«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

ECONOMIA BRASILEIRA: JÁ ESTAMOS QUASE PARADOS...

“Já começou a terapia recessiva nos desequilíbrios”

Entrevista com Luiz Carlos Mendonça de Barros,
Ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)

FERNANDO DANTAS

Ex-ministro diz que recessão ajudará a corrigir inflação e contas externas e economia só voltará a crescer em 2016
Luiz Carlos Mendonça de Barros - economista

Para o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, diretor-estrategista da Quest Investimentos, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações, o resultado do PIB do segundo trimestre mostra que já teve início a "terapia recessiva" para corrigir os desequilíbrios da inflação e do déficit das contas externas.

Ele acha que a economia brasileira só volta a crescer a um ritmo satisfatório em 2016, mas, a partir daí é otimista, desde que a política econômica seja corrigida e a confiança dos empresários restabelecida. Para Mendonça de Barros, apesar do mau momento, a economia brasileira é sólida e tem ativos valiosos, como o grande crescimento dos trabalhadores na formalidade.

O que o sr. achou do PIB do segundo trimestre?

Mendonça de Barros: Veio um pouco mais fraco do que pensava, mas na direção prevista. A queda do investimento foi forte, o quarto recuo trimestral. Como os índices de confiança dos empresários estão no chão, era simplesmente uma questão de esperar a queda. O recuo do investimento em relação ao mesmo período do ano passado foi de mais de 11%. O consumo ainda está no positivo, mas já não é tão brilhante quanto em anos anteriores.

O sr. viu algum sinal positivo?

Mendonça de Barros: Sim, temos que fazer um ajuste de demanda [no consumo], e há sinais de que isto começou a ocorrer. As exportações cresceram e as importações caíram, um sinal correto. O deflator do PIB veio em 5,4%, bem abaixo da inflação corrente, outro ponto positivo. E há finalmente sinais de que a Petrobrás começou finalmente a elevar a produção de petróleo, nos números da indústria extrativa. Na verdade, é ótimo, por um lado, que os dados do PIB do segundo trimestre tenham sancionado que entramos numa terapia recessiva necessária para lidar com os desequilíbrios da conta corrente (contas externas) e da inflação.

O governo deve ficar satisfeito, então?

Mendonça de Barros: Não, porque na verdade foi uma grande barbeiragem que tenhamos chegado ao trimestre que antecede as eleições com a economia no chão. A presidente Dilma Rousseff vai para a tentativa de reeleição com a economia de joelhos, imagina o escândalo que a imprensa não vai fazer com esse resultado do PIB. Nós íamos caminhar para a terapia recessiva, o governo tentou adiar. Aí, como acontece nas doenças, a recidiva é pior que o primeiro ataque. Para quem gosta de tecnicidades, tivemos dois trimestres negativos, é recessão no conceito mais elementar.

Por que a economia parou de crescer?

Mendonça de Barros: Batemos no teto em vários sentidos. Houve esse fantástico processo de formalização do trabalho, que chegou a 70%. A formalização do trabalho abria o acesso ao crédito, mas agora esse motor de crescimento se esgotou. Daqui para frente, depende do salário real e do aumento do crédito para quem já está incluído. Então não vai mais ocorrer um fenômeno como a multiplicação por três das vendas de automóveis em quatro ou cinco anos. O desemprego bateu no mínimo, começou a pressionar os salários. Já o empresário se vê numa situação clássica em que a oferta passou na frente da demanda. Ele pensa "se não for nesse ano, no próximo entra em recessão". Tem que lidar com estoques e excesso de capacidade e não pensa em investir.

É só por isso que o empresário não investe?

Mendonça de Barros: Não, existe também a falta de confiança na política econômica. Há a postura ideológica da presidenta que coloca o Estado como sendo o agente mais importante da economia, o que faz com que interfira demais, prejudicando o setor privado. De qualquer forma, quem acompanhou minimamente a economia nos últimos dois ou três anos sabia que ela tinha que ir para a terapia recessiva. O crédito bateu no teto, o déficit em conta corrente subiu até um nível perigoso.

Como o sr. vê a situação especificamente da indústria?

Mendonça de Barros: Aí tem os dois componentes. Em termos conjunturais, como eu disse, a oferta ultrapassou a demanda. E tem o problema da falta de competitividade: durante os anos de boom, a importação abasteceu o crescimento do consumo de bens industriais. Os setores que tem proteção, como o automobilístico, se deram bem e cresceram. Os que não tinham proteção minguaram.

E a economia daqui para a frente?

Mendonça de Barros: Só Deus sabe, ou melhor, depende de quem vai ganhar a eleição. Na oferta eleitoral, tem dois candidatos, Aécio e Marina, que mostraram que optariam pela abordagem clássica. Tratariam da conjuntura mantendo por mais algum tempo o ajuste que já começou, e tentariam reverter o pessimismo do empresário via retomada da confiança. Já a Dilma exercitou nos seus quatro anos o software ideológico do PT e deu no que deu. Vai ter que encontrar outro software fora do arco ideológico do partido. A tendência é recessiva também para o ano que vem, e o jogo do crescimento vai ser jogado de 2016 em diante.

E como ganhá-lo?

Mendonça de Barros: Com uma política econômica que traga de volta a confiança dos agentes econômicos. Fazendo uma série de ajustes, o crescimento volta naturalmente. O Brasil não está vivendo nenhum desastre. Temos que comemorar essa situação extraordinária para uma economia emergente de ter 70% (dos trabalhadores) na formalidade, é algo que precisamos explorar, coisa que a presidente não conseguiu em quatro anos. Vivemos um fim de ciclo, mas não é algo negativo. Temos uma economia sólida e preparada para receber os estímulos de uma política econômica correta.

O PIB afeta o cenário eleitoral?

Mendonça de Barros: Esses números não chegam à maioria da população, mas a ameaça de desemprego e o lay-off (suspensão temporária dos contratos de trabalho) na indústria automobilística, isso chega. O Lula é visto como responsável pela mudança que incluiu essas pessoas, e a Dilma é vista como alguém que ameaça a continuidade desse processo. Eu concordo. Tem que reconhecer o que o Lula fez e que essa política atual está colocando isso em risco.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Economia – Sábado, 30 de agosto de 2014 – Pg. B6 – Internet: clique aqui.

A recessão mais grave é a da qualidade

ROLF KUNTZ 


O Brasil desmorona, enquanto o mundo rico sai da crise e os demais emergentes enfrentam o desafio de se ajustar para ganhar novo fôlego e voltar a crescer com rapidez. Com a indústria enfraquecida e o investimento produtivo em queda, é ridículo discutir se houve mesmo recessão no País no primeiro semestre. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, recusa essa palavra, mas, por enquanto, prevalecem os novos dados oficiais: depois de encolher 0,2% no primeiro trimestre, o produto interno bruto (PIB) diminuiu mais 0,6% no período de abril a junho. Rótulos técnicos são menos importantes que a substância dos fatos. A reação do ministro só seria mais que um esperneio inútil se ele conseguisse contestar os dois dados mais agourentos das contas nacionais.

[1º] O primeiro deles é o recuo do investimento em máquinas, equipamentos, construções e obras de infraestrutura. O valor investido no segundo trimestre foi 11,2% menor que o de um ano antes e correspondeu a míseros 16,5% do PIB. Esse é um dos fatores determinantes da capacidade produtiva, do potencial de crescimento e da capacidade competitiva.

[2º] O segundo indicador agourento foi a diminuição do produto industrial - 1,5% menor que o do primeiro trimestre e 3,4% inferior ao de abril-maio de 2013. O enfraquecimento da indústria afeta a qualidade do emprego, prejudica o dinamismo dos serviços e de toda a economia urbana e compromete seriamente as contas externas.

O governo continua prometendo para dentro de alguns anos - ninguém sabe quantos - uma taxa de investimento de 24% do PIB. Taxas entre 24% e 30% são encontradas em muitas economias emergentes. Não é indispensável, nem politicamente exequível, investir o equivalente a 40% da produção ou até mais, como na China. Mas uma taxa inferior a 20% do PIB é suicida.

A economia brasileira cresceu na última década impulsionada basicamente pela incorporação de mão de obra. Essa possibilidade está esgotada. A cada dia se torna mais urgente ampliar e modernizar o estoque de capital e apostar na qualidade da mão de obra, muito mais que na quantidade.

Nada disso tem sido feito seriamente. O total investido em capital fixo [1] pelo setor público e pelas empresas privadas ficou sempre abaixo de 20% nos últimos 15 anos. A maior taxa observada num segundo trimestre foi de 19,2%, em 2010. Em 2000 ficou em 16,76%, pouco acima da calculada para o período de abril a junho deste ano, 16,5%. Os efeitos do baixo investimento são visíveis na queda de produção da indústria de máquinas, na redução de importações de bens de capital [2] e no recuo da construção civil, com produção 8,7% menor que a do segundo trimestre do ano passado.

As concessões de infraestrutura têm ocorrido lentamente e o governo só tem procurado apressá-las, nos últimos tempos, para recolher os bônus proporcionados pelos leilões. Esse dinheiro foi muito importante para o fechamento das contas públicas no ano passado. A infraestrutura continua muito deficiente e os custos de logística são um dos grandes entraves à competitividade. As obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) permanecem atrasadas e com baixo índice de conclusão. O investimento privado também vai mal, porque os empresários têm pouca ou nenhuma segurança para se arriscar comprando máquinas ou ampliando instalações. A incerteza tem sido motivada em boa parte pelo voluntarismo [3] desastroso do governo e pela insistência em políticas ineficazes. Diante dos sinais de economia empacada, o ministro da Fazenda tem reagido, regularmente, com a prorrogação de benefícios fiscais seletivos e voltados basicamente para o consumo.

A indústria é o tema da segunda informação mais agourenta. Os únicos segmentos industriais com desempenho positivo, quando comparado com o de abril a junho de 2013, foram o da extração mineral (+ 8%) e o de produção e distribuição de eletricidade, gás e água (+ 1%). A indústria de transformação [4], por muito tempo um dos principais núcleos de modernização tecnológica e gerencial, continuou muito ruim e produziu 5,5% menos que um ano antes. Isso é desastroso para o conjunto da economia.

Um gráfico publicado no Boletim Macro de agosto da Fundação Getúlio Vargas mostra as curvas de crescimento da indústria de transformação, dos serviços e do PIB entre junho de 2007 e junho de 2014. A curva de serviços espelha a da indústria, "de forma amortecida", como observam os autores da análise. Além disso, a evolução do produto industrial e a do PIB são muito parecidas. No Brasil, tem-se dado muita importância aos serviços, por seu peso na composição geral do produto, e tem-se negligenciado, no debate cotidiano, o papel dinâmico da indústria, especialmente do segmento de transformação.

Quando se fala em recessão, a presidente e seus auxiliares costumam retrucar citando a criação de empregos nos últimos anos. Mas o emprego industrial tem diminuído, como indicam os dados do Ministério do Trabalho, e a maior parte dos postos tem sido aberta em segmentos de baixa produtividade e de salários modestos. Mesmo a criação desses empregos tende a diminuir e já tem diminuído, com a perda geral de dinamismo associada à estagnação da indústria.

Em 2013, a indústria de transformação empregou 8,29 milhões de pessoas, 144,41 mil a mais que em 2012. Foi um aumento de apenas 1,77%. A administração pública empregou 9,34 milhões, 402,97 mil a mais que no ano anterior, com variação de 4,51%. Nos serviços [5] a variação foi de 3,46% e o total de postos chegou a 16,73 milhões, com acréscimo de 558,63 mil. Mais que um enfraquecimento e uma crise passageira, os números apontam uma perda qualitativa. Ao discutir se a palavra recessão é adequada, o ministro da Fazenda concentra-se novamente no alvo errado. Toda economia pode recuar ocasionalmente. Mas, além de recuar, a economia brasileira está piorando. É esta a consequência mais grave da política inepta. A qualidade é essencial para o crescimento econômico e para a manutenção dos ganhos sociais.

N O T A S :
[1] O capital fixo consiste no capital físico que não é consumido durante um ciclo de produção. São os edifícios, máquinas e equipamentos. Corresponde ao ativo fixo de uma empresa.
[2] Bens de capital ou bens de produção são os equipamentos e instalações, são bens ou serviços necessários para a produção de outros bens ou serviços. Bens de capital incluem fábricas, máquinas, ferramentas, equipamentos, e diversas construções que são utilizadas para produzir outros produtos para consumo.
[3] Voluntarismo é a tendência para impor decisões sem admitir que sejam discutidas ou sem as justificar.
[4] A indústria de transformação é o tipo de indústria que transforma matéria-prima em um produto final ou intermediário para outra indústria de transformação. Como exemplo de indústria de transformação temos as refinarias de petróleo que usam o petróleo como matéria-prima tanto para produtos finais como, por exemplo, óleo diesel e gasolina, quanto para produtos intermediários como por exemplo nafta que é utilizada pela indústria petroquímica em diversos produtos como, por exemplo, os plásticos.
[5] Setor terciário (também conhecido como setor de serviços) é aquele que engloba as atividades de serviços e comércio de produtos. É um dos três setores da economia, os outros sendo o Setor Primário (agricultura, extração mineral etc.) e o Setor Secundário  (industrialização). Como componentes do setor de serviços, podemos citar:
- Turismo;
- Serviços bancários;
- Restaurantes;
- Hospitais;
- Serviços de consultoria;
- Corretagem de imóveis;
- Serviços públicos.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Espaço aberto – Sábado, 30 de agosto de 2014 – Pg. A2 – Internet: clique aqui.

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