«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Papa indica "antibióticos" para combater doenças da Cúria e da Igreja!

Jéssica Marçal

Papa disse que algumas “doenças” atingiram a Cúria Romana em 2015;
são necessárias virtudes, que ele chama de “antibióticos”,
para combater esses problemas 
PAPA FRANCISCO
Discursa durante encontro para as saudações de Natal e Ano Novo com membros da Cúria Romana
Sala Clementina - Vaticano
Segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
[Clique sobre a imagem para ampliá-la]

A palavra misericórdia esteve no centro do discurso do Papa Francisco à Cúria Romana nesta segunda-feira, 21 de dezembro, no encontro para as felicitações de Natal. Na reflexão, o Santo Padre indicou alguns “antibióticos” para combater doenças que afetam a Cúria.

No discurso do ano passado, Francisco fez um “catálogo das doenças curiais” [clique aqui para ler o discurso histórico do ano passado]. Ele disse que algumas dessas doenças se manifestaram ao longo de 2015, “causando não pouco sofrimento a todo o corpo e ferindo muitas almas”. Então, no discurso desse ano, ele propôs um “catálogo de virtudes necessárias” para quem presta serviço na Cúria, o que ele mesmo chamou de “antibióticos curiais”.

Francisco pontuou, porém, que nem essas doenças nem os escândalos podem esconder a eficiência dos serviços prestados pela Cúria Romana ao Papa e à Igreja. Segundo ele, seria grande injustiça deixar de agradecer e de encorajar tantas pessoas honestas que trabalham com dedicação, lealdade e profissionalismo. “Além disso, as próprias resistências, fadigas e quedas das pessoas e dos ministros constituem lições e oportunidades de crescimento, e nunca de desânimo”.
PAPA FRANCISCO
Indica doze "antibióticos" (virtudes) contra as doenças da Cúria Romana e da própria Igreja

As virtudes necessárias

Os “antibióticos” indicados pelo Papa para combater as doenças da Cúria são 12, e todos eles têm como carro-chefe a misericórdia:
  1. missionariedade e pastoreação;
  2. idoneidade e sagácia;
  3. espiritualidade e humanidade;
  4. exemplaridade e fidelidade;
  5. racionalidade e amabilidade;
  6. inocuidade e determinação;
  7. caridade e verdade;
  8. honestidade e maturidade;
  9. respeito e humildade;
  10. ser dadivoso e atento;
  11. impavidez e prontidão e
  12. fiabilidade e sobriedade.
Segundo Francisco, a misericórdia não é um sentimento passageiro, mas a síntese da Boa Nova. Sendo assim, o Papa convidou a Cúria Romana a se deixar conduzir pela misericórdia. “Seja a misericórdia a guiar os nossos passos, a inspirar as nossas reformas, a iluminar as nossas decisões; seja ela a coluna sustentáculo do nosso agir; seja ela a ensinar-nos quando devemos avançar e quando devemos recuar um passo; seja ela a fazer-nos ler a pequenez das nossas ações no grande projeto de salvação de Deus e na majestade misteriosa da sua obra”.

Leia a íntegra do discurso de papa Francisco:


DISCURSO
Encontro do Papa Francisco com a Cúria Romana para as felicitações de Natal
Sala Clementina – Vaticano
Segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Queridos irmãos e irmãs!

Com alegria, vos dirijo os meus votos mais cordiais de um santo Natal e feliz Ano Novo, que estendo a todos os colaboradores, aos Representantes Pontifícios e de modo particular àqueles que, tendo chegado à idade da reforma durante este ano, terminaram o seu serviço. Recordamos também as pessoas que foram chamadas à presença de Deus. Para vós todos e vossos familiares, a minha estima e gratidão.

No meu primeiro encontro convosco, em 2013, quis salientar dois aspectos importantes e inseparáveis do trabalho curial: o profissionalismo e o serviço, apontando a figura de São José como modelo a imitar. Ao passo que no ano passado, a fim de nos prepararmos para o sacramento da Reconciliação, abordamos algumas tentações e «doenças» – o «catálogo das doenças curiais» – que poderiam afetar cada cristão, cúria, comunidade, congregação, paróquia e movimento eclesial; doenças, que requerem prevenção, vigilância, cuidado e, em alguns casos infelizmente, intervenções dolorosas e prolongadas.

Algumas dessas doenças manifestaram-se no decurso deste ano, causando não pouco sofrimento a todo o corpo e ferindo muitas almas.

Forçoso é dizer que isto foi – e sê-lo-á sempre – objeto de sincera reflexão e de medidas decisivas. A reforma prosseguirá com determinação, lucidez e ardor, porque Ecclesia semper reformanda [a Igreja está sempre sendo reformada].

Entretanto nem as doenças nem mesmo os escândalos poderão esconder a eficiência dos serviços que a Cúria Romana presta ao Papa e à Igreja inteira, com desvelo, responsabilidade, empenho e dedicação, sendo isso motivo de verdadeira consolação. Santo Inácio ensinava que «é próprio do espírito mau vexar, contristar, colocar dificuldades e turbar com falsas razões, para impedir de avançar; ao contrário, é próprio do espírito bom dar coragem e energias, consolações e lágrimas, inspiração e serenidade, diminuindo e removendo qualquer dificuldade, para avançar no caminho do bem». [1]

Seria grande injustiça não expressar sentida gratidão e o devido encorajamento a todas as pessoas sãs e honestas que trabalham com dedicação, lealdade, fidelidade e profissionalismo, oferecendo à Igreja e ao Sucessor de Pedro o conforto da sua solidariedade e obediência bem como das suas generosas orações.

Além disso, as próprias resistências, fadigas e quedas das pessoas e dos ministros constituem lições e oportunidades de crescimento, e nunca de desânimo. São oportunidade para «voltar ao essencial», que significa avaliar a consciência que temos de nós mesmos, de Deus, do próximo, do sensus Ecclesiae [sentir da Igreja] e do sensus fidei [sentir da fé].

É deste «voltar ao essencial» que vos quero falar hoje, nos inícios da peregrinação do Ano Santo da Misericórdia, aberto pela Igreja há poucos dias e que constitui para ela e para todos nós um forte apelo à gratidão, à conversão, à renovação, à penitência e à reconciliação.

Na realidade, segundo diz Santo Agostinho de Hipona, o Natal é a festa da Misericórdia infinita de Deus: «Podia haver, para infelizes como nós, maior misericórdia do que aquela que induziu o Criador do céu a descer do céu e o Criador da terra a revestir-se dum corpo mortal? Aquela mesma misericórdia induziu de tal modo o Senhor do mundo a revestir-Se da natureza de servo, que embora sendo pão tivesse fome, embora sendo a saciedade tivesse sede, embora sendo a força Se tornasse fraco, embora sendo a salvação fosse ferido, embora sendo vida pudesse morrer. E tudo isto para saciar a nossa fome, aliviar a nossa secura, reforçar a nossa fraqueza, apagar a nossa iniquidade, acender a nossa caridade». [2]

Por isso, no contexto deste Ano da Misericórdia e da preparação para o santo Natal, já à porta, quero apresentar-vos um instrumento prático para se poder viver frutuosamente este tempo de graça. Trata-se de um não-exaustivo «catálogo das virtudes necessárias», para quem presta serviço na Cúria e para todos aqueles que querem tornar fecunda a sua consagração ou o seu serviço à Igreja.

Convido os Responsáveis dos Dicastérios e os Superiores a aprofundá-lo, enriquecê-lo e completá-lo. É um elenco em acróstico que toma por base de análise precisamente a palavra «misericórdia», fazendo dela o nosso guia e o nosso farol:

1. Missionariedade e pastoreação. A missionariedade é aquilo que torna, e mostra, a Cúria fértil e fecunda; é a prova da eficácia, eficiência e autenticidade do nosso trabalho. A fé é um dom, mas a medida da nossa fé prova-se também pelo modo como somos capazes de a comunicar. [3] Cada batizado é missionário da Boa Nova primariamente com a sua vida, o seu trabalho e o seu testemunho jubiloso e convincente. Uma pastoreação sã é virtude indispensável especialmente para cada sacerdote. É o compromisso diário de seguir o Bom Pastor que cuida das suas ovelhas e dá a sua vida para salvar a vida dos outros. É a medida da nossa atividade curial e sacerdotal. Sem estas duas asas nunca poderemos voar, nem alcançar a bem-aventurança do «servo fiel» (cf. Mt 25,14-30).

2. Idoneidade e sagácia. A idoneidade requer o esforço pessoal por adquirir os requisitos necessários para se exercer da melhor maneira as próprias tarefas e atividades, com inteligência e intuição. É contra recomendações e subornos. A sagácia é a prontidão de mente para compreender e enfrentar as situações com sabedoria e criatividade. Idoneidade e sagácia constituem também a resposta humana à graça divina, quando cada um de nós segue esta famosa sentença: «Fazer tudo como se Deus não existisse e, depois, deixar tudo a Deus como se eu não existisse». É o comportamento do discípulo que, diariamente, se dirige ao Senhor com estas palavras duma belíssima Oração Universal atribuída ao Papa Clemente XI: «Guiai-me com a vossa sabedoria, governai-me com a vossa justiça, encorajai-me com a vossa bondade, protegei-me com o vosso poder. Ofereço-Vos, ó Senhor, os pensamentos, para que estejam fixos em Vós; as palavras, para que sejam vossas; as ações, para que sejam segundo o vosso querer; as tribulações, para que as sofra por Vós». [4]

3. ESpiritualidade e humanidade. A espiritualidade é a coluna sustentáculo de qualquer serviço na Igreja e na vida cristã. É aquilo que nutre toda a nossa atividade, sustenta-a e protege-a da fragilidade humana e das tentações diárias. A humanidade é o que encarna a veridicidade da nossa fé. Quem renuncia à sua humanidade, renuncia a tudo. É a humanidade que nos torna diferentes das máquinas e dos robôs que não sentem nem se comovem. Quando temos dificuldade em chorar a sério ou rir com paixão, então começou o nosso declínio e o nosso processo de transformação de «homens» noutra coisa qualquer. A humanidade é saber mostrar ternura, familiaridade e gentileza com todos (cf. Flp 4,5). A espiritualidade e a humanidade, embora qualidades inatas, não deixam de ser potencialidades que carecem de realização integral, progressivo desenvolvimento e prática diária.

4. Exemplaridade e fidelidade. O Beato Paulo VI recordou à Cúria «a sua vocação à exemplaridade». [5] Exemplaridade para evitar os escândalos que ferem as almas e ameaçam a credibilidade do nosso testemunho. Fidelidade à nossa consagração, à nossa vocação, lembrando-nos sempre das palavras de Cristo: «quem é fiel no pouco, também é fiel no muito; e quem é infiel no pouco, também é infiel no muito» (Lc 16,10) e «se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem em Mim, seria preferível que lhe suspendessem do pescoço a mó de um moinho e o lançassem nas profundezas do mar. Ai do mundo, por causa dos escândalos! São inevitáveis, decerto, os escândalos; mas ai do homem por quem vem o escândalo» (Mt 18,6-7).

5. Racionalidade e amabilidade. A racionalidade serve para evitar os excessos emocionais e a amabilidade para evitar os excessos da burocracia e das programações e planificações. São dotes necessários para o equilíbrio da personalidade: «O inimigo observa bem se uma alma é rude ou delicada; se é delicada, procura torná-la delicada até ao excesso, para depois mais a angustiar e confundir». [6] Todo o excesso é indício de qualquer desequilíbrio.

6. Inocuidade e determinação. A inocuidade, que nos torna cautelosos no juízo, capazes de nos abstermos de ações impulsivas e precipitadas. É a capacidade de fazer emergir o melhor de nós mesmos, dos outros e das situações, agindo com cuidado e compreensão. É fazer aos outros aquilo que querias que fosse feito a ti (cf. Mt 7,12; Lc 6,31). A determinação é o agir com vontade decidida, visão clara e obediência a Deus e somente pela lei suprema da salus animarum [salvação das almas] (cf. CIC, cân. 1725).

7. Caridade e verdade. Duas virtudes indissolúveis da vida cristã: «testemunhar a verdade na caridade e viver a caridade na verdade» (cf. Ef 4,15). [7] Do contrário, a caridade sem verdade torna-se ideologia da bonacheirice [bondade excessiva, ingênua] destrutiva e a verdade sem caridade torna-se justicialismo cego.

8. HOnestidade e maturidade. A honestidade é a retidão, a coerência e o agir com absoluta sinceridade conosco mesmos e com Deus. Quem é honesto não age retamente apenas sob o olhar do supervisor ou do superior; o honesto não teme ser apanhado de surpresa, porque nunca engana a quem se fia dele. O honesto nunca domina sobre as pessoas ou sobre as coisas que lhe foram confiadas em administração, como o «servo mau» (Mt 24,48). A honestidade é a base sobre a qual assentam todas as outras qualidades. Maturidade é o esforço para alcançar a harmonia entre as nossas capacidades físicas, psíquicas e espirituais. É a meta e o bom êxito dum processo de desenvolvimento que não termina jamais nem depende da idade que temos.

9. Respeito e humildade. O respeito é dote das almas nobres e delicadas; das pessoas que procuram sempre ter em justa consideração os outros, a sua função, os superiores e os subordinados, os problemas, os documentos, o segredo e a confidencialidade; das pessoas que sabem ouvir atentamente e falar educadamente. A humildade, por sua vez, é a virtude dos santos e das pessoas cheias de Deus, que quanto mais sobem de importância tanto mais cresce nelas a consciência de nada serem e de nada poderem fazer sem a graça de Deus (cf. Jo 15,8).

10. Dadivoso e atento. Quanto maior confiança tivermos em Deus e na sua providência, tanto mais seremos dadivosos de alma e mais seremos mãos abertas para dar, sabendo que quanto mais se dá, mais se recebe. Na realidade, é inútil abrir todas as Portas Santas de todas as basílicas do mundo, se a porta do nosso coração está fechada ao amor, se as nossas mãos estão fechadas para dar, se as nossas casas estão fechadas para hospedar e se as nossas igrejas estão fechadas para acolher. A atenção é o cuidado dos detalhes e a oferta do melhor de nós mesmos sem nunca cessar de vigiar sobre os nossos vícios e faltas. São Vicente de Paulo rezava assim: «Senhor, ajudai-me a dar-me conta, imediatamente, daqueles que estão ao meu lado, daqueles que vivem preocupados e desorientados, daqueles que sofrem sem o manifestar, daqueles que se sentem isolados, sem o querer».

11. Impavidez e prontidão. Ser impávido significa não se deixar amedrontar perante as dificuldades, como Daniel na cova dos leões, como Davi diante de Golias; significa agir com audácia e determinação e sem indolência «como bom soldado» (2Tm 2,3-4); significa saber dar o primeiro passo sem demora, como Abraão e como Maria. Por sua vez, a prontidão é saber atuar com liberdade e agilidade, sem apegar-se às coisas materiais que passam. Diz o salmo: «Se as vossas riquezas crescerem, não lhes entregueis o coração» (Sal 62/61,11). Estar pronto significa estar sempre a caminho, sem jamais se sobrecarregar acumulando coisas inúteis e fechando-se nos próprios projetos, nem se deixar dominar pela ambição.

12. FiAbilidade e sobriedade. Fiável é aquele que sabe manter os compromissos com seriedade e atendibilidade quando está a ser observado mas, sobretudo, quando está sozinho; é aquele que ao seu redor irradia uma sensação de tranquilidade, porque nunca atraiçoa a confiança que lhe foi concedida. A sobriedade – última virtude deste elenco, mas não na importância – é a capacidade de renunciar ao supérfluo e resistir à lógica consumista dominante. A sobriedade é prudência, simplicidade, essencialidade, equilíbrio e temperança. A sobriedade é contemplar o mundo com os olhos de Deus e com o olhar dos pobres e do lado dos pobres. A sobriedade é um estilo de vida, [8] que indica o primado do outro como princípio hierárquico e manifesta a existência como solicitude e serviço aos outros. Quem é sóbrio é uma pessoa coerente e essencial em tudo, porque sabe reduzir, recuperar, reciclar, reparar e viver com o sentido de medida.

Queridos irmãos!

A misericórdia não é um sentimento passageiro, mas é a síntese da Boa Nova, é a opção de quem quer ter os sentimentos do «Coração de Jesus», [9] de quem seriamente quer seguir o Senhor que nos pede: «Sede misericordiosos como o vosso Pai» (Lc 6,36; cf. Mt 5,48). Afirma o padre Hermes Ronchi: «Misericórdia é escândalo para a justiça, loucura para a inteligência, consolação para nós, devedores. A dívida de existir, a dívida de ser amados, só se paga com a misericórdia».

Concluindo:
  • seja a misericórdia a guiar os nossos passos,
  • a inspirar as nossas reformas,
  • a iluminar as nossas decisões;
  • seja ela a coluna sustentáculo do nosso agir;
  • seja ela a ensinar-nos quando devemos avançar e quando devemos recuar um passo;
  • seja ela a fazer-nos ler a pequenez das nossas ações no grande projeto de salvação de Deus e na majestade misteriosa da sua obra.
Para nos ajudar a compreender isto, deixemo-nos encantar por esta estupenda oração, vulgarmente atribuída ao Beato Óscar Arnulfo Romero mas pronunciada pela primeira vez pelo Cardeal John Dearden:

«De vez em quando ajuda-nos recuar um passo e ver de longe.
O Reino não está apenas para além dos nossos esforços,
está também para além das nossas visões.
Na nossa vida, conseguimos cumprir apenas uma pequena parte
daquele maravilhoso empreendimento que é a obra de Deus.
Nada daquilo que fazemos está completo.
Isto quer dizer que o Reino está mais além de nós mesmos.
Nenhuma afirmação diz tudo o que se pode dizer.
Nenhuma oração exprime completamente a fé.
Nenhum credo contém a perfeição.
Nenhuma visita pastoral traz consigo todas as soluções.
Nenhum programa cumpre plenamente a missão da Igreja.
Nenhuma meta ou objetivo atinge a dimensão completa.
Disto se trata:
plantamos sementes que um dia nascerão.
Regamos sementes já plantadas,
sabendo que outros as guardarão.
Pomos as bases de algo que se desenvolverá.
Pomos o fermento que multiplicará as nossas capacidades.
Não podemos fazer tudo,
mas dá uma sensação de libertação iniciá-lo.
Dá-nos a força de fazer qualquer coisa e fazê-la bem.
Pode ficar incompleto, mas é um início, o passo dum caminho.
Uma oportunidade para que a graça de Deus entre
e faça o resto.
Pode acontecer que nunca vejamos a sua perfeição,
mas esta é a diferença entre o mestre de obras e o trabalhador.
Somos trabalhadores, não mestres de obras,
servidores, não messias.
Somos profetas de um futuro que não nos pertence».

NOTAS

[1] Exercícios Espirituais, 315.
[2] Cf. Serm. 207, 1: NBA, XXXII/1, 148s.
[3] «A missionariedade não é questão apenas de territórios geográficos, mas de povos, culturas e indivíduos, precisamente porque os “confins” da fé não atravessam apenas lugares e tradições humanas, mas o coração de cada homem e mulher. O Concílio Vaticano II pôs em evidência de modo especial como seja próprio de cada batizado e de todas as comunidades cristãs o dever missionário, o dever de alargar os confins da fé» (Mensagem para o Dia Mundial das Missões de 2013, 2).
[4] Missale Romanum, 2002.
[5] Discurso à Cúria Romana, 21 de Setembro de 1963: AAS 55 (1963), 793-800.
[6] Santo Inácio de Loyola, Exercícios Espirituais, 349.
[7] «A caridade na verdade, que Jesus Cristo testemunhou com a sua vida terrena e, sobretudo, com a sua morte e ressurreição, é a força propulsora principal para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da humanidade inteira. (…) É uma força que tem a sua origem em Deus, Amor eterno e Verdade absoluta» (Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate, 29 de Junho de 2009, 1: AAS 101 (2009), 641), por isso é preciso «conjugar a caridade com a verdade, não só na direção assinalada por S. Paulo da “veritas in caritate” (Ef 4, 15), mas também na direção inversa e complementar da “caritas in veritate”. A verdade há de ser procurada, encontrada e expressa na “economia” da caridade, mas esta por sua vez há de ser compreendida, avaliada e praticada sob a luz da verdade» (Ibid., 2).
[8] Um estilo de vida caracterizado pela sobriedade restitui ao homem aquele «comportamento desinteressado, gratuito, estético que brota do assombro diante do ser e da beleza, que leva a ler, nas coisas visíveis, a mensagem do Deus invisível que as criou» (João Paulo II, Carta enc. Centesimus annus, 37; cf. AA.VV., Nuovi stili di vita nel tempo della globalizzazione, Fond. «Apostolicam Actuositatem», Roma 2002).
[9] São João Paulo II disse no «Ângelus» de 9 de Julho de 1989: «A expressão “Coração de Jesus” traz de imediato à mente a humanidade de Cristo, e ressalta-lhe a riqueza dos sentimentos, a compaixão para com os enfermos; a predileção pelos pobres; a misericórdia para com os pecadores; a ternura para com as crianças; a fortaleza na denúncia da hipocrisia, do orgulho e da violência; a mansidão diante dos opositores; o zelo pela glória do Pai e o júbilo pelos seus misteriosos e providentes desígnios de graça (…) recorda depois a tristeza de Cristo pela traição de Judas, o abatimento por causa da solidão, a angústia diante da morte, o abandono filial e obediente nas mãos do Pai. E fala, sobretudo, do amor que sem cessar brota do seu íntimo: amor infinito para com o Pai e amor sem limites pelo homem».

Fonte: Canção Nova – Papa Francisco – Discursos – Segunda-feira, 21 de dezembro de 2015 – 09h32 – Internet: clique aqui; 08h46 – Internet: clique aqui.

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