ELEIÇÕES: QUEM PAGOU A CONTA?
Trinta grupos
concentram doações à Câmara
Daniel
Bramatti, José Roberto de Toledo e Rodrigo Burgarelli
Fonte: Transparência Brasil |
Três dezenas de grupos empresariais doaram 63% do dinheiro
recebido de empresas pelos deputados federais eleitos no domingo, dia 5. A
concentração dos doadores fica evidente em levantamento feito pela Transparência Brasil, com base na
segunda prestação de contas de campanha dos candidatos - e obtido com
exclusividade pelo jornal O Estado de S.
Paulo. O prazo final para a contabilidade definitiva das candidaturas só
sai em novembro.
No total, os 513
deputados eleitos para a próxima legislatura declararam ter recebido R$ 168,3
milhões até a segunda parcial em doações para a campanha, feitas por 1.916
empresas. As 30 empresas que doaram
praticamente R$ 2 em cada R$ 3 correspondem a apenas 1,5% do total de doadores que
contribuíram para os candidatos que vão tomar posse em fevereiro de 2015. Elas doaram, no total dessa parcial, R$
105,4 milhões para esses políticos.
"Essas empresas
terão um poder de influência sobre os deputados eleitos desmesuradamente maior
em comparação com outros doadores", afirmou o diretor executivo da
Transparência Brasil e autor do estudo da ONG, Claudio Weber Abramo. "É dessa desigualdade que nasce o perigo
de os beneficiários das doações acederem a pressões de seus principais
financiadores, no sentido de atenderem a seus interesses no exercício do
mandato."
Fonte: Transparência Brasil |
Ranking
Por enquanto, a JBS é
o maior financiador dos parlamentares eleitos. Até setembro, os deputados haviam recebido R$ 27 milhões
do grupo que é dono de marcas como Friboi e Seara. As novas bancadas do PTB
(R$ 8,3 milhões), do PP (R$ 7,3 milhões) e do PR (R$ 5,5 milhões) foram as
principais beneficiadas.
Mas deputados de outros oito partidos também receberam da
JBS. Ela doou R$ 1 de cada R$ 4 dos R$ 105 milhões recebidos pelos
parlamentares eleitos das 30 maiores financiadoras de campanha.
Além da JBS, só
outros dois grupos doaram mais do que R$ 10 milhões. O segundo nessa lista
foi a OAS, com R$ 14,5 milhões em contribuições para os novos deputados. A
empreiteira ajudou a eleger congressistas de nove partidos, com destaque para o
PT (R$ 10 milhões em doações para os
deputados petistas eleitos no domingo).
No total, nove empreiteiras de obras públicas estão na lista
das 30 maiores doadoras - outras que se destacam são a Queiroz Galvão (R$ 3,5 milhões doados), UTC Engenharia (R$ 3,1 milhões) e a Odebrecht (R$ 2,5 milhões).
Fonte: Transparência Brasil |
Limite
Em terceiro lugar,
ainda entre as que contribuíram com mais
de R$ 10 milhões, estão as empresas do Grupo Vale. Foram doados R$ 11,2
milhões a deputados eleitos por 13 partidos. Os maiores beneficiários foram os parlamentares do PMDB (R$ 3,1
milhões).
Em seguida, vêm a Ambev
[fabricante de bebidas], com R$ 5,2
milhões. A empreiteira Queiroz
Galvão foi a quinta maior doadora
para a nova legislatura da Casa.
A concentração das doações por poucas empresas, segundo
Abramo, deve-se a uma falha nas normas que regulam o sistema de financiamento
eleitoral no Brasil. "O pior
defeito é a ausência de um limite absoluto para as doações que uma empresa pode
fazer. Basta derramar bastante dinheiro na eleição de alguém para a empresa
garantir um poder de influência muito superior aos demais doadores",
disse Abramo.
Claudio Weber Abramo - Diretor-Executivo da ONG Transparência Brasil |
Efetividade
A Transparência Brasil
também calculou o índice de efetividade
das doações das empresas para os candidatos a deputado federal. Esse índice
mostra qual foi o porcentual de doações de cada grupo empresarial para
candidatos que acabaram eleitos para o novo parlamento - algo como uma “taxa de sucesso” das contribuições
eleitorais.
Entre os três maiores grupos citados, a JBS também é a líder em relação à efetividade nas doações - 86% do
que foi doado pela empresa acabou nas contas de candidatos eleitos. O Grupo Vale teve porcentual parecido de
sucesso: 84%. Já a OAS, segunda maior doadora para os
candidatos eleitos no total, teve índice
de efetividade de 72%. Algumas empresas que fizeram menos doações tiveram
efetividade de 100%, como a Telemont.
Fonte: O Estado de S.
Paulo – Política – Sexta-feira, 10 de outubro de 2014 – Pg. A12 – Internet:
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