FELIZ ANO NOVO ? ? ?
NA POLÍTICA:
Diagnóstico sombrio
Editorial
Os brasileiros começam a se dar conta de que nenhuma
prioridade nacional será séria e eficientemente atacada enquanto a energia
política do País estiver concentrada na corrupção
Pecuarista José Carlos Bumlai, detido na 21ª fase da operação Lava Jato, tem relação de proximidade com o ex-presidente Lula. Vários outros investigados pela PF também mantinham contatos frequentes com o petista. Terça-feira, 24 e novembro de 2015 |
Um em cada três brasileiros entende que a corrupção é o maior problema do País, de acordo com a pesquisa Datafolha divulgada no último fim de semana. Cerca de um ano atrás esse índice oscilava em torno dos 10%. De lá para cá, explodiu, deixando muito para trás as marcas relativas a questões estruturais, como saúde e educação, ou conjunturais, como o desemprego, que interferem diretamente na vida dos cidadãos. Como se explica isso?
O
que parece estar ocorrendo é que os
brasileiros começam a se dar conta de que nenhuma prioridade nacional será
séria e eficientemente atacada enquanto a energia política do País estiver
concentrada na corrupção, seja para praticá-la, seja para livrar seus
agentes da responsabilização penal. A conclusão é óbvia: o Brasil precisa urgentemente de rigorosa faxina política. A ação
saneadora depende em boa medida da Polícia, do Ministério Público e do
Judiciário, além de outros órgãos de controle, que têm funcionado. Mas a bala de prata capaz de acabar com o
predomínio de corruptos e corruptores na vida pública está na arma que as
instituições democráticas colocam ao alcance de cada cidadão: o voto. E
urge que a cidadania exercite com eficiência esse poder, antes que algum
aventureiro messiânico use em benefício próprio a indignação nacional para se
legitimar no papel de salvador da Pátria, missão cujo cumprimento começa quase
sempre pela supressão da liberdade.
A
pesquisa comprova que os brasileiros
debitam aos políticos os males da corrupção. O resultado pode ter sido
influenciado pelo fato de ela ter sido realizada logo após o anúncio das
prisões do amigo do peito de Lula, o empresário José Carlos Bumlai, do líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral, e do banqueiro André Esteves. Os três são acusados de
envolvimento em esquemas de corrupção relacionados com a gestão da coisa
pública e são, por isso, “figurões” da política. Mais do que isso, as ilicitudes de que são acusados têm todas
o DNA do lulopetismo e de seu projeto de poder e de favorecimento de suas
principais lideranças. Isso tem a ver, certamente, com o fato de que a
avaliação de Lula como presidente da República despencou significativamente
desde que ele deixou o Planalto: na
resposta ao quesito “quem foi o melhor presidente” os 71% que Lula teve em
2010, último ano de seu segundo mandato, caíram para 39% agora – o que
ainda o mantém na imerecida posição de ex-presidente mais bem avaliado, com
mais do dobro do índice obtido por Fernando Henrique Cardoso.
Senador Renan Calheiros, Senador Delcídio do Amaral e Senador Edson Lobão numa das reuniões de Lula com a nata dos encrencados na Operação Lava Jato |
Mas em eventual disputa em 2018, em cenários diferentes tanto para o primeiro quanto para o segundo turno, Lula não está à frente em nenhum. No primeiro turno, quaisquer que sejam os adversários, teria apenas 22% dos votos. No segundo turno, perderia também, sempre por larga margem, para Aécio Neves (51% a 32%), Geraldo Alckmin (45% a 34%) e Marina Silva (52% a 31%). Tanto Lula quanto Aécio marcaram menos pontos que na pesquisa anterior; o desempenho de Marina foi um pouco melhor.
Ainda
em termos individuais, a pesquisa revela
que 2 em cada 3 brasileiros entendem que Dilma Rousseff deveria ser afastada de
suas funções ou renunciar à Presidência. E um contingente maior ainda, 81% dos entrevistados, apoia a cassação do
mandato do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Como
instituição, o Congresso teve sua pior
avaliação desde 1993:
- 53% dos brasileiros consideram ruim/péssimo o desempenho dos parlamentares,
- contra 34% que cravaram a avaliação de regular e
- 8% de ótimo/bom
- (5% não têm opinião formada).
Não existe democracia sem o
exercício da atividade política e da representação popular. O fato de os brasileiros
estarem insatisfeitos com os representantes que eles próprios escolheram dá uma
ideia da insatisfação geral com a chamada classe política. A indignação contra
a corrupção explica apenas parte dessa indisposição. Os defeitos flagrantes do sistema partidário e eleitoral e as
deficiências da representação política pesam muito na composição do estado de
espírito do povo.
Fonte: O Estado de S. Paulo –
Notas e Informações – Terça-feira, 1 de dezembro de 2015 – Pg. A3 – Internet: clique aqui.
NA ECONOMIA:
Virada de ano sem perspectiva
Editorial
Dezembro
começa com:
- o governo quase paralisado, sem dinheiro para gastar e
- com perspectiva de um novo ano muito ruim,
- com mais contração econômica,
- inflação acima do limite de tolerância e
- juros parecidos com os de 2015.
Mais
R$ 11,51 bilhões de verbas federais para despesas foram congelados ontem por
decreto presidencial. Foi uma tentativa de evitar uma violação da Lei de Responsabilidade Fiscal, enquanto
se espera a aprovação, pelo Congresso,
da nova meta proposta para 2015, um déficit primário – sem contar os juros – de
até R$ 119,9 bilhões. Na melhor hipótese, a meta será autorizada ainda
hoje. Neste caso, o sufoco neste mês será um pouco menor, mas sem esperança de
recuperação, a curto prazo, das esburacadas contas públicas. Qualquer melhora
duradoura das condições econômicas dependerá do conserto dessas contas.
O
desastre das finanças oficiais continuou em outubro, segundo os números
divulgados pelo Banco Central (BC). O conjunto do setor público, formado pelos
três níveis de governo e por uma parte das estatais, teve um déficit primário
de R$ 11,53 bilhões no mês passado, de R$ 19,95 bilhões no ano e de R$ 40,93
bilhões em 12 meses.
O pior desempenho tem sido o
do governo central – Tesouro, Banco Central e Previdência –, com déficit
primário de R$ 12,32 bilhões no mês, R$ 34,04 bilhões em 2015 e R$ 39,94 bilhões em 12
meses. Somando-se as despesas com juros,
chega-se ao resultado nominal, o mais importante para avaliar a posição do
setor público.
O acumulado do governo
central em 12 meses, no valor de R$ 450,79 bilhões, equivale a 7,81% do Produto
Interno Bruto (PIB). O do conjunto do setor público, de R$ 547,86 bilhões, corresponde a
9,5% do PIB, quase um recorde mundial, superado apenas por países em condição
catastrófica, como a Venezuela.
O
governo promete para o próximo ano um desempenho fiscal bem melhor, embora
insuficiente para repor a dívida pública na trajetória desejada. O plano da
equipe econômica é atingir um superávit primário equivalente a 0,7% do PIB no
conjunto das finanças públicas. Não se sabe, ainda, como isso será possível,
com mais um ano de atividade em queda e com o governo ainda à espera da
improvável recriação do imposto do cheque, a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).
DILMA ROUSSEFF (PT) - Presidente da República do Brasil O Brasil vive a sua mais dramática recessão dos últimos tempos! |
O cenário desenhado com as projeções do mercado é de um desastre prolongado, de acordo com a pesquisa Focus, conduzida semanalmente pelo Banco Central por meio de consultas a cerca de cem entidades. O PIB deverá encolher 2,04%, depois de uma contração de 3,19% neste ano. Isso obviamente reduzirá mais um pouco a base de tributação, já diminuída severamente em 2015. A dívida líquida do setor público chegará, segundo as estimativas, a 40% do PIB, com um bom salto em relação ao nível final calculado para este ano, de 35,5%. Será uma consequência inevitável das más condições das finanças governamentais.
Curiosamente,
a nova pesquisa Focus, divulgada ontem, manteve em 6,64% a inflação oficial estimada para 2016. Isso talvez se
explique pela expectativa de um nível de
atividade muito baixo. Por enquanto, a recessão foi insuficiente para frear
a alta de preços, mas esse efeito poderá ocorrer no próximo ano – embora a
inflação deva superar com folga o limite de tolerância, de 6,5%. Esse limite,
já muito alto pelos padrões internacionais, é um bom indício da política
permissiva seguida há anos pelo governo federal.
Sem
perspectiva de maior sucesso no combate à inflação, os economistas do mercado abandonaram gradualmente, nas últimas
semanas, a expectativa de juros mais baixos em 2016. Há quatro semanas, a
mediana das projeções apontava para uma taxa básica de 13% no fim de 2016. A previsão, agora, é de 14,13%, muito
próxima da atualmente em vigor, de 14,25%. Se as bolas de cristal estiverem
funcionando bem, o freio dos juros continuará travando a economia por mais um
ano – com perspectiva de mais desemprego
misturado com inflação e enormes custos sociais.
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