«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O QUE SE PASSA COM A CANDIDATURA DE MARINA?

Marina e as mudanças

EDITORIAL

É razoável supor que a significativa reviravolta na campanha eleitoral provocada pela trágica e imprevisível morte de Eduardo Campos e sua substituição por Marina Silva seja o resultado da maior identificação da nova candidata do PSB à Presidência com o desejo de mudança claramente captado por todas as pesquisas de opinião realizadas a partir das manifestações populares de junho de 2013.
Marina Silva - candidata a Presidente da República pelo PSB

Não se trata aqui, contudo, de investigar as razões pelas quais Marina Silva foi capaz de, desde logo, multiplicar por três as intenções de voto que indicavam a candidatura de Campos fora do segundo turno, colocando-se agora, ela própria, na condição de favorita numa votação final, seja qual for seu oponente. O que importa é procurar entender até que ponto esse fenômeno eleitoral, se vier a se confirmar, será realmente capaz de mudar o futuro do País.

Marina Silva se apresenta como alternativa à polarização PT-PSDB que há duas décadas domina o cenário político nacional e tenta se credenciar para esse desafio com uma proposta de mudança que se consubstanciaria numa "nova política" capaz de elevar o padrão ético e de eficácia na gestão da coisa pública. Não é pouca coisa e é impossível de imaginar que algum cidadão bem-intencionado possa se opor a tão elevado propósito, mesmo que ainda não se conheça sua tradução num programa de governo claramente definido. Resta saber de que condições objetivas a candidata do PSB disporá para enfrentar o nada fácil desafio de transpor para o plano da realidade aquilo que fica tão bem no das intenções.

A implantação bem-sucedida de qualquer programa de governo e sua instrumentalização no aparato governamental - especialmente de um plano que se propõe a desenraizar práticas nefastas consagradas através dos tempos - exigem dois pré-requisitos essenciais:
apoio político em seu sentido mais amplo e
a existência de quadros técnicos competentes e comprometidos com a excelência da gestão pública.

Um chefe de governo recém-eleito conta, por definição, com o apoio político da maioria da sociedade. Mas, na democracia representativa, para a efetivação de mudanças é indispensável também o apoio político dos representantes do povo e dos Estados que compõem o Poder Legislativo. Não é por outra razão que, quando não tem disposição, competência e coragem para contrariar interesses estabelecidos, o "presidencialismo de coalizão" [1], que é o que temos, torna o Poder Executivo refém do fisiologismo [2].

O apoio proativo de uma sociedade dotada de informação e discernimento é geralmente suficiente para induzir à correção dos desvios de rota do poder público. As manifestações de junho do ano passado demonstram o potencial dessa prática. Mas a "voz das ruas" nem sempre está disponível, até porque o cidadão, por mais politizado que seja, tem de atender a outras prioridades em seu cotidiano. Somente uma conjugação especial e imponderável de circunstâncias ou de situações-limite de instabilidade social são capazes de "colocar o povo nas ruas" para fazer mudanças. E isso raramente ocorre sem danos irreparáveis à democracia.

Por outro lado, um programa ambicioso de mudanças como o que Marina Silva anuncia depende fortemente da existência de quadros técnicos suficientes e competentes para implementá-lo. Não é, certamente, no âmbito apenas dos partidos que a apoiam que ela encontrará todo o elenco de profissionais à altura do desafio de fazer o governo funcionar. Menos mal que, sabedora dessa carência e aparentemente disposta a substituir o atual compadrio desmedido pela meritocracia, Marina tem acenado com a intenção de recrutar profissionais competentes onde quer que estejam, independentemente de filiação partidária.

Cravar com sucesso no Planalto a bandeira de uma genuína "nova política" é desafio que, além dos pré-requisitos do apoio político e técnico, exige também extraordinária capacidade de articulação e conciliação, de estabelecer o exato ponto de equilíbrio na delicada tarefa de adequar meios a fins - de governar, enfim. A dificuldade para o exercício da conciliação talvez seja a maior vulnerabilidade de Marina Silva. A primeira mudança essencial de que necessita o País, afinal, é o fim da divisão do Brasil entre "nós e eles".

N O T A S :
[1] Desde sua formulação pelo cientista político Sérgio Abranches em 1988, a expressão “presidencialismo de coalizão” tornou-se um verdadeiro mantra para definir a estrutura e o mecanismo de funcionamento do regime político-institucional brasileiro. [...] Em sistemas multipartidários, nos quais há mais do que dois partidos relevantes disputando eleições e ocupando cadeiras no Congresso, dificilmente o partido do presidente possuirá ampla maioria no Parlamento para aprovar seus projetos e implementar suas políticas. Na maioria das vezes a coalizão é feita para sustentar um governo, dando-lhe suporte político no Legislativo (em primeiro lugar) e influenciando na formulação das políticas (secundariamente). Assim, alguns partidos, ou muitos, dependendo da conjuntura política, se juntam para formar um consórcio de apoio ao chefe de governo (Fonte: clique aqui).
[2] Fisiologismo é a “conduta ou prática de certos representantes e servidores públicos que visa à satisfação de interesses ou vantagens pessoais ou partidários, em detrimento do bem comum” (Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa 3.0).

Fonte: O Estado de S. Paulo – Notas e Informações – Domingo, 31 de agosto de 2014 – Pg. A3 – Internet: clique aqui.

Fé, voto e grana

José Roberto de Toledo
Deputado Federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) - da igreja "Sara Nossa Terra"
Líder do PMDB na Câmara dos Deputados

Osmarinês é um erro de concordância que transcende a gramática. Consiste em dizer platitudes [o que é banal, trivial] com convicção, vender generalidades com ar de novidade e evitar especificidades para não assumir compromissos. Não é porque o diabo mora nos detalhes que o divino há de ser genérico. Muito ao contrário.

Tome-se o texto "Para assegurar direitos e combater a discriminação" - expurgado menos de 24 horas depois de publicado no programa de governo de Marina Silva (PSB). Escrito em português, era cristalino nas suas propostas: legalização do casamento de homossexuais, execução de aborto pelo SUS nos casos previstos em lei, equiparação da homofobia ao racismo, material didático para educação anti-homofóbica.

Confrontada com as ideias que havia acabado de lançar por escrito, a candidata saiu-se com um genérico e insignificante "o Estado é laico". Marina fez que não entendeu, mas os pastores e, principalmente, os líderes da bancada evangélica entenderam muito bem - e deixaram isso óbvio pelo Twitter.

Líder do PMDB na Câmara e membro da evangélica Sara Nossa Terra, Eduardo Cunha disparou: "Marina, que levou em 2010 boa parte dos votos dos evangélicos, assumiu em seu programa de governo posições contrárias à família". E desafiou: "Quero ver qual liderança evangélica ou católica terá coragem de defender candidatura com esse programa".

Cunha bateu no ponto fraco: na simulação do Ibope de segundo turno entre Marina e Dilma Rousseff (PT), a candidata do PSB só ganha da petista porque tem duas vezes mais eleitores evangélicos do que a rival. Elas empatam entre os católicos.

"É uma vergonha o programa de governo do PSB de Marina no que tange à causa gay - prevê casamento, adoção de crianças", tuitou Silas Malafaia, da Assembleia de Deus. Na véspera, ele explicara por que endossa a candidatura do Pastor Everaldo (PSC): quer aumentar seu cacife agora para exigir compromissos por escrito de quem vier a apoiar no segundo turno.

Nem precisou esperar tanto para colher os frutos da ameaça. A "errata" do programa do PSB veio logo em seguida, com a devida tradução para o osmarinês do texto sobre direitos e combate à discriminação. Ficou ambíguo e genérico o suficiente para agradar Malafaia. "Melhoraram muito", comemorou.

A nova versão do programa de Marina nada mais é do que a prática do governo Dilma. Por pressão dos evangélicos, a presidente voltou atrás no decreto que permitia às mulheres pobres usar o SUS para abortos permitidos por lei. Também é bom lembrar que, em 2010, Malafaia apoiou o PSDB. Nada de original, portanto, na atitude de Marina. Ceder no conteúdo para ganhar votos é a essência da política de compromisso. A candidata chama isso de "nova política", e seus eleitores podem até acreditar. O marketing e a fé são livres. Só não se deve esperar milagres pela adoção de uma novilíngua.

Siga o dinheiro

As primeiras prestações de contas das campanhas deixaram claras as apostas dos financiadores. O PMDB ficou com quase 1 de cada 4 reais doados principalmente por empresas a candidatos, comitês e partidos, segundo estudo conjunto da Transparência Brasil e do “Estadão Dados”. A causa é a consequência: não importa quem vença, o PMDB estará no poder.

As doações foram centralizadas no comando do partido, que fez a redistribuição para os candidatos. É uma conexão orgânica, institucional - do poder financeiro com o poder de fato. Isso é mais forte e impactante do que qualquer slogan eleitoral. Bancar o PMDB é uma maneira de assegurar que nada mude.

Caixa curto

O PT arrecadou um terço do que conseguiu o PMDB. Se não reverter logo a falta de dinheiro, o partido corre o risco de uma derrota eleitoral histórica.

Pós-errata

Da próxima vez que Marina disser a um jornalista mais impertinente que ele ou ela não leu seu programa de governo, arrisca-se a ouvir: "Nem a senhora".

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política – Segunda-feira, 1 de setembro de 2014 – Pg. A6 – Internet: clique aqui.

PMDB: no governo, a qualquer preço

Caio Junqueira e Ricardo Brito

As chances efetivas de vitória de Marina Silva na eleição presidencial já levam a ala do PMDB que apoia a candidatura do senador Aécio Neves (PSDB) a dar como certa a adesão da legenda a um eventual governo seu. A avaliação desse grupo é a de que as chances de recuperação do tucano são difíceis e a perspectiva de poder hoje está com Marina.
Deputado Federal Danilo Forte - PMDB (Ceará)

Isso faz com que a histórica divisão do PMDB ganhe novos contornos. Se antes da campanha o debate era levar ou não o partido a apoiar a reeleição de Dilma Rousseff, agora ele começa a se dar entre compor ou não com Marina e o momento em que essa sinalização deve ser feita.
[...]
Os aecistas do PMDB, em processo de transfiguração para neo-marineiros, querem começar a emitir os sinais da adesão ao fechar das urnas do primeiro turno. Estão espalhados por Estados como Bahia, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, prontos para deflagrar esse processo. "Marina já sinalizou que abrirá o diálogo com os políticos. Temos plenas condições de dar sustentabilidade e governabilidade a ela", disse o vice-líder da bancada da Câmara, Danilo Forte (CE).

Até mesmo peemedebistas egressos de Estados que apoiam Dilma avaliam que o PMDB estará com Marina se ela vencer. "O PMDB é um partido pragmático. Não teria problemas em se reposicionar e integrar a base de Marina", disse Saraiva Felipe (MG), ex-ministro da Saúde do governo Lula.
[...]

PARA LEMBRAR

Desde que, há três décadas, o PMDB subiu a rampa do Planalto, com José Sarney – guindado ao cargo, como vice, após a doença e morte do presidente eleito Tancredo Neves –, a presença da sigla na cúpula federal  foi uma constante.

Em 29 anos, foi interrompida apenas no breve governo de Fernando Collor, entre 1990 e setembro de 1992, e em períodos do governo Fernando Henrique (1994-2002). Na gestão de Sarney, o partido comandou os ministérios e cargos mais valorizados.  Com FHC [Fernando Henrique Cardoso], cujo sócio majoritário na divisão do bolo era o PFL, ele se dividiu. A oposição feita por líderes como Orestes Quércia e Pedro Simon não impediu outros caciques, como Sarney, Renan Calheiros e Jáder Barbalho, de negociar apoio por ministérios.

Nos 12 anos de petismo (2003-2014), dois mandatos de Lula e um de Dilma, o espaço continuou generoso. Sarney e Renan mantiveram relação direta com a Presidência e, na gestão Dilma, o partido faturou a Vice-Presidência, com Michel Temer, além de cinco ministérios e controle de várias das maiores estatais.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política – Segunda-feira, 1 de setembro de 2014 – Pg. A5 – Internet: clique aqui.

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