«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O FUTURO DE NOSSA SOCIEDADE EM DEBATE...

“O capitalismo se transformará
totalmente no século XXI”

Entrevista com Jeremy Rifkin

Manuel González Pascual
Cinco Días
22-09-2014
Jeremy Rifkin

Advertiu na década de 1990 que a crescente produtividade proporcionada pelas novas tecnologias geraria um desemprego estrutural insolúvel, a menos que se reduzisse a jornada de trabalho (O fim dos empregos. Makron Books, 1995). Começou esta década falando de A Terceira Revolução Industrial (Makron Books, 2011), estágio para o qual nos precipitamos com a convergência de novas formas de comunicação e novas fontes de energia (o telefone, possível graças à eletricidade, e o petróleo, que, por sua vez, condicionou o modelo de transporte, serão ultrapassados pela combinação internet-energias renováveis).

Jeremy Rifkin (Denver, 1943) completa este ano a teoria que esboçou com seu novo livro, A sociedade de custo marginal zero (edição espanhola: Paidós), obra que acaba de apresentar em Madri, convidado pela Fundação Rafael del Pino.

O influente pensador destacou nessa ocasião que, pela primeira vez na história, os três eixos sobre os quais se apoiam os modelos de desenvolvimento (comunicação, energia e transportes) estarão entrelaçados entre si graças à internet. Esta nova situação abre as portas para o que o assessor da chanceler Angela Merkel e do primeiro ministro chinês Li Kequiang, entre outros, chama de economia colaborativa.

Eis a entrevista.

O livro começa com uma afirmação contundente. Na primeira página você diz: “...o capitalismo continuará a fazer parte do panorama social, mas duvido que seja o paradigma econômico dominante durante a segunda metade do século XXI”.

Jeremy Rifkin: Perfeitamente. Nunca pensei que veria isto em vida. Estamos presenciando os primeiros traços da economia colaborativa. Milhões de jovens de todo o mundo são prossumidores [simultaneamente produtores e consumidores] que compartilham sua própria música, vídeos, blogs, livros e outros serviços a um custo próximo a zero. O fenômeno das universidades a distância permite assistir a aulas dos melhores professores do mundo a um custo ridículo. Os domicílios podem ser energeticamente autossuficientes e, em alguns países, vender sua energia não consumida. Em poucos anos, as crianças aprenderão a usar as impressoras 3D nas escolas. Nestes dias vimos em funcionamento o primeiro carro impresso com uma destas máquinas. Observe que em todos estes casos intervêm apenas empresas.

Acredita, então, que o capitalismo morrerá de êxito?

Rifkin: A própria essência do sistema, a famosa mão invisível, baseia-se no emprego da tecnologia para reduzir os custos marginais para aumentar a produtividade e a competitividade. Acontece que nunca ninguém imaginou que chegaríamos a uma situação em que os custos marginais fossem zero ou praticamente zero. É o grande paradoxo do capitalismo: sempre quisemos que a mão invisível fizesse seu trabalho, mas o fez tão bem que vai levar o sistema ao colapso. Trata-se da primeira mudança de paradigma desde o surgimento do capitalismo e do socialismo no século XIX. As fronteiras entre o atual sistema e a economia colaborativa são difusas; no momento, uma se beneficia da outra, mas creio que para meados do século o capitalismo terá se transformado completamente.

Você menciona no livro que empresas como a Siemens, Cisco ou a IBM se interessaram por suas teorias. O que lhe perguntaram?

Rifkin: Deram-se conta de que a Segunda Revolução Industrial está definitivamente em seus últimos ajustes. Um dos sinais foi quando, em julho de 2008, o barril do Brent atingiu os 147 dólares. O crescimento do PIB diminuiu muito e o desemprego aumentou. Estas companhias se interessaram pelo que chamo de internet das coisas [a união em uma mesma rede dos sistemas de comunicação, energia e transporte]. Os modelos comerciais verticalmente integrados e intensivos em capital, necessários para poder desenvolver infraestruturas tão caras como as que necessitava um sistema baseado no petróleo, darão lugar a sistemas distributivos que sejam acessíveis a todos. Tenha em conta que qualquer indivíduo terá acesso, graças ao Big Data, à mesma informação que até agora era entesourada pelas companhias. Trata-se de um tremendo avanço: todas as pessoas poderão participar do sistema econômico. Será a democratização da vida econômica.

O cenário que propõe soa como muito positivo.

Rifkin: Não acredite, também haverá muitos desafios. Tudo isto também representa uma ameaça à segurança, de variadas formas. O terrorismo, por exemplo, gozará de mais oportunidades que agora. E pode ser que surjam monopólios, como aconteceu, por exemplo, com a AT&T no começo do século passado, na época da implantação das linhas de telefone nos Estados Unidos. Talvez devêssemos nos perguntar se a internet pode ser considerada um bem público e, portanto, deveria ser regulada de outro modo. Participo ativamente de reuniões com a União Europeia para ver como se pode manter a neutralidade das redes. O Google, o Facebook e o Twitter são serviços sociais globais que parecem monopólios. Geram muitíssimo dinheiro e ao mesmo tempo ajudam outras indústrias a entrar em colapso, como a editorial ou a jornalística, na que você e eu trabalhamos.

Que poder de manobra teriam as companhias para não se marginalizarem?

Rifkin: Creio que têm que aprender a desenvolver-se nos dois modelos. O capitalismo não vai desaparecer. As casas podem ser impressas; na China já há máquinas capazes de levantar 10 casas em 24 horas, mas as grandes infraestruturas ainda precisam ser feitas ao modo antigo. E o mesmo acontece com muitos outros produtos. A economia digital vai se mover do mundo virtual ao físico, e muito rapidamente. Um exemplo claríssimo é a energia. Nas energias renováveis, a rentabilidade das instalações é exponencial. Têm custos fixos elevados, mas os marginais tendem a zero. Produzir um watt de energia solar custava 66 dólares em 1997. Hoje custa 66 centavos. Mas o mais significativo é que há milhões de pequenos produtores (cooperativas, domicílios, escolas...) que podem colocar em comum a própria energia e fugir do jugo das grandes companhias. Simplesmente porque é mais barato e existe a tecnologia para isso.

“O caso da Espanha é o mais trágico do mundo”.

Rifkin não oculta sua decepção com a mudança de rumo adotada por Moncloa sobre as energias renováveis quando Mariano Rajoy assumiu o poder.
Rifkin: “O caso da Espanha é, talvez, o mais trágico do mundo. Durante algum tempo esteve junto com a Alemanha liderando a promoção das energias renováveis, mas veio a grande recessão e voltou a apostar no petróleo e no gás”, lamenta aquele que foi o assessor de José Luiz Rodríguez Zapatero. “Perderam cinco preciosos anos, e se passarem outros cinco, hipotecarão uma geração inteira”, sustenta.

“Rajoy refere-se às energias renováveis como se fossem uma fantasia. Então, por que a Alemanha está apostando tão forte nelas? Ali, 27% da energia já é solar e eólica. Houve um dia de maio em que representou 75% da energia. O custo marginal foi tão baixo que se alcançaram preços negativos! A China investirá 82 bilhões de dólares em quatro anos para desenvolver uma rede de internet energética, para que os cidadãos possam produzir e compartilhar sua própria energia. Tudo isto está acontecendo”, destaca.

Traduzido do espanhol por André Langer.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Sexta-feira, 26 de setembro de 2014 – Internet: clique

A História está longe de ter
chegado ao fim

ALINA ROCHA MENOCAL*
FOREIGN POLICY

Eventos recentes mostram que as democracias, para se sustentarem, precisam mais do que direito ao voto
Francis Fukuyama - cientista político

Vinte e cinco anos atrás, poucos meses antes da queda do Muro de Berlim em novembro de 1989, Francis Fukuyama publicou o que se tornou um dos artigos mais debatidos e citados do fim do século 20.

Em O Fim da História? (o título perdeu o ponto de interrogação quando foi publicado como livro em 1992), Fukuyama celebrou o triunfo global da democracia e do capitalismo, uma tese que ele reiterou recentemente em um editorial publicado no Wall Street Journal. "A democracia liberal continua sem uma concorrência real", proclamou.

A reafirmação do otimismo original de Fukuyama é particularmente notável se pensarmos no quanto a democracia se vê combalida atualmente.

É verdade que houve uma transformação fundamental na natureza dos regimes políticos em todo o mundo. Hoje, a maioria dos países é governada por democracias eleitorais formais, correspondendo a dois terços da população mundial. E praticamente todos os países realizam eleições - e o número de mulheres nos parlamentos é o maior já visto.

Mas, longe de chegar ao fim, a História parece estar voltando com sede de vingança. Apesar dessas guinadas importantes nas estruturas políticas formais, apenas um pequeno número das democracias que emergiram nas três décadas passadas conseguiu estabelecer raízes profundas. Em vez disso, muitas delas ficaram presas na transição, ocupando uma zona cinzenta entre o autoritarismo aberto e a democracia plena (a Rússia de Putin é apenas um exemplo notório do tipo). De acordo com a Freedom House, a liberdade global teve queda em todos os anos desde 2005, enquanto as instituições democráticas continuam ocas, rasas e fracas.

Os eventos recentes no Egito e na Líbia mostram que é mais fácil derrubar um ditador do que estabelecer uma democracia efetiva. A construção de instituições liberais se mostrou um desafio complicado e prolongado que traz a probabilidade de atrair turbulência e contestação consideráveis. O resultado nunca é garantido.

Destacando os tumultos recentes da Ucrânia à Faixa de Gaza, uma recente publicação do Fundo Carnegie para a Paz Mundial questionou se o mundo estaria ruindo. Esse pessimismo lembra mais as sombrias conclusões do historiador da economia e sociólogo Karl Polanyi em A Grande Transformação, sua clássica análise do deslocamento social, político e econômico que resultou do colapso da civilização do século 19, parecendo distante do mundo pós-ideológico cuja chegada foi anunciada por Fukuyama.

Desilusão

O que deu errado no sonho do potencial transformador da democracia? Chama a atenção a desilusão generalizada com a capacidade da democracia de oferecer bens e serviços públicos, benefícios que o povo espera de seus governos.

Enquanto a capacidade dos Estados permanece persistentemente fraca, especialmente nas democracias novas e emergentes, um número cada vez maior de cidadãos espera serviços melhores e mais capacidade de resposta às suas necessidades e exigências. Como mostram nossas pesquisas recentes no Overseas Development Institute (ODI), o público tende a valorizar a democracia e as liberdades políticas principalmente em termos instrumentais: como é o desempenho das democracias? Elas proporcionam os níveis esperados de crescimento econômico, atendimento de saúde e ensino? A incapacidade de "fazer sua parte" de muitas democracias as submeteu a um desgaste considerável.

Quando Fukuyama escreveu seu ensaio pela primeira vez, em 1989, não havia no horizonte nenhuma alternativa crível para a democracia liberal. Mas isso mudou. A extraordinária ascensão da China transformou-a num modelo de desenvolvimento concorrente. África do Sul, Etiópia e Ruanda também emergiram como exemplos das superioridades dos sistemas de partido hegemônico e governo autoritário na produção de crescimento econômico.

Mas os defensores da autocracia tendem a ocultar alguns pontos fundamentais. Não é necessariamente evidente que um sistema autoritário terá sempre o interesse de desempenhar um papel positivo no processo de desenvolvimento. A História está repleta de exemplos de Estados autoritários predadores ou antidesenvolvimentistas na África, Ásia, Leste da Europa, América Latina e ex-União Soviética. Apostar na sua suposta superioridade é um grande perigo: nunca podemos saber a priori se os fins justificarão os meios.

Na verdade, esperamos que as democracias incipientes sejam demasiadamente eficientes sem dar a elas tempo o bastante. A simples realização de eleições não pode trazer a cura para os problemas políticos e sociais mais profundos enfrentados pelos governos de muitos países em desenvolvimento. As eleições trazem o potencial de aprofundar a qualidade da governança democrática, mas são também um instrumento relativamente grosseiro para a representação e podem ter limites importantes. Como destacou a revista The Economist, freios e contrapesos robustos são tão importantes para o estabelecimento de uma democracia saudável quanto o direito ao voto.

O fortalecimento de uma cultura na qual a democracia seja valorizada enquanto processo, e não apenas nos termos do seu sucesso em proporcionar benefícios materiais, exige tempo. Vale lembrar que, quando a Europa passou pela "Primavera dos Povos", em 1848, foram necessárias várias gerações para que a democracia se instalasse de vez. O modelo democrático liberal enfrentou problemas novamente nos anos 20 e 30, quando fascismo e comunismo se tornaram modelos atraentes para muitos dos que tinham se desiludido com o funcionamento dos sistemas políticos (democráticos) - e as consequências foram horríveis.

Hoje, a democracia perdeu o brilho não apenas no mundo em desenvolvimento, mas também entre os países ricos do Ocidente. O choque da crise financeira de 2007 a 2008 e a crescente preocupação com o aprofundamento da desigualdade estão contribuindo para aumentar a insatisfação com a qualidade da representação democrática - sentimentos que encontraram expressão em todo o espectro político, desde o Tea Party americano e os movimentos Occupy em vários países até os populistas anti-Bruxelas na União Europeia.

Um novo estudo que analisa quase 2 mil iniciativas de políticas do governo americano entre 1981 e 2012 revela que os Estados Unidos se tornaram algo mais parecido com uma oligarquia do que com uma democracia. E um levantamento feito em 2012 em sete países europeus descobriu que mais da metade dos eleitores dizia "não confiar no governo". Esta alienação generalizada em relação ao establishment político, especialmente entre a classe média e a juventude, mostra que as pessoas exigem mais do que apenas eleições a intervalos de poucos anos. Elas querem ter voz para decidir o que seus governos fazem e, principalmente, como o fazem.

Isso só mostra que o caminho para forjar uma democracia é inevitavelmente difícil - uma luta contínua que envolve avanços e retrocessos. E a democracia não pode ter sucesso sem compromisso e liderança vindos de cima e de baixo.

Mas não devemos concluir que o modelo democrático perdeu seu apelo. Os processos democráticos abriram novas oportunidades para a participação e a alternância no poder, ao mesmo tempo mostrando que são capazes de produzir resultados em países tão diferentes quanto Brasil, Gana e, mais recentemente, Tunísia. Mesmo nos locais em que a democracia não conseguiu se enraizar, como no Egito, o panorama político foi alterado de maneira irrevogável e jamais voltará ao ponto de partida.
Alina Rocha Menocal

Anseios

Os cidadãos têm hoje expectativas significativamente maiores e, mesmo no Oriente Médio, isso deve levar a sistemas mais capazes de responder aos anseios populares no longo prazo. O poder de atração da China pode ser forte, mas o modelo do país também oculta os problemas mais profundos, dos quais a desigualdade é apenas um entre muitos.

Mas o triunfo da democracia está longe de ser garantido. Expectativas mais altas são também mais difíceis de atender. Os sistemas de clientela continuam existindo e podem até ser fortalecidos nos novos sistemas democráticos na ausência de freios, contrapesos e mecanismos de responsabilidade suficientemente fortes.

Assim sendo, é certo que não chegamos ao fim da História. Mas a maioria dos países do mundo atual reconhece a primazia das formas democráticas, algo que não estava muito claro algumas décadas atrás.

Por mais imperfeitas que sejam, essas democracias emergentes vieram para ficar. Descobrir como dar a elas mais substância pode se tornar o principal desafio do século 21.

* Alina Rocha Menocal é pesquisadora do Overseas Development Institute.

Traduzido do inglês por Augusto Calil.


Fonte: O Estado de S. Paulo – Internacional/Visão Global – Domingo, 28 de setembro de 2014 – Pg. A22 – Internet: clique aqui. Para acessar o artigo original, clique aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.