«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 13 de setembro de 2014

Domingo – Exaltação da Santa Cruz – HOMILIA

Evangelho: João 3,13-17

Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos:
13 "Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem.
14 Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, 
15 para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna.
16 Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna.
17 De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele".

JOSÉ ANTONIO PAGOLA

OLHAR COM FÉ O CRUCIFICADO

A festa que hoje os cristãos celebram é incompreensível e, até, absurda para quem desconhece o significado da fé cristã no Crucificado. Que sentido pode ter celebrar uma festa que se chama “Exaltação da Cruz” em uma sociedade que busca, apaixonadamente, o conforto, a comodidade e o máximo bem-estar?

Mais de uma pessoa se perguntará como é possível seguir, ainda hoje, exaltando a cruz. Não ficou superada, para sempre, essa forma mórbida de viver exaltando a dor e buscando o sofrimento? Temos de seguir alimentando um cristianismo centrado na agonia do Calvário e as chagas do Crucificado?

Essas são, sem dúvida, perguntas muito razoáveis que necessitam uma resposta clarificadora. Quando os cristãos olham o Crucificado não exaltam a dor, a tortura e a morte, mas o amor, a proximidade e a solidariedade de Deus que quis compartilhar nossa vida e nossa morte até o extremo.

Não é o sofrimento que salva, mas o amor de Deus que se solidariza com a história dolorosa do ser humano. Não é o sangue que, na realidade, limpa o nosso pecado, mas o amor insondável de Deus que nos acolhe como filhos. A crucificação é o acontecimento no qual melhor se revela seu amor por nós.

Descobrir a grandeza da Cruz não é atribuir, seja lá qual for, um misterioso poder ou virtude à dor, mas confessar a força salvadora do amor de Deus quando, encarnado em Jesus, vem reconciliar o mundo consigo.

Nesses braços estendidos que já não podem mais abraçar as crianças e nessas mãos que já não podem acariciar os leprosos nem bendizer os enfermos, os cristãos “contemplam” Deus com seus braços abertos para acolher, abraçar e sustentar nossas pobres vidas, quebrantadas por tantos sofrimentos.

Nesse rosto apagado pela morte, nesses olhos que já não podem olhar com ternura as prostitutas, nessa boca que já não pode gritar sua indignação pelas vítimas de tantos abusos e injustiças, nesses lábios que não podem pronunciar seu perdão aos pecadores, Deus nos está revelando, como em nenhum outro gesto, seu amor insondável à Humanidade.

Por isso, ser fiel ao Crucificado não é buscar cruzes e sofrimentos, mas viver como ele numa atitude de entrega e solidariedade, aceitando, se necessário, a crucificação e os males que nos podem chegar como consequência. Esta fidelidade ao Crucificado não é dolorosa, mas esperançosa. A uma vida “crucificada”, vivida com o mesmo espírito de amor com que viveu Jesus, somente lhe cabe esperar a ressurreição.

DEUS É DE TODOS

Poucas frases terão sido tão citadas como esta que o evangelho de João põe nos lábios de Jesus. Os estudiosos veem nela um resumo do essencial da fé, tal como se vivia entre não poucos cristãos no início do século II: “Tanto amou Deus o mundo, que enviou o seu Filho único”.

Deus ama o mundo inteiro, não somente aquelas comunidades cristãs às quais chegou a mensagem de Jesus. Ama todo o gênero humano, não somente a Igreja. Deus não é propriedade dos cristãos. Não pode ser monopolizado por nenhuma religião. Não cabe em nenhuma catedral, mesquita ou sinagoga.

Deus habita em todo ser humano, acompanhando cada pessoa em suas alegrias e desgraças. A ninguém deixa abandonado, pois tem seus caminhos para se encontrar com cada um, sem que tenha de seguir, necessariamente, aos que lhe assinalamos. Jesus via Deus, cada manhã, “fazendo nascer o sol sobre bons e maus”.

Deus não sabe, não quer nem pode fazer outra coisa senão amar, pois, no mais íntimo de seu ser, ele é amor. Por isso, diz o evangelho, que enviou seu Filho, não para “condenar o mundo”, mas para que “o mundo se salve por meio dele”. Ama o corpo tanto quanto a alma, e o sexo tanto como a inteligência. A única coisa que deseja é ver, desde agora e para sempre, a humanidade inteira desfrutando de sua criação.

Este Deus sofre na carne dos famintos e humilhados da terra; está nos oprimidos defendendo sua dignidade, e nos que lutam contra a opressão animando seu esforço. Está sempre em nós para “buscar e salvar” o que nós arruinamos e deixamos perder.

Deus é assim. Nosso maior erro seria esquecê-lo. Mais ainda. Fechar-nos em nossos preconceitos, condenações e mediocridade religiosa, impedindo as pessoas de cultivarem esta fé primeira e essencial. Para que servem os discursos dos teólogos, moralistas, pregadores e catequistas se não despertam o louvor ao Criador, se não fazem crescer no mundo a amizade e o amor, se não tornam a vida mais bela e luminosa, recordando que o mundo está envolvido, pelos quatro cantos, pelo amor de Deus?

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM – Homilías de José A. Pagola – Terça-feira, 9 de setembro de 2014 – 10h49 – Internet: clique aqui.

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