«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

domingo, 21 de setembro de 2014

25º Domingo do Tempo Comum - Ano A - HOMILIA

Evangelho: Mateus 20,1-16

Naquele tempo:

Jesus contou esta parábola a seus discípulos:
1 “O Reino dos Céus é como a história do patrão que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha.
2
Combinou com os trabalhadores uma moeda de prata por dia, e os mandou para a vinha.
3
Às nove horas da manhã, o patrão saiu de novo, viu outros que estavam na praça, desocupados,
4
e lhes disse: 'Ide também vós para a minha vinha! E eu vos pagarei o que for justo'.
5
E eles foram. O patrão saiu de novo ao meio-dia e às três horas da tarde, e fez a mesma coisa.
6
Saindo outra vez pelas cinco horas da tarde, encontrou outros que estavam na praça, e lhes disse: `Por que estais aí o dia inteiro desocupados?'
7
Eles responderam: `Porque ninguém nos contratou'. O patrão lhes disse: `Ide vós também para a minha vinha'.
8
Quando chegou a tarde, o patrão disse ao administrador: `Chama os trabalhadores e paga-lhes uma diária a todos, começando pelos últimos até os primeiros!'
9
Vieram os que tinham sido contratados às cinco da tarde e cada um recebeu uma moeda de prata.
10
Em seguida vieram os que foram contratados primeiro, e pensavam que iam receber mais. Porém, cada um deles também recebeu uma moeda de prata.
11
Ao receberem o pagamento, começaram a resmungar contra o patrão:
12
`Estes últimos trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o cansaço e o calor o dia inteiro'.
13
Então o patrão disse a um deles: `Amigo, eu não fui injusto contigo. Não combinamos uma moeda de prata?
14
Toma o que é teu e volta para casa! Eu quero dar a este que foi contratado por último o mesmo que dei a ti.
15
Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que me pertence? Ou estás com inveja, porque estou sendo bom?'
16 Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos.”


JOSÉ ANTONIO PAGOLA
"Os Trabalhadores da Vinha" - óleo em painel pintado por Rembrandt em 1637
Museu Hermitage de São Petersburgo (Rússia) 

NÃO DESVIRTUAR A BONDADE DE DEUS

Ao longo de sua trajetória profética, Jesus insistia repetidas vezes em comunicar sua experiência de Deus como um mistério de bondade insondável, que rompe todos os nossos cálculos. Sua mensagem é tão revolucionária que, depois de vinte séculos, há ainda cristãos que não se atrevem a leva-lo a sério.

Para difundir a todos sua experiência desse Deus Bom, Jesus compara sua atuação à conduta surpreendente do proprietário de uma vinha. Até cinco vezes, ele sai, pessoalmente, para contratar diaristas para sua vinha. Não parece preocupar-lhe muito seu rendimento no trabalho. Aquilo que deseja é que nenhum diarista fique um dia a mais sem trabalho. Por isso, mesmo, ao final do dia, não lhes paga ajustando-se ao trabalho realizado por cada grupo. Ainda que o trabalho tenha sido muito desigual, a todos lhes dá um denário [uma moeda de prata]: simplesmente, aquilo que cada família camponesa necessitava, por dia, para poder viver.

Quando o porta-voz do primeiro grupo protesta porque tratou os últimos igual a eles, que trabalharam mais que todos, o senhor da vinha lhe responde com estas palavras admiráveis: Você vai ficar com inveja porque sou bom? Irás impedir-me, com seus cálculos mesquinhos, de ser generoso com aqueles que necessitam de pão para comer?

O que está sugerindo Jesus? Será que Deus não age com os critérios de justiça e igualdade que nós lidamos? Será verdade que Deus, mais que medir os méritos das pessoas como nós o fazemos, busca sempre responder, a partir de sua Bondade insondável, à nossa necessidade radical de salvação?

Confesso que sinto uma pena imensa quando me encontro com pessoas boas que imaginam Deus dedicado a anotar, cuidadosamente, os pecados e méritos dos humanos, para retribuir, um dia, exatamente a cada um segundo o seu mérito. É possível imaginar um ser mais desumano que alguém entregue a isto desde toda a eternidade?

Crer em um Deus, Amigo incondicional, poder ser a experiência mais libertadora que se possa imaginar, a força mais vigorosa para viver e para morrer. Pelo contrário, viver diante de um Deus justiceiro e ameaçador, pode converter-se na neurose mais perigosa e destruidora da pessoa.

Temos de aprender a não confundir Deus com nossos esquemas estreitos e mesquinhos. Não devemos desvirtuar sua Bondade insondável, mesclando as características autênticas que provêm de Jesus com traços de um Deus justiceiro tomados do Antigo Testamento. Perante o Deus Bom revelado em Jesus, a única coisa que cabe é a confiança.

O ensinamento de Jesus na parábola

a) Jesus proclama, antes de tudo, através desta parábola, a bondade de Deus. Deus é Alguém que não exclui de sua bondade a ninguém nem sequer os que são tidos por últimos, os desprezados, os pecadores, publicanos. Deus oferece, também, sua salvação àqueles que fizeram muito pouco ou nada; inclusive a estes últimos quer dar-lhes o que merecem. Assim é Deus com todas as pessoas.

b) Esta bondade de Deus ultrapassa nossa ideia de justiça. Deus não descuida de ninguém, não deixa de premiar ninguém, não fica em dívida com ninguém, a ninguém fará injustiça. Por isso, ninguém poderá apresentar-se com reclamações justificadas diante de Deus. A bondade de Deus não poderá ficar fechada dentro das ideias de justiça que nós lidamos.

c) Esta ideia que Jesus anuncia significa que Deus não recompensa, simplesmente, as pessoas de acordo com o que fazem – não fica amarrado ao que os homens fazem – como se fosse um distribuidor automático que dá a cada um o que merece. Isso é falso: Deus não dá a cada um o que merece – certamente, não lhe dará menos – porém lhe dará mais, pode lhe dar mais. A atuação de Deus para com os homens é fruto de sua bondade, a qual não se encaixa em nossas categorias e em nossos critérios de justiça humana.

d) A bondade de Deus é o que explica e justifica a atitude de Jesus. Ele se aproxima, também, dos últimos, dos pecadores... porque, simplesmente, Ele é a encarnação desse Deus de Bondade. Por isso, Jesus é sempre um Evangelho, uma Boa Notícia para os últimos, para os que têm muito pouco a apresentar, para os pecadores.

e) A atitude bondosa e generosa de Deus e de Jesus, somente, resulta escandalosa para aqueles que, ainda, não entendem Deus nem compreenderam quem é Ele. Porém, todo aquele que estranhe, se escandalize de que Deus seja assim, tem de pensar, antes de tudo, se em seu coração não haverá inveja e falta de amor. Porque não se pode murmurar contra a bondade de Deus. Diante da bondade de Deus, ninguém pode dizer nada.

A pregação da parábola HOJE

a) Esta parábola está nos dizendo que temos de apresentar Deus como um Deus cuja característica principal é: uma atitude de bondade, generosidade para com os últimos. Deus é, inexplicavelmente, bom. Isto é o que deve dizer um cristão.  [...] Ele rebaixa todos os nossos cálculos.

b) É, também, uma crítica de um Deus manipulado pelo homem. Deus não é alguém acorrentado e que tenha de estar atento a cada um de nós a fim de saber o que nos deve dar. Deus é muito maior que tudo isso. Deus não dará a ninguém menos do que lhe corresponde. Dará isso e, também, o não merecido.

c) É, também, uma crítica de qualquer postura religiosa na qual o ser humano se sinta com algum direito de reclamação perante Deus. Esta parábola recorda outra muito importante: Lucas 17,1-10. Diante de Deus ninguém pode apresentar-se com reclamações: “Quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: somos servos inúteis; fizemos somente o que devíamos fazer”. É, também, uma crítica da religião concebida como uma aquisição de direito perante Deus. Todo aquele que acredita que por ir à missa... tem direitos diante de Deus, se equivoca. Porém, há de se saber as duas coisas: considerar-se “servos inúteis” e esperar mais do que o merecido.

d) É, do mesmo modo, uma crítica terrível contra aqueles que, baseando-se na autenticidade de sua vida, se creem com direito de possuir Deus de maneira especial. Creem-se os primeiros. Qualquer postura de tipo sectária, crer-nos um grupo seleto, que monopolizamos Deus, que somos do Vaticano ou de Trento... que merecemos uma bênção especial de Deus, nos equivocamos totalmente.  Ninguém pode colocar-se diante de Deus crendo que tenha direito especial de gozar de sua bênção, de sua ajuda e de sua recompensa divina com antecedência e preferência em relação a outros.

e) É uma crítica para os que se escandalizam e estranham que Deus, Cristo ou sua Igreja adotem uma postura de bondade ou de preocupação pelos últimos... de qualquer tipo que sejam. O escandalizar-se de que a Igreja se preocupe deles é um sinal bem claro de que não conhecemos a bondade de Deus. Também os que pertencem à Igreja podem cair nesse escândalo. O Evangelho é uma Boa Notícia para os últimos e para aqueles que compreendem que Deus é para esses últimos.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM – Homilías de José A. Pagola – Terça-feira, 16 de setembro de 2014 – 12h06 – Internet: clique aqui.

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