«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

O que mais chama a atenção nas eleições de ontem?

Em São Paulo um terço do eleitorado
não votou

É o maior índice desde 1996, último dado disponível; no País,
a abstenção chegou a 17,6%

A capital paulista registrou nas eleições municipais deste ano número recorde de eleitores que não compareceram às urnas ou que votaram nulo ou branco. Um em cada três paulistanos (34,8%) não participou da escolha do novo prefeito, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral [TSE] – maior índice desde 1996, último dado disponível.

Somados, as abstenções (1,94 milhão de pessoas) e os votos brancos (367 mil) e nulos (788 mil) superam a votação do candidato eleito João Doria (PSDB), que obteve 3,08 milhões de votos. Ao todo, a capital paulista tem 8,88 milhões de eleitores aptos a votar.

Considerando apenas as pessoas que foram às urnas, mas não optaram por nenhum dos candidatos, o número supera os votos do prefeito Fernando Haddad (PT), que ficou em segundo lugar na disputa, com 967 mil votos, ou 16,7% dos votos válidos. Brancos e nulos, por sua vez, somaram 1,15 milhão. Com isso, na prática, apenas o candidato do PSDB, dentre os 11 que disputaram, conseguiu mais votos do que a soma dos votos dos eleitores que não optaram por ninguém. “Doria está com um terço (dos votos totais), não com 53%”, afirma o economista Alexandre Cabral, para quem o resultado nas urnas na capital paulista mostra que a população não quer nem PT e nem PSDB. A população está desgostosa da política.”

Como a apuração nas eleições para prefeito ainda não havia terminado nos 5.568 municípios brasileiros em que houve disputa ontem, não foi possível totalizar a quantidade de votos brancos e nulos para todo o País. A abstenção, no entanto, foi de 17,6%, ligeiramente acima dos 16,4% registrados em 2012. A maior taxa de não-comparecimento às urnas em relação ao tamanho do eleitorado nos últimos 20 anos foi registrada em 1996: 18,3%.
GILMAR MENDES
Ministro e Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - Brasília - DF

Mesmo assim, o presidente do TSE, Gilmar Mendes, destacou que o índice “é relativamente baixo, se tivermos em conta as eleições de 2014, que tivemos quase 20% de abstenção", disse.

De acordo com Mendes, a multa branda para quem não comparece às urnas faz com que a obrigatoriedade do voto no Brasil “não se traduza” em uma obrigação de fato, com pena econômica relevante. Ele falou sobre a necessidade de se fazer esforço para persuadir a população a participar do processo eleitoral.

ANÁLISE

Analisar a taxa de abstenção é tarefa complicada. Ao contrário do que possa parecer, ela não mede perfeitamente a apatia em relação às eleições municipais, pois engloba também erros no cadastro. Isso acontece porque a abstenção é calculada por meio da diferença entre o eleitorado total e a quantidade de pessoas que compareceram às urnas, mas o TSE não possui um cadastro sempre atualizado em relação ao número verdadeiro de eleitores.

Se alguém morreu ou mudou de cidade, por exemplo, ele ainda pode aparecer nos números de eleitorado – e sua ausência acabaria entrando na abstenção.

Colaboraram nesta matéria: Daniel Bramatti, Fabiana Cambricoli, Guilherme Duarte, Mateus Coutinho, Rodrigo Burgarelli e Beatriz Bulla.

Panelaço não era só da varanda gourmet

Alberto Bombig

O panelaço que naquela noite de domingo ecoou entre os vãos dos prédios da maior cidade do País era um recado claro de que uma parcela expressiva dos paulistanos havia perdido o encanto com o PT 

A eleição para prefeito de São Paulo pode ser compreendida como mais um capítulo decisivo da novela iniciada no dia 8 de março de 2015, quando a então presidente Dilma Rousseff fez um pronunciamento em rede nacional de TV por ocasião do Dia da Mulher. O panelaço que naquela noite de domingo ecoou entre os vãos dos prédios da maior cidade do País era um recado claro de que uma parcela expressiva dos paulistanos havia perdido o encanto com o PT.

Descontadas as questões estritamente administrativas da capital, é possível afirmar que, em larga medida, a vitória de João Doria (PSDB) já no primeiro turno deve-se a esse sentimento antipetista que predomina em São Paulo e que lotou a avenida Paulista nos protestos.

Por isso, Doria e seu padrinho político, o governador Geraldo Alckmin, têm muito a comemorar nos próximos dias, mas não podem se deixar enganar. O resultado da eleição também mostra que a prefeitura de São Paulo ainda é o maior moedor de reputações da política brasileira:
* Foi assim com Marta Suplicy, em 2004,
* com Gilberto Kassab, em 2012, e agora
* com Fernando Haddad.
Todos deixaram o cargo de prefeito da capital reprovados pelo eleitor, ainda que Kassab tenha sido reeleito em 2008.

Se quiser quebrar essa escrita, Doria terá de deixar a política um pouco de lado e consolidar a imagem que projetou na campanha, a de um empreendedor avesso às “politicagens” e ligado nos problemas da cidade.

Tristeza do PT, alegria do PSDB

Eliane Cantanhêde

Na reta final, o eleitorado se concentrou nesses dois polos e, no confronto
direto, o antipetismo foi mais forte que a ojeriza aos tucanos 
JOÃO DORIA (PSDB-SP)
Candidato à Prefeitura de São Paulo, comemora a sua vitória na sede do Diretório Estadual do PSDB em Moema.
São Paulo, 2 de outubro de 2016

Com o PT despencando e o PSDB tendo uma vitória inédita em São Paulo e aumentando seu número de prefeituras no País, a eleição municipal traz um dado político importante para 2018: os tucanos são os maiores beneficiários da desgraça petista. Desde 1992, nenhum candidato venceu na capital paulista sem passar pelo segundo turno, como João Doria agora. Foi uma derrota do PT e uma supervitória do governador Geraldo Alckmin.

Depois de tudo o que aconteceu no País, é incrível como a polarização PSDB-PT resiste, firme e forte, não apenas na capital, mas no Estado de São Paulo. Na reta final, o eleitorado se concentrou nesses dois polos e, no confronto direto, o antipetismo foi mais forte que a ojeriza aos tucanos. [Os quais, diga-se, não são santos nem muito melhores!]

Empurrar o prefeito Fernando Haddad ao menos ao segundo turno era quase uma questão de vida e morte para o PT, que foi o grande derrotado no País e no interior paulista. No ABC, sai PT, entra PSDB. Um arraso. Com Haddad vivo na disputa, os petistas teriam ânimo e discurso para enfrentar a realidade adversa e os dedos em riste. Com Haddad fora, nem isso sobrou.

De outro lado, Alckmin deu uma volta por cima espetacular, depois de duas derrotas quando ele próprio disputou a prefeitura da capital, em 2000 e 2008. Logo, os votos de ontem não foram só em Doria e Alckmin, mas também contra o PT e num candidato que se apresenta como “não-político”. Aliás, essa é uma dica para os candidatos em 2018.

Além de Alckmin, Aécio Neves também recupera o fôlego em Minas: depois de perder em casa para Dilma Rousseff e entregar o governo do Estado para o PT em 2014, Aécio leva o tucano João Leite ao segundo turno em Belo Horizonte, onde o PT comeu poeira.

Já o Rio é, sempre, um caso à parte. PT e PSDB não tiveram condições nem quadros para competir com alguma chance e o segundo turno é entre dois extremos: Marcelo Crivella, do PRB e da Igreja Universal, e Marcelo Freixo, do PSOL. A tendência clara: Crivella murcha, Freixo infla.

Em comum, São Paulo, Rio e Minas registraram uma abstenção altíssima, de mais de 20%, que se reproduziu em todas as regiões. PT e PSDB continuam digladiando entre si e há uma pulverização de partidos pelos municípios, mas uma coisa é certa: o eleitorado está cansado, desconfiado e desencantado. O PSDB sai bem, mas tem muito o que refletir.

Uma eleição sem derrotas e nem derrotados

Dora Kramer

À exceção do já previsto desastre petista, foi tudo meio morno. Portanto, de baixa intensidade também o impacto sobre os preparativos para 2018 

À exceção do já previsto desastre petista, não houve derrotas nem derrotados fragorosos na eleição deste domingo. Tampouco ocorreram vitórias ou se registraram vitoriosos absolutos na escolha de prefeitos e vereadores nas capitais do País. Foi tudo meio morno. Portanto, de baixa intensidade também o impacto sobre os preparativos para 2018.

É tradição se tomar o desempenho de cada partido no pleito municipal como uma espécie de ensaio para a disputa presidencial de dali a dois anos, embora tal versão quase nunca corresponda aos fatos. Desta vez podemos dispensar o “quase” e assumir na totalidade a negativa.

Não haverá correspondência alguma entre as duas eleições, notadamente devido à peculiaridade de ambas. A de agora, realizada com regras até então inéditas, em ambiente de crises, escândalos, prisões, delações, reações algo desesperadas e um altíssimo grau de rejeição aos políticos. O paradoxo é que o interesse pela política cresceu na proporção inversa.

O sumiço dos caciques partidários das campanhas deu-se justamente porque não há quem possa dizer que esteja bem na fotografia do momento. Fernando Henrique e Aécio Neves fizeram aparições fortuitas em prol do candidato do PSDB a prefeito de São Paulo, João Doria, e ainda assim só depois de ele dar sinais de saúde eleitoral.

O ex-presidente Lula bem que tentou. Apareceu aqui e ali, no Nordeste e em São Paulo, para ter o desgosto de ver candidatos nordestinos dispensando sua presença e Fernando Haddad desistindo de apresentá-lo no horário eleitoral depois de as pesquisas qualitativas o apontarem como fator de perda de votos.

O presidente Michel Temer não deu o ar da graça. Verdade que ele havia anunciado distância a fim de não provocar atritos entre partidos dos quais depende de votos no Congresso. Mas é fato também que não se viu ninguém no PMDB e área de influência a clamar por sua presença.

Por esses e outros motivos, não se pode enxergar em 2016 um ensaio para 2018, quando o esperado e o inesperado cuidarão de proporcionar cada qual a respectiva surpresa. Nada está garantido e a obra do futuro com desfecho em aberto.

Mesmo o desempenho surpreendente de João Doria em São Paulo não representa um passaporte para o governador Geraldo Alckmin na disputa presidencial. Entre outros motivos porque nossa história recente demonstra que criaturas nem sempre fazem bem aos criadores.

Fontes: O Estado de S. Paulo – Eleições 2016 – Segunda-feira, 3 de outubro de 2016 – Págs. A21, A4, A10 e A16 – Internet: clique aqui; aqui; aqui e aqui.

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