FALTA D'ÁGUA: A CULPA NÃO É SÓ DE UM GOVERNO OU ESTADO!!!
TCU vai
investigar atuação do governo federal na falta d’água em SP, RJ e MG
ANNE WARTH
Tribunal quer saber se
ANA e Ministério do Meio Ambiente adotaram medidas necessárias; ministro cita
disputa no Paraíba do Sul, estiagem no Cantareira e emergência em 159
municípios mineiros
André Luís de Carvalho - Ministro-Substituto do TCU |
O Tribunal de Contas
da União (TCU) vai investigar a responsabilidade de órgãos do governo
federal pela crise da falta de água. O órgão quer saber se o Ministério do Meio Ambiente e a Agência Nacional de Águas (ANA) adotaram medidas preventivas e planos de
contingência necessários para evitar ou, ao menos, diminuir as consequências da
seca no País.
A proposta, aprovada pelo plenário do TCU, foi apresentada
pelo ministro-substituto André Luís de
Carvalho. Advindo da área técnica, ele afirmou que a legislação estabelece que a União é a responsável por propor soluções
quando a estiagem atinge mais de um Estado. A ação será relatada por Marcos Bemquerer da Costa. Caso seja
encontrada alguma irregularidade, o tribunal pode impor aos gestores o
pagamento de multa e ressarcimento de valores.
Para defender a necessidade da auditoria por parte do TCU,
Carvalho mencionou a crise no Sistema
Cantareira, em São Paulo, cuja capacidade nesta quarta-feira era de 3,2%, a
redução do volume de água no Rio Paraíba do Sul, no Rio, e a decretação de situação de emergência em 159 municípios de
Minas por causa da seca.
O ministro lembrou declaração da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, segundo a qual o Sudeste tem estiagem “fora da curva”.
Ela fez a constatação na semana passada, após sobrevoar o Parque Nacional da
Serra do Cipó, em Minas, atingido por incêndios.
“Bem se sabe que o interesse predominantemente nacional,
pautado pela ocorrência da seca e do esgotamento dos recursos hídricos em mais
de uma unidade da federação, fixa a competência
da União, como ator principal, para a solução dessa crise hídrica”, disse
Carvalho.
“Nesse cenário, que, inegavelmente, envolve diversas
unidades da federação, faz-se necessária a atuação do TCU no sentido de
fiscalizar a atuação dos órgãos federais responsáveis pelas medidas preventivas
e, até mesmo, pelos planos de contingência que foram ou que já deveriam ter
sido adotados para evitar ou mesmo para reduzir os efeitos perversos dessa
lamentável crise hídrica que assola o País”, afirmou o ministro.
Procurados, a ANA e o Ministério do Meio Ambiente informaram
que não foram oficialmente informados pelo TCU sobre a instauração da
auditoria.
Atuação
Órgão auxiliar do Congresso, o TCU pode fiscalizar ações que
envolvam recursos da União. Em 2001, o órgão já havia realizado duas apurações
sobre o tema. Agora, de acordo com Carvalho, o Decreto 6.101/2007 impõe como
competência da Secretaria de Recursos
Hídricos e Ambiente Urbano, do Ministério
do Meio Ambiente, “planejar as ações destinadas a prevenir ou minimizar os
efeitos das secas e inundações no âmbito do Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hídricos”.
Carvalho também citou o conflito
entre a Companhia Energética de São Paulo (Cesp) e a Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel) em relação ao uso do Reservatório Jaguari, na
Bacia do Rio Paraíba do Sul - o nível da represa caiu 60% em dois meses. A
Aneel aplicou multa de R$ 5,3 milhões à empresa, que descumpriu o comando do
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e reduziu em um terço a vazão do
reservatório.
A medida reduziu a geração de energia na Usina de Jaguari.
Na época, o secretário de Recursos Hídricos paulista, Mauro Arce, alegou que a
ação visava ao fornecimento de água para municípios do Estado. Segundo o
ministro, houve “possível inércia” da
ANA e “descumprimento” da Aneel das premissas da Política Nacional de Recursos
Hídricos, que têm o consumo humano como prioritário.
Represa integrante do sistema Cantareira quase seca |
C
R O N O L O G I A
A PIOR SECA DA HISTÓRIA
Janeiro
Sabesp anuncia que Cantareira passa por seca histórica.
Fevereiro
Lançado programa de bônus na conta. Agência Nacional de
Águas (ANA) e Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE)
criam comitê para monitorar a crise.
Março e abril
Por recomendação do comitê anticrise, são anunciadas
reduções em sequência na captação do Cantareira.
Maio
ANA e DAEE liberam uso da 1ª cota do volume morto do
manancial para evitar o racionamento oficial de água.
Agosto
A agência federal anunciou acordo para reduzir ainda mais a
vazão do Cantareira. O governo paulista negou. No mesmo mês, a Cesp decidiu,
unilateralmente, reduzir em um terço a vazão da Usina Jaguari, alternativa ao
Cantareira. Apesar de haver acordo posterior entre governos de Rio e São Paulo,
a Cesp acabou multada. Câmara Municipal de S. Paulo abre CPI (Comissão
Parlamentar de Inquérito) da Sabesp.
Setembro
ANA deixa comitê anticrise do Cantareira.
Outubro
Sabesp, governo do Estado de São Paulo e ANA trocam
acusações, após captação atingir a 2ª cota do volume morto. Uso do restante da
reserva profunda passa por negociação.
Fonte: O Estado de S.
Paulo – Metrópole – Quinta-feira, 23 de outubro de 2014 – Pg. A22 –
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