«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 29 de março de 2016

A ruína do sistema eleitoral e partidário brasileiro

Uma mão suja a outra

José Roberto de Toldedo

A ruína do sistema eleitoral e partidário está à vista para quem quiser ver 

A superplanilha da Odebrecht com nomes, valores e apelidos associados a duas centenas de políticos brasileiros de sabores sortidos está com a Lava Jato há um mês. Sergio Moro só a divulgou na terça, após PSDB e PMDB articularem um grande acordo pós-Dilma, mas antes de senadores governistas representarem contra ele no Conselho Nacional de Justiça, e de Teori Zavascki dar-lhe um pito e requisitar as investigações da Lava Jato sobre Lula para o STF. O mundo é mesmo aleatório. Até em Curitiba.

Nomes e valores em uma planilha não provam nada, é fato. Mas se vierem recobertos com calda de delação premiada de poderosos executivos da maior empreiteira do País, tornam-se uma bomba calórica de proporções atômicas. São capazes de alimentar uma crise política por muitos outonos. Foi essa cobertura que Moro conseguiu nos últimos dias. E a cereja veio terça, quando, seguindo seus súditos, o príncipe Marcelo Odebrecht capitulou.

Não adianta o juiz restaurar agora o sigilo da superplanilha. Cópias abundam. Elas solapam as fundações do sistema político-eleitoral que empreiteiras como Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, UTC, OAS e Odebrecht se empenharam em construir ao longo das últimas décadas. Fazem ruir o alicerce de doações interesseiras que sustentavam campanhas de PT, PMDB, PSDB, DEM, PP e de quase toda a sopa de letrinhas partidárias do Brasil - e cujo cimento vinha de contratos públicos superfaturados.

Haverá escoramentos. Políticos tentarão segurar as paredes e o teto que lhes caem sobre a cabeça. Alguns dirão que aquele dinheiro nunca existiu. Outros, que foi legalmente declarado. É previsível que uns escapem do desabamento, mas a ruína do sistema eleitoral e partidário está à vista para quem quiser ver. É impossível erguer algo sólido e duradouro sobre essas pilastras apodrecidas. A barragem de dejetos se rompeu e a enxurrada de lama tóxica fará muitas casas caírem.

Umas cairão mais rapidamente do que outras, porém. PT e governo podem se alegrar ao ver ferozes adversários serem tragados para a torrente onde se afogam, mas essa alegria tende a ser fugaz. A reação do PMDB, por exemplo, foi tentar apressar o impeachment de Dilma Rousseff, na esperança de levantar poeira e não deixar exposto o tamanho do estrago. "Grego" voltou a andar no passo de "Carangueijo" (sic). "Cacique" está deixando "Atleta" para trás. E "Nervosinho" deve estar fazendo jus ao apelido.

Inspirada na operação italiana Mãos Limpas, a Lava Jato está transformando o Brasil em uma grande Itália dos anos 90. O esboroamento [desmoronamento] do Poder Executivo é acompanhado da desmoralização completa do Legislativo. O estágio final é a reação de políticos que visa à perda de credibilidade do Judiciário. Ela se alimenta da partidarização de alguns juízes e procuradores, e desemboca na tentativa de criminalização da ação da magistratura.

Um magistrado - que julgará o destino do governo que pretende substituir o que aí está - levar a cúpula desse eventual futuro governo para passearem juntos em Portugal é um grande avanço nessa direção. Mesmo que seja mera coincidência.

Todo mundo só se lembra que a Mãos Limpas terminou com o empresário populista Silvio Berlusconi no governo. Mas por que isso aconteceu? Os partidos que se alternavam no poder havia décadas sucumbiram, mas nem todos os seus integrantes e satélites afundaram junto com eles. Muitos se reciclaram.

O eleitor italiano só queria saber do que parecia novo - mas não verificou se era novo de fato, nem se tinha consistência. Assim, quem sobreviveu tratou de se imunizar com leis que desconcentraram a corrupção e tornaram-na mais difícil de pegar. O maior risco da Lava Jato é limpar apenas metade do sistema. O que sobrar de sujeira tende a contaminar rapidamente o que foi limpo e deixá-lo ainda mais resistente à investigação.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política – Quinta-feira, 24 de março de 2016 – Pág. A6 – Internet: clique aqui.

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