uma espécie de Ministro da Fazenda - em 2014, Pell já foi apontado como um dos principais opositores do papa Francisco, adjetivo que ele nega. Membro do chamado C9, grupo de cardeais consultores que colaboram com o sumo pontífice nas reformas dentro da Vaticano, o australiano foi um dos signatários da carta enviada ao papa dias antes da abertura do Sínodo dos Bispos sobre a Família, encontro da alta cúpula da Igreja ocorrido em outubro, no Vaticano.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Metrópole  ∕ Brasil – Terça-feira, 1 de março de 2016 – Pág. A16– Internet: clique aqui.

Bispos convidam a assistir
"Spotlight: segredos revelados".

Entrevista com Hans Zollner
Padre jesuíta, membro da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores e presidente do Centro de Proteção de Menores da Gregoriana

Fabio Colagrande
Rádio Vaticano
HANS ZOLLNER
Padre jesuíta alemão membro da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores

"Papa Francisco, está na hora de proteger as crianças e restaurar a fé". Assim se expressou Michael Sugar, produtor do "Spotlight, segredos revelados", vencedor do Oscar de Melhor Filme em 2016, recebendo a estatueta, no palco da Academy Awards. O filme é dedicado a jornalistas do jornal Boston Globe, que há 14 anos revelaram inúmeros casos de abuso contra menores cometidos por sacerdotes.

Percebe-se que certamente o produtor, como todos os que se envolveram na produção do filme, esforçaram-se para transmitir essa mensagem, uma mensagem conexa com o conteúdo narrado no filme, uma repreensão para que a Igreja faça o que tinha sido encaminhado desde 2002, exatamente no tempo dos eventos narrados. Desde o final dos anos 90, o Cardeal Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, tinha percebido que a Igreja não podia mais tolerar esses abusos, nem tolerar a cobertura dada pelos bispos. E assim, Joseph Ratzinger, depois como Papa Bento XVI, deu grandes passos no sentido de tornar a Igreja transparente e comprometida na luta contra os abusos. Depois dele, o Papa Francisco continuou na mesma linha, reforçando ainda mais as leis da Igreja e criando a Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores.

Algumas medidas já foram postas em prática e aguardamos ulteriores desenvolvimentos nesta mesma linha, certamente com uma clara mensagem de que a Igreja Católica, em suas lideranças, percebe a gravidade da situação e quer, e precisa, continuar na luta pela justiça e para que não haja mais vítimas.

Podemos dizer, então, que desde os acontecimentos apresentados no filme até à data de hoje, muita coisa foi feita pela Santa Sé e pelas Igrejas locais, em todo o mundo, para a proteção dos menores?

Pe. Hans Zollner: Sim, o que a Santa Sé fez é bastante evidente: temos outras normas, leis mais rigorosas, cartas encíclicas da Congregação para a Doutrina da Fé pedindo a todas as Conferências Episcopais seus projetos, suas linhas mestras traçadas com orientações de como encontrar as vítimas, o que fazer com os abusadores e como trabalhar para prevenir os abusos. Muito foi feito pela Santa Sé, e também por algumas Igrejas locais.

Por isso, um filme como este, e até mesmo as palavras ditas na cerimônia de premiação, certamente darão um novo impulso ao trabalho que, por exemplo, iniciamos em 2012, aqui na Universidade Gregoriana, com uma conferência internacional, um Simpósio, “Rumo a cura e a renovação", com a participação de 110 bispos de todas as Conferências Episcopais do mundo, um primeiro passo, inclusive para as áreas da África e da América Latina, onde o tema, naquela época, ainda não tinha chegado. Com a criação do Centre for Child Protection, o Centro para a Proteção de Menores, queríamos trabalhar na construção, aos poucos, de uma jurisdição local, isto é, pessoas que saibam reagir, criar espaços seguros, para crianças e adolescentes...
FILME GANHADOR DO OSCAR DE "MELHOR FILME"
é recomendado a todos os cristãos, católicos, inclusive bispos e padres.

Como os clérigos que estavam - e estão - empenhados no combate aos abusos receberam o filme?

Pe. Hans Zollner: Uma voz autorizada é aquela do Arcebispo de Malta, Dom Charles Scicluna, por dez anos promotor de justiça, sempre empenhado na perseguição dos crimes cometidos pelos padres. Ele disse publicamente, há poucos dias, que gostaria de recomendar a todos, mesmo aos bispos, de assistirem ao filme. A mesma coisa disse um bispo australiano... Portanto, há um grande apreço pelo filme e, é claro, um apreço pela mensagem e pela forma como a mensagem é transmitida.

Estes bispos recomendaram aos seus irmãos de assistirem ao filme, o que significa um forte convite a refletir e levar a sério sua mensagem central, a saber, que a Igreja Católica pode e deve ser transparente, justa e comprometida na luta contra o abuso, e que deve empenhar-se, a fim de que esses crimes não voltem a se repetir. É importante compreender que temos que mudar nossa atitude, que em italiano pode ser expressa na famosa palavra omertà [silêncio]. Não falar, querer resolver tudo varrendo pra debaixo do tapete, esconder-se e pensar que tudo vai passar. É preciso entender que não passará. Temos de compreender que, ou com muita coragem enfrentaremos as coisas, olhando-as na cara, ou um dia, mais cedo ou mais tarde, estaremos sendo obrigados a fazê-lo. É esta, penso eu, uma das mensagens centrais.

Traduzido do italiano por Ramiro Mincato. Acesse a versão original desta matéria, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Terça-feira, 1 de março de 2016 – Internet: clique aqui.

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