«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Que pode resultar do acordo do clima?

Washington Novaes

É um passo decisivo, mas sozinho não salvará o planeta

Que se deve pensar, afinal, sobre o acordo assinado em Paris por 195 países – entre eles, o Brasil – na Conferência Mundial do Clima? A controvérsia continua, entre cientistas e políticos que o consideram um “documento histórico e inédito” e outros cientistas e ambientalistas que o julgam até como “retrocesso”. Kevin Anderson, do Centro Tyndall para Pesquisas sobre o Clima, na Grã-Bretanha, apontou o documento, ainda durante a negociação, como um acordo “entre o perigoso e o mortal”. O Observatório do Clima (12/12), por sua vez, considerou-o “um fato histórico, já que pela primeira vez todos os países negociadores concordaram em agir nessa área, de modo a reduzir a temperatura do planeta até para menos de 1,5 grau Celsius”. E quais serão os caminhos e as consequências para o Brasil?

Segundo o jornal The New York Times (13/12), o acordo “é um passo decisivo”; mas sozinho não salvará um planeta que enfrenta:
  • derretimento de gelos polares, 
  • a morte de dezenas de milhões de pessoas por causa de tsunamis e enchentes (segundo a Climate Change, 280 milhões de pessoas vivem em áreas que podem ser cobertas pelos oceanos)
  • onde a agricultura mundial está sob graves ameaças
As emissões de poluentes que se concentram na atmosfera e favorecem as mudanças climáticas precisarão cair para zero em 2050, depois de baixarem significativamente até 2030 – só que em várias partes do mundo se continua a construir usinas a carvão, altamente poluentes, ao mesmo tempo em que a ciência mostra que é preciso renunciar a todos os combustíveis fósseis. Em 20 anos seria indispensável abolir todos os carros a gasolina, fábricas e usinas movidas a carvão e gás, aviões e navios que também usam combustíveis fósseis.

Na verdade, a conferência decidiu não incluir entre os objetivos do acordo o cumprimento de metas fixas de redução de poluentes. E embora o Green Peace diga que a decisão significa “o fim da era das energias fósseis”, essa mesma instituição denunciou que empresas que exploram esses combustíveis pagaram a cientistas para escreverem pesquisas questionando a ocorrência de mudanças climáticas. Tudo muito difícil, partindo de um texto-base com centenas de expressões para serem examinadas uma a uma.
AMAZÔNIA LEGAL BRASILEIRA
Por este mapa percebe-se a importância fundamental das reservas indígenas na preservação
da floresta amazônica!

O Brasil, via Ministério do Meio Ambiente, apoiou com entusiasmo o acordo: “O mundo aprovou um acordo histórico em defesa do clima”. Aprovou também a decisão de destinar US$ 100 bilhões anuais para ajudar os países mais pobres a mitigar efeitos de eventos desastrosos com o clima e, a cada cinco anos, avaliar o resultado das políticas discutidas em Paris. Este jornal, em editorial na terça-feira, também considerou o acordo “um imenso sucesso”, pelo caráter vinculante, pelo compromisso de limitar o aumento médio da temperatura da Terra a 1,5 grau Celsius e pela destinação de US$ 100 bilhões anuais a projetos de mitigação e adaptação às mudanças do clima.

Uma das análises das discussões – da Associação Brasileira de Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco) – defende estar a solução para o problema das emissões no País na eficiência energética. “Hoje, o maior emissor no Brasil é o setor energético: o Brasil deixaria de emitir 10 milhões de toneladas de dióxido de carbono se combatesse o desperdício de energia, que hoje atinge aproximadamente 60TWh/ano”. Apenas isso, entretanto, não levará a que o País reduza suas emissões em 43% até 2030 – ainda que esse caminho tenha sido “o grande responsável pela diminuição da intensidade de carbono em 2012, com mudanças na matriz energética”; e só 8% se deveram “a um mix energético mais limpo”.

Continuam fortes as discussões sobre o desmatamento na Amazônia e sua influência nas mudanças do clima – principalmente depois que se noticiou (O Estado de S. Paulo, 27/11) haver ele aumentado 16% entre agosto do ano passado e julho deste ano. Embora seja o terceiro menor desmate anual, foram 5.831 quilômetros quadrados (40% só em Mato Grosso, com 1.508 km2, seguido de Roraima e Amazonas), por causa do retorno de grandes cortes rasos. E a notícia vem depois de o governo brasileiro haver-se comprometido em Paris a zerar o desmatamento ilegal nos biomas até 2030 (a redução havia sido de 80% no País em dez anos). 
Tukupe Waurá lembrou ao final que seu povo depende da floresta e que
"dinheiro não compra floresta e dinheiro não se come"
Foto: Tatiane Klein-ISA

O Brasil desmata em quatro anos o equivalente ao que se verifica num pequeno país, como Israel – segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). A Amazônia é maior área florestal no mundo – 4,8 milhões km2. Mas “há uma brecha entre a legislação adotada e a implementação de fato”. Os incentivos a projetos econômicos na área, a expansão agrícola e da infraestrutura aumentando o consumo de energia, o uso de recursos naturais têm contribuído muito para o panorama.

As florestas tropicais no mundo podem ajudar muito na área do clima, evitando emissões equivalentes a bilhões de toneladas de carbono por ano (Woods Research Center, EUA). No Brasil, essas emissões por desmatamento se aproximam de um terço do total. Mas o governo prepara medida provisória que autoriza empreendimentos de infraestrutura em terras indígenas (amazonia, 4/12), com compensação financeira de 2% sobre o valor das áreas.

Esse é um dos setores em que a conservação florestal pode ser mais importante – o das reservas indígenas, às quais se costuma dar pouca atenção. E pode agravar-se com a proposta, apoiada pelo governo brasileiro, de autolicenciamento ambiental pelas próprias empresas interessadas, como infraestruturas de energia, logística e comunicações, que terão o licenciamento facilitado pelo não cumprimento de todas as exigências hoje vigentes. O projeto já foi aprovado na Comissão de Desenvolvimento Nacional e não passará por audiências públicas.

Como disse em Paris o índio Tukupe Waurá, do Xingu, “os governantes do Brasil estão doentes e precisam fazer tratamento com pajelança” (ISA, 12/12).

Fonte: O Estado de S. Paulo – Espaço aberto – Sexta-feira, 18 de dezembro de 2015 – Pg. A2 – Internet: clique aqui.

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