«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

UM RETRATO REAL DO BRASIL - PNAD

O erro sem maquiagem do IBGE

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

Não há hora certa para fazer bobagem, mas não poderia ter sido pior o momento para o IBGE errar como errou na divulgação da PNAD 2013. Imediatamente o instituto virou matéria prima para teorias da conspiração eleitorais. “Maquiagem” foi a palavra da hora nas redes sociais. Mas foi só incompetência mesmo.

O ônus de admitir um erro dessa magnitude na reta final da sucessão presidencial é tão grande que só uma “maquiagem” completa para embelezar os indicadores poderia justificá-lo. Não foi o que aconteceu. Vários indicadores ficaram mais feios:
  • A renda, por exemplo, cresceu só 3,4% de 2012 para 2013 – muito menos do que os 5,1% divulgados na véspera. 
  • O analfabetismo caiu menos ainda (0,2 ponto, e não 0,4), 
  • a média de anos de estudo da população foi de 7,5 para 7,6 e não para 7,7 como se pensava.

O que não ficou mais bonito tampouco ficou menos feio: 
  • a taxa de desemprego nacional cresceu mesmo, de 6,1% em 2012 para 6,5% em 2013. 
  • Se fosse para fazer uma cirurgia plástica nos dados, esse teria sido um número a sofrer lipoaspiração.

Um dos poucos indicadores que melhorou foi o da desigualdade medida pelo índice de Gini. Quanto menor, melhor. E o Gini de todas as fontes de renda caiu de 0,505 para 0,501 (antes de o erro ser detectado, tinha ficado igual). E o Gini da renda de todos os trabalhos foi de 0,496 para 0,495 – em vez de 0,498. Ou seja, não virou nenhuma Gisele Bundchen estatística.

Qual foi o erro, então? A PNAD não é uma simples amostra da população brasileira. Ela é uma série de amostras estaduais e regionais que depois são combinadas à amostra nacional. O IBGE faz isso para poder extrapolar os resultados por região metropolitana, por exemplo. É uma prática comum em pesquisas.

Em eleição os institutos fazem isso quando querem pesquisar a intenção de voto nacional para presidente e, ao mesmo tempo, saber como os paulistas vão votar para governador, por exemplo. Amplia-se o tamanho da amostra em São Paulo apenas, para aumentar a confiabilidade dos dados. Mas na hora de calcular a taxa de intenção de voto para presidente em todo o Brasil, faz-se uma regra de três para dar o peso correto à amostra paulista.

Segundo o IBGE, alguém esqueceu de fazer isso com as amostras das regiões metropolitanas de vários Estados. Assim, elas ficaram com um peso desproporcionalmente grande na amostra do Brasil – por isso os dados educacionais pareciam melhores do que eram de fato, já que a escolarização é maior nas metrópoles.

Apesar de tudo, foi importante o IBGE ter admitido o erro e publicado os resultados certos com clareza – comparando-os aos errados, para todo mundo saber onde estavam os problemas. A PNAD é o melhor termômetro do que acontece com o Brasil. Sem saber se há febre ou não, é difícil acertar o diagnóstico e o remédio.
O erro amassou a reputação do IBGE, mas reconhecê-lo de pronto era a coisa certa a fazer. Maquiagem seria tentar escondê-lo.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Economia – Sábado, 20 de setembro de 2014 – Pg. B4 – Internet: clique aqui.

Veja resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE feita em 2013 com 362.555 pessoas em 1.100 municípios

PERFIL DA POPULAÇÃO BRASILEIRA

A Pnad de 2013 mostra uma tendência de envelhecimento da população brasileira. Dos 201,5 milhões de habitantes no país, 13% são idosos, ou seja, têm mais de 60 anos.
Outro destaque foi o aumento da proporção de solteiros no país: de 48,2% do total da população em 2012 para 49,2% em 2013. A definição de solteiro inclui pessoas com união estável ou que se casaram só no religioso.

ANALFABETISMO NO BRASIL

A taxa de analfabetos no país teve queda após um ano de estagnação. O índice de brasileiros com 15 anos ou mais que não sabem nem ler e escrever era de 8,6% em 2011. Teve ligeira alta para 8,7% em 2012. E caiu para 8,5% em 2013.
Mas o número de pessoas com 10 anos ou mais que não têm instrução, ou estudaram menos de um ano, subiu de 15,3 milhões para 16 milhões.

Apesar da queda no índice de analfabetismo, a Pnad revela um aumento no número absoluto de pessoas com dez anos ou mais sem instrução ou com menos de um ano de estudos. Segundo os dados consolidados, esse número avançou 4,3%, de 15,34 milhões para 16,03 milhões, e em 2013 representou 9,3% do total da população com essa idade.


A porcentagem de brasileiros com quatro anos ou mais matriculados na escola aumentou em todas as faixas etárias, principalmente na idade pré-escolar. Em 2012, 3,80 milhões de pessoas entre 4 e 17 anos estavam fora da escola (ou 5,29% do total). No ano seguinte, esse número foi de 3,50 milhões, ou 4,94% do total da população nessa faixa etária. A quantidade de crianças de quatro e cinco anos na escola subiu de 78,1% para 81,2% entre 2012 e 2013. Porém, a taxa de escolarização varia de acordo com o estado, e em cinco deles o índice piorou no período analisado.
Escolas públicas perdem alunos para a rede privada
A Escola pública encolheu. A Pnad 2013 mostra que 76,5% dos estudantes estavam matriculados em alguma instituição pública. Em 2012, era 77,4% dos estudantes. Em um ano, foram 445 mil alunos a menos. Nesse período, os estudantes da rede particular passaram de 12,1 milhões para 12,6 milhões. A redução de matrículas na Escola pública tem se mostrado uma tendência – nos anos de 2004 e 2005,80,9% dos estudantes brasileiros estudavam em instituições municipais, federais ou estaduais. A partir de 2006, essa proporção começa a cair. 
POSSE DE BENS

Em 2013, os domicílios brasileiros apresentaram aumento de carros (alta de 4,8%) e motos (1,4%) nas garagens.  Outro destaque foi o crescimento de máquinas de lavar – são 7,8% mais residências com o eletrodoméstico. 
Na contramão estão aparelhos de rádio (queda de 4,4%) e DVD (-2,8%). Os índices de fogão e TV dentro dos domicílios brasileiros ficaram estáveis.

ACESSO A INTERNET E POSSE DE CELULAR


Pela primeira vez, segundo a Pnad, mais da metade da população brasileira tem acesso a internet. A alta no número de pessoas conectadas foi menor do que em outros anos: menos de 1 ponto percentual entre 2012 e 2013.
O número de pessoas com celular no país manteve o crescimento, mas com alta menor na comparação com outros anos. Em 2012, 72,8% da população tinha o aparelho. Em 2013, o número subiu para 75,5%.

DESIGUALDADE DE RENDA


O Índice de Gini, que mede a distribuição da renda, passou de 0,496 em 2012 para 0,495 em 2013. A leve queda manteve a tendência decrescente do índice dos últimos anos. Esse índice é uma medida do grau de concentração de uma distribuição, cujo valor varia de zero (a perfeita igualdade) até um (a desigualdade máxima).
A Região Nordeste apresentou o maior nível de desigualdade na distribuição do rendimento do trabalho (0,523). No Piauí, foi registrado o pior resultado do país: 0,566.
Para que o índice mude, explica a presidente do IBGE, é preciso que os mais pobres, os que estão na base da pirâmide, tenham aumentos de renda numa velocidade maior do que quem está no topo.

MULHERES E HOMENS
O Índice de Gini também indicou que a distribuição de renda foi mais desigual entre os homens (0,503) do que entre as mulheres (0,477).
O maior nível de concentração da renda entre homens ocupados foi observado no Piauí (0,572), e o menor nível, no Amapá (0,432).
Entre as mulheres ocupadas, o maior nível de desigualdade no rendimento foi encontrado no Maranhão (0,564), e o menor nível, em Santa Catarina (0,381).

OCUPAÇÃO


A taxa de pessoas economicamente ativas (15 anos ou mais) era de 65,5%, em 2013. Isso indica estabilidade em relação a 2012 – o número era de 65,9%.
O total de pessoas desocupadas foi de 6,7 milhões em 2013, soma 7,2% maior do que em 2012. Com exceção do Sul, que teve redução de 2,2%, em todas as regiões houve aumento da desocupação, principalmente nas regiões Norte (alta de 17,2%) e Centro-Oeste (11%).

Pessoas ocupadas
A taxa de pessoas economicamente ativas (15 anos ou mais), em relação ao total da população da mesma faixa etária, era de 65,5% em 2013, o que indica estabilidade em relação a 2012, quando havia sido de 65,9%. Em comparação com 2008, a queda do indicador foi de 3,1 pontos percentuais. No grupo de economicamente ativas entram tanto as pessoas ocupadas quanto as desocupadas.
A Pnad mostrou uma tendência de menor participação na força de trabalho de jovens entre 15 e 29 anos. Em 2012, Entre as pessoas acima de 30 anos de idade, houve elevação.
A população ocupada totalizou 95,9 milhões de pessoas em 2013, o que representou um crescimento de 0,6% na comparação com 2012.

Renda média
O rendimento médio real de todos os trabalhadores em 2013 foi estimado em R$ 1.681 por mês, valor 5,7% superior à média verificada em 2012 (R$ 1.590) e 29,3% superior à média de 2001 (R$ 1.300).
Em 12 anos, os trabalhadores viveram dois momentos distintos: de 2001 a 2004 houve perdas anuais na renda e, de 2005 a 2013, ganhos reais.
No ano passado, as maiores médias foram registradas no Distrito Federal (R$ 3.114) e em São Paulo (R$ 2.083), enquanto no Ceará (R$ 1.019), no Piauí (R$ 1.037) e em Alagoas (R$ 1.052) observaram-se as médias mais baixas.

Homens e mulheres
Em 2013, as mulheres receberam, em média, 73,7% do salário dos homens. Em 2012, essa proporção era de 72,8%. O rendimento médio dos homens no ano passado foi de R$ 1.890 por mês e o das mulheres, R$ 1.392.
A menor diferença da renda média por sexo foi vista no Amapá, onde as mulheres receberam 98,2% do salário dos homens. A maior foi observada em Santa Catarina, onde as trabalhadoras tiveram 64,1% do ganho deles.

Carteira assinada
Formado por 36,8 milhões de pessoas em 2013, o total de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado teve acréscimo de 1,3 milhão de trabalhadores em relação ao ano anterior. Isso significa um aumento de 3,6% de um ano para o outro e expansão de 9,9 pontos percentuais frente a 2001.
O número de trabalhadores domésticos com carteira assinada subiu 11,38%, passando de 1,92 milhão, em 2012, para 2,14 milhões, no ano seguinte.

Trabalho infantil
No ano passado, 486 mil crianças de 5 a 13 anos estavam em situação de trabalho infantil, sendo 333 mil meninos e 153 mil meninas. Em comparação com o ano passado, a queda foi de 13,36%. A maior parte dessas crianças (63,8%) estava na agricultura.
A legislação brasileira proíbe o trabalho de crianças e adolescentes menores de 16 anos. Entre 14 e 16 anos é possível exercer atividades remuneradas apenas na condição de aprendiz.
O país tinha 3,1 milhões de trabalhadores de 5 a 17 anos de idade no ano passado, número 12,3% menor do que no ano anterior. Isso significa menos 438 mil crianças e jovens nessa condição.
Segundo o IBGE, em termos percentuais, a queda mais relevante se deu entre crianças de 5 a 9 anos, de 29,2%, ou seja, menos 24 mil trabalhadoras de 2012 para 2013.
Em números absolutos, a maior queda foi entre adolescentes de 14 a 17 anos: menos 362 mil trabalhadores.
O ganho médio das pessoas entre 5 e 17 anos foi estimado em R$ 557 por mês em 2013. Elas trabalharam, em média, 27 horas por semana.

Fonte: Portal G1 - Economia - PNAD Resultados 2013 - Internet: clique aqui.

Sinais alarmantes na área social

Naercio Menezes Filho*
Naercio Menezes Filho - economista

Os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) sempre trazem informações bastante interessantes. A vantagem da Pnad com relação à PME (Pesquisa Mensal de Emprego), por exemplo, é que as informações são representativas a nível nacional, ao passo que as da PME abrangem somente as principais regiões metropolitanas do Brasil. Além disso, a Pnad abrange também o setor informal da economia, enquanto os dados da Rais/Caged (Ministério do Trabalho e Emprego) cobrem somente o setor formal. A desvantagem da Pnad é que precisamos aguardar mais tempo para obtermos um retrato fidedigno da situação do País.

O que mostram os novos resultados? Em primeiro lugar, notamos que houve um pequeno aumento da taxa de desemprego no País como um todo. Isso indica que o desaquecimento da economia brasileira pode estar chegando ao mercado de trabalho. Vale notar, porém, que o aumento do número de pessoas com emprego com relação a 2012 indica que esse aumento do desemprego ocorreu principalmente em razão do aumento do número de pessoas que ingressaram no mercado de trabalho e estão à procura de emprego. Os dados da pesquisa mostram avanço do desemprego na Região Norte do País e também em São Paulo.

O desemprego em São Paulo parece estar refletindo a grave crise da indústria no País. É notória a dificuldade que os empresários industriais estão encontrando para aumentar sua produtividade e conseguir conquistar novos mercados. Interessante notar também que o salário real médio continua aumentando, apesar do aumento do desemprego. Mas o aumento de rendimento foi um pouco maior entre os que recebem salários maiores do que entre os que ganham menos, o que contribuiu para um pequeno aumento da desigualdade.

Quebra de tendência

Vários fatores podem estar explicando essa quebra na tendência de redução da desigualdade que vínhamos observando nos últimos anos na economia brasileira. Em primeiro lugar, o aumento real do salário mínimo foi bem menor entre o período de 2012 e 2013 do que nos anos anteriores. Nos últimos dez anos, o aumento do salário mínimo provocou um forte aumento da renda dos trabalhadores que ganham menos.

Como o salário dos trabalhadores mais qualificados ficou basicamente estagnado, a desigualdade de renda declinou. No entanto, entre 2012 e 2013 a renda dos trabalhadores que ganham menos aumentou 3,5%, ao passo que a dos trabalhadores com maiores salários aumentou 6,4%.

Outro fator que pode estar influenciando a desigualdade de renda é o próprio desaquecimento do mercado de trabalho. Nos últimos anos, o intenso crescimento da renda dos trabalhadores com menos qualificação ocorreu também em razão do crescimento que foi puxado pelo setor de serviços. Havia um círculo virtuoso nesse setor.

Os trabalhadores que obtiveram aumentos na renda familiar (em razão do salário mínimo e das transferências feitas pelo governo) passaram a consumir mais serviços (por exemplo, cabeleireiros, mecânicos, restaurantes) e a construir mais casas.

Esses setores empregam justamente os trabalhadores não qualificados. Como a oferta de jovens menos escolarizados está caindo (em razão do avanço educacional na última década), seu salário aumentava mais do que o dos trabalhadores mais escolarizados. Entretanto, a redução do aumento real do salário mínimo e o desaquecimento do mercado de trabalho podem estar sugerindo que esse processo está chegando ao fim.

O que podemos fazer para que a desigualdade continue a declinar? 

[1º] É necessário, em primeiro lugar, melhorar o gerenciamento macroeconômico da economia para que o Produto Interno Bruto (PIB) volte a crescer e, com isso, o salário mínimo volte a aumentar.

[2º] Além disso, é preciso aumentar a produtividade do trabalho na indústria e no setor de serviços, para que o aumento de salários não provoque uma inflação. 

[3º] Por último, é necessário melhorar mais rapidamente a qualidade da Educação no Brasil, para aumentar a produtividade de nossos trabalhadores.

No entanto, os últimos resultados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) mostram que essa melhoria na qualidade da educação não está acontecendo. Assim, as perspectivas futuras não são nada boas.

* É professor titular - Cátedra IFB e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper e professor associado da FEA-USP.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Especial – Sexta-feira, 19 de setembro de 2014 – Pg. H6 – Internet: clique 

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