«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 29 de outubro de 2016

“Somos um povo partidarizado, mas não politizado”

Entrevista com José de Souza Martins
Sociólogo e professor emérito da Universidade de São Paulo

Thais Bilenky

Para o professor, o PT é um partido de direita e o crescimento do segmento
evangélico nas urnas “é preocupante”
JOSÉ DE SOUZA MARTINS

Apesar das críticas contundentes ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o sociólogo José de Souza Martins, 78 anos, contestou as acusações contra o petista e acredita que até agora não há prova de crime para que ele seja condenado.

"Querer botar na cadeia por botar na cadeia é uma besteira, porque desgasta o processo de que o Brasil precisa, que é uma depuração do que o empresariado faz", afirmou.

Folha - Qual é a sua interpretação do encolhimento do PT nas urnas?

José Martins: O encolhimento nas urnas foi o episódio final de um encolhimento que começou na campanha eleitoral do Lula em 2002, quando o partido faz acordos políticos para chegar ao poder que implicaram em renunciar a tudo que era o compromisso político e ético do partido com as chamadas bases populares. Com isso, foi descartando as lideranças mais representativas do ideário original.

Isso reduziu sua identificação com a esquerda?

José Martins: Três grandes facções dizem o que o PT é. Uma a sindical, representada pelo Lula. Apesar de se falar em novo sindicalismo, não mais tutelado pelo Estado, a estrutura do sindicato continuava sendo de direita, autoritária, corporativa, etc. Não dá para falar em esquerda aí. A segunda facção era a da Igreja Católica e a terceira, grupos de esquerda antistalinistas, mais intelectual. São de esquerda, mas residual, não orgânica ou doutrinária.

Para onde foi a esquerda doutrinária brasileira?

José Martins: Hoje é o PPS, que se transformou em partido social-democrata.

Mas o PPS é tido como partido de centro-direita por analistas de esquerda.

José Martins: Não é, isso é maldade dos petistas. O PT bota carimbo de direita em todo mundo. Eles nem sabem o que é direita. Na verdade, eles são a direita hoje, porque se tornaram o partido do poder, não o partido de uma causa, da superação dos problemas políticos e sociais do país.

Ser do poder qualifica um partido como de direita?

José Martins: Se é do poder pelo poder e não para fazer superação das contradições, ele tem funções de direita e eu acho que o PT caiu nessa. Desde pelo menos 2002.

Quem então representa a esquerda, a direita e o centro no Brasil?

José Martins: Somos um povo partidarizado, mas não politizado. Não temos partido de esquerda que doutrina o processo histórico. É muito o poder pelo poder. Você tem facções, o PSOL, que é residual de qualquer modo. Não vejo potencial. Em compensação, cresce o partido evangélico. O PRB fez muitas prefeituras e provavelmente vai fazer no Rio de Janeiro também. Isso é direita. Aqui o partido quer chegar ao poder e depois faz exatamente o que todos fizeram.

O PSDB também?

José Martins: PSDB também, não é diferente. Muda o estilo, não essencialmente. O PSDB é uma vítima do sistema como qualquer outro.

Vítima?

José Martins: Sim, porque você não pode governar se não transige com partidos de orientação oligárquica. PMDB e esses que representam as regiões politicamente atrasadas, partidos familistas, aquele monte de assessor, cargo de confiança etc.

O PT também é uma vítima desse sistema?

José Martins: É uma vítima que gostou de ser vítima. Esse é o erro do PT, achou que era um bom negócio fazer um tratado com essa gente em nome do poder.

E o PMDB?

José Martins: O PMDB é um partido oligárquico, representa o Brasil arcaico. Aproximou-se do governo Fernando Henrique, que era centro-esquerda, e se aproximou do PT, que era um pouco mais de esquerda, e agora está com Temer, que você não vai dizer que é de esquerda ou centro-esquerda.

O localismo é muito importante na política brasileira, desde o século 19, e não tem ideologia doutrinária. Ele é a sua própria ideologia no exercício do poder, de distribuir cargos para os amigos, uma coisa que o Lula tentou fazer e se enganou porque deixou de ouvir os discordantes.

Voltando ao PSDB, Alckmin e Doria também representam o centro-esquerda?

José Martins: De jeito nenhum. Eu não diria que Alckmin é direita, é centro. O centro é muito difuso, cabe tudo. É que nem biquíni, mostra o supérfluo e esconde o principal. O Doria eu acho que não vai para a esquerda de jeito nenhum.

Mas vai para a direita?

José Martins: Acho que não. A direita é a direita violenta, o regime militar, que justifica toda a violência possível contra as pessoas e as práticas iníquas que você pode imaginar. 
ALGUNS DOS POLÍTICOS DE MAIS DESTAQUE DO PRB - PARTIDO LIGADO À IGREJA UNIVERSAL:
Da esquerda para a direita temos:
Celso Russomanno (Dep. Fed. - SP), Lindomar Garçom (Dep. Fed. - RO), Sérgio Reis (Dep. Fed. - SP),
Marcelo Crivella (Senador - RJ) e Alan Rick Miranda (Dep. Fed. - AC)

Mas o PRB representa isso?

José Martins: É um partido de enquadramento moral de todo mundo. Se o PRB ganhar, você se cuide. Vai ter de se enquadrar.

O PT oferece o mesmo risco?

José Martins: É um partido de centro-direita, corporativo, de tradição conservadora, com uma visão da sociedade de enquadramento, tanto que se você não for petista você não conversa com petista.

Por isso o senhor critica o congresso da Anpocs?

José Martins: Sim, o PT esteve no poder 13 anos e a Anpocs [Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais] nunca fez um debate sobre os problemas do PT, que eram óbvios. O Fernando Henrique Cardoso, que é um grande sociólogo, reconhecido internacionalmente, um teórico, inclusive, nunca foi convidado. Tem um monte de exceções aqui dentro, mas tem esse viés corporativo de não querer abrir um flanco com o PT. Foi um erro não ter aberto debate crítico, da Anpocs e das universidades.
 
Luiz Inácio Lula da Silva
Como recebe as denúncias contra Lula?

José Martins: O Lula é o aluno que eu queria ter tido na universidade. Ele não toma nota, ouve – coisa que os alunos não fazem mais –, aprende, compreende e toma as decisões dele. Não segue assessor. Se provarem que ele recebeu pessoalmente dinheiro, não terá alternativa senão ir para a cadeia. Agora, precisa provar e não estou vendo nada por aí. E querer botar na cadeia por botar na cadeia é uma besteira, porque desgasta o processo de que o Brasil precisa, que é uma depuração do que o empresariado faz.

Quando Lula vai para a cadeia? Provavelmente não vai, porque sabia quais eram os limites do presidente da República. Os assessores que achavam que sabiam demais e estão aí agora.

Palocci, Mantega?

José Martins: Ah, sim, e Dirceu. Esse pessoal sempre achou que ia mandar no Lula. Se o Lula se implicou [nos casos de corrupção], é muito mais esperto do que os outros. No começo do ano, eu achava que ele tinha chance em 2018. Era o candidato mais provável.

Continua achando?

José Martins: Não acho tanto mais. Porque os grupos de apoio se afastaram e um decisivo é o da Igreja [Católica]. Ele deveria deixar de ser candidato e se colocar como espécie de mentor espiritual, como o FHC. Se fizer isso, o PT recupera o poder. Mas ele dá sinais de que não compreendeu isso.

Fonte: Folha de S. Paulo – Poder – Notícias – Quinta-feira, 27 de outubro de 2016 – 02h00 [Horário de Brasília – DF] – Internet: clique aqui.

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