29º Domingo do Tempo Comum – Ano A – HOMILIA
Evangelho:
Mateus 22,15-21
16 Então mandaram os seus discípulos, junto com alguns do partido de Herodes, para dizerem a Jesus: “Mestre, sabemos que és verdadeiro e que, de fato, ensinas o caminho de Deus. Não te deixas influenciar pela opinião dos outros, pois não julgas um homem pelas aparências.
17 Dize-nos, pois, o que pensas: É lícito ou não pagar imposto a César?”
18 Jesus percebeu a maldade deles e disse: “Hipócritas! Por que me preparais uma armadilha?
19 Mostrai-me a moeda do imposto!” Levaram-lhe então a moeda.
20 E Jesus disse: “De quem é a figura e a inscrição desta moeda?”
21 Eles responderam: “De César”. Jesus então lhes disse: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.
Naquele tempo,
15 os fariseus fizeram um plano para
apanhar Jesus em alguma palavra. 16 Então mandaram os seus discípulos, junto com alguns do partido de Herodes, para dizerem a Jesus: “Mestre, sabemos que és verdadeiro e que, de fato, ensinas o caminho de Deus. Não te deixas influenciar pela opinião dos outros, pois não julgas um homem pelas aparências.
17 Dize-nos, pois, o que pensas: É lícito ou não pagar imposto a César?”
18 Jesus percebeu a maldade deles e disse: “Hipócritas! Por que me preparais uma armadilha?
19 Mostrai-me a moeda do imposto!” Levaram-lhe então a moeda.
20 E Jesus disse: “De quem é a figura e a inscrição desta moeda?”
21 Eles responderam: “De César”. Jesus então lhes disse: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.
JOSÉ ANTONIO
PAGOLA
Tradução: "A César o que é de César; e a Deus o que é de Deus" |
OS
POBRES SÃO DE DEUS
Por detrás de Jesus, os fariseus chegam a um acordo para
preparar-lhe uma armadilha decisiva.
Eles, mesmos, não vêm ao encontro de Jesus. Enviam-lhe uns discípulos
acompanhados por alguns partidários de Herodes Antipas. Talvez, não faltem
entre esses poderosos arrecadadores de tributos para Roma.
A armadilha está bem pensada: “É lícito pagar impostos a César ou não?”. Se Jesus responde
negativamente, poderão lhe acusar de rebelião contra Roma. Se legitimar o
pagamento de tributos, ficará desprestigiado diante daqueles pobres camponeses
que vivem oprimidos pelos impostos, aos quais ele ama e defende com todas as
suas forças.
A resposta de Jesus foi resumida de maneira lapidar ao longo
dos séculos nestes termos: “Dai, pois, a
César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Poucas palavras de Jesus
terão sido citadas como estas. E nenhuma, talvez, mais distorcida e manipulada
a partir de interesses muito distantes do Profeta, defensor dos pobres.
Jesus não está pensando em Deus e no César de Roma como dois
poderes que possam exigir, cada um deles em seu próprio campo, seus direitos a
seus súditos. Como todo judeu fiel, Jesus sabe que a Deus “pertence a terra e
tudo aquilo que ela contém, o universo e todos os seus habitantes” (Salmo 24).
O que pode ser de César que não seja de Deus? Acaso, os súditos do imperador
não são filhos e filhas de Deus?
Jesus não se detém nas diferentes posições que enfrentam
naquela sociedade herodianos, saduceus ou fariseus sobre os tributos a Roma e
seu significado: se eles portam “a moeda do imposto” na sua sacola, então que
cumpram suas obrigações. Porém, ele não vive a serviço do Império de Roma, mas
abrindo caminhos ao Reino de Deus e sua justiça.
Por isso, recorda-lhes algo que ninguém lhe havia
perguntado: “Dai a Deus o que é de Deus”.
Quer dizer, não deis a nenhum César o que é, somente, de Deus: a vida de seus
filhos e filhas. Como repetiu, tantas vezes, aos seus seguidores: os pobres são
de Deus, os pequenos são seus prediletos, o Reino de Deus lhes pertence.
Ninguém há de abusar deles.
Não se há de sacrificar
a vida, a dignidade ou a felicidade das pessoas por nenhum poder. E, sem
dúvida, ninguém pode sacrificar, hoje, mais vidas e causar mais sofrimento,
fome e destruição que essa “ditadura de
uma economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano” que,
segundo o Papa Francisco, conseguiram impor os poderosos da Terra. Não podemos
permanecer passivos e indiferentes silenciando a voz de nossa consciência na
prática religiosa.
RELIGIÃO
E POLÍTICA
Nunca foram fáceis as relações entre fé e política.
Tampouco, entre a Igreja e os políticos. Às vezes, são os políticos que
procuram utilizar a religião para defender sua própria causa. Outras vezes, é a
Igreja que pretende servir-se dos políticos para seus próprios interesses. E,
com frequência, não se valoriza, devidamente, a importante tarefa do político
nem ele é ajudado a descobrir o papel que a fé pode desemprenhar em sua tarefa.
Para esclarecer, temos de começar, talvez, por recordar dois
dados amplamente admitidos pela exegese [estudo científico da Bíblia] atual. De um lado, o projeto do Reino de Deus que Jesus põe em marcha busca a
transformação profunda na convivência humana e está, portanto, destinado a ter
uma repercussão política, no sentido amplo desta palavra, que é promover o bem comum na sociedade.
Porém, por outro lado,
Jesus não utiliza o poder para levar adiante seu projeto, e por isso, se
distancia da “política” no sentido moderno da palavra, que é o uso técnico
do poder para estruturar a convivência humana. O Reino de Deus não se impõe
pelo poder, pela força ou pela coação, mas penetra na sociedade pela semeadura
e acolhida de valores como a justiça, a solidariedade ou a defesa dos fracos.
O episódio do tributo a César é iluminador. A resposta de
Jesus diz assim: “Dai a César o que é de
César, e a Deus o que é de Deus”. É um anacronismo equivocado ver nestas
palavras uma “separação entre política e religião”, como se a primeira se
ocupasse dos problemas terrenos e a segunda somente do espiritual. Seu sentido
é outro. Perguntaram a Jesus pelos direitos de César, porém ele responde
recordando os direitos de Deus,
pelos quais ninguém lhe havia perguntado. A moeda imperial traz a imagem de
César, porém o ser humano é “imagem de
Deus”, e sua dignidade de filho de Deus não deve ficar submetida a nenhum César.
O político cristão não deve, jamais, utilizar Deus para
legitimar suas posições partidárias; a fé cristã não se identifica com nenhuma
opção de partido, pois os valores evangélicos podem ser promovidos a partir de
diversas mediações técnicas. Porém, isso não significa que se deva encurralar a
fé ao âmbito do privado. O evangelho
oferece ao político cristão uma inspiração, uma visão da pessoa e valores que
podem orientar e estimular a sua tarefa.
O grande desafio para
o político cristão é como tornar politicamente operativos na vida pública esses
valores que defendem o ser humano de tudo aquilo que o possa desumanizar.
Traduzido do
espanhol por Telmo José Amaral de
Figueiredo.
Fonte:
MUSICALITURGICA.COM – Homilías de José A. Pagola – Segunda-feira, 13 de
outubro de 2014 – 12h02 – Internet: clique aqui.
Comentários
Postar um comentário