«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

O QUE A POPULAÇÃO, DE FATO, ESTÁ QUERENDO?

Cobrança acima das classes
 
ROLDÃO ARRUDA
 
Ricos ou pobres tem o mesmo discurso para saúde, transporte ou segurança
Estação de metrô, em São Paulo, na hora de pico

Existe uma diferença enorme entre as expectativas políticas e administrativas de um eleitor de baixa renda e outro mais rico em relação ao próximo governo. Quando se pergunta a um e outro, por exemplo, se os gastos sociais devem ser ampliados, o número de respostas positivas entre os pobres é quase cinco vezes maior do que o registrado entre os entrevistados de renda mais alta, segundo a mais recente pesquisa Ibope/CNI. Essa disparidade se estende a várias outros temas, como geração de emprego, salário mínimo, habitação popular. Em algumas áreas, porém, há uma expressiva convergência de interesses. A mais nítida é a da saúde. Das regiões mais pobres do País às mais ricas, as pesquisas apontam uma crescente preocupação da população com o tema.
 
Outro assunto que causa preocupação em todos os níveis, embora com índices menos significativos, é o da segurança pública. Em São Paulo, os eleitores dão hoje mais atenção à questão da segurança do que à educação, segundo outra pesquisa do Ibope, contratada pela Rede Nossa São Paulo.

No conjunto das expectativas e preocupações dos cidadãos, o trânsito e o transporte coletivo não aparecem com tanto destaque e de forma tão nivelada nas diferentes camadas de renda. Quando se aborda o tema de maneira mais específica, porém, com perguntas aos pesquisados sobre formas de solucionar os problemas, observa-se novamente a convergência de opiniões.

A mesma pesquisa Ibope/Rede Nossa São Paulo mostrou, por exemplo, que 70% dos paulistanos consideram o trânsito ruim. E quando se pergunta a eles o que pode ser feito para melhorar a circulação, 64% pedem mais investimento em transporte público - e 90% apoiam a criação de faixas exclusivas para ônibus.

Marcos Bicalho - ANTP
Mudança de percepção
 
Na avaliação de Marcos Bicalho, consultor em planejamento de transporte e assessor da Associação Nacional de Transportes Públicos, a preocupação das pessoas em relação ao transporte está relacionada a dois fatores:

  • De um lado existe uma enorme insatisfação com o sistema em vigor.
  • De outro, já se começa a perceber que as soluções encontradas até agora não funcionam mais. É um momento de mudança e de insegurança.
“O sofrimento causado pelo trânsito e pelo transporte público, com perdas de horas e horas, desconforto e custo elevado, mesmo com ubsídios para as tarifas, afeta todos os moradores há muito tempo”, observa. “A diferença é que só recentemente se começou a discutir a prioridade nos investimentos. Não se trata necessariamente de destinar mais dinheiro, mas de definir onde aplicá-lo. Quando o cidadão discute se deve haver ou não faixas exclusivas para ônibus ou bicicleta, está falando claramente em privilegiar um tipo de usuário da via pública em detrimento de outro.”

Bicalho acredita que o número de pessoas dispostas a deixar o carro em casa e usar coletivos ou bicicletas é menor do que os que declaram apoiar faixas exclusivas, mas ele vê no resultado das pesquisas um emblemático início de mudança de foco.

Até recentemente, segundo o especialista, os moradores das metrópoles viam o metrô como uma espécie de solução mágica para o problema: melhoraria a circulação, sem entrar em conflito com os carros e os ônibus. “Aos poucos estão percebendo, porém, que isso não acontecerá, porque o custo do metrô é altíssimo. Diante disso vamos ter que discutir cada vez mais como compartilhar o espaço público disponível.”

Guaracy Mingardi - cientista político
Distorção
 
Na área da segurança, os eleitores têm uma visão mais distorcida dos problemas e das soluções, na avaliação do cientista político Guaracy Mingardi, especialista em segurança pública. “O debate eleitoral nem sempre ajuda. A maioria das pessoas tem uma noção mais ou menos imprecisa do que fazem a União, o Estado e a Prefeitura. E sempre acham que a União, por ser a instituição que tem mais poder, é quem deve resolver tudo. O cidadão quer a Polícia Federal e o Exército na rua da sua casa, para se sentir seguro”, observa.

Embora ache que a União precisa participar de maneira mais ativa das questões de segurança, vigiando melhor as fronteiras, por exemplo, Mingardi afirma que a solução pode estar mais próxima do que o eleitor imagina. “Está sendo debatida no Congresso uma legislação que, se vingar, pode valorizar o papel da Guarda Municipal, o que é muito bom. Para o policiamento comunitário, o controle do trânsito e outras atividades urbanas, a Guarda Municipal é melhor que a Polícia Militar. As pessoas vão perceber com o tempo que não precisam de uma marreta para matar uma formiga.”

Gonzalo Vecina Neto - USP/Hospital Sírio-Libanês
Modelo atrasado

Na questão da saúde, que paira ano após ano no topo das preocupações do eleitorado, um aspecto que chama a atenção dos especialistas é o fato de ter dimensões semelhantes tanto para quem utiliza o sistema público, o chamado Sistema Único de Saúde (SUS), quanto para os cidadãos que recorrem a convênios médicos. Na avaliação do médico Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP e superintendente do Hospital Sírio-Libanês, isso ocorre porque os dois sistemas utilizam modelos de atendimento ultrapassados.

“Há um estado geral de perplexidade”, diz Vecina. “Isso se deve, em grande parte, a mudanças que ocorreram no País e que não foram acompanhadas pelo setor público e a iniciativa privada. Nos últimos 30 anos, o número de doenças infectocontagiosas diminuiu em todo o País. As campanhas de vacinação deram certo, o acesso à água tratada aumentou, a taxa de natalidade caiu, a população envelheceu. Nesse meio tempo, doenças que não apareciam como causa importante de mortalidade começaram a se destacar.”

Segundo Vecina, hoje no Brasil 60% da mortalidade é representada por dois grupos de doenças:

  • 35% de cardiovasculares,
  • 25% de câncer.
“Apesar dessa mudança, na qual as doenças crônico-degenerativas ganharam importância, o modelo de atendimento não mudou. Daí a insegurança. Enquanto você atende a uma infecção com duas ou três consultas, a doença crônica degenerativa é pelo resto da vida.”

Nesse novo cenário, o País precisa aumentar o número de médicos, alterar a formação nas escolas e mudar todo o sistema de atendimento, segundo Vecina.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Desafios Eleição 2014 / Serviços – Segunda-feira, 29 de setembro de 2014 – Pg. H3 – Internet: clique aqui.

A insatisfação é geral

 LISANDRA PARAGUASSU E ANGELA LACERDA
 
Membros de diversas classes sociais reclamam dos mesmos serviços públicos fornecidos pelo Estado

Filas longas para atendimento hospitalar pelo SUS
Servidor aposentado, morador do Plano Piloto, região de classe alta de Brasília, Rogério Bastos vive aflito com a precariedade dos transportes da cidade. Como dono de carro, sofre com os congestionamentos. Como empresário, tem prejuízos porque os ônibus vivem dando problema, seus funcionários não aparecem e ele tem prejuízo. “Nunca usei ônibus em Brasília, mas é claro que os problemas me afetam”, resume. “Se o transporte público tivesse qualidade, não estariam todos querendo ter carro particular”.

Um empresário defender bom transporte público - uma causa em comum com seus funcionários - é um comportamento mais frequente em novos tempos nos quais, dada a extensão dos problemas, uma reivindicação por melhores serviços torna-se geral. Na saúde, essa convergência aproxima a classe média - que sempre buscou bons planos de saúde -, da classe C, que passou a sonhar com esses planos, a conhecê-los e desejar menor dependência do serviço público. No caso do empresário Bastos, ele discorda também dos estímulos que o governo dá à indústria automobilística. “Não ajuda o governo ficar dando incentivo, redução de impostos”.

“Falta tudo”

Aos 80 anos, o office-boy Luiz Soares da Silva, também de Brasília, sofre na pele o que Bastos analisa. Ele tem passe livre, mas sobram razões para queixas. “É muito ruim. A qualidade dos ônibus até melhorou, mas não se respeita horário, faltam linhas e ônibus. No entorno falta tudo, tem ônibus que dá vergonha de ver”. Se ele tivesse de pagar, gastaria R$ 10 por dia.

Em situação parecida, mas pagando, a brasiliense Gabriela Nascimento, 18 anos, chega quase sempre atrasada na escola, sem almoçar, e aguarda longo tempo em pontos onde só passa um ônibus por hora. “E quando vem, está lotado”, queixa-se ela. Tanto a estudante quanto o office-boy assistem sem esperanças à campanha eleitoral sem acreditar que um próximo governador traga soluções. “Eles falam muito, mas nunca se resolve”, diz Gabriela. “Cada um quer fazer tudo novo, não continua o que o outro estava fazendo.”

No Recife

A doméstica da Julia Damiana da Conceição e o inspetor de polícia Augusto Santana, moradores de Olinda, Pernambuco, também são exemplos de que a precariedade dos serviços leva pessoas de diferentes níveis de renda a discursos parecidos. Julia, de 47 anos, foi três vezes deixada na mão pelo sistema de saúde. Na primeira, passou por quatro emergências em busca de atendimento para a filha de 14 anos, picada três vezes por um escorpião. Há dois anos, Julia teve trombose e não conseguiu atendimento. Hoje, recorre ao SUS para resolver um problema de visão do filho de 9 anos. “Posso dizer que tenho sorte, pois conheço uma funcionária que coloca meu nome na lista”, diz.

Em 1988, o inspetor Augusto, já com 78 anos, teve uma experiência inviável a alguém de renda mais modesta: reuniu-se a um grupo de 40 profissionais em um plano de saúde privado. Foi uma promoção. Por bom tempo as famílias receberam um bom serviço - mas, quatro anos atrás, a empresa foi comprada. Sofrendo hoje de Alzheimer, ele é ajudado pela mulher, Maria Nicácia Lopes. “Já disseram que o nosso custo é muito alto, dá prejuízo, e querem aumentar em 70% o preço do plano”, diz Maria Nicácia. A saúde, por outros caminhos, é também um problema sem saída para os dois.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Desafios Eleição 2014 / Serviços – Segunda-feira, 29 de setembro de 2014 – Pg. H3 – Internet: clique aqui.

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