Feliz a Igreja que não se preocupa com sua imagem
“Feliz a Igreja que não se abandona aos critérios da funcionalidade
e da eficiência organizativa, nem se preocupa com a sua imagem”;
diz Papa Francisco na Geórgia
Jesús Bastante
Religión
Digital
01-10-2016
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PAPA FRANCISCO Incensa o altar durante Celebração Eucarística no estádio M. Meskhi, em Tbilissi (Geórgia) Sábado, 1 de outubro de 2016 |
Um
canto à simplicidade de uma Igreja que se faz como uma criança e se aproxima
para consolar, proclamou Papa Francisco durante a missa no estádio M. Meskhi de Tbilissi.
No centro do campo, uma
porta aberta esperava pelo Papa. Uma porta única, pois se trata da única Porta Santa do mundo... sem igreja. É porque o
templo para o qual foi construída não existe. Trata-se da Igreja da Divina Misericórdia, que há três anos está sendo
construída na cidade de Rustavi.
Há
três anos, dom Pasotto comprou um
terreno dedicado ao culto das cem famílias que moram nesta cidade industrial,
mas o prefeito não assinou a autorização da construção. Embora a Justiça tenha se posicionado favoravelmente aos católicos, o
templo da misericórdia não pôde ser construído. Mas Francisco decidiu
passar pelo seu dintel, de modo simbólico, para demonstrar que a Igreja é mais
que um templo, que ali onde dois ou mais se reúnem em seu nome, ali Jesus se
faz presente, ali está a sua Igreja. Um gesto excepcional, mais um, de um homem
que, apesar da idade (ontem confessou, no avião, que não gosta tanto de sair de
Roma), continua mantendo grande energia.
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PAPA FRANCISCO atravessa a Porta Santa da igreja da Divina Misericórdia que era para estar construída na cidade de Rustavi Santa Missa - Sábado, 1 de outubro de 2016 |
A
mesma energia com que começou a sua homilia, reivindicando o papel das mulheres, das mães. “Aqui na Geórgia, há
muitas avós e mães que continuam a guardar e transmitir a fé e levam a água fresca
da consolação de Deus a muitas situações de deserto e conflito”.
Assim
como elas, “Deus gosta de tomar conta
dos nossos pecados e inquietações, ele sabe enxugar as nossas lágrimas.
Vendo-nos, sempre se comove e enternece com entranhado amor, porque, para além
do mal que possamos fazer, sempre somos os seus filhos”, indicou o Papa.
Porque
“a consolação, de que temos necessidade no meio dos eventos tumultuosos da
vida, é precisamente a presença de Deus no coração. Porque a sua presença em
nós é a fonte da verdadeira consolação, que perdura, liberta do mal, traz a paz
e faz crescer a alegria”. Portanto, “se
quisermos viver como consolados, é preciso dar lugar ao Senhor na vida”, e
para isso, devemos “abrir-lhe a porta e
não deixá-lo fora”. A porta, no centro do estádio, assistia, de pé, a essa
comparação.
“Há
portas da consolação que sempre devem
ser mantidas abertas, porque Jesus gosta de entrar por elas:
* o Evangelho lido cada dia e trazido sempre conosco,
* a oração silenciosa e de adoração,
* a Confissão e
* a Eucaristia”,
apontou
Francisco, que advertiu contra a tentação de “fechar a porta do coração” e
impedir que a luz entre.
“Então
habituamo-nos ao pessimismo, às coisas que estão erradas, às realidades que
nunca se modificarão. E acabamos por fechar-nos na tristeza, nos subterrâneos
da angústia, sozinhos dentro de nós”. Deus consola no coração, mas também,
assinalou Francisco, “na comunidade”. “Quando
estamos unidos, quando há comunhão entre nós, atua a consolação de Deus. Na
Igreja, encontra-se consolação; a Igreja é a casa da
consolação: aqui, Deus deseja consolar”.
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PAPA FRANCISCO saúda os fiéis presentes ao estádio de M. Meskhi, em Tbilissi (Geórgia) Santa Missa - Sábado, 1 de outubro de 2016 |
“Podemos
nos perguntar – disse o Papa: Eu, que
estou na Igreja, sou portador da consolação de Deus? Sei acolher o outro como
um hóspede e consolar a quem vejo cansado e decepcionado? Mesmo quando
sofre aflições e isolamento, o cristão é sempre chamado a infundir esperança em
quem se deu por vencido, reanimar quem está desanimado, levar a luz de Jesus, o
calor da sua presença, a renovação do seu perdão”.
Porque
“receber e levar a consolação de Deus: esta missão da Igreja é urgente”.
Independentemente de outras preocupações e sob o risco de “fossilizar-nos no que está errado ao nosso redor”. “Não é bom
habituar-se a um ‘microclima’ eclesial fechado; bom é compartilhar horizontes de esperança amplos e abertos, vivendo a
coragem humilde de abrir as portas e sairmos de nós mesmos”.
Para
isso, é fundamental “ser como uma criança”. Porque “para acolher o amor de Deus é necessária esta pequenez de coração: só
como pequenos é que podemos estar no colo da mãe”.
Porque
“a Deus não se conhece com altos pensamentos e muito estudo, mas com a pequenez
de um coração humilde e confiante. Para
ser grande diante do Altíssimo, não é preciso acumular honras e prestígio, bens
e sucessos terrenos, mas esvaziar-se de si mesmo. A criança é precisamente
alguém que nada tem para dar e tudo a receber”, apontou Bergoglio.
Uma
realidade, a da simplicidade, que o Evangelho mostra constantemente, com os
poucos pães e peixes que se transformam, com o grão de mostarda, com as duas
moedas da viúva pobre ou a humildade de Maria. “Eis a grandeza surpreendente de
Deus, de um Deus cheio de surpresas e
que gosta das surpresas: não percamos jamais o desejo e a confiança das
surpresas de Deus! E nos fará bem lembrar que somos sempre e antes de tudo
seus filhos”.
“Felizes as comunidades cristãs que
vivem esta genuína simplicidade evangélica. Pobres de meios, são ricas de Deus.
Felizes os pastores que não cavalgam
a lógica do sucesso mundano, mas seguem a lei do amor: o acolhimento, a escuta,
o serviço. Feliz a Igreja que não se
abandona aos critérios da funcionalidade e da eficiência organizativa, nem se
preocupa com a sua imagem”, culminou Francisco, que concluiu pedindo “a graça
de um coração simples, que crê e vive na força suave do amor; peçamos para
viver com confiança serena e total na misericórdia de Deus”.
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