«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

ANO NOVO?

Roberto DaMatta*

Em 2016, não será fácil “arrumar” este Brasil do qual sabemos
mais do que queremos
B R A S I L - PAÍS À VENDA ! ! !
Tanto nossas empresas como nossos dirigentes / governantes: tudo tem seu preço no paraíso da corrupção!

Chega o ano novo (do calendário) e eu me sinto mais velho do que nunca. E o nunca é uma palavra pesada por que – além de predispor quem a usa ao traiçoeiro cacófato (veja-se, o trivial e horrível “nunca ganha”) – ela se refere a um tempo sem tempo...

O fato, porém, é que o menino dentro de mim tem que segurar esses incríveis dois milênios, uma década e seis anos. E o menino é também um velho – ou um “jovem de idade” como me diz um bondoso geriatra – e está tão alarmado quanto esperançoso. Já tivemos passagens mais auspiciosas e menos vexatórias.

O novo ano, que era sempre “bom”, tornou-se duvidoso. Todas as previsões econométricas e éticas dizem que ele vai ser um ano ruim. Mas como festejar um “mau ano” na virada protocolar com a qual marcamos o tempo, dividimos eras e, mais uma vez, tentamos cortar a água?

Revolvi calendários de muitas crises – suicídio de Vargas, golpe militar, ditadura, ato institucional, prisões por motivos políticos, ódios partidários irremissíveis, discussões acaloradas permeadas de bofetes, hiperinflação e roubalheiras com macumba presidencial – e eis que muitos desses supostos antigos brasileirismos estão nas nossas costas neste ambíguo e novíssimo 2016.

Posso fugir do espaço, mas não posso me evadir do tempo. E para aumentar minhas ansiedades, inauguramos um belíssimo Museu do Amanhã [no Rio de Janeiro] justo num momento em que o amanhã ensolarado do progresso, da solução de problemas recorrentes e de um Brasil mais justo, administrado com mais rigor e honestidade, sumiu de todos nós.

Em 2016, não será fácil “arrumar” este nosso Brasil do qual sabemos mais do que queremos. A retrospectiva é tenebrosa.

Jamais vi em toda a minha vida um desmanche tão grande do drama político nacional. Jamais fui espectador de tantos atores medíocres, tentando fazer o papel público que lhes cabia desempenhar e, em pleno ato, desabando pela mais completa ausência de sinceridade diante do papel. A presidente, por exemplo, não consegue acertar as falas nem quando as lê!

Não se assiste a tal desastre sem pedir de volta o dinheiro da entrada. Imagine a cena: o presidente da Câmara, sério e de olho na câmera, diz não ter conta na Suíça. Dias depois, a procuradoria suíça o desmente. O presidente nega mentira dita em tempo real. Uma lógica idêntica enquadra o presidente do Senado, o qual fala como um pároco moralista, quando se sabe que ele próprio deve explicações à República. Mas, muito pior que isso, é aguentar a recapitulação da roubalheira planejada e consentida da Petrobrás. Um roubo inédito do governo roubando a si mesmo.

E nisso vai a conta dos generosos empréstimos do BNDES ao Sr. Bumlai, amigo do peito do ex-presidente Lula, um cara que tinha entrada livre no Palácio. Um amigo de fé, mas com o qual Lula somente falava de coisas banais e impessoais. Nem futebol Bumlai discutia com Lula o qual, como informante da polícia, afirma que a Petrobrás era controlada pelo famoso “guerreiro do povo brasileiro”, José Dirceu. Herói injustamente condenado que, contudo, teve a imaginação e a capacidade para ganhar mais do que nós recebemos em todas as nossas vidas, enquanto estava mais embrulhado com a lei do que presente de Natal. Dentro em breve, porém, uma boa nova no novo ano circula que ele será indultado.

No Brasil, sempre valeu o axioma do “aos inimigos a lei; aos amigos, tudo!”. Menos, é claro, para o ex-presidente Lula, para a presidenta Dilma e para os petistas graduados. Entre eles, não cabe esse lema político que tem fabricado a história do Brasil e explicado o País mais do que a fábula da tal “revolução burguesa”. Revolução, aliás, com burguesia, mas sem os burgueses de Maupassant, Balzac e Flaubert.

Vamos entrar em 2016 com a República nos devendo muito. Sobretudo no que tange ao equilíbrio delicado entre Executivo, Legislativo e Judiciário, pois o que testemunhamos é o alto risco de um total desequilíbrio entre esses poderes. Isso para não falar da Procuradoria-Geral da República e da Polícia Federal.
ROBERTO DAMATTA
Antropólogo

Mesmo não sendo pessimista, eu sei que devemos todos passar por um sério momento de reconstrução da honestidade e do sentido de dever neste ano de 2016. Caso contrário, morremos civicamente.

De um lado, tudo retorna, mas volta como farsa, conforme se gosta de repetir, mas como densa tragédia; do outro, tudo vai ser novo e cristalino, porque assim exigimos. E nisso está, espero, o espírito de 2016.

Feliz ano novo!

* Roberto DaMatta é graduado e licenciado em História pela Universidade Federal Fluminense (1959 e 1962), possui curso de especialização em antropologia social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1960) bem como mestrado (Master in Arts) e doutorado em 1969 e 1971 respectivamente pela Universidade Harvard (Estados Unidos). Foi chefe do departamento de Antropologia do Museu Nacional e o coordenador do seu programa de pós-graduação em Antropologia Social (de 1972 a 1976). É professor emérito da Universidade norte-americana de Notre Dame, onde ocupou a cátedra Rev. Edmund Joyce, c.s.c., de Antropologia de 1987 a 2013. Atualmente, é professor titular do Departamento de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).

Fonte: O Estado de S. Paulo – Caderno 2 – Quarta-feira, 30 de dezembro de 2015 – Pg. C8 – Internet: clique aqui.

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