«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Lições das eleições no Brasil

1ª Lição:
PT saudações

Vera Magalhães

Derrota do partido é tão avassaladora que não permite nenhuma
leitura atenuante

Se alguém ainda acreditava na possibilidade de Luiz Inácio Lula da Silva ser candidato novamente à Presidência da República em 2018, mesmo depois da Lava Jato e do impeachment de Dilma Rousseff, o eleitor brasileiro tratou de dizer de forma clara e cristalina: não vai acontecer.

A derrota do PT é tão avassaladora que não permite nenhuma leitura atenuante. Não se salvou nada nem ninguém no partido. Mesmo o rosário da renovação da sigla, que começou a ser desfiado por Tarso Genro e outros, não sobrevive a uma constatação dura: não há candidatos aptos à tarefa.

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, citado como opção na terra de cegos que virou o partido, não quer assumir a missão nem seria um nome com trânsito suficiente para desbancar os caciques de sempre e enterrar de vez o lulismo – do qual, diga-se, foi um dos últimos produtos exitosos.

Sim, porque a única remota chance de o PT se reerguer seria enterrar o lulismo, mas o partido há muito tempo fez a opção oposta, a de se enterrar se for preciso para defender Lula, em uma simbiose que as urnas acabam de rechaçar de maneira fragorosa.

Tanto que o partido não consegue pensar em uma alternativa para 2018 que não seja seu “comandante máximo”, para usar a designação que a Lava Jato deu ao ex-presidente. [Mas se não existem outros nomes de peso e popularidade no partido, quem ocuparia o lugar de Lula? O PT, ao meu ver, agarra-se tão intensamente a ele porque é consciente que sem ele o partido já teria implodido há muito tempo! Ruim com ele, pior sem ele, analisa o PT!]

A insistência na tese de que Lula é vítima de perseguição – com lances patéticos como queixa à ONU e manifestações internacionais bancadas por “sindicatos” que nada mais são que versões da CUT para gringo ver – mostra que o PT decidiu atrelar seu destino ao do ex-presidente.

Dilma já parece ter sido esquecida pelos petistas na mesma velocidade com que o foi pelos brasileiros. Tanto que, com exceção de Jandira Feghali, ninguém se lembrou dela nas eleições municipais.

A presidente cassada tem sido vista fazendo compras tranquilamente no Rio, em um sinal inequívoco de que o discurso de que houve um golpe era uma fantasia, a única saída para um partido que perdeu o poder porque já não tinha condições de governar nem apoio popular, como o resultado das eleições tratou de deixar evidente.

É essa reflexão que o PT terá de fazer se quiser se refundar. Isso pressupõe:
* admitir que patrocinou um esquema de corrupção cuja dimensão ainda está por ser inteiramente conhecida.
* Admitir que levou a economia do País à maior recessão da história.
* Que perdeu a governabilidade antes de Dilma perder a cadeira.
* E que Lula não é uma vítima de uma perseguição implacável que envolve Judiciário, imprensa, Ministério Público e sabe-se lá mais quem.

Quais as chances de o partido fazer isso seriamente? Remotas, para não dizer inexistentes.

Do outro lado do pêndulo político, o PSDB sai do pleito municipal como o grande vencedor mais por memória do eleitorado de décadas de polarização com o PT do que por força própria. Mas o fim dessa alternância, pelo simples fato de que um dos polos se esfacelou, também obrigará os tucanos a reverem sua estratégia para voltar a ter chance de governar o País.

Isso significa trocar as disputas de bastidores entre caciques para ver quem será o candidato da vez, uma constante desde a sucessão de Fernando Henrique Cardoso, por alguma nitidez programática capaz de mostrar ao eleitorado que o partido tem um projeto para tirar o País do buraco.

A pulverização de votos por uma miríade de siglas mostra que o eleitor, embora ainda enxergue no PSDB e PMDB as alternativas mais seguras à ruína petista, começa a procurar opções.

A negação da política é uma das marcas indeléveis de 2016. O único político de expressão nacional que saiu vitorioso, Geraldo Alckmin, acertou ao perceber o Zeitgeist [o espírito da época – os sinais dos tempos] e apostar em um candidato em São Paulo com o discurso da não política. Em escala nacional, no entanto, o País já viu o estrago que a eleição de um outsider pode provocar. Com Fernando Collor, antes. E com Dilma depois.

2ª lição:
É hora de discutir o voto obrigatório

Taxa de brancos e nulos é recorde para o segundo turno

Daniel Bramatti, Rodrigo Burgarelli,
Guilherme Duarte e Fabiana Cambricoli

No total, 14,3% dos eleitores que foram às urnas neste domingo, 30 de outubro, deixaram de escolher candidato, o maior número desde 2004

As eleições de 2016 registraram a maior taxa de votos brancos e nulos no segundo turno das disputas municipais desde 2004, primeiro ano para o qual o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulga estatísticas digitalizadas. No total, 14,3% dos eleitores que foram às urnas neste domingo, 30, nas 57 cidades onde houve nova consulta não escolheram nenhum dos dois candidatos à cadeira de prefeito.

Essa taxa de anulação está bem acima da média histórica:
* Em 2012, por exemplo, 9,2% dos eleitores decidiram anular ou votar em branco nas 50 cidades em que houve segundo turno.
* Em 2008, quando só 30 municípios foram para uma segunda disputa, esse porcentual foi de 7,5%.
* E, em 2004, apenas 5,4% dos eleitores votaram branco ou nulo nessa etapa.

A abstenção também foi recorde na série histórica dos segundos turnos municipais – 21,5% do eleitorado registrado no TSE não apareceu neste domingo para votar, mais do que em qualquer outro ano desde 2004. O recorde anterior havia sido justamente em 2012, quando 19,1% dos eleitores no cadastro não apareceram para votar no segundo turno.

Analisar esse dado, porém, pode ser enganador, já que nem sempre o cadastro do TSE está atualizado. Eleitores que morrem ou mudam-se para outras cidades sem recadastrar o título, por exemplo, podem aumentar artificialmente a taxa de abstenção em cidades onde o registro eleitoral está defasado.

Isso atrapalha especialmente a comparação com anos anteriores, pois quanto mais tempo sem atualizar a base, mais desatualizado fica o cadastro e maior a chance de “eleitores fantasmas” puxar para cima essa estatística.

Escolha

Mesmo levando em consideração essa ressalva, o porcentual de eleitores cadastrados que deixou de escolher candidato neste segundo turno é impressionante. Foram 32,8%, ou praticamente um em cada três. Esse número era 11 pontos porcentuais menor em 2004 e vem aumentando pouco a pouco a cada ciclo eleitoral.

A taxa de eleitores que “lavaram as mãos” foi especialmente alta no Rio de Janeiro. No total, um entre cada quatro cariocas que foram às urnas decidiu votar nulo ou branco. Somado à abstenção, esse contingente chega a 41,5% do eleitorado. É menor apenas do registrado em Mauá e São Bernardo do Campo, ambas no ABC Paulista: 42,3% e 41,7%, respectivamente.

Do outro lado do ranking, estão São Luís (MA) e Maringá (PR), os únicos que registraram uma taxa de votos brancos e nulos menor que 5%. Já a menor abstenção foi registrada em Olinda (PE), uma das cidades onde houve recadastramento eleitoral com registro de biometria no começo de 2016. Lá, só 8% dos eleitores não compareceram às suas seções.

Maioria dos eleitores é contra o voto obrigatório,
diz Ibope

José Roberto de Toledo

Do mesmo modo como cresceram os votos brancos e nulos, voltou a aumentar a proporção dos eleitores brasileiros contrários à obrigatoriedade do voto. Segundo pesquisa nacional do Ibope, divulgada aqui com exclusividade, desde 2010 cresceu de 51% para 54% a taxa daqueles que são contra o voto obrigatório. É a mesma proporção que havia sido encontrada pelo Ibope dez anos atrás.

Diante do crescimento em 2016 dos votos brancos e nulos e do aumento da abstenção (embora em grande parte provocado pela desatualização do cadastro eleitoral, que inclui muitos mortos), há o temor de que o fim da obrigatoriedade de votar viesse a diminuir a representatividade da democracia brasileira. No limite, arriscaria a sua legitimidade, por causa da chance teórica de os governantes serem eleitos pela minoria da minoria.

Porém, a pesquisa Ibope revela também que nada menos do que 62% dos eleitores brasileiros dizem que iriam votar mesmo que que não fossem obrigados. Mais importante: essa taxa cresceu 13 pontos em comparação a 2014. É o segundo maior valor da série histórica do Ibope, menor apenas do que o de outubro de 2010, quando a situação econômica do Brasil e a popularidade dos governantes estava muito acima da sua média habitual.

Nem mesmo a insatisfação da população brasileira com a classe política fez diminuir o desejo voluntário de votar. Ou seja, a maioria absoluta dos brasileiros é contra o voto obrigatório mas se diz disposta a participar da eleição por vontade própria.

Os 62% encontrados pelo Ibope estão acima da taxa de comparecimento em todas as eleições presidenciais nos Estados Unidos desde 1960. Na reeleição de Barack Obama, por exemplo, só 55% dos norte-americanos em idade de votar votaram. A taxa projetada pelos brasileiros é próxima ao comparecimento às urnas nas últimas eleições na Espanha, Alemanha e Reino Unido. [Este é um dado importante, digno de ser comemorado! Afinal, os brasileiros não são tão despolitizados quanto se poderia imaginar!]

Além da representatividade e da legitimidade, há outra questão relevante: a abstenção e o voto de protesto não são equânimes. Em São Paulo, no primeiro turno, a periferia pobre que costumava votar em candidatos petistas se absteve ou invalidou seu voto com mais intensidade que o centro antipetista.

Se o voto fosse tornado facultativo no Brasil, qual o impacto que isso teria sobre o resultado da eleição? Quem seria mais beneficiado ou prejudicado? A resposta a essa pergunta é – claro – especulativa. Mas, baseando-a no perfil de quem diz que compareceria à urna mesmo sem ser obrigado, pode-se esperar que candidatos e partidos com eleitorado mais escolarizado, menos pobre e concentrado nas pequenas cidades se sairiam melhor.

Nos municípios com até 50 mil habitantes, 69% dizem que votariam mesmo se o voto fosse facultativo – contra 58% nas cidades com 500 mil habitantes ou mais. A taxa cai para 52% entre os moradores dos municípios periféricos das metrópoles. Dos que cursaram até a 4ª série, 59% dizem que votariam mesmo se não fossem obrigados, contra 73% que quem fez faculdade. A diferença entre mais ricos e mais pobres é de 11 pontos: 71% a 60%. [Como a escolarização é fundamental para o bom funcionamento da democracia!]

Levando-se em conta o partido de preferência do eleitor, o PT teria hoje mais a perder com o fim do voto obrigatório do que PMDB e PSDB: 62% dos petistas dizem que votariam mesmo se não fossem obrigados, contra 72% dos peemedebistas e 79% dos tucanos. Mas esses simpatizantes são só um terço do eleitorado. Quem menos diz que apareceria para votar voluntariamente são os eleitores sem preferência partidária. Mesmo assim, 54% votariam.

O voto facultativo não seria neutro no Brasil como não é nos Estados Unidos. Lá, os democratas costumam precisar se empenhar mais que os rivais para seus eleitores irem votar. Mas nem isso é imutável. Em 2012, o baixo comparecimento dos republicanos ajudou Obama. Convencer o eleitor a votar é parte do processo. O melhor argumento do governante é não decepcionar quem votou nele.

Fontes: O Estado de S. Paulo – Política / Eleições 2016 – Segunda-feira, 31 de outubro de 2016 – Pág. A6 – Internet: clique aqui; Pág. A11 – Internet: clique aqui; Pág. A11 – Internet: clique aqui.

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