''É preciso mudar o governo da Igreja.''
Entrevista
com Andrea Riccardi
Giacomo
Galeazzi
Vatican Insider
22-10-2014
"Do Sínodo,
surgiu a necessidade de reformar o governo central da Igreja. À frente dos
dicastérios, Francisco deve ter pessoas em sintonia com ele."
Andrea Riccardi |
Segundo o professor Andrea
Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio e historiador do
cristianismo, "é equivocado interpretar a discussão sinodal com base
nas categorias de progressistas e conservadores". É preciso "uma nova
hermenêutica do Sínodo".
Eis a entrevista.
Onde está o erro na interpretação do
Sínodo sobre a família?
Andrea Riccardi: É
preciso começar pelo discurso com que Francisco concluiu o Sínodo, tomando
distância de progressistas e conservadores. O pontífice não quer voltar a um
clima pós-1968, a uma polarização entre progressistas e conservadores. Por
isso, quis reafirmar que ele é o papa, que o papa se chama Francisco,
desmentindo a tentativa dos tradicionalistas de se conectarem à figura do Papa
Emérito Bento XVI.
O papa orientou a discussão dos
padres sinodais sobre os divorciados em segunda união e as uniões de fato?
Andrea Riccardi: De
fato, Francisco não teve uma atitude dirigista sobre o Sínodo. Entre as
proposições rejeitadas, havia até trechos do Catecismo e de textos de Bento
XVI. Quem votou "não" conduziu uma batalha, tentando fazer com que
não se desenvolvesse a busca sinodal e intimidar: "Se esses temas forem
tocados, haverá problemas". Mas, na realidade, o que foi rejeitada é a
ideia sinodal, ou seja, o fato de que se abordem as questões no Sínodo. Mas,
então, não se entende que sentido teria convocar o Sínodo.
Deve ser mudado o governo da Santa
Sé?
Andrea Riccardi: Sim.
O governo atual de Francisco permaneceu o de Bento XVI. E é justamente na comitiva do seu governo que Francisco encontra as
resistências mais fortes à mudança. A sua reforma da Cúria não pode se
limitar à fusão de alguns dicastérios (uma maquiagem semelhante a de governos
italianos). O Papa Bergoglio precisa de
colaboradores em sintonia com ele. João XXIII também tinha uma Cúria hostil
à mudança, por isso se concentrou na convocação do Concílio, iniciando um
processo de renovação que ajudou a superar as dificuldades. Paulo VI, ao invés,
introduziu o mandato de cinco anos para os ministros vaticanos, e, desde então,
ninguém fica mais no cargo por toda a vida, mas por decisão do papa.
Qual é um exemplo de colaboração
eficaz com o pontífice?
Andrea Riccardi: A
fortíssima intervenção do secretário de Estado, Pietro Parolin, no Consistório
dedicado pelo pontífice à dramática situação no Oriente Médio demonstra como é
determinante para Francisco ter as pessoas certas no lugar certo.
Traduzido do
italiano por Moisés Sbardelotto.
Fonte: Instituto
Humanitas Unisinos – Notícias – Quinta-feira, 23 de outubro de 2014 –
Internet: clique aqui.
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