«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

PARE! PENSE UM POUCO! Um retrato de nosso país para se refletir

Um recesso produtivo, bom para mudar o País

Washington Novaes
Jornalista

É quase um milagre que o País siga superando com suas 
próprias forças o que falta

Fim de ano, começo de ano, recesso – parece um bom momento para que o País reformule para todos um modelo que o afaste de rumos hoje tão conturbados. E para que setores conceituados da sociedade definam um sistema que pode, como já se comentou neste espaço, incluir caminhos que possibilitem aos cidadãos cobrar de seus representantes em todos os níveis o que desejam – e até afastá-los de seus postos, se necessário. Como acontece em regimes parlamentaristas, por exemplo, e que prevejam o voto distrital e o recall, em que os eleitores, se insatisfeitos, até responsabilizem e destituam esses representantes. Uma tarefa para instituições respeitadas nacionalmente, como igrejas, delegados de categorias sociais (universitários, advogados, cientistas políticos, médicos, professores, engenheiros, arquitetos e outros que tenham contribuições a oferecer).

O que não é concebível é um modelo em que, como agora, a cada dia se revelem novos casos de corrupção, envolvendo quantias fabulosas manipuladas por grandes empreiteiras e outras. Pode-se até achar que é progresso (e é, a revelação), mas não se pode continuar apenas por aí. Pode-se dizer que “sempre foi assim”, mas também é indispensável a inflexão. O autor destas linhas, em sua infância, testemunhou seu pai, pessoa de honestidade a toda prova, renunciar ao cargo de vereador de um pequeno município paulista, ao ouvir numa cerimônia um governador do Estado referir-se com naturalidade a um secretário que fugira para o Paraguai “levando o dinheiro da caixinha”. Mas não se pode aceitar que desonestos continuem prevalecendo; que essa seja “a regra do jogo”; que, de outra forma, “não valeria a pena fazer política”; que é indispensável candidatos serem financiados por grandes doações de empresas nas eleições. E, assim, continuem num mundo à parte, desligado da sociedade.

Também não se pode seguir, como agora, num país onde:
  • 1,5 milhão de trabalhadores com carteira assinada tenham perdido seu emprego em um ano.
  • Onde as previsões para o crescimento econômico – tido por muita gente como o mais desejado de todos os índices – sejam todas negativas para 2016.
  • Onde o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) coloque o Brasil em 75.º lugar no mundo (O Estado de S. Paulo, 14/12) – apesar de ser um território continental, com mais de 12% de toda a água superficial do planeta e de toda a sua biodiversidade.
  • Não faz sentido que o quase único estímulo desejado para empresas esteja na isenção ou na redução de impostos – quando não na sonegação, que já chegou no ano passado a R$ 500 bilhões (O Estado de S. Paulo, 12/4/2015).
  • E com a concentração de renda espantosa que leva os detentores das maiores fortunas a deterem alta porcentagem do PIB nacional (2/3/2015).
  • Mas o Brasil todo, do pequeno assalariado ao grande industrial, arca com uma carga tributária de quase 40% deste mesmo PIB, ou R$ 1,6 trilhão por ano em impostos, taxas e contribuições (O Estado de S. Paulo, 2/12/2014).

Enquanto isso, vamos vivendo em cidades que crescem à matroca, sem planos diretores que as disciplinem – assim como suas relações com os outros aglomerados de áreas metropolitanas; entupindo as ruas com cerca de 3 milhões de veículos a cada ano e taxas de poluição prejudiciais ao ser humano, em índices muito superiores ao máximo admitido pela Organização Mundial da Saúde; e com as pessoas de menor renda vivendo em setores sem nenhuma estrutura.

Não se pensa, entretanto, em regras saneadoras. A última moda, ao contrário, é defender que as próprias empresas façam o autolicenciamento ambiental, quando grande parte delas não cumpre sequer as exigências que estão no licenciamento de hoje – tal como aconteceu no recente desabamento de uma barragem em Minas Gerais.

E por aí vamos, ouvindo a defesa da privatização a qualquer custo, mesmo que seja a dilapidação de um patrimônio construído pela sociedade (como aconteceu no setor ferroviário, que durante um século e meio era o principal e eficiente meio de transporte a distâncias maiores no País, mas foi sucateado para abrir caminho para a indústria automotora – e aos subsídios ao petróleo poluidor e às próprias montadoras). 
ESGOTO ESCORRE AO AR LIVRE!!!
Cerca de 40% da população brasileira não possui rede de esgoto em sua moradia!!!

Saneamento básico nas zonas urbanas?
  • Continuamos devendo em perto de 40% dos domicílios sem coleta de esgotos, com despejo dos dejetos sem tratamento nos rios (se calcularmos que 80 milhões de pessoas não dispõem de ligação de sua residência com a rede de coleta, são 32 mil toneladas diárias de dejetos, média de 200 gramas/dia por pessoa).
  • E com desperdício nas redes de 40% da água que sai das estações de tratamento, por causa de vazamentos e furtos. Como fazer, se as grandes empreiteiras que dominam o setor não se interessam por pequenas obras para eliminar os vazamentos, só por grandes e caras obras de implantação de novas barragens, adutoras e estações de tratamento?
  • E onde ficam a coleta e o tratamento do lixo,
  • além da eliminação de mais de mil lixões urbanos?

Onde está um novo modelo energético, num país que, com a energia solar e eólica de que pode dispor, se dá ao desplante de pensar em novas termoelétricas, inclusive movidas a carvão (as mais poluidoras)? E onde fica a reforma agrária pela qual clamam todos os dias as organizações de trabalhadores no campo? Que se pensa da Amazônia, onde os índices de desmatamento voltaram a crescer?

Ainda falta mencionar os índices de violência no País ou a morosidade que acumula montanhas de processos na Justiça. Sem nem sequer chegar às verbas decrescentes na educação e na saúde. E muito mais.

Quando se lê o rol de deficiências nacionais, chega-se a pensar que é quase um milagre que o País continue superando com suas próprias forças – principalmente dos setores mais carentes – o que falta. E em paz. Só não se pode dar como certo é que continue assim, apesar dos pesares. É indispensável chegar rapidamente a um modelo de governança eficaz.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Espaço aberto – Sexta-feira, 25 de dezembro de 2015 – Pg. A2 – Internet: clique aqui.

Mitos nacionais

Zander Navarro
Sociólogo e pesquisador em Ciências Sociais

Nos tempos brasileiros recentes, eles se multiplicam e nos atormentam
A ILUSÃO DE UM PARTIDO DE "ESQUERDA" - O PT ! ! !
E tem gente que acredita ! ! !

Nenhuma sociedade deixa de cultivar mitos, ilusões e autoenganos, pois produzem conforto íntimo aos indivíduos, assim como respondem às perguntas incômodas, em particular aquelas associadas aos mistérios do universo, da vida e da morte ou à imprevisibilidade da natureza. Por essas e outras razões, precisamos de mitos para trilhar o curso de nossa existência. Suas manifestações diminuem nas sociedades mais secularizadas e de maior escolaridade, mas continuam existindo.

Mitos atribuem significado à aventura humana e, por isso, não são exclusivamente nefastos, criando imagens postiças da realidade e o domínio do falso. Mitos podem ser bem-vindos. Na época natalina, por exemplo, os mitos associados às festas e à passagem do ano invadem alegremente nossas mentes e determinam nossos comportamentos, do consumismo às esperanças relativas ao “novo ano”, como se a mera passagem de um dia para o outro determinasse algo essencialmente diferente. É um curioso momento, quando a hipocrisia dos indivíduos atinge sua culminação, em meio às compras descontroladas e à infantilização do período.

No campo da política os mitos prosperam, pois a ânsia do poder tudo parece permitir. Curtas ilustrações: não seria mitológico afirmar que o PT é um “partido de esquerda” já que em nossos dias ninguém sabe realmente o que significa “ser de esquerda”? Essa é uma tradição política que nasceu em razão de uma via anticapitalista, pois foi a orientação que usualmente identificou o posicionamento à esquerda. Tornou-se caricatural no caso brasileiro, pois entre nós a “esquerda no poder” passou a significar apenas inflar irracionalmente o Estado, alocar cargos para os amigos ou organizar alguns esquemas nada lícitos de apropriação dos fundos públicos. Aliás, outro mito é aquele que corresponde esquerda a algo bom e virtuoso. Por que seria assim? Porque é tradição associada às classes desfavorecidas, o que atribuiria à esquerda uma virtù insuperável. Por isso, no primarismo binário que nos guia, a esquerda agregaria os excelsos e sua oposição, a direita, reuniria os canalhas da sociedade. E temos, então, uma sociedade em que ninguém quer ver-se à direita, consagrando outro mito.

Nos tempos brasileiros recentes, os mitos se multiplicam e nos atormentam. Cito dois deles, repetidos à exaustão com ares de suposta gravidade explicativa. Enganam a maioria dos cidadãos, que parece julgar que não seriam ocultações da realidade, mas fatos concretos. Resultado: todos papagueiam esses mitos.


[1º] O primeiro deles diz respeito à apregoada queda da desigualdade social em nosso país durante os anos lulistas [do ex-presidente Lula]. É um mito surpreendente, pois tem sido enfatizado por economistas que ocupam posições de autoridade. A confusão é simplória e causa perplexidade que o argumento seja repetido sem o rigor que seria esperado, em face do nosso histórico de desigualdades.

Em síntese: o que se observa é um fenômeno parcial e restrito, de fato, à redistribuição forçada entre aqueles que recebem renda, especialmente do assalariamento, beneficiando os estratos de renda mais baixa, em detrimento dos detentores de renda elevada, que são tributados na fonte. As faladas “políticas sociais” apenas concretizam essa transferência, sem promover, contudo, a democratização efetiva da riqueza geral acumulada na sociedade. Em outras palavras, nos anos lulistas não houve nenhuma redução da desigualdade social entre nós, mas somente um abrandamento marginal da espantosa assimetria registrada na distribuição dos rendimentos captado pelos levantamentos de dados do IBGE. Como este não apura a riqueza em seu sentido abrangente e completo, especialmente a patrimonial e sua valorização ao longo do tempo, além de outros ganhos igualmente não quantificados, é praticamente certo, pelo contrário, que durante os anos deste século a desigualdade social se tenha elevado.

É inacreditável que economistas e outros estudiosos continuem reiterando o mito da parte e ignorando os fatos do todo, insistindo ainda com tolices relativas à formação de uma nova classe média e outras mistificações. Reduzir os salários nominais dos funcionários públicos, por exemplo, para transferir recursos aos mais pobres, como foi sugerido recentemente, é outra medida pobremente diversionista que não mudará a desigualdade social. Tornar sinônimos a distribuição de rendimentos e a desigualdade social é um erro crasso. A quem interessa o equívoco?
MANIFESTAÇÃO PROMOVIDA PELO MST
(Movimento dos Sem-Terra)

[2º] O outro mito que realço brevemente diz respeito aos famosíssimos “movimentos sociais”, entidades ubíquas [onipresentes], dizem tantos, que sempre “precisam ser ouvidos”. Mas, no Brasil atual, praticamente inexistem movimentos sociais. Estes têm um estatuto sociológico bem definido, respondem a determinadas privações sociais temporárias e, por isso, nascem e desaparecem. Os movimentos sociais emergiram nos anos de transição à democracia, mas, em sua grande maioria, beneficiados por fundos públicos, se burocratizaram em organizações políticas, quase todas abrigadas sob o guarda-chuva petista, que passou a instrumentalizá-las para atingir os seus objetivos partidários. É exasperante, portanto, ouvir levianas autoridades afirmarem que “consultaremos os movimentos sociais”, apenas refletindo mais uma dimensão de nossa imensa mitologia.

Precisamos confrontar e desconstruir o lado infesto dos mitos em nossa sociedade. É uma de nossas tarefas urgentes iluminar este lado sombrio e ameaçador das ilusões que cultivamos, a única via para o aprimoramento da qualidade da política de nosso país. Se for mantida a estrutura mitológica que nos oprime e confunde, serão muitas as dificuldades para chegar ao país que almejamos, o qual ecoaria a parte radiante dos mitos coletivos, aqueles que nos motivam para dias promissores e mais justos.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Espaço aberto – Quarta-feira, 23 de dezembro de 2015 – Pg. A2 – Internet: clique aqui.

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